segunda-feira, agosto 29, 2005


Colorido de mim:.

Quando, nem sei, lembro que tinha sonhos. De uma vida azul, plena e feliz. Não sei o que houve, qual foi o momento em que embaralhei tudo, e o que resultou foi um colorido. Não só azul, mas cores de tudo quanto podem se as nuances. Às vezes, de soslaio, olho e vejo harmonia; na maioria das vezes, diante de um olhar direto e firme, o que imagino é que em algum lugar da estrada eu me perdi, e tomei um atalho feio. Porque eu sei que, em sã consciência, jamais ousaria pintar com certas cores, nem misturar certos tipos de tons. O resultado disso é o que ocorre quando se passa a ouvir e seguir o que o coração manda. Do que resultará de tudo isso eu não sei, imagino apenas: mas se o destino é feito um pouco por mim, tenho certeza que preciso de ajuda. Não posso crer que sou tão ruim numa arte final assim; mas uma mão apoiando o cavalete melhoraria as linhas internas. Onde será que eu estou, quando acredito em palavras sussurradas, tão belas, pra mim? Em qual canto guardo aquela beatriz-mala, tão reticente e observadora, perspicaz e prática, que evita meandros, com medo de se afogar? Tarde demais. Outra vez, a mesmice ocorre - era uma vez... Tem que haver tempo pra eu poder lapidar as bordas, antes de me pendurar na parede, distante de mim, oculta de todos. Por que é tão díficil acreditar que é possível ser feliz como a gente quer e quis?

Trair e coçar:.

É só começar. Copiar também é assim. Que o Guilhermo me perdoe. Ele, amigo virtual se diz de convivência "difícil". Será que, conforme somos mais complexos, tanto mais difíceis na convivência? Gosto de imaginar como as pessoas são, conforme as palavras jorram. Pela suavidade e romantismo que impregna cada post, Ele realmente deve ser difícil. De encontrar similar ou genérico. Porque homens esquecem a conquista tão facilmente, jogam a infância longe, se vestem de gente grande, usam terno e gravata, e perdem aquela coisa essencial: essa ternura e dor abissal que todo mundo tem, e poucos deixam transparecer. No blog dele, me rabisco, me espelho, me deixo levar... Quem sabe o mesmo signo, o mesmo convencionalismo - não há porque justificar o fatalismo de ser sua fã. O porquê do uso de algumas frases soltas do último post, juntando aqui, explico: "é essa preguiça, que hoje assolou meu corpo, e nem o café forte e amargo tirou-a de mim". Eu não gosto de Alice Ruiz (sou a única?), mas certas palavras desta música condizem com o desmoronamento por aqui.

Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido


Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
(..)Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
(...)Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura


Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
(...)

Refletindo:.

Foi de Repente. Ergueu-se de sua cadeira, empurrou o prato que lhe satisfazia, pra fora mesa e disse: "Você é culpada. De tudo." Saiu pela porta afora, sem dizer aonde ia, sem deixar esperanças, apenas lágrimas e acusações. Olhei a lua tão nítida lá fora, e compreendi que para ele talvez fosse mais fácil continuar sendo infeliz, a ter que suportar a possibilidade de ter o que mais pediu. Fiz o que pude, mas para uma bruxa malvada, o tempo não existe, não há esperas. Um homem sempre sabe agir, mesmo com medo. Se for pra ser, ele abre a porta e retorna, com uma certeza doentia dentro de si. Se não tiver que ser, boa-sorte, pois só o que é do meu destino exigo da Vida com força e vontade. Eu não corro de conflitos, lutas ou encargos. Já estive com quem corria de responsabilidade, deixando tudo na minha mão. Também houve aquele que largou o fardo, e eu carrego-o nos braços, com carinho. Não há nada que o Amor não transmute. Eu sempre acredito que há um meio, uma vontade e um caminho. O amor é tudo, o destino é parte. E as regras do G. eu incorporei há tanto tempo: Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nós em cada momento e daquilo que, realmente, vale como principal". Aprenda a dizer NÃO sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme. Planeje seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso, consciente de que nem tudo depende de você. Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure. Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível. Abra mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte dos desejos, o eterno mestre de cerimônias. Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de pedir às pessoas certas. Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine-os porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes. Tente descobrir o prazer de fatos cotidianos como dormir, comer, tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida. Evite se envolver na ansiedade e tensão alheias enquanto ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a ação. Família não é você, está junto de você, compõe o seu mundo, mas não é a sua própria identidade. Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca. É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente ao menos num raio de cem quilômetros. Não adianta estar mais longe. Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância sutil de uma saída discreta. Não queira saber se falaram mal de você e nem se atormente com esse lixo mental; escute o que falaram bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento. Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo... para quem quer ficar esgotado e perder o melhor. A rigidez é boa na pedra não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente. Uma hora de intenso prazer substitui com folga 3 horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se. Não abandone suas três grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé. Entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: você é o que se fizer!Eu sou também o que eu Amar, porque através dele me enxergo por completo.

Ps.: Correndo, porque a menina-arteira resolveu tirar a roupa, e encher a pia de água, transbordando água por tudo. O pior: levou o cão-preto pra ajudar na Zona. Tem jeio de acabar melhor um domingo lacrimoso? Palova querida, estou cerada de curió.

Traces of Autumm:.

Sei, todos detestam correntes. Não acreditam, e há aqueles como eu, que ficam com o pé atrás: vai que... Lembro que até hoje carrego comigo a carta de tal frei de não-sei-qual, que garante que não morrerei por bala perdida, espada ou perfuração, pois repassei as cem cópias por correio, e não quebrei o elo da oração. Até hoje funcionou. Pra não irritar ninguém ao abrir seu email, posto aqui a continuação do Elo da Força do amor - a corrente que atravessa o oceano, procurando adeptos que acreditam em amor e fé. O texto seria esse:Uma garota, cansada de tanta espera, resolveu ousar, e diretamente perguntou ao garoto que amava o que ele achava dela: Era ela bonita, chamava antenção? A resposta dele, enfática: NÃO! Já que tinha se atrevido a tanto, e levado o primeiro não, não se intimidou, e perguntou se ele queria ficar com ela para sempre. Ele, corado, e olhando para baixo respondeu novamente um NÃO! Com dois NÃOS acumulados, resolveu fechar a conta, e encerrar a tal paixão, mas antes uma última tentativa: "Não vai chorar se acaso eu for embora, e nunca mais olhar para trás?" Mais uma vez, um NÃO! Assim que virou-se, disposta a esquecer tal amor que lhe machucava, com lágrimas caindo pela sua face, notou que seu braço estava sendo puxado - era seu amor, que correndo, lhe dizia: "Você não é bonita... é linda! Eu não quero ficar com você pra sempre... Eu preciso ficar com você pra sempre! Eu não iria chorar se você fosse embora... uma parte de mim morreria!!!" Havia dado certo a ousadia, e o preparo de antemão.
Em nome do amor conquistado, hoje você terá a receita do elo da corrente que percorre continentes, e une corações há mais de duzentos anos. À meia-noite seu verdadeiro amor vai notar que gosta de você. Que lhe ama, e vai tentar te encontrar. Com certeza, e não duvide: alguma coisa boa vai acontecer entre as 1:00-4:00pm amanhã, em qualquer lugar! Se não for amanhã, um dia. Porque o outono trará recompensas àqueles que difundirem suas folhas pelos quatro cantos do mundo. De um modo ou outro, faça com que outras pessoas tenham coragem para confessar sentimentos, seguir coração, e Amar.

sexta-feira, agosto 26, 2005


HOJE, que já é ido:.


Eu já tinha esquecido minha vontade de aprender esperanto.O esperanto, língua internacional, está destinado a facilitar a comunicação entre pessoas das mais diversas culturas. Seu autor, Dr. L. L. Zamenhof (1859-1917), publicou seu manifesto "Lingvo Internacia" em 1887 assinando como "Dr. Esperanto". Depois de terem ousado me desafiar a estudar tupi, por ser esta a lingua própria do Brasil (segundo eles), eu voltei ao meu sonho. Não há como navegar em mares alheios - e quem disse que sou patriota? Salvo o filme, não vejo mais nada "exacerbado" por aqui. Enquanto eu viver num país onde o Poder está impregnado de vírus, não coloco bandeirinha ou assino frase-chavão dizendo que sou isso ou aquilo. O máximo que farei, em horas extras, é focar em meus sonhos & amores. Pois se cada um é cada um, eu tenho que aprender, da maneira mais difícil, a importar-me somente comigo. Com meus problemas. Com minhas vontades. Porque já aprendi como dói quando descobre-se que o outro não dá a mínima para suas dificuldades. No mais, em algum lugar se disse que tudo o tempo cura (e mesmo não crendo em tempo), aceito o que está no meu caminho, e prossigo.

quinta-feira, agosto 25, 2005


Veias de Vidro:.

Estes fantasmas que guardo aqui dentro
fragmentos de vidro em minhas veias
me livre de mim mesmo,
me livre de minha dualidade
Eu encaro isso como um soldado encararia
mas é inútil em minha guerra
a inocência que sorri hoje
amanhã estará mentindo
Quem é que realmente morre quando todas
as pessoas olham para mim?
E eu estou contorcendo meus dedos por meu cabelo
enquanto um espelho me reflete
Agora estou cavando até os ossos
toda a pintura
arranhando a carne, me deixa louca
Para ser viva e livre
E os fantasmas que guardo dentro de mim
como eles me vêem?
Enquando novamente estou me afogando com minha alma
Você irá me salvar?


Tradução da letra da música que amei do Lacuna coil. Até eu me surpreendo com o que posso conseguir quando quero algo..

Linha do Destino:

Se está tudo marcado, o frio na barriga aumenta. O sonho que tive foi tão esclarecedor, pena que dele só lembro de partes. A sorte no iogurte diz que "devemos confiar em Deus", mas dos outros receber à vista. É, entendi o recado. Já acordei uma família inteira: eu me matando de não fazer nada (porque quem trabalha ganha muito dinheiro!); e outros dormindo, nesse frio gostoso que está por aqui. Há igualdade entre amigos - que todos sofram quantitativamente alguma coisa. Pelo menos, o despertar numa hora imprópria. Canto de melro - alarde. Alguma coisa se aproxima, se for jhiad, faço guerra-santa; se for arqueira e inimiga, me desculpe, há formigas. Cuidado: o terreno está minado, e só quem me conhece e me ama, assim-assim, sem querer me transmutar ou malograr meu caminho, consegue chegar até mim. Findando, deparei-me no perfil de uma querida amiga mais-que-tudo-de-bom, com "Lacuna Coil": Set me free, your heaven's a lie. Pronto: enquanto não ouvir isso, não sossego. Pelo nome, me deu até arrepio nas costas... A frase que martela por aqui, ao ouvir essa lista-negra do Oswaldo, é Quantos sonhos eu já tive, e quantos já deixei de sonhar? pelo que, por que e para que eu desisti do que mais queria um dia?

Strip-Tease num vayar:.

