sábado, agosto 13, 2005


Libélulas, Mariposas e Falenas:.


Não somos iguais - mas pertencemos a mesma essência de amor e sinceridade. Recebíamos conselhos de amor, às vezes o seguíamos, em outras colocávamos cera nos ouvidos. Mas não havia medonhas brigas por esses atos: se errássemos, tinhamos colo, abraço e carinho, porque o que importava para nós era agir seguindo o coração e a intuição. Téntavamos reunidas, com todas as forças, curarmos a nós mesmas. Reconstruirmos, depois que nos moessem em picadinhos. Procurávamos um emprego onde pudessemos ser "mega empresárias", e clientes da Daslu; por enquanto o que tínhamos eram profissões que amávamos, e princípios e ética que seguíamos. Confiantes, buscávamos o que desejavamos para o futuro, cada qual com um sonho. Cometíamos erros, às vezes homéricos, chorávamos nas manhãs de segunda-feira, ou em alguns dias à noite, quando sozinhas estávamos. Mulheres que frequentemente ficavam entendiadas com a própria vida, achando dificil levantar-se para ir ao trabalho novamente pela manhã. Na maioria dos dias ruins, nos olhávamos no espelho e não encontrávamos resposta para vivermos aqui, daquele jeito, naquele meio. Folheando revistas, nos culpávamos por não termos nos arrastado mais vezes para aquela academia. E, simplesmente, tínhamos momentos em que fazíamos tudo errado. Éramos apenas mulheres.


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quandos eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
*

*Chico Buarque

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