domingo, abril 29, 2007


Mãe é doação:.

Todos os anos, no dia do meu aniversário, desde que completei doze anos, uma gardênia branca me era entregue anonimamente em casa. Não havia nunca um cartão ou um bilhete e os telefonemas para o florista eram em vão, pois a compra era sempre feita em dinheiro vivo. Depois de algum tempo, parei de tentar descobrir a identidade do remetente. Apenas me deleitava com a beleza e o perfume estonteante daquela única flor, mágica e perfeita, aninhada em camadas de papel de seda cor-de-rosa. Porém nunca parei de imaginar quem poderia ser o remetente. Alguns de meus momentos mais felizes eram passados sonhando acordada com alguém maravilhoso e excitante, mas tímido ou excêntrico demais para revelar sua identidade. Durante a adolescência foi divertido especular que o remetente seria um garoto por quem eu estivesse apaixonada, ou mesmo alguém que eu não conhecia e que havia me notado. Minha mãe freqüentemente alimentava as minhas especulações. Ela me perguntava se havia alguém a quem eu tivesse feito uma gentileza especial e que poderia estar demonstrando anonimamente seu apreço. Fez com que eu lembrasse das vezes em que estava andando de bicicleta e nossa vizinha chegara com o carro cheio de compras e crianças. Eu sempre a ajudava a descarregar o carro e cuidava que as crianças não corressem para a rua. Ou talvez o misterioso remetente fosse o senhor que morava do outro lado da rua. No inverno, muitas vezes eu lhe levava sua correspondência para que ele não tivesse que se aventurar nos degraus escorregadios.Quando estava com dezessete anos, um rapaz partiu meu coração. Na noite em que me ligou pela última vez, chorei até pegar no sono. Quando acordei de manhã havia uma mensagem escrita com batom vermelho no meu espelho: "Alegre-se, quando semideuses se vão, os deuses vêm." Pensei a respeito daquela citação de Emerson durante muito tempo e a deixei onde minha mãe a havia escrito até meu coração sarar. Quando finalmente fui buscar o limpa-vidros, minha mãe soube que estava tudo bem novamente. Um mês antes de minha formatura no segundo grau, meu pai morreu subitamente de enfarte. Meus sentimentos variavam de dor a abandono, medo, desconfiança e raiva avassaladora por meu pai estar perdendo alguns dos acontecimentos mais importantes da minha vida. Perdi totalmente o interesse em minha formatura que se aproximava, na peça de teatro da turma dos formandos e no baile de formatura – eventos para os quais eu havia trabalhado e que esperava com ansiedade. Pensei até mesmo em entrar em uma faculdade local, ao invés de ir para outro estado como havia planejado, pois me sentiria mais segura.Minha mãe, em meio à sua própria dor, não queria de forma alguma que eu faltasse a nenhuma dessas coisas. Um dia antes de meu pai morrer, eu e ela tínhamos ido comprar um vestido para o baile e havíamos encontrado um, espetacular - metros e metros de musselina estampada em vermelho, branco e azul. Ao experimentá-lo, me senti como Scarlett O'Hara em O Vento Levou... Mas não era do tamanho certo e, quando meu pai morreu no dia seguinte, esqueci totalmente do vestido.Minha mãe, não. Na véspera do baile, encontrei o vestido esperando por mim - no tamanho certo. Estava estendido majestosamente sobre o sofá da sala, apresentado para mim de maneira artística e amorosa. Eu podia não me importar em ter um vestido novo, mas minha mãe se importava. Ela estava atenta à imagem que seus filhos tinham de si mesmos.Ela queria que seus filhos fossem criativos.Também queria que nos sentíssemos amados e queridos, não apenas por ela, mas pelo mundo como um todo.Imbuiu-nos com uma sensação de mágica do mundo e nos deu a habilidade de ver a beleza mesmo em meio à adversidade.Na verdade, minha mãe queria que seus filhos se vissem como a gardênia - graciosos, fortes, perfeitos, com uma aura de mágica e talvez um pouco de mistério. Minha mãe morreu quando eu estava com vinte e dois anos, apenas dez dias depois de meu casamento. Este foi o ano em que parei de receber gardênias.