Carta a uma amiga


Coincidência demais, Palova, o tema de nossa conversa de hoje surgir explicitamente e minuciosamente esparramado no blog que adoramos? Jung e eu com certeza seríamos da mesma opinião: "acasos não existem", talvez o "Universo queira nos mostrar e comprovar", por meio deste reforço adicional, é que não há vida sem Amor e Paixão. Uma alegria inesperada e inexplicável surgiu, ao saber que há mais estranhos neste mundo, além de duas velhas desajeitadas como nós. Pertenço a seita que acredita que devemos estar atentos ao chamado do coração, deixando-o livre para tomar decisões, se apaixonar quando quiser, e principalmente, não se acostumar a contentar-se com pouco. Quais são as coisas que a gente não faz porque realmente não tem vontade, e quais aquelas que não fazemos porque são arriscadas? Quem sabe se eu tivesse um pouco mais desse "tal" descontrole amoroso, não teria tantas lágrimas retidas dentro de mim? Sufocamos tantos sentimentos, por tantas pessoas. Por orgulho. Por idéias pré-concebidas. Por medo. Por achar que não estamos à altura de. Lembra, querida amiga, o quanto já fomos implacavelmente adeptas da atitude: tudo por Amor? Jamais vou esquecer aquele uno abarrotado de gente, com a perna da escada para fora, tudo para pendurar uma faixa amorosa, que lamentavelmente ficou somente um dia a exposição... e o resultado? Só deu certo no final, quando não havia mais porquês.

Quem sabe a esta hora não estejas, tu, Diva Palova, em sua cadeira de balanço, com o cachorro-pedigree no colo, dizendo pra si mesma que realmente Beatriz, quando ousou cometer loucuras por amor, foi ao fundo e afundou-se sem olhar os prós-e-contras, sem escafandro ou estatísticas materiais que me assegurariam para a vida inteira... Toma seu chá francês tranqüilamente, seu amor-maduro ao lado, repousando no quarto decorado especialmente para si, e tristemente balança sua cabeça: "tolinha Beatriz, quem desce aos ínferos é Dante". Sim, confesso e me desculpo mais uma vez: faltei ao compromisso que você assumiu diante de gente que não me importava, pra poder curtir o que seria um dos grandes amores da minha vida. Sei, você continua sendo, e já naquele tempo ido, era mais importante, mas o momento não pedia escolhas - apenas a decisão de seguir meu coração. Eu, que não me fixo em tempo, nem bilhete deixei: apenas sumi temporariamente. E assumi tudo de tal modo sem planejar ou esperar, que ainda recordo das caras de muita gente pasmadas com "a atitude desmedida e descarolada" de Beatriz moralista e correta. Pra que esperar algo, se a certeza do sentimento estava estampada em cada ato e olhar? Quando decidi abandonar aquela máscara de viver a vida de acordo com princípios e fins sociais de outros, encarei que deveria aprumar os passos, não deixando mais nenhum pé pra trás, em qualquer decisão. Assim como mergulhei profundamente em cada amor, eu exijo o mesmo. Nada de grilhões, quero mudanças constantes, quero o "Eu" da pessoa sobreposto e escancarado diante de mim, sem formalismos ou mentiras. Não gosto de maquiagem, acho que sempre fui adepta do drama, em alguma vida fui mexicana, e nesta encaro muitos planetas em Leão. Sem essa de "eus" convenientes e coniventes com momentos formais e prá-lá-de-desnecessários, pra fazer bonito pra essa tal sociedade que cobra tudo de nós - inclusive a renúncia a paixão, ao amor e ao drama. Sinceramente, viver dentro de espelho nunca foi algo que quis. Um aquário me sufocaria: não consigo ser bibelô ou enfeite-de-parede, para ostentação - não me imagine em milhares de porta-retratos de prata espalhados pelo meu lar. Seria o fragmento de minha alma, ver-me refletida, sem saber pra que, e nem porquê.

Verdade, amiga: concordo com ti sobre a argumentação bela e fantasiosa, pois como caio em abismos cruéis, escuridões pavorosas! Essa não é a forma de viver que não permite mágoas ou dores, lágrimas ou tristezas profundas. Demoro retornar a tona a cada desilusão, e após me ergo, e digo que "nunca mais" pra poder expiar a culpa, e como sabemos - logo, logo formo asa novamente, e estou alçando vôo, flutuando por aí, com tudo parecendo sem sentido, e disposta a não deixar nenhum pedaço de fora do presente-momento. Quero a exaustão em si. E descobri que me é inútil tentar entender essa minha forma de amar, profunda e assustadora, não há como encurtar caminho, necessário vivenciar cada passo. Invejo a ti, querida, pela segurança e condicionamento. Porque eu relâmpago e chuva, você sol abrasador, cheia de garantias e mãos-seguras. Quando abro a porta e saio de um enlance mal-sucedido, esqueço que devo levar o extrato da conta-corrente, o dinheiro da poupança, ou o carro na garagem. Esqueço os móveis, a residência, me vou somente com aquilo que amo e nunca vou deixar. Mais tarde, quando dou por mim e verifico que não sou a fortaleza que queria tanto ser, tudo já foi esvaziado, e eu sem nada, novamente. Sem vontade de reclamar direitos, porque pra isso há que se olhar pra trás. Sempre imagino que, se houvesse caráter, não precisaríamos submeter a justiça amores-mal-resolvidos, kant de repente estava certo dizendo que a virtude já era extinção no seu século - porque nada vêm sem que haja essa intervenção da União. Por que a demora em ir atrás de justiça? Porque agindo dessa forma, trágica e realística, estaria reconhecendo que sou uma falida em relacionamentos amorosos: um não tem caráter, outro não tem responsabilidade, e eu tenho costas-largas. Seria descobrir que procuro uma expiação de pecados ao me envolver com pessoas sem o mínimo de princípios morais e éticos.

Queria poder trocar de lugar com você nesse instante, querida. Você poderia me ceder a cadeira, daríamos chá-de-dormiço pro seu marido, e eu te deixaria meu caminho livre pra você viver esses amores-enfartes, que nos fazem submissas e rendidas. Eu, balançando-me sossegada, levantando de madrugada, pra florir meu jardim. Você, sem ponderar o correto, guiando-se pela intuição, de olhos fechados, esquecendo dificuldades, obstáculos e mergulhando naquilo que lateja dentro de ti. Acaso conseguiria eu agir sem "rapidez", me contentando com uma obra que demora um ano pra erguer-se, escolhendo cada item e detalhe? Sei, não sou de reclamar ou soluçar, sentiria falta dessa desorganização, sou passional demais pra sobreviver sem frio e chuva em demasia. E como diria Lispector, "cada um é um", não adiantam tentativas de querer ser. Coerência é mutilação, prefiro a desordem, o caos, o meu dom é a organização, arrumando me formo, me descubro, me acho, me amo. Sempre acredito em portas e janelas de saída, em preces intensas e frutíferas, em instantes onde se recomeça tudo novamente. Custo a imaginar você, tão sensual e social, metida nessa "Beatriz andante", temperamento de pimenta-calabresa, um lado forte que predomina em dias inesperados, cheia de "maniganças", apenas sendo e querendo aquele maldito osso que falta por aqui!

Busco o Carpinejar, é mais fácil as palavras de outros, dói rememorar e colocar pra fora o que a vida já nos contou e machucou. Eu cedo pra ser feliz, mas exigo que o sentimento me aconteça, me faça plena,fortificada, o desejo pateando no chão. Caso para quebrar as regras, para me aproximar no ato, para não deixar o inferno dourar a pele. Entro no primeiro apartamento e fico. Os livros já são estantes. Ponho o colchão no chão e subo devagarinho com os meses. Caso rápido porque nunca fui sozinho dentro de mim, porque a saliva é água potável, porque amor é urgência. Ajeita-se a vida como pode. Um dia a menos não será depois um dia a mais. Caso em segredo, a dois. Beijo tem muito despudor para ter medo. Não me exibo, caso. Não faço futuro, caso logo para fazer passado. Quem sabe, querida, um dia eu aprendo, e no fim das contas, tome tento e juízo, sendo mortalmente igual e infeliz como tantos, contentando-me com pouco de um e de cá. Ah, mas Palova, nesse dia suponho que não estarei mais aqui, mas do outro lado de lá. Porque amar e rezar em latim já fazem parte de mim... Quanto a ti, fique calma: alguém tem que permanecer na praia, pra equilíbrio e sustento das libélulas, que insistem não desistir de Amar, jamais. Tenho medo de perder o trem, na estação, e quando der por hora de investir naquele amor, ele tenha partido....Esperar não é meu dom. Tudo o que tenho é o coração abarrotado de sentimento, enquanto caminho nessa trilha de
apaixonadas guerreiras, sem sentido nem eira. Nasci sem Carolina, caipira-pirapora- nossa mesmo, daquelas que falam porrrrta, cheia de sotaque, e que se sentam no chão, pra ver a filha brincar, sem ligar pra opinião alheia ou olhares de madames ou senhores muito elegantes. Dentro de mim, rezo por inteira - Ave-Maria, gratia plena, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictum fruttis ventri tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis pecatoribus. Nunca et ora nostrae morte. Amem". E sigo as palavras de Cora Coralina, como conforto e alimento de alma, enquanto penso no tempo de mudanças que se vislumbra daqui: "Senhor, que eu não lamente o que podia ter, o que se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou. (...) Que eu possa agradecer a Vós minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa, na manhã de um novo dia que começa".

terça-feira, agosto 23, 2005


Bruxa, Bruxa...

Deparei-me com este livro, queria comprar pra minha baixinha (é a keka!), mas por aqui a gente tem que aguardar 3 dias úteis: Só a Americanas tem o exemplar. Bem, dos males o menor. E na volta ao shopping, depois da livraria paupérrima em atendimento eficiente e estoque, a marota sai correndo, entra na loja de calçados, e como se entendesse que sua sandália estava feia, pequena (já com os dedos saltando para fora), foi logo se desfazendo delas, e procurando um exemplar pro seu pezinho. Não tem dois anos, mas escolheu o modelo e a cor. Contentou-se com o que eu pude comprar; e saiu sorrindo, rindo a toa, com a verdinha no pé. Pra ela é um espetáculo poder estrear algo novo, principalmente sapatos. Entrou correndo na Americanas, pegou a caixa de bis, esperou pelo sorvete e pela Coca - pois o que foi prometido tem que ser cumprido, e se dirigiu ao caixa. Só depois, no carro, deixou-se cair pro lado, morta de cansaço. Com a sandália nova na mão.

Aqui achei mais histórias pra contar, a fim de fazer a princesinha dormir. Aja imaginação pra responder as perguntas que ela faz! Por que a bruxa com a sua vassoura voa, e a minha não? Por que você pode andar descalça, e eu não? Não necessáriamente com essa precisão de linguagem - me perdoem, mas escrever na sua linguagem tatibitati não é pra mim.

segunda-feira, agosto 22, 2005


Perguntas sem Resposta:.

Lei da Fila
O STJ confirma, o Procon faz a devida reportagem e diz que a partir de agora, cidadão (da minha cidade) não ficará na fila de banco por mais de 20' em dias normais. Hoje testei o novo slogan - e verifiquei porque alguns se acham brasileiros, e não devem desistir nunca. Pois, pois... nada funciona quando se trata de direito mínimo. O Bradesco me deixou numa fila de exatos 49' (provas testemunhais e recibo de horário/entrada - pois não há mais relógio por lá), e ao chamar o procon, ele demorou mais de 15 minutos e não apareceu. Cansei. Agora temos uma lei (que na prática não funicona e é desdenhada pelos funcionários de banco, que se matam de rir da sua cara), uma espera adicional (pelo procon, que demora mais que a fila). Sorte minha que eu não faço parte desse slogan. Porque lei é pra ser cumprida. Pelo menos deveria. Por aqui, se não cumprem, é porque a penalidade não existe.

Proibido fumar
O mesmo caso daquele professor de pós-graduação, que fuma embaixo de cartaz na Universidade, "e proibido fumar". Inquirido pela quebra de ética e de lei, ele vem com a máxima: "leis e regras são para serem quebradas. Assim advogado tem trabalho no país". Querem mais?

Usura
Apenas olhar o extrato bancário, e constatar que durante o mês o MBrasil me cobrou 12% de juros, ao utilizar o limite... Perguntei como?, se os demais bancos cobram de 4 a 7% (juridicamente falando). A resposta: Banco cobra quanto quiser, dona. Tem algum outro lugar pra eu morar, além daqui, nesse caos de corrupção e corruptos anti-éticos e mal-educados?

O Estrago
Peguei o livro de Clarice Lispector, "A paixão segundo G. H.", adoro ler de cabo a rabo, começando pelas abas introdutórias (como meu ex falava, sou leitora-de-orelhas). Começa por uma "apresentação", coisinha ridícula essa de tentar explicar o que não se escreveu, mas lá vai: primeira página, segunda, cancelei a tentativa. O texto era chatérrimo. Tese. Abominável. Seu eu fosse a Clarice, levantava do Além, e retirava discretamente todas essas folhas ridiculas. De quem o prodígio? Só podia ser de professora de literatura da USP.

O melhor livro lido na semana
Tempo de migrar para o norte, de Tayeb Salih, é maravilhoso. Delicioso. Não há como exprimir em palavras, só lendo. Vale cada minuto dependurado por ali. Porém, por favor: Não leiam as abas. Se já houvriam e leram algo de Miltom Hatoum, de repente podem ter idéia do que ocorreu. O labirinto de Borges perde. Uma coisa chata, pesada, misturando política e outras coisas mais, sem tempo pra falar do romance e da paixão que consome os dois personagens principais. Eu deixei meu livro sem asas. Quem poderia ter escrito uma introdução de orelha decente seria Clarice. Essa sim, compreenderia que ali não está somente uma revolta contra países, ou política. Iria além, e mergulharia na paixão.

Falsidade Abissal
Numa hora em que a gente toda hora se depara com notícias sobre a derrocada da ética, outro nome de político ladrão, o terrível mensalão, a ideologia-de-fachada do pt e sua queda diante dos queres-queres absurdos dos homens no Poder, outra coisa me faz parar e pensar, com Fernando Bonassi: "Haverá um outro tempo em que o desprezo não terá o ar de sua graça e nem a hereditariedade do sobrenome garantirá o emprego para os fihos mais queridos?" Numa hora em que eu achava que meu filho deveria ter pelo menos uma sombra de super-herói no pai, o que vejo são lágrimas, por desilusão e desgosto por falsidade. Como alguém falsifica salário para não pagar uma melhor escola para seu filho? Como em sã consciência, alguém frauda sua "história e vida", pra poder se dar bem socialmente, mesmo pisando em cima de seu filho? Eu, envergonhada, por um dia não ter reparado no oco que havia ali. Numa hora dessas, minha garganta fica cheia de vontade de dizer "todas as verdades", a moral do que é imoral pode ser que abra os olhos do pequeno, e ele veja que é no final que quitamos as contas. A bondade e a razão sempre contam; quando tudo acabar (não em pizza), há que se ver a resposta, ética e justa.

Mulheres na Espera:.

Hoje eu tô sozinha, e não aceito conselho. Vou pintar minhas unhas e meu cabelo de vermelho. Hoje eu tô sozinha e não sei se me levo ou se me acompanho; mas é que se eu perder, eu perco sozinha; e que se eu ganhar, aí é só eu que ganho. Hoje eu não vou falar mal nem bem de ninguém*. O que eu preciso eu terei. Mesmo que no final da vida, como Bobbio disse, pois segundo ele, "até os amores deveriam aparecer quando somos velhos, para que durassem até o fim de nossas vidas".

*Música da Ana Carolina.

Pior? Pode ser jamais.

Tinha uma amiga que dizia: "Cuidado se tu disseres pro alto que tudo de ruim já está ocorrendo no seu dia - saiba que tudo sempre pode ficar pior". Acredito veementemente nisso: não há desastre que não possa ser piorado. Portanto, o que está ruim hoje, já antevejo como Polyanna, coisas boas. Se ela conseguia ver felicidade em boneca quebrada e muletas, eu também posso. Quanto ao meu sonho com cachorro preto (dois!), risquei o significado ruim. Lógico que sonhar com cachorro é coisa boa, melhor ainda se defecam (dinheiro vivo chegando!!!). Cachorro - sorte no jogo nos próximos dias. Visita inesperada de pessoa querida. Afeição sincera e desinteressada. Se o cachorro tem uma atitude amistosa para com você espere alegrias. O melhor: ver-se enxotando um animal qualquer, vitória sobre os inimigos. Ver alguém enxotando um animal, superação de dificuldades com a ajuda de terceiros. O problema se complica a medida que se introduz o local:Elevador - subindo: mudança favorável de situação. Cheio de gente: lucros. Sorte: gato. Qual o animal pra jogar no bicho? Gato ou cachorro?

o presságio macabroCACHORRO - Sonhos com cachorros não são muito favoráveis. Se um cachorro de outra pessoa, manifesta alegria, balançando o rabo, anuncia fraudes, que vigaristas tramam. Se late ou morde, é sinal de adversidade para quem sonha, alguém nos trairá. Cachorros brancos, predizem ataques de frente; os negros, agem de surpresa. Um cão negro, também pode representar a presença de um espírito maligno, tentando o sonhador. Pra garantir, a proteção já está erguida. Ontem a fortaleza ruiu e descobri que tenho fraquezas reais. A vida não é um jogo. Não possuímos poções mágicas que nos restauram a vitalidade depois dos golpes que a vida nos dá. Descobri que se eu cair no abismo vou cair mesmo e não haverá magia que dê jeito. Não haverá magia que me faça voar num vôo virtual. Quero voar sim e cada vez mais alto, mas no real. E o melhor de tudo é que estamos todos juntos. O melhor é que tenho pessoas especiais que me acompanham. Até uma árvore, alta e frondosa, com o tempo chega a estagnação. Podando os seus galhos ela volta a vida e continua encaminhando seus galhos cada vez mais alto, como quem quer pegar o céu com as mãos.

domingo, agosto 21, 2005


Existem Milagres:.

Sei que ontem discursavamos sobre o tema mãe; e Palova, lembro que disse que "todas eram iguais: sempre haveriam de crucificar uma filha pra Cristandade". Pois é, acabei de ler sobre uma exceção - raríssima. Porque é melhor encarar assim, do que imaginar que nós duas somos as únicas que carregam o fardo de serem bode-expiatório-negro da mamãezinha querida. Dê uma olhada em como descreve sua mãe, este Daqui:
Minha mãe cuidava de dois empregos, trabalhava de manhã, fazia o almoço, voltava ao trabalho, pagava as contas, encaminhava os quatro filhos à escola, limpava a casa, e ainda escrevia e ainda se arrumava toda bonita com seus lenços no pescoço e ainda corrigia os temas e ainda arranjava tempo para rir no sofá entre a gente, como se fosse um feriado o fato de estar em família. Nunca a vi xingando. Praguejando. Cobrando. Pressionando. Transferindo culpas. A fatia do queijo era rala, mas o doce da goiabada sobrava e nos fazia esquecer a escassez.(...)Agradeço a minha mãe que não se limitou a me alimentar durante nove meses e soube transformar a residência em seu ventre.

Isso me dá esperanças - quem sabe eu não possa ser uma mãe assim na memória de meus filhos?

Retrato em dó:.


Tenho horror a tudo que cheira a falsidade e escamoteação. Foram as palavras que Tia Clotilde dirigiu a seu noivo, logo que o avistou no cais. Embutida em um moderno terninho roxo, reticente e cheia de incertezas, achava que tudo podia mudar e se alterar na vida, e deveria estar pronta para zarpar. A única essência que acreditava era a base imutável de seu destino: sabia ler as mãos desde o começo de seus anos, angariando fama de feiticeira e sábia, pois via o avesso das pessoas, a sombra que teimavam em ocultar. Ali, sozinha, esperando-o desembaraçar de sua bagagem, já foi logo avisando-o: Uma mentira, e você volta para outro porto, para outros mares. O moreno fez cara de poucos-amigos, dizia que era sério e jamais falava inverdades, digno sempre de confiança. Ela nem deveria fazer estas observações cruciais: qual era a lógica em se duvidar de uma pessoa idônea? Ah, Clotilde riu muito alto, não havia lógica em seu mundo, apenas intuição. E algo em sua mao lhe alertara para um trecho de dúvidas e obstáculos. Se ele quisesse, considerasse. Era preciso fazer render o instante em que ele podia deter-se ali, e mesmo ela sabia a hora de calar-se, e ajeitar-se em seus braços. Lavou os olhos cheios de lágrimas de felicidade, despejou-se inteira naquela boca. Depois analisaria em que linha do destino aconteceria o reencontro. Porque ela sabia que a vida lhe tinha destinado aquele homem. E o que era seu, preservava com força e amor. Jurou amá-lo na terra, no mar, no braseiro, na neve, debaixo da ponte, e na cama onde faziam amor. Viu as estrelas e compartilhou a lua. Antes, as pequenas palavras, pequenos gestos, agora esta imensidão de gozo e convivência breve. Talvez ainda tivesse, Clotilde sorria ensimesmada, "medo de se encontrar", quando ainda tão ardentemente se buscava. Porque sabia que logo Ele zarparia, e o que sobraria do Amor profundo, senão o retrato em dor?

Prosa e verso:.


Sou um terrível assassino,
um suicida, uma besta quadrada,
um insensato elevado ao infinito,
um demônio, um anjo divino,
um imbecil qualquer,
um gênio, um macaco,
milhões de átomos, um ser,
um planeta, uma galáxia,
o finito ou o infinito,
a verdade ou a mentira,
um verso tonto, ingênuo
— ou a Poesia! *

Todos são exatamente iguais. Casam-se e criam filhos; nascem e morrem, constróem sonhos e alguns realizam, outros não. Buscam o amor, e reverenciam o desconhecido, almejam o conforto. Para alguns a vida deu mais do que merecia, e para outros, por ela foram excluídos. Até há aqueles que retribuem sorrisos ensimesmados - como o meu; como se eu estivesse sempre conversando comigo mesma. À força, tomarei da vida o que é meu por direito. Quero dar com generosidade, quero que o amor transborde do meu coração e brote. Floresça.
*Fernando Pessoa.