Martha Arons. in Histórias para aquecer um coração.

.:Será que é o tal?:.

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS
livro à minha espera

Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em A Menina que Roubava Livros. Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. A o entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, O Manual do Coveiro. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve.

Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida.

sexta-feira, abril 27, 2007


Sonho, pra te encontrar

Certas receitas especiais me dariam prazer fazer, se fosse em sua companhia. Fecharia os olhos para sentir melhor, mas depois não teria certeza se o que eu ouviria seriam suas palavras ou o seu próprio desejo. Você poderia me iniciar em seus segredos, aqueles com os quais acrescenta sabor especial a qualquer alimento. Talvez faça rasogallas macias, e para não deixá-las desmanchar quando fervidas em calda misture duas colheres de sooji à massa de chhana. Ah, sabe que meia xícara de óleo na massa da pakora não deixa estas bolinhas picantes absorverem mais óleo ao fritá-las? É, aprendi a ralar minhas próprias especiarias, até hoje ainda naquele pedaço de pedra esburacada, coalho o leite com limão e faço chhana fresca na consistência certa. Na maioria das vezes!

Os grânulos da minha mihidana são laranja como o nascer do sol nesta cidade que te acolhe, e tão viciantes quanto nosso caso amoroso. Minhas singaras de couve-flor, tão crocantes, esperam por você, com a mesma expectativa que eu.

Se eu ficar em silêncio, quase posso vê-lo acendendo o braseiro, separando ingredientes, sorridente, cantando baixinho uma música suave. O tempo que não passamos juntos no futuro nos será cobrado? O que sabemos e o que não sabemos são como irmãos siameses, inseparáveis. Confusão, confusão... Quem realmente consegue distinguir o mar do que nele se reflete, diz Haruki Murakami, em Minha querida Sputnik. Falo que nem sei dizer qual a diferença entre a chuva que cai e a solidão em mim.

Antes de você fechar a porta, e tentar me esquecer novamente, quero lhe dizer o quanto és importante pra mim. Que eu nunca irei te esquecer, e em muitos aspectos, não sei conceber gostar de alguém mais do que a ti. Não sou boa com palavras de agradecimento, obrigado é uma palavra esquisita, enseja adeus. E ficar longe de você, mais do que já estamos, é algo inconcebível nesse momento de tormentas. Não deixa nossa história pairar entre 24 horas, lembra da Suttara, que te saúda a cada manhã.

Preste atenção: não posso sonhar contigo. Imaginar a nós se debruçando juntos sobre algum livro, as cabeças quase se tocando, relutantes em desistir de alguma coisa insatisfatória, brincando com as letras, escrevendo-as numa ordem aleatória, misturando-as e deixando-as se manter... é tão simples, nem sei como podemos ficar tanto tempo sem nos ver. De trás pra frente, nós somos Tempo do Sonhar.

Fico sorrindo, a toa, querendo saber se no meio de minhas palavras descobriste as mensagens que encerram pra ti. Se é que encerra alguma, diria você, com um sorriso zombeteiro. Capricho sem importância, brincadeira boba, mas adoro manter seus pensamentos em forma de letras no meu dia-a-dia, ressuscitando gostos e aromas de países antigos, com os sussurros de histórias contadas e aprendidas de cor. Não adianta se preocupar, não adianta esperar. Sei, sei, eu sei que eu sempre sei o final, mas nem por isso me acalmo, ante ao desespero da travessia...

quarta-feira, abril 25, 2007


Siga até o fim:.


Flor selvagem originária da Pérsia. Por volta de 1500, foram extensivamente cultivadas na Turquia, e foi por causa da sua semelhança com o tulbend (um turbante usado pelos homens turcos) que foram chamadas tulipan. Chinesas ou persas, o fato é que elas se tornaram uma paixão para os holandeses.