O navio da Alvorada:.

"Tinha sabido demonstrar meu amor por minha mulher? Talvez durante um período, mas nem sempre. Por que? Porque ele achava que não era necessário, ela devia saber, ela não podia colocar em dúvida seus sentimentos. Lembrou-se que, muitos anos atrás, alguém lhe perguntou o que tinham em comum todas as namoradas que passaram em sua vida. A resposta foi fácil: ELE. E ao perceber isso, viu o tempo que tinha perdido na busca da pessoa certa - as mulheres mudavam, ele permanecia o mesmo, e não aproveitava nada do que viveram juntos. Teve muitas namoradas, mas sempre esperou a pessoa certa. Controlou, foi controlado, e o relacionamento não passou disso - até que chegou Esther, e transformou o panorama por completo. Estava pensando em suas ex-mulheres com ternura: já não era mais uma obsessão controlá-la, saber porque tinha desaparecido sem explicações. Embora "tempo de rasgar, tempo de costurar" fosse um verdadeiro tratado sobre seu casamento, o livro era sobretudo um atestado que passava para si mesmo: era capaz de amar, de sentir falta de alguém. Esther merecia muito mais do que palavras; mesmo as palavras, as simples palavras, jamais tinham sido ditas enquanto estavam juntos. Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram. Pouco a pouco, começou a entender que não podia voltar para trás, e refazer as coisas, fazer as coisas voltarem a ser como eram: aquele ano sem Esther, que parecia antes um inferno sem fim, agora começava a mostrar seu verdadeiro significado. E esse significado ia muito além do seu casamento: todo homem, toda mulher estão conectados com a energia que muitos chamam de amor, mas que na verdade é a matéria-prima com a qual o Universo foi construído. Essa energia não pode ser manipulada - é ela que nos conduz suavemente, é nela que reside todo o nosso aprendizado nesta vida. Se tentamos orientá-la para o que queremos, terminamos desesperados, frustrados, iludidos - porque ela é livre e selvagem, e passaremos o resto da vida falando que amamos tal pessoa ou tal coisa, quando na verdade estivemos apenas sofrendo, porque, ao invés de aceitar sua força, tentamos diminuí-la, para que coubesse no mundo que imaginamos viver."*

O amor não precisa de palavras, mas necessita de uma base única: confiança. Quando esta se destrói, o que temos é o recomeço. Leva-se tempo...Sinto que no momento há forças me impelindo para outro país, Tempo de migrar para o Norte. Nessa bifurcação, escolho a vida, logo eu, que no afã de prosseguir, jamais decidi ou escolhi, apenas deixava tudo em mãos alheias. Escolho a vida porque existem pessoas aqui que gostaria ainda de desfrutar muito tempo ao lado delas. Porque tenho deveres a cumprir, e sonhos a realizar. Porque ainda há um sentido, e o caminho não está findo. Sou capaz de perdoar, porque sou capaz de esquecer. E logo, a neblina passará, e passarei a andar com força e argúcia, diante das dificuldades presentes erguerei meus olhos e ouvirei a resposta de Tmaina ao vento. É tempo de migração, porque o tempo do impasse e da dúvida se instalaram - e o tempo do desespero trota rapido, destemido, crente que possa eu estar a seu alcance. Mas o resgate da esperança me concedeu tempo suficiente para prosseguir em paz. Agora não tenho mais a sensação de ser apenas uma pena ao vento, sou muito mais como o velho limoeiro, criatura que todos os dias me saúda, e que possui origem, raiz e objetivo.

*Trecho de Zahir, Paulo Coelho

sexta-feira, agosto 19, 2005


Dear, Sorry:.


Desculpe amigo, mas alguma coisa que ainda não identifico muito bem (mas que comecei a vislumbrar em nosso último encontro) impediu-me de "me dar bem" com você. Você tem a sua verdade, eu prefiro ficar com meus sonhos. Acredito que você goste de ser assim - então entenda minha posição, eu não abro mão de também poder me expressar como quero e sou. Eu não sei tocar violão, não tenho saco pra aguentar gente que não conheço, não fui educada por nenhuma Rainha da Inglaterra; muito pelo contrário, por uma carrasca de Hiroshima ou algo semelhante. Sou diversa, complexa, côncava. Esta que vos escreve chora por esse dia, 19, Dia D., dia de outro, dia de algo especial no passado. E eu aqui, chorando, tentando consertar uma situação que me acusaste de criar, logo eu, que não crio nada, ando assim, só calada, tentando me sustentar em pé, tentando justificar a minha vida, ou quem sabe esperando que quem me ouve também cante para mim. E que contenha mais que palavras, seja cheio de atos, e infinito no seu gostar.

Amigo, ouça bem o que eu lhe digo: eu não sei mentir, nem pretendo aprender nessa hora da vida, já estou cansada de tanta queda, quem sabe um dia a gente se encontre, e recomece do zero, você cantando seus sambas, e eu entendendo o que há de novo no paraíso. Vamos vivendo, e aí, quem sabe, um dia você me desculpa, me aceita do jeito que sou, talvez na minha idade compreenda minhas imperfeições, e no mais total e profundo esquecimento, porque não há forma mais eficaz de esquecimento do que essa memória que só perpetua o prazer, nunca o sentimento escondido atrás de cada acorde de um violão.

Eu realmente gostaria de poder apertar um botão por aqui, e minha vida "virar Maria Carolina", seria tão útil, agradável e sociável - mas não. Por mais que eu tente, o que eu posso, infelizmente, é ser somente aquilo que você já conhece - e essa sinceridade e ironia, essa armadura resistente e esse ódio por gente que não diz o que sente, é intrinseco, tão perto de mim. Não consigo me desfazer, nem me mascarar. Nem mais me desculpar, porque não há culpas. Não há como eu ser culpada por algo que não se entende, apenas existe. Incompatibilidade total de Luas. Melhor assim, que os astros se mostrem condoídos por ti. Não. Prefiro ficar com o meu Ego dolorido, modificado, curtido, mas que jamais será apoderado por essa história-de-ser-quem-eu-quero, e esconder sentimentos, da qual um dia eu também fiz parte. Deixa ver se eu me recordo, de alguma frase de efeito, pra te dizer, enquanto você bate a porta. Pra poder me acolher, enquanto ouço você gritar que é tudo culpa minha, sempre foi e será. Que toda situação sou eu que transformo, deturpo, vira tudo comiseração. Deixa eu te dizer que sinto muito, que não quero ser desvendada, apenas compreendida, mas infelizmente somos iguais ou opostos, você sempre com um pé atrás, eu lá no longe, não querendo esperas nem me justificar.

Eu posso nunca mais me encontrar contigo, mas suas palavras de hoje, ontem estão gravadas em mim. "Tô fora" desse jogo de tentar fazer você compreender o que jaz por traz da vida que tu teimas em colorir. Vai, termina, e leva essas palavras, pra quando tocar perto de ti, você lembrar de mim. Porque eu aceito "seu fora" de mim, mas por favor, respeite o meu desalento, me deixe ficar dentro de si. Não quero mais ser sua amiga, não consigo ser assim - Tão longe de mim. Leva o que há de ti, que a saudade é o pior tormento, leva os teus sinais, e evita atracar no cais. Me desculpe, mas eu não faço nada sem que haja outra pessoa pra colaborar...

Qual é a sua?:.

Todos os dias eu vejo essa pergunta no site do Terra. Publicitários modernos. Qual é o que? Os meus sonhos-certezas para conquistar? As coisas que mais me tiram do sério? O que me motiva a sair da cama? Qual é a minha? De minha, minha acho que não tenho nada. Sou uma pessoa que não pertence, e nem tem pertences. Pra ficar mais fácil eu evaporar pro outro lado de lá. Forrada de sonhos, desejos e vontade. Isso é o que compõe meu travesseiro.
uma casa própria dos meus sonhos
um relacionamento estável e feliz
um amor que eu deseje pra sempre
praia, casa e final da vida tranquilo

Uma questão que aflige:.


Em que consiste tratar as pessoas como pessoas, ou seja, humanamente? Resposta: Consiste em tentar colocar-se em seu lugar. Entender alguém como semelhante implica sobretudo a possibilidade de compreendê-lo a partir de dentro, de adotar por um momento seu próprio ponto de vista. É algo que só posso aprender de maneira muito romântica e muito duvidosa, com um morcego ou um gerânio, mas que, em compensação, impõe-se com os seres capazes, como eu, de manejar símbolos. Afinal, sempre que falamos com alguém, o que fazemos é estabelecer um terreno no qual quem agora é "eu" sabe que se transformará em "você", e vice-versa. Se não admitíssemos que existe algo de fundamentalmente igual entre nós (a possibilidade de ser para o outro, o que o outro é para mim), não poderíamos trocar uma única palavra. Onde há troca, também há reconhecimento de que de certo modo pertencemos a quem está diante de nós e queme stá diante de nós nos pertence... sou humano, disse um poeta latino, e nada do que é humano pode me parecer alheio. Ou seja, ter consciência de minha humanidade consiste em dar-me conta de que, apesar de todas as diferenças muito reais existentes entre os indivíduos, também estou de certo modo, dentro de cada um de meus semelhantes. Pra começar, como palavra...

Fernando Savater, Ética para meu filho. Imprescidivel!

quinta-feira, agosto 18, 2005


as meninas-boazinhas:.

Lembram da Condessa de Ségur e Sofia? Crianças "bem-educadas" seriam crianças boas; "mal-educadas", crianças más. Ah, exclama Sofia, depois do episódio dos morangos e da cena de reconciliação com a boa Camila - se eu tivesse uma mamãe doce e boa, eu seria melhor! mas tenho medo de minha madrasta, ela não me diz o que devo fazer, mas me bate sempre. A criança má é alguém com quem se é mau; o maldoso é filho de infelicidade, filho da maldade de outrem. E a maldade é a vingança, reação de ressentimento à frustração (de amor ou de bondade). Criança espancada, criança maldosa? Não existe maior criança do que o cínico, e nem maior cínico que a criança. Como se o mal fosse "uma brincadeira de criança". Em Os desastres de Sofia, a grande cena dos peixinhos. Uma amostra de todas as contradições da perversidade e um cso da espécie que coloca o problema filósófico do mal. "Sofia pegou o sal, colocou-o em sua salada; ainda sobrou uma grande quantidade. Se houvesse alguma coisa para salgar - ela disse. Eu não quero salgar o pão, eu queria carne ou peixe... Oh! Que boa idéia! Eu vou salgar os peixinhos da mamãe; cortarei alguns em fatias com minha faca e salgarei alguns outros inteiros; como vai ser divertido! Que lindo prato isso tudo dará! Eis que Sofia não pensa que a morte chegará assim para os peixes; que estes sofrerão muito por serem salgados vivos, ou por serem cortados em fatias. Simplesmente age: E ao primeiro golpe da faca, os infelizes peixes retorciam-se despesperadamente, mas logo tornavam-se imóveis, porque morriam. Depois do segundo peixe, Sofia percebeu que os estava matando, ao cortá-los em pedaços. que mamãe vai dizer? - perguntou-se. Que vai ser de mim, pobre infeliz! Como fazer para esconder tudo isso?" Monstruosa inocência: não conhece leis, não sabe da morte, nem o que é imoral e não pode fazer.