Em 1562, bulbos de tulipa chegaram a Antuérpia, depois do botânico Conrad von Gesner as catalogar em 1559. Mas foi na Holanda que os bulbos encontraram terras férteis ideais, além de um povo que simplesmente amava flores. O entusiasmo pela tulipa gerou o desenvolvimento de muitas variedades com diferentes tamanhos e cores, chegando algumas variedades a um tal grau de raridade que uma única flor podia alcançar preços astronómicos. Antes do fim do século, as tulipas eram tão raras que só as classes verdadeiramente abastadas podiam adquiri-las - por conseguinte, tornaram-se um símbolo de posição social, um sinal exterior de riqueza. Quando os plantadores de tulipas entraram em colapso na Holanda, esta viu-se em plena ruína financeira, tal a dependência econômica do país a esta flor, que terminou se impondo como emblema nacional da Holanda. Logo após a Segunda Guerra Mundial os holandeses transportaram milhares de bulbos para Ottawa, no Canadá. Este gesto simbólico mostrou a sua gratidão para com os soldados canadianos por livrar a Holanda da ocupação alemã, mas também para com o governo canadiano por ter recebido a sua rainha enquanto a guerra durasse. Este gesto notável ainda hoje é lembrado como uma oferenda única na história das relações internacionais.

Os bulbos de tulipa suportam bem o frio - na verdade, necessitam passar um período de baixas temperaturas invernais para conseguir chegar à florescência de qualidade. Planta da família das Liliáceas, a tulipa produz folhas que podem ser oblongas, ovais ou em forma de lança. Do centro da folhagem surge uma haste erecta, com uma flor solitária formada por seis pétalas. As cores e as formas são variadas. Existem muitas variedades cultivadas e milhares de híbridos em diversas cores, tons matizados, pontas picotadas, etc. A tulipa transporta consigo uma mensagem de elegância, sensibilidade e amor: a vermelha é uma declaração aberta de amor.

Aprendi que existe algo de muito simples, porém único, naquilo que o TEMPO traz. Tempo para saborear, tempo para encobrir, tempo para lembrar, tempo para dizer adeus. Tempo para recomeçar. Tempo para amar. Tempo para sorrir.

Tulipa Vermelha:.

Quanto aos Cravos, fui buscar seu significado, queria ver alguma coisa pra começar a olhar com outros olhos para eles. Não deu muito certo, continuo achando que eles são flores-pra-defunto, e representam pra mim a morte, a perda, algo que se foi de uma vez.

O cravo é cultivado há pelo menos 2000 anos. Alguns estudiosos acreditam que o nome de cravo vem de "coroação" ou "corone" (grinalda de flores), por ser a flor mais usada nas coroas cerimoniais gregas. Outros pensam que o nome tem a sua origem na palavra grega "carnis" (carne), referindo-se à cor original da flor, ou à encarnação de Deus (Deus fez-se carne em Jesus). Na Coreia, ainda hoje, as meninas colocam três cravos no cabelo para saber a sua sorte: se a primeira flor morrer primeiro, os últimos anos da sua vida serão os mais difíceis; se for a flor do meio, os primeiros anos trarão as maiores dificuldades; se for a última flor a morrer primeiro, o pesar e os problemas acompanhá-la-ão durante toda a sua vida. Para a maioria das pessoas, no entanto, os cravos expressam amor, fascínio e distinção. Os vermelhos representam admiração, enquanto os vermelhos escuro denotam amor profundo, paixão e afeto. Os brancos indicam amor puro e boa sorte (ao contrário do que se passa com as rosas, o cravo branco simboliza uma paixão mais exacerbada do que a do cravo vermelho); os raiados simbolizam o pesar de um amor que não pode ser partilhado; os cor-de-rosa têm o significado mais simbólico e histórico: de acordo com lenda cristã, os primeiros cravos apareceram na Terra quando Jesus foi levado para a cruz. Maria derramou lágrimas aos pés de Jesus, e cravos nasceram onde as suas lágrimas caíram.

Assim o cravo rosa tornou-se o símbolo do eterno amor de mãe, e em 1907 foi mesmo escolhido para representar globalmente o Dia de Mãe, o que se observa ainda em muitos países do mundo. Esta flor transformou-se num símbolo de Portugal para o mundo, a insígnia mais marcante de Portugal no século XX, representando o regime fascista e a libertação revolucionária. Existem três versões sobre o aparecimento dos cravos vermelhos no dia 25 de Abril, todas elas simultâneas e credíveis. De acordo com a primeira, as flores surgiram devido a um casamento marcado para esse dia que não se pôde realizar por as conservatórias estarem fechadas. A segunda conta que uma empresa de exportação de flores tinha um carregamento de cravos para enviar para o estrangeiro, mas, com o aeroporto encerrado, as flores foram mandadas para o Rossio. A terceira versão é a mais conhecida.


dia 25/04. O cravo reina, mas a Tulipa vermelha acompanha. Declaração de amor.

quarta-feira, abril 18, 2007


Guarda com carinho

Do destino a gente não foge;
dança no compasso dele.

.:Importante insistir que:.

Esse texto é tão lindo que acabei resolvendo colocar ele todo aqui. Uma linda carta...

"Agora que chegaste à idade avançada idade de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou de presente este livro - Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.

A realidade, Maria, é louca. Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?" Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas, nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados conseguem abrir uma porta bem fechada e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece geralmente às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser séria ou profunda. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!” Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato; experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?”

Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os corredores chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?"

É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não conseguirá saber quem venceu. Para o bolso: se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste. Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois um romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo aos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte.

É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida toda uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. Mas como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.

Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas". Conclusão: a própria dor tem a sua medida. É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.


Paulo Mendes Campos

.:Lembrei dessa história:.

Nào pensem que atrás desse grande amor não há uma grande história de Amor. Não sou da era da internet, tenho 83 anos, mas conheci a minha mulher, a Mulher da Minha Vida através de uma carta, endereçada ao meu colega de quarto. Era seu irmão e havia desistido do curso de direito no RJ, e me senti compelido a escrever para ela, informando sobre o que havia ocorrido. Não abri a carta, e mandei-a de volta para ela. Ela respondeu, e assim foi. Um assunto levava a outro, eu juntava dinheiro e ligava para ela, eram 1800 km nos separando - Uma cidadezinha do rio grande do Sul. eu não entendia quem era aquela mulher, o porque dela ter aparecido na minha vida, mas tinha certeza absoluta que ela era todo o meu amor nessa vida. Foram uns 3 meses, até nosso encontro na capital, e foi coisa de poucos dias, mas que serviu para que eu tivesse certeza de que a queria ali, comigo. Mais tres meses, eu já formado, alugava casa e casava com a linda moça gaucha. naquela hora eu entendi porque dizem que, quando a gente conhece uma pessoa por dentro, e depois também se reconhece por fora, nunca mais se larga. Vivi 50 anos com essa mulher.... E o que me fez perdê-la foi o envolvimento na minha profissão. Num dado momento eu esqueci de lembrá-la do quanto a amava, e me entreguei a minha ambição. Essa é a pior distância: duas pessoas juntas, lado a lado, com um universo os separando. Quando ela se foi, fiquei vazio, e tem uns 8 anos que estou correndo atrás do tempo perdido - ainda sem sucesso. Não há outra pessoa na minha vida, mas ela sempre foi uma cabeça dura. Uma coisa eu deixo pra vocês aqui: nada preenche o vazio de um coração que amou, e se o destino lhes derem a chance de encontrarem o amor de suas vidas, não deixem as portas abertas e malas ao alcance dela. Porque quando elas se vão, carregam junto tudo, inclusive vocês. Eu tenho 83 anos, já fui de tudo um pouco nessa vida, sou muito bem sucedido na profissao, professor, escrevi livros, tenho filhos... Tudo o que eu mais quero é poder sair daqui e sentar-se ao lado daquela que já foi minha esposa, e hoje é minha namorada. São esses momentos, com ela segurando a minha mão, que me sinto completo. Um homem".

.:Tem coisas que vão ocorrer:.

Nunca aconteceu com você uma situação da qual você sente que não vai conseguir fugir?
Algo que você não pode evitar?
O que você fez?