Hoje, temos jovens de dezenove anos que queimam colegas que divergem de sua opinião. Matam-na, estrangulando, e pra apagar vestígios, queimar é o remédio. De onde sai tanto sangue frio? É da natureza do homem, ou a família destes queridos esqueceu do ensino e educação da moral e ética? De como conviver em sociedade? Seria a anormalidade o fato aqui, ou os exemplos do que ser bom e mau hoje escassearam-se? Quem serve de modelo para as crianças? Qual o poder da educação para deter assassinos e corruptos, se passam por faculdade (de direito), e não conseguem deter a busca pelo poder, riqueza e atos nefastos?

Nur, Nur, Nur:.

Ando querendo tudo da Vida. Para a minha vida. Com a clara convicção de que eu mereço e sou digna de ter. Com a certeza de que, aos trinta anos, não preciso mais me contentar com pouco, sendo que sei que há tanto e muito.

Quero tudo: atenção, amor e carinho, constante. Como se flor eu fosse: o cuidado com uma orquídea. E se não tiver essa "nur" no meu caminho, eu simplesmente sigo em frente. Porque não preciso mais de bengalas, suportes ou muletas para prosseguir. Eu aprendi a andar sozinha. Eu aprendi a confiar e me amar. Acima de tudo, a dizer "basta" e "pare" àquilo que me faz mal, e me põe pra baixo. Melhor: com uma paciência incrível, e uma determinação inabalável para conseguir o que eu quero e preciso. Mesmo com todos os obstáculos e 'nãos' recebidos. Até consigo me conter, a fim de não julgar. Mas hoje, especialmente, eu estou a fim de luz. E lógica.

Doutorzinho. Quem já não usou esse produto? Eu gosto dessa espécie de produtos e coisas que conseguem atravessar o tempo e alcançar muitas gerações; doutorzinho é um desses, e minha mãe falava que antigamente a embalagem, muito diferente, era vendida de porta-em-porta, pelas vizinhas. Eu tenho sempre em casa, refresca o pé, evita o chulé. Agora eu gostaria de saber o que, pais em sã consciência, nesse caso de Campinas, desejavam ao seu filho, quando resolveram fazer inalação com algo "refrescante" para os pés? Há alguma lógica nisso? De quem é a culpa? Do produto que é super-bom, ou de malucos que não refletem sobre nada, não leem bula, acreditam em qualquer coisa, e, principalmente, não respeitam o direito do filho de poder ter acesso a um profissional de saúde? Acaso o doutorzinho, pelo nome, deveria resolver todos os problemas de saúde? Essas criaturas pequenas merecem todo cuidado e Luz que a gente dispõe. Fora com atitudes como essa - de pais que não se preocupam com o bem-estar de seus filhos pequenos demais para correrem pra longe, e de imprensa vazia que tenta culpar o produto, atrevendo-se a dizer que este deveria ser colocado fora do mercado. Que não mexam no produto: eu aprovo,adoro. Minha avó, idem. E Gerações estão há tempos fazendo isso. O que se deve tentar fazer é "educar" pais como esses. Enfase à cultura.

Outro caso: Se você está num emprego, procure ser o melhor naquilo que exerce. Não é questão de berço, nem de estudo, muito menos de raça. Questão humana, de caráter. Ética. Moral. Você, que lida com clientes, com certeza não precisa se formar na FGV, em marketing, pra saber que o "cliente" é o principal acessório do negócio. Porque todo mundo é um cliente, e assim, tem noções de como "quer ser tratado". O Cliente pode se exarcebar, protestar, gritar e chorar - ele é o cliente. O seu dever, por estar do outro lado, é deixá-lo afável, amigável, acalmá-lo. Traze-lo novamente para sua empresa. Porém, há certas queridas que insistem em dizer: "Olha, eu não gosto que contradigam o que eu disse. Se não está satisfeita, é melhor ligar novamente, e falar com outra pessoa". E buuum - desligam o telefone na cara do cliente. É por isso que as operadoras telefonicas tem inúmeras queixas no procon. É por isso que muita gente odeia operadoras de telefonia, e eu particularmente, as de celulares. Pelo desprazer e falta de preparo dessas tais. O que eu faço depois disso? A ligação é grátis, e eu tenho todo o tempo do mundo pra exigir o que eu quero. Principalmente porque do meu lado há direitos. E a razão. Mas que lógica há em desligar um telefone, porque você não quer mais falar com o cliente, sendo que foi contratada pra tal questão?

Ponto dois: O outro lado da Vida. Aquela que você quer. No que eu posso ceder, e até onde eu posso ir, sem me quebrar ou desfazer meus limites. Eu gosto de chuva, e se resolver ir tomar um porre de água, nem tente me impedir. Eu gosto de Ser, e não me preocupo tanto em ostentar, nem em me desqualificar, pra aparentar Ter. Sei exatamente o que sou, portanto, quando alguém quiser me colocar pra baixo, ou me dirigir verdades, que sejam pelo menos reais. Tentar me dizer o que não sou, nem o que nunca tive, não adianta. Não vai me deixar triste, nem me fazer chorar. Apenas me fazer cócegas, e dar muita risada.

Pra finalizar, eu abro mão de tudo que não me dá satisfação. Mesmo que satisfaça a milhões. Eu não tenho porque engolir uma pilula que não me dá prazer. É, estou aprendendo a ser egoísta, de uma forma especial: aquela que se ama, e ama demais aos outros, pra fazer algo contra a natureza. Portanto, eu abro mão de dispor da Folha, jornal que não gostei. De morar em São Paulo, cidade que abominei. De procurar dinheiro pisando em cima de outros, porque me preocupo com sentimentos. De pessoas burras e lerdas, que não compreendem algo que a gente repete todos os dias. De conviver com pessoas que esquecem de dar carinho, ou comecam a relevar certos itens imprescindíveis. Abro mão de apertar a pasta de dents pelo começo: ela é minha, eu faço como eu quiser. Também abro mão de ter que ser gentil com todos - às vezes eu quero perambular, sem ninguém por perto. Dá licença pra eu poder ser feliz, do jeito que quero e posso?

terça-feira, agosto 16, 2005


Tem coisas que são P.S.

Coisas Pra Sempre.
Eu não abro mão, independentemente do rumo que possa minha vida tomar, de certas coisas PS. Mesmo que esses amores-ps, que guardo com cuidado dentro de mim, ousem, sem autorização, voar e "se mandar" daqui, por puro espírito aventureiro, eu ainda continuarei considerando-as vitais, dentro do meu coração. Porque eu não abro mão de nada que faça parte de mim, e que sem, eu não possa viver.


Do amor da minha filha. E do meu filho. Da minha família inteirinha. De ser mãe e filha.

Não abro mão do AMOR. Por mais que eu caia em buracos negros, ache sapos-desencantados, continuo acreditando em alma-gêmea, amor-pra-vida-inteira, sofá e pijama, felicidade comum. Coisas simples. Um Jorge Amado só pra mim. Hoje, amo. E se amanhã esse amor resolver voar, ele vai cair novamente no meu jardim. Porque do Amor eu também não abro mão.

Nunca vou abrir mão da minha amiga-cão, pois é maluca por estes animais. Palova, querida, por mais que você vá longe, pra Estados ou Países diferentes, eu vou estar sempre no mesmo canil que você, nem que seja via internet, via pensamento ou via mensagens de fumaça. Não abro mão de nenhuma de minhas amizades, não importa o quão distantes elas possam estar.

Também não vou deixar de ser "uma gata", em constante movimento com seus amigos cães. Não abro mão de uma boa discussão, Conversa, papo-alegre, alto-astral. Princípios, diferenças, Valores. Não abro mão de ser o que sou, pra imitar qualquer um. É na convivência e com todas as diferenças que a gente aprende o quão iguais somos. Amor.

segunda-feira, agosto 15, 2005


Coitadinha das Criancinhas:.

Muitas vezes um deus, um poema, uma cidade, uma pirâmide exprimem mais sobre um povo do que sua história. O nosso século traz "o Museu da Barbie" como ícone de uma geração. É pelo lar, pelo afeto do coração, pelo trabalho, pela justiça e pelo cotidiano das famílias que se revela o mais profundo do ser humano*. No fantástico, as crianças de hoje exprimiram seus medos. Medos tão diversos daqueles que eu tive e tenho! Daqueles que eu repasso para as minhas gerações, já que medos maternos tendem a se infiltrar através do sangue do filho, ou durante sua formação. Ou, numa avançada teoria espírita, trazemos medos de passagens anteriores.

Minha princesa tem medo inato de se perder. Mesmo com o medo, se solta por algum tempo; e de repente bate um desespero tão enorme nela, que vêm gritando muito, numa voz aflitíssima, coisas sem nexo. Como se houvesse olhado tudo ao redor, e tivesse concluído que haviam largado ela por ali. Isso que ela jamais ficou em local nenhum, sem presença de quem a ama. Todos que vêem a cena, ficam admirados do pavor que ela antecede a procura. Não tem medo nenhum de bicho-papão, nem de homem-do-saco, bruxa ou animais. Geralmente aceita estranhos de uma maneira oito ou oitenta: ama ou detesta. O que ela está aprendendo é temer a polícia: não aceita o banco de trás sem o convencimento de que o homem-polícia está logo ali, prestes a pegá-la. Resolveu sozinha o medo de animais peçonhentos: ela tendo o chinelo e sendo maior, não exprime grito de pavor nenhum, mesmo que a mãe berre muiiito. Medo de ladrão: nenhum. Pavor do Pediatra. E do homem-do-correio, que toca a campainha e tentou pegar a sua mão, sem pedir.

Já o outro, pavor de baratas e aranhas. De ladrão, policial corrupto, e espírito-do-além. Do homem do escuro e de doenças. De doação de sangue. De que morra alguém que ele ama. De ter acne se masturbando; de comer bala doada por estranhos, de droga e de AIDS.

Eu me lembro que o meu grande medo era o meu pai, que parecia tão bravo! Tudo ficava pequeno perto dele - medo de ladrão, se ele estava ali, pra que? Medo de baratas? Eu gritava, e ele sempre matou todas. Medo de espíritos? Ele vinha, e acendia a luz. De Bruxas, contava uma história de tia e padre. De Morte? Falava de fé e de Deus. Medo eu tinha era de quando esse pai-herói ficava nervoso: rangia os dentes, bufava muito.... nem namorar eu consegui sem o seu consentimento. Um olhar, e eu sabia. Mesmo assim, lógico que desafiava o medo: geralmente as crises de nervosismo eram desencadeadas por esse anjo doce - não sei porque mas gostava de saber até onde podia ir. E me sentia amada, cercada de proteção e de imaginaçao.

Essas crianças de hoje - as que se apresentaram no quadro do fantástico - me deram medo. Medo de que meus filhos se tornem pavorosas como elas. Medo, porque o pai de hoje está tão distante que não é mais herói nenhum.


Jules Michelet, historiador francês.

Francesca:.


Esta enorme pintura a óleo de William Dyce (1806-64), encontra-se na Galeria Nacional da Escócia, em Edimburgo, e é intitulada Francesca da Rimini. No centro, um jovem par enamorado aparece imóvel e indeciso. A Lua e um ponto de luz brilhante, certamente um planeta, aparecem à direita, sendo interessante que o céu deste quadro é a reprodução exata das condições celestes do dia 02/08/1837. À esquerda, quase imperceptível, nota-se uma misteriosa mão rugosa.

O quadro tem uma história atribulada, que explica alguns pormenores aparentemente absurdos. Conta uma história lendária de amor e violência. Francesca da Rimini é uma das mais famosas personagens do Inferno de Dante Alighieri, ao que parece baseada numa história verídica, ouvida pelo grande poeta. Francesca era filha de Guido da Polenta, senhor de Ravena, e por razões políticas, havia sido oferecida em casamento a Giancotto, o idoso senhor de Rimini, com quem haveria de casar em 1275, apesar da grande diferença de idade, e das deformidades físicas patentes existentes no esposo. O irmão mais novo de Giancotto, de nome Paolo e muito mais jovem, apaixona-se por Francesca, e esta acaba por lhe corresponder. Reza a história que, mais ou menos em 1285, o velho Giancotto os surpreendeu num momento de amor e os esfaqueou até à morte. A tragédia comoveu os poetas. No quadro, do lado esquerdo, aparece uma misteriosa mão. Trata-se da mão de Giancotto, que se prepara para matar os jovens. O astro que se encontra à esquerda da Lua é certamente um planeta. Nenhuma estrela tem tal brilho que seja possível observá-la ao crepúsculo. Podemos ser inclinados a dizer que se trata de Vênus, pois é o planeta da deusa do amor.

Boccaccio, no seu Comento, culpa Giancotto por todo o drama, dizendo que este se escondeu até ao momento do casamento, fazendo crer a Francesca que era com Paolo que ela iria casar. Dante dedica-lhe alguns dos versos mais sentidos do Inferno que, no Canto V, descreve o segundo círculo do abismo – aí passam os tormentos eternos os culpados de amor pecaminoso. Amor, que dos corações gentis rapidamente se apodera, dele se apoderou. Amor, que a nenhum amado permite não amar, tomou-me com tanta força, deslumbrada, que, como se vê, ainda agora não me abandona.. Na visão de Dante, a lascívia é o menos grave dos pecados (sendo, por coincidência, o principal pecado do próprio Dante, na visão deste). Consiste o castigo meramente em ser arrastado eternamente por uma espécie de furacão. Dante dialoga com Francesca da Rimini, que narra as circunstâncias de seu adultério com o cunhado Paolo Malatesta, transformado em eterno parceiro no turbilhão infernal. na Idade Média, Paolo e Francesca liam a história com cada vez mais tesão, e chegavam, em certos momentos, a erguer os olhos e perder a cor das faces: “... li occhi ci sospinse quella lettura, e scolorocci il viso...” Segundo Francesca, no momento da leitura em que Lancelote conseguiu o almejado beijo, Paolo por sua vez a beijou, trêmulo. Portanto, diz a nobre dama, Galeoto teria sido o livro e quem o escreveu. Cuidado, autores de literatura erótica, com as conseqüências de vossos escritos. O resultado foi que Paolo e Francesca não pegaram mais na leitura o resto do dia: “... la bocca mi basciò tutto tremante. Galeotto fu’l libro e chi lo scrisse; qual giorno più non vi leggemmo avante”. O corno fraticida, Gianciotto Malatesta iria, em breve, expiar sua culpa na Caína, setor do nono círculo destinado aos traidores dos parentes.

O sentido de tudo é que o Amor, nessa vida, é a Culminância, e mesmo sendo imoral deste lado, será apaziguado seu julgamento do lado de lá. "O justo e o legal".

sábado, agosto 13, 2005


Libélulas, Mariposas e Falenas:.


Não somos iguais - mas pertencemos a mesma essência de amor e sinceridade. Recebíamos conselhos de amor, às vezes o seguíamos, em outras colocávamos cera nos ouvidos. Mas não havia medonhas brigas por esses atos: se errássemos, tinhamos colo, abraço e carinho, porque o que importava para nós era agir seguindo o coração e a intuição. Téntavamos reunidas, com todas as forças, curarmos a nós mesmas. Reconstruirmos, depois que nos moessem em picadinhos. Procurávamos um emprego onde pudessemos ser "mega empresárias", e clientes da Daslu; por enquanto o que tínhamos eram profissões que amávamos, e princípios e ética que seguíamos. Confiantes, buscávamos o que desejavamos para o futuro, cada qual com um sonho. Cometíamos erros, às vezes homéricos, chorávamos nas manhãs de segunda-feira, ou em alguns dias à noite, quando sozinhas estávamos. Mulheres que frequentemente ficavam entendiadas com a própria vida, achando dificil levantar-se para ir ao trabalho novamente pela manhã. Na maioria dos dias ruins, nos olhávamos no espelho e não encontrávamos resposta para vivermos aqui, daquele jeito, naquele meio. Folheando revistas, nos culpávamos por não termos nos arrastado mais vezes para aquela academia. E, simplesmente, tínhamos momentos em que fazíamos tudo errado. Éramos apenas mulheres.


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quandos eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
*

*Chico Buarque

A mulher que nunca chorava:.


Encontrar alguém que você ame, e que a ame é algo maravilhoso. Alguns dizem hoje ser impossível - eu ainda acredito. Mas encontrar a tampa de sua panela, sua alma-gemea, aquela pessoa prédestinada a ti, sua missão aqui, é algo difícil, e por isso muito melhor. Alguém que a entende como ninguém, que siba ler nas entrelinhas do seu escrito o conteúdo do seu coração, que respeite seus defeitos e leve em consideração a pessoa inteira que tem diante de si. Alguém que a ama como ninguém mais ama, que estará contigo pra sempre, mesmo com obstáculos, quedas e terremotos, não importando o que aconteça. Dizem que nada dura para sempre, contudo eu creio firmemente que, para alguns, o Amor continua mesmo depois de termos partido. Sei uma coisa ou outra a respeito de ter uma pessoa assim, e acredito que um laço assim nunca morre. Quando a gente se une ao outro, um sentimento de não aber o que o futuro nos reserva sempre fica à margem, e se embola com a esperança, excitação, felicidade, orgulho da nova vida. Tudo fica pequeno porque estamos de mãos dadas com alguém que também está pronto pra enfrentar tudo o que ocorra, juntos, lado-a-lado. Não é motivo para lágrimas brigas ou distância: o tempo ensina que devemos aceitar "esse destino", e receber de braços abertos tudo o que a Vida nos reserva. E ela nos trará, com certeza, aquilo que a gente crê fielmente. A medida que convivemos com esse Amor, levamos conosco recordações maravilhosas, experiências, formas para o futuro. A vida não nos tira isso, e o que se conta aqui é justamente isso - o modo como você vive sua vida, não a sua duração.

Faz frio, e as árvores estão paradas: não há vento. Mas há recordações. Ser uma mulher com um milhão de lembranças felizes, acreditar no verdadeiro amor, estar pronta para experimentar a vida, construir nvoas recordações, tudo isso não importando quanto tempo de espera. O que quer que nos espere a frente, não importa: o que é necessário é ter o coração aberto, e deixar que o mar conduza-o pelo caminho certo. Enquanto isso, a gente vive. De momentos.

quinta-feira, agosto 11, 2005


Carpinejar:.

Ontem rearranjei uma promessa: adquiri um livro, mas encerrei-o até dezembro no fundo do guarda-roupa. Era do Carlos Nejar, e o que eu li foi somente a autobiografia - se referia ao Fabricio Carpinejar... Lembrei do nome, do blog. Fui visitar e adorei. Lindo. Um pedacinho, pra vocês:

Cede-se para calar, não para ouvir. Ao ceder, é feito caridade, sacrifício. É a negação da vontade. Ofende-se a crença com o abandono: engolir a seco a fé, cuspir a fé como gripe. Ceder não oferece compreensão, mas evidencia uma guerra silenciosa, autoritária, de persuasão e posse. (...)Ceder é o primeiro sinal do cinismo na convivência. Cinismo consiste em falar o contrário do que se diz, omitir o pensamento. Não conheço verdade que não tenha nascido de alguma discordância. Ceder é alienação, não esperar mais nenhuma reação de entendimento. Privar-se da possibilidade de ser acompanhado. Mentir que não tem importância. Encerrar a conversa para não se incomodar. Resume o egoísmo das duas partes em apagar as diferenças. Não merecer a atenção no casamento é a mais grave humilhação.

Entrando no meio: Eu discordo veementemente dessa posição: acho que num relacionamento, qualquer que seja, bastando que existam duas pessoas, temos que aprender a ceder. Vamos continuar com esse verbo "ceder" a vida inteira, e não adianta imaginar que isso é só particular ao casamento. Eu já cursando a especialização em "ceder", sei que é absolutamente necessário para a sobrevivência de uma parceria. Fazer o que?

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Em algum trecho da vida, ouvi que não devia, que era feio, que não merecia e abafei a resposta. Tranquei a porta do quarto para chorar baixinho. Nunca chorei para ser ouvido. A vergonha de chorar é a mãe de todas as vergonhas. Isso faz a maior diferença. Meu desconsolo não fez amigos. (...) Eu amo desorganizado, desenvergonhado. Tenho um amor que não é fácil de compreender porque é confuso. Não controlo, não planejo, não guardo para o mês seguinte. A confusão é quase uma solidão adicional. Uma solidão emprestada. Sou daqueles que pedirá desculpa por algo que o outro nem chegou a entender, que mandará nova carta para redimir uma mágoa inventada, que estará se cobrando antes de dizer. Basta alguém me odiar que me solidarizo ao ódio. Quisera resistir mais. Mas eu faço comigo a minha pior vingança. Amar demais é o mesmo que não amar. A sobra é o mesmo que a falta. Desejava encontrar no mundo um amor igual ao meu.

Aniversário de Princesa:.


A princesinha faz aniversário no final do mês, e decidiu que quer vestido de princesa, roupa da XUXA, e um gato persa branco, que a vizinha está vendendo por um preço alto que ainda não posso pagar. E, mesmo que pudesse, onde enfiá-lo, já que a família hostiliza gatos? Meu irmão odeia, minha cunhada tem alergia profunda, minha mãe quer matá-los, o cão lá de casa morre de medo e a moça da limpeza abomina os pelos que caem nos móveis. Assim, eu e a menina ficamos com o desejo suspenso - é lógico que através do presente dela, eu realizaria meu desejo maior de agora. Não pensem que dou ponto sem nó, ou faço tricot por diversão. Tudo tem um porquê: real, com princípios e fadado a chegar a um fim seguro e certo. Cancelamos a festa e marcamos uma viagem. A promessa de ganhar o livro da bruxa que comeu João e Maria a encantou. Porque na história dela, a bruxa come de verdade as criancinhas - não tem essa de fugir do caldeirão. E depois que papa os menininhos, se refastela na cadeira de balanço, e curte a vida, com a barrigona bem grande.