“Ah, quantas coisas deixamos de fazer por medos gerados em nós através de séculos; convenções, regras, padrões de conduta.... nascemos e crescemos sendo programados para viver conforme as regras estabelecidas em alguma época, por não se sabe quem. Fugimos muitas vezes da felicidade por medo de nossa atitude ou escolha ser mal interpretada e não corresponder às expectativas do nosso meio social, seja ele qual for.

Carregamos o peso da culpa antecipando a ação. E todo nosso esforço, todas as nossas renúncias, diante da morte perdem o sentido. Quantos sonhos será que ELE deixou de viver? Será que ainda terá oportunidade de tentar correr atrás deles? Quando menos esperamos nos deparamos com situações que tentam nos tirar do rumo que escolhemos seguir. Essa separação foi uma delas – quase perdi tudo num ato insano; por pouco não repeti os erros do passado fielmente.

Amor é algo que tem que ser vivido inteiramente. Não se pode cobrar a presença de alguém e muito menos seus sentimentos. Neste momento ele nos negou a chance de tentar. E está fazendo isso porque sabe que se seguirmos em frente, não terá volta. Tenho certeza que jamais relutou em se envolver com uma mulher. Mas entre nós ele sabe que não tem o controle da situação. E é isso que lhe dá medo. Ele não se sente seguro em assumir o que sente por mim no presente, e tem seus motivos para isso. Cabe a mim respeitá-los. Como você se sentiria sabendo que ele poderia estar ao seu lado por ter sido acuado por alguém?

Uma relação a dois é sublime; não pode existir sobre bases de cobranças. Talvez nós tenhamos algumas coisas que aprender até poder viver esse amor tão intenso. Eu também me sentia assim, mas lidamos com situações diferentes. Nós dois não temos compromisso com ninguém amorosamente – esse é exatamente o MOMENTO CERTO. Ele já viveu muita coisa fútil e prazerosa, eu também. Aprendemos a dar valor ao sentimento. Ao coração. À vida simples. Sei que nos amamos muito, quer ele admita isso ou não.

Não me recusarei a abrir os olhos. Não há como evitar que depois da noite, o dia amanheça. Eu pode fechar as janelas e cortinas, mas o sol estará brilhando lá fora, independente da sua vontade. Cabe a mim decidir se quero ficar no escuro, ou se quero sentir o calor da vida. Também a ele caberá esta escolha. Eu já tive coisas demais com que se preocupar nos últimos tempos. Agora, apenas quero viver, trabalhar e lutar pela nossa felicidade. Fazemos várias pequenas mudanças na nossa vida, muitas vezes, movidos por um impulso inconseqüente. E fazemos isso sem medo de errar. Mas na hora da grande virada, a definitiva, sempre buscamos muitos empecilhos para mascararmos o inevitável confronto com nossos desejos mais íntimos e verdadeiros. Parece que temos medo de sermos felizes! O que hoje foi adiado foi obra de minhas atitudes no passado, e oro para que ele consiga me perdoar – o amor a tudo resiste. Sou feliz hoje, porque Ele é a minha realidade, meu porto seguro, minha paz.

E o que certa manhã trará, me faz sorrir agora.

terça-feira, abril 10, 2007


MAR EM MIM

Ninguém consegue fugir do seu coração. Por isso é melhor escutar o que ele fala. Para que jamais venha um golpe que você não espera. Do que se alimenta um Amor? Precisa de sedução pra fazer o coração disparar no gatilho daquele olhar. De suavidade e delicadeza pra sondar a alma dooutro aos poucos, pra evitar as respostas automáticas e ser sincero sem machucar. Precisa de ternura pra achar bonitinho aquele jeito de mexer no cabelo ou aquele cacoete de arrumar os óculos. E também de gentileza pra puxar a cadeira na lanchonete, ou pra dar uma costuradinha no botão da camisa em uma emergência, sem achar isso um peso. Precisa de mistério, muito mistério, que sem ele tudo perde a graça, mas também de revelações e segredos a dois. E de conexões sobrenaturais, aquelas que fazem um sentir uma pontada no peito quando o outro torce o pé no futebol, ou saber que é hora de ligar mesmo quando não era a hora de sempre, mas era a hora que o outro mais precisava ouvir um alô.

Precisa de cortejo e coragem pra oferecer uma flor numa hora inesperada, mesmo depois de tanto tempo juntos, ou pra mandar um e-mail apaixonado sem razão. Admiração pra sentir-se sortudo ao lado daquela pessoa, porque nenhuma outra poderia ser melhor. Cortesia pra dar aquele presente que o outro queria faz tempo, mesmo não sendo aniversário ou data especial. E muito romantismo pra abraçar de repente na saída do cinema, pra beijar na boca molhado atrás da porta escondidinho, e pra olhar as estrelas e a lua encantado e dizer, "eu nasci só pra beijar você aqui, agora". Precisa também de lambida nos lábios quando vê aquele decote, de prazer em derrubar aquele chantilly no colo e lamber, de alegria pra brincar com todos os pedaços do corpo do outro.

Precisa ver no outro muito tesão - no jeito de andar, de falar, de vestir, de fantasiar, de beijar, de tocar. Precsia ter para o outro muito calor - naquele abraço no sofá,naquela passadinha de mão debaixo da mesa do restaurante, naquele sorriso malicioso pelo retrovisor, naquela carícia mais ousada. Precisa de muita paixão nos gestos, atos e palavras. Precisa, de repente, achar graça de novo no cheiro, e ter vontade de beijar e tudo o mais de mil maneiras diferentese inesgotáveis; precisa desse desejo renovado a cada dia, sentir aquele frio na barriga ao encontrar, daquela mão correndo perigosamente no corpo do outro enquanto se dirige, aquele tremor ao ouvir sussurrado na orelha "eu te quero", mesmo quando todo mundo acha que já deu o tempo de deixar de querer. Precisa da paz que se sente depois de uma noite de loucuras, e de saber que só há um lugar onde é possível descansar sossegado depois de tanta respiração acelerada, gritos abafados, apertões e pele na pele: nos braços daquela pessoa.

Já cansou? Mas peraí, tem muito mais. Precisa também de amizade, coleguismo, cumplicidade. Precisa dar o ombro quando tem briga com a mãe, desentendimento com o chefe, problemas de saúde com o melhor amigo ou quando o time de futebol cai pra segunda divisão. Precisa entender a chateação do outro, mesmo quando se está exultante de contentamento. Precisa de respeito pra não escancarar maldosamente as fraquezas, e nem tocar o dedo na ferida durante uma briga. Precisa de discordância também, afinal, ela é a maior prova de que um não se anulou por causa do outro. Mas também de compreensão pra olhar de um outro lado, mesmo quando ele é o oposto do seu. Precisa da torcida dos amigos, parentes e conhecidos, e aprender a dividir os problemas a dois com pessoas de confiança, que podem enxergar mais do lado de fora e iluminar os pontos escuros. Fidelidade é desejável, mas, além dela, é preciso muita lealdade pra não enganar, não trapacear, não fingir, ou pelo menos fazer tudo isso o mínimo possível. Precisa de um bocado de sorte, sim, mas o quádruplo desse bocado de esforço pra ser a força do outro e deixar ele ser a sua. E precisa de um pouco de ciúme pra olhar feio pra uma saia muito curta, pra torcer o nariz pra voz de mulher no telefone, pra abraçar forte quando tem alguém olhando demais; mas tudo sem barraco, que isso não precisa.

Precisa também de um pouco de insegurança pra lembrar que nada é pra sempre quando não se trabalha, e muito, pra isso. Precisa do medo que dá de perder aquela criatura quando se olha ela dormir tranqüila ao seu lado, ou quando ela demora a ligar depois de uma briga, ou quando pinta aquele olhar de desânimo. Precisa de sinergia, de objetivos em comum, desde os planos pro final de semana até o número de filhos que se quer ter. Precisa de muita força pra lutar junto, pra sentir a dor do outro, pra colocar a mão na testa quando ele vai vomitar, pra ir lá interceder por ele quando ele já desistiu de tentar. Precisa de uma mão pra apertar nas fases difíceis e aquele monte de frases piegas, mas eficientes, como "estou com você", e "isso tudo vai passar, calma". Precisa de muita fé em si mesmo, no que há entre os dois e em algo maior. E também de ambição e espírito de equipe pra trabalhar juntos, e não um contra o outro. E de muita, muita coragem pra enfrentar o que for contra as suas certezas; sim, porque é preciso muitas certezas, sem esquecer de se dar o direito de duvidar.

E é preciso não se ser somente em conjunto, mas sozinho principalmente; ser você mesmo também. E, pro bem dos dois, plantar em você o equilíbrio, o desprendimento, a liberdade, a necessidade de privacidade, e ainda incentivar isso tudo no outro, no que você puder ajudar. Precisa de humildade pra admitir que errou o caminho, abaixar o vidro do carro e perguntar pra alguém pra onde ir; e também pra admitir que falou demais naquela hora, que o outro tinha razão naquele dia, que sente saudade e precisa de uma outra chance, ou que precisa de ajuda quando for fazer aquele trabalho da faculdade. Às vezes, precisa de sacrifício. Precisa cuidar da beleza, de sedução sempre, comprar uma camisola nova ou fazer a barba de um jeito diferente. Precisa de muito, muito perdão, pedir e dar: por ter atrasado tanto, por não ter reparado o corte de cabelo novo, por ter esquecido do aniversário de namoro, por ter sido sarcástico e ferino, por não ter feito o necessário, por ter gozado do pai dele, por ter criticado agressivamente o que ele fez com tanto carinho e esforço. E precisa de superação. Muita.

É... Nada fácil. Mas tem o principal, ainda. Precisa de senso de humor, pra rir de si mesmo e fazer gracinha com a meia-furada, o cheirinho esquisito, a estria imensa na barriga, a palavra escrita errada no cartão, a cara amassada ao acordar. Criatividade, pra criar novas formas de paixão, e fazer algo surpreendente e diferente a cada dia, mesmo que seja um jeito de pegar na orelha mais enfático, ou um bilhetinho apaixonado na geladeira ou no bolso do casaco. De altruísmo, e pelo menos algumas vezes pensar no outro primeiro do que em si mesmo, abrindo mão do baralho na casa dos amigos ou do chá de bebê com as amigas só porque o outro precisa ficar juntinho.

Precisa de diálogos, falar o que está engasgado, aprender a ouvir sem fugir, e a não deixar de dizer nada, mas não necessariamente dizer gritando ou xingando.Precisa fechar os olhos pra alguns defeitos irremediáveis do outro. Muita paciência pra aturar as manias e esquisitices que todo mundo tem, como a história de conferir mil vezes o troco, ou aquele barulho irritante que o infeliz faz com a boca enquanto cozinha ou dirige. Precisa entender que o tempo seu nem sempre é o tempo do outro, e saber esperar.Precisa de muita afinidade pra curtir aquela música juntos, assistir aquele filme, sonhar juntos com aquela casa na praia, planejar as férias, ir àquele lugar ou tentar ver alguma graça no jogo de futebol na TV. Precisa receber e dar proteção, saber botar no colo e fazer o outro ficar quieto, ouvindo o seu coração. Precisa de muita perseverança pra insistir quando tudo parece dar errado, pra ir atrás, pra pedir "não me deixe", pra dizer "preciso de você aqui", pra suplicar "me salve", e ainda lembrar de fazer tudo isso com dignidade e elegância; e depois disso tudo, insistir mais um pouco e só desistir quando sentir o ponto final calando lá dentro.

Precisa intimidade pra olhar nos olhos sem medo, e pra saber qual a cor da cueca que ele mais gosta, ou onde ele tem uma marca que esconde de todo mundo, ou o que ele mais gosta de comer, ou o que ele mais gosta de ouvir. E precisa ceder. Muito. Mas muito mesmo.E tudo isso com o coração alegre e aberto. E tudo isso sabendo que pode acabar. E tudo isso olhando na mesma direção. E tudo isso em meio ao tédio