Ps.: Num blog, parei e vi o dito seguinte: "após ter filhos, a gente quando se corta, utiliza esse tipo de band-aid". Bem, contradigo: "Eu que amodoro esses band-aid todos coloridos, cada desenho animado ultramegalegal! E meu filho, na pré-adolescencia, reclama: "Dá pra ter em casa uns de-cor-creme, que não chocam e nem chama atenção pra mim?". Temos uns quatro, pra ele, sempre.

Ps2.: A princesinha ralou o joelho correndo pela nave da Igreja. Muito! E ontem, novamente, no mesmo lugar, e o sangue... Aí, foi merthiolate e band-aid. Como ela não aceitava esse apetrecho (detesta ter dodói pelo corpo), inventei que o Bob-Esponja, por ser do mar e vir da TV, vinha a ser um poderoso curador-anjo pra dodóis de criancinhas que gostavam dele. Resolveu. Por isso, só tenho em quantidade band-aids coloridos: a imaginação cria chances inacreditáveis na cura.

quarta-feira, agosto 10, 2005


CatDown:.

quero comer alguém

...melancólia, triste, menos otimista (se que é fui um dia), deixada para trás, como aquela saga idiota de livros. Muito puta da vida, brava e chateada. Como se os moinhos que pontuam o horizonte fossem efetivamente gigantes, fortes, imensos, com o peso e a força do tempo. E eu apenas a personificação de um cavaleiro andante, condenada seguramente à derrota, vivendo de anseios, desejos, de sonhos, virtualidades, matéria intangível, carregando comigo todos os dias o meu fiel escudeiro que, com o seu ventre proeminente, me ancora ao solo. O meu sonho e a vida, caminhando no mesmo ritmo - em montadas desiguais. Não sei já de que se alimenta a minha história, a minha alma, qual a matéria dos meus sonhos. A minha lança não tem brilho pela falta de uso, o cavalo perde a agilidade. Os sonhos cada vez voam mais baixo, sobre si próprios, como se estivessem reféns de fitas de cetim atadas graciosamente nas patas. O que quero eu, que procuro, que anseio? Que dama intangível de D. Quixote rege a minha procura? Terão os sonhos já perdido as cores? Serão as interrogações verdadeiras perguntas ou apenas uma forma de transformar gigantes em moinhos e em gigantes novamente?

Perdi até as palavras, e tive que garimpá-las em Portugal. Porque eu [pra seguramente aqueles que me conhecem} não conseguiria expressar a dor desse modo, tão voraz. Peguei emprestada umas linhas ali e acolá, pra poder dizer o quão gata vazia estou. Oca. “Os cavaleiros andantes pertencem a época de lendas e os sonhos ficaram aprisionados nas grades do tempo.”Os meus sonhos, são tão voadores, e mesmo sem asas, ainda experimentam voar e quebrar a cara, em quedas memoráveis, que certamente farão parte do tempo das lendas de "Samara e Dhyanna". O problema que rola por aqui devia corroer Fernando Pessoa também, por seus versos "Tenho tanto sentimento, Que é freqüente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal." Queria falar contigo, Palova. Queria, afinal. Porque agora estou bem 'brava' contigo: eu ligo toda noite, e esqueço que aí no sítio tudo acaba uma hora antes. Ou seria ao contrário? Bem, o que sei é que acabo falando com sua clone, mas não é a mesma coisa, já que os pés dela são pregados no chão. Preciso de asas, querida. Preciso logo. Se você não me ligar antes deste dia findar - pode ser neste horário de interior seu - o seu baile se transformará nissoprincesa-sapo Porque já imagino tudo: o vestido lindo ficando apertado, os cabelos caindo antes da chegada na festa, a bebida sendo derramada no sapato novo, e... Sapo Mesmo! E sobre Ele, tudo que me corrói aqui é este pedaço de poema: É surreal falar o teu nome, Chamar por quem some, Sonhar contigo em noite insone. É surreal sussurrar no teu ouvido, Palavras sem sentido. E depois sentir saudade. Surreal, Palova, é saber que meu Anjo da Guarda e Amor cortou minhas asas sem dó, e anestesia.

terça-feira, agosto 09, 2005


Desculpas e Ausências:.


Palova, querida, me desculpe por não estar disponível. Mas ambas sabemos como a faculdadezinha age com pessoas relapsas, que deixam para entregar trabalhos exatamente meia-hora antes do findar do prazo. Tive uma imensa vontade de perguntar para as duas se elas ganham para serem chatas e complicarem a vida dos alunos. Mestrado em caraamarrada. Mas o frio congelou minha língua ferina, vim embora correndo. Pra gente poder rir e contar o que aconteceu nesse tempo de lambança e dor.

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Maria Carolina

Fecho os olhos, e a história de Maria Carolina se desenrola. Aos poucos, Carolina surge, ventania atrás. Morena, cabelos compridos, quase alcançando sua cintura fina. Alta, elitísta, pai prodígio em leis, mãe socialite. O destino já programado. Será que haveriam problemas pra quem tinha tudo, além daquilo que outros queriam? Era para ser uma história de Amor. Contudo, eu gosto de ser ideal em tudo. Gosto de saber que posso tentar ser perfeita. E que muitas vezes vou realizar plenamente esse feito. Isso: sou eu a maior crítica de minha pessoa. Sou idealista, sou singular, e amo Renato Russo. Nesse ponto, os nós se despedaçaram, o tapete mágico cedeu, e a queda foi inevitável. Não há competidoras pra Maria Carolina. Amor dura quando os dois conseguem tratar de seus ferimentos, quando a pele se renova, e quando recomeçam a olhar um para o Outro, como Narciso na Água. Isso existe muita paciência, e um grande culto ao Tempo. No amor é preciso cuidar do tempo. Não da duração, que é apenas uma vertente da arte de amar, mas sim dessa magia que transforma o espaço de uma percepção, de um mal-estar ou de uma alegria em um instante de dádiva. Somente um barulhinho, pra lhe avisar que eu fico com você, que estaremos sempre juntos. Desse modo, nasce a sensação do tempo. Uma vez acontecido, esses momentos sensíveis que tivemos se encadeiam em atos ínfimos. Emersos do nada, eles se unem e nos carregam. Observa-se que não há tempo sem Amor. O temo é Amor às pequenas coisas, aos sonhos, aos desejos. Não temos tempo quando não temos bastante Amor. Perdemos tempo quando não Amamos. Esquecemos o tempo passado, quando não temos nada a dizer, nem lembrar. Ou quando somos prisioneiros de um falso tempo, que não passa, falso amor.

Eu, que sempre achei que não adiantava empurrar nada com a barriga, nem tentar preencher vazio com areia, porque qualquer tempestade de lágrimas faz com que o castelo encantado-de-ilusão desabe, tento algo paliativo. Pra descomprimir meu coração, permitir que você se vá, atrás de quem quer que seja, apenas para que Maria Carolina possa ir, sem deixar rastros ou pegados. Sei que não sou e nunca poderia ter o que ela tem. Entendo suas razões. Mesmo assim: me desculpa se eu não fui aquilo que você queria. Mas é que eu só aprendi a ser assim. Desculpa pelas palavras que eu atirei em cima de você nos dias em que eu estava com raiva do mundo. Não foi culpa sua se eu fiz tudo errado e estraguei a minha vida. E ainda assim você ficou do meu lado, mesmo quando eu não tinha razão e a vontade que você sentia era de me mandar à merda. No fundo eu merecia era ser mandada à merda mesmo. Desculpa por ter sido tão egoísta e me esquecido que você também precisa de colo de vez em quando. Talvez eu tenha te negado esse consolo muitas vezes, mesmo nas poucas vezes que você me pediu. Eu estava sempre ocupada demais com o meu próprio inferno pra perceber que você também sofre. Eu te neguei isso. Justo a você, que quando eu despedaçava, era não só o meu colo, mas também os meus braços e as minhas pernas e os meus olhos e a minha cabeça. Porque a sua cabeça sempre foi a mais saudável de nós dois. Desculpa por ter estragado a imagem tão linda que você tinha de mim na sua mente. Eu não tinha esse direito. Desculpa por não ter sido a sua garota, do jeito que você precisava que eu fosse. Logo você que merecia tanto... desculpa por ter contaminado a nossa história com os meus pensamentos e as minhas palavras e as minhas dores passadas que eu nunca consegui deixar pra trás. Desculpa por não ter conseguido ser uma pessoa melhor pra você. Por não ter conseguido ser menos eu, pelo menos uma vez na vida. Incrível como o amor não sobrevive a certas coisas. Mentira quem diz que o amor de verdade é capaz de superar tudo. Mentira! Porque você me amava, de verdade mesmo, eu sei disso. E eu também te amava, apesar de não ter demonstrado tanto quanto eu deveria e nem tanto quanto você merecia. Mas a verdade é que nem isso foi suficiente pra vencer a minha eterna incapacidade de fazer as coisas darem certo.

Quando assisti o filme "Pontes de Madison", lembro que fiquei por muitos anos com a cena dela segurando a porta da caminhonete, a chuva forte caindo lá fora, e o seu amor na esquina, esperando... Ela descia, e dava adeus a vida que tivera até então, ou ficava, e acomodava-se à forma que havia sustentando até aquele momento? Pois foi só depois de ter encontrado que ela passou a VIVER, e não mais sobreviver. E, para desconsolo da grande maioria das mulheres românticas, ela ficou. Permaneceu no seu lugar. Mas quem diria que, se ela se fosse daquela pequena cidade, onde sempre viveu, onde tinha um Homem que a Amava, e três filhos, poderia novamente se reencontrar? Ali era mãe e esposa; dona de casa e amiga. Onde mais iria achar esses pedaços, fragmentos que ficariam soltos, através do caminho? Algum dia ela se levantaria e perguntaria pela Deméter que vivia. Cometeria alucinações e sentiria-se vazia, por ter perdido essa parte. Uma mulher só consegue VIVER se estiver em si, completa fêmea, inteira, essência e natureza. Sem isso, aos poucos a vida vai murchando, e ela vegetando... Aquela encruzilhada a colocou numa questão sem solução: não havia caminhos; mas houve os momentos partilhados com o único amor que passou por ela. E foi disso que sobreviveu, de pequenas lembranças. Do Deus das pequenas coisas. Do deus das Perdas... Passei a evocar essa simbólica cena, pela encruzilhada que Hécate há muito tempo atrás, colocou no meu caminho. Eu, que sempre andei reta e diretamente, para o Sol, de repente me vi sem vida e calor. A lua estava à espreita, eclipsando o Sol. Eu estava envolta em brumas e escuridão. Se acaso me perguntassem hoje se voltaria atrás na minha decisão, diria, como deveria ter dito a personagem de Meryl Streep que não havia escolhas. Apenas seguir o coração e a intuição. Foi o que eu fiz: assumi todos os meus atos e fechei os olhos. Entreguei-me nas mãos daqueles que me concederam a vida divina... No escuro só vemos sombras, e tive que me guiar pelo único radar que conhecia: minha alma, de bruxa, deusa ou feiticeira, que eu compreendo como sendo de selvagem fêmea.

Ás vezes Pérsefone também tem que ir a guerra. Descer aos ínferos ou retornar não são escolhas, apenas parte do caminho. "Não me peça para eu deixar novamente minha fazenda, minha pequena vila, minha vida... A única vez que eu fui eu quase perdi a Alma". Foi assim que tudo começou, há muito tempo atrás, e se agora transpasso para o papel o rumo que eu tomei, é simplesmente para poder retornar e retomar a minha Alma, libertando todos os esqueletos do armário. Livre, leve e sem cemitérios dentro de mim, tenho certeza que encontrarei o fio da meada, que me conduzirá de volta ao lugar que meu Amado está. E quando, enfim, estiver ali, ao seu lado, e ele perguntar novamente o que eu sinto, mudarei esta parte: "Eu amo você". E poderei saber o que é viver "ao lado do Amor de sua vida". Com dor e com sentimento; com lágrimas no coração, mas sorriso brilhando no olho. A ambiguidade faz parte de Eros. E é por isso que eu te peço desculpas. Porque eu não aprendi a ser de outro jeito e nem mesmo você, apesar de todo o seu carinho, foi capaz de me ensinar a viver.*

*Mrs. butterfly

segunda-feira, agosto 08, 2005


Segura minha mão:.


O que sou hoje, nesse momento?
Uma folha plana, muda, caída sobre a terra.
Porque não usar palavras próprias?
Porque aconchegar-me em imagens?
Veio-me um cansaço, sentimento de queda.
Orar, Orar.
Ajoelhar-se diante de Deus e pedir.
O quê?
A Absolvição.


Sabia que era inútil resolver sobre o próprio destino. Sabia da distância que separava os sentimentos das palavras. Mas no momento em que tentava falar não só expremia o que sentia, fazia. Como o que sentia se transformasse lentamente no que ele dizia. E no momento em que o tocara, compreendera: o que se seguisse entre eles seria irremediável. Porque quando o abraçara, sentira-o viver entre seus braços como água correndo. No momento em que finalmente o beijara, sentira-se a si própria, de repente, livre e perdoada, sob tudo o que era. Milagrosamente agora vivia. liberta das lembranças. Amava. E isso lhe bastava.*

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Não procuro mais sentidos. Nem busco razões. Não consigo calar meu coração, a saudade é demais. Não me perca de vista. Não me deixe sem sua mão. Não deixe que eu vá embora de sua vida, antes de descobrir quem eu sou, quais são meus sonhos, e a extensão do meu amor.

Clarice Lispector, pedaços de Perto do Coração selvagem

domingo, agosto 07, 2005


Pão:.

Paulo Lemincki diz que "amar é pão feito em casa". Então deve ser uma dureza saber amar. E deixar-se amar, porque não é qualquer um que aguenta sovas de tres minutos. Eu nunca fiz pão; sempre comecei com a receita, outros terminaram por mim. Quando pedi, teve. Hoje, peguei a receita, e pus a mão na massa. Se sair borrachudo ou qualquer outra coisa, não importa: só quero a sorte de "não pensar". Sei fazer crochê e tricot, mas não tenho ânimo pra agulhas, moldes e linhas. Poderia aprender a bordar perfeitamente. Usar um dos métodos femininos mais antigos para meditar.
Esqueceria tudo sem precisar esquecer nada. Seria como um provisório afastar-me do pensar, enquanto os dedos ágeis trançassem o fio em desenhos mágicos... Porém, no momento, o que posso é amassar e palavras-cruzadas.

sábado, agosto 06, 2005


Love Story:.

Deste filme, o que ficou na minha memória foram muitas lágrimas derramadas, uma patinação no gelo (coisa que adoraria ter praticado a vida inteira), e a cena onde ele faz alguma besteira, encontra sua mulher na escada e pede perdão. E ela diz que Amar é jamais ter que pedir perdão. Eu sempre concordei com isso. Desculpas pra que, se quando a gente ama incondicionalmente, são os gestos que dizem tudo? Não quero ficar ouvindo Eu te amo em letras garrafais e não ter carinho e cuidado. Quero o sentimento exposto no dia-a-dia, no beijo e abraço, no aconchego, na cumplicidade, na preocupação. Quero saber o que vai fazer, quando vai, a que horas chega. Não por controle, apenas para participar de sua vida. Não para deferir ou indeferir planos, porém para também fazer parte deles. Essa coisa de palavras e atos diversos, e desconfiança do que eu falo são coisas que eu abomino. E não tem perdão, esquecimento, não há nada que faça o tempo voltar pra apagar o buraco que certamente fica. E se num dado momento, eu jogar o mesmo jogo? Quero te ver calçando as mesmas sandálias, e andando de salto. E descobrir Porque não saber é horrível. Ficar sabendo por meio de email é lástima pura; e sem antecedência é crueldade. Se eu sumir, um dia qualquer, e reaparecer após com sorriso nos lábios dizendo que estava lá, sem comunicação, ficará tudo bem? Terá momento pra cara fechada? Pra você, tem algum problema ir aonde se quer, sem nem tchau ou pista definida?

Sei que a perfeição irrita, e não é isso que quero. Como Julio Cortazar dizia, "E era tão natural cruzar a rua, subir os degraus da ponte,entrar em sua delgada cintura e acercar-me à Maga que sorria sem surpresa, convencida como eu de que um encontro casual era o menos casual em nossas vidas, e que as pessoas que marcam encontros precisos são as mesmas que necessitam papel pautado para escreverem-se ou que apertam desde baixo o tubo de pasta de dente." Quero nosso amor desencontrado e quente, denso e forte. Mas não aceito displicências, descuidado, desafinação em tempo recorde. Passa o tempo, e... Eu não sei, não sei. Não mesmo. Sei somente o quanto me conheço. Sei o quanto aguento. Não sei mais se quero acreditar ou apenas relevar, não sei o que pensar sobre isso tudo, não sei se quero alguém displicente comigo. Não sei como ir embora, não sei qual é o caminho mais fácil, não sei qual é o caminho certo. Não quero voltar a usar jogos e cinismo, não queria usar de violência nesses tempos de todos querendo paz. Mas minha vontade é dar um murro bem dado em algum lugar, mandar tudo pro inferno (pra não escrever palavrões piores) e deixar essa sensação de perda e mágoa parar de me apoquentar. Porque o que eu também sei é que não quero conversa-fiada, desculpa -esfarrapada, não quero mais me machucar. Não gosto de períodos de silêncio. De espera, e agonia, de não-saber-o-que-foi. Talvez eu embarque pra Curitiba, se mande pra Santa Catarina, amanheça no Mato Grosso, e tudo pode ser dolorido, porém destino e hora-certa, quero do teu lado cconfio no teu amor, Que meu caminho seja o teu caminho, e que saiba que te amo, e que procuro dar-te a liberdade necessária para que continues do-teu-jeito-meigo. Farei tudo que estiver ao meu alcance para que jamais te sintas incomodado com a minha presença à tua volta: porém eu respeito o limite daquilo que aceito. E sinto. Há mulheres que se pintam de caulim na Costa do Marfim, Para o deus louvar. Eu também me pinto para o luar, em mim, a prata derramar. Oh! Musa da inspiração! Caia sobre mim este céu sem fim. *

Rita Ribeiro, Há Mulheres.

Recordações e Lágrimas:.

Da Cathy, amei!Bateu um saudosismo por aqui quando me deparei com esse fanArt. Gostei tanto, que até hoje guardo, um momento sublime e carinhoso de uma amiga muito especial e querida. Como pensamento voa, fiquei pensando neste passado já distante, onde tinha ao lado certa pessoa que se imaginava o "rei da publicidade": alegava poder fazer com que qualquer súdito ficasse contente com o que lhe produzia, pois dizia que antevia o que seu cliente esperava. Realmente, houve trabalhos bons. Mais: alguns excelentes. Mas não sei porque "cargas-d'águas" o Rei da Palha nunca conseguiu fazer algo para mim, que eu gostasse de verdade, ou ficasse agradecida, sem recorrer a mentira. Isso foi motivo de homéricas brigas: era sempre eu que não visualizava a arte criada porque não sabia o que era Arte [acho que aqui me chamava de brega ou similar]. E eu tinha o pleno convencimento de que possuia o raio da chance de reclamar e ditar como eu queria. Não entendia como Cathy, orquídea e essência de Girassol, fazia alguma coisa pra mim e acertava em cheio. Como alguém que eu conheçia apenas virtualmente conseguiae ver o que eu queria, numa afinidade impar, e aquele que ao meu lado estava, criava medonhas meninas saídas do orco, direto para foto de sepultura. Talvez eu não entenda mesmo nada de arte, e somente consiga gostar do que me toque lá no fundo. Tem que me dizer algo. Não quero meter o dedo na qualidade do que o passado fazia - já foi, e está bem longe; o que quero é falar que eu sonhava com isso. Com esse vento na cara...Simples assim.

Arte, pra mim, não é Alter-Ego, nem Sobrenome, muito menos renome. Tem que ter a expressão daquilo que vai dentro de mim. Tem que me dar um motivo pra eu ficar olhando e me levando pra outros lugares. Se for pra contentar meio-mundo, e andar dizendo que é lindo só porque aprovado e premiado, tô fora. Gosto daquilo que eu sinto.

sexta-feira, agosto 05, 2005


Promessas são dúvidas:.

Charlotte

Posso ter demorado, mas li e reli, e já posso dizer o quê achei. Não sou Paulo Francis, nem alguma escritora famosa, muito pelo contrário. Apenas amo as palavras. E não gosto muito de "puxar o saco de ninguém", apenas de ser sincera. Se doer, foi você que pediu. Se não gostar, deleta da mente, os outros não devem ter tanta influência sobre seus contos. Já vi que de loas você está cheio, portanto essa parte eu pulo. É mais fácil criticar, traço marcante da minha personalidade que detém o prazer da polêmica. De alguma forma, quando leio algo, imagino que vejo pelos olhos do escritor a magia daquele momento. Do seu sentimento ao sentar para colocar aquelas palavras ali. E eu sou muito exigente: geralmente quero tudo. Perfeição. Há erros de portugues, e pequenas trocas de palavras poderiam mudar o Universo inteiro do Romance Platonico. A palavra deve ser usada como isca, não como explicação. Muitos anos - doze - para alguém se contentar com imagem. Muitas datas. Pra poucas linhas. O questionava-se ficou muito "diverso" do lugubre do texto. "Tudo começou com dezoito anos" é péssimo. Fora isso, adorei o começo. A história, o enredo, a estrutura. Digamos, como P.L. que "Não fosse isso, e era menos. Não fosse tanto, e era quase". Bem, mas há anos pra chegar lá...E escrevo e pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?"

Dá uma olhadinha Aqui e veja o que eu tenho que resumir e entender. Pra piorar, esse texto me fez sorrir, em meio ao meu mistério. Adoro isso: uma zorra total, pra falar de tudo ao mesmo tempo. Em grego! Ah, e peço ajuda: preciso de uma imagem que diga tudo que está ali, no dito-pelo-descrito do texto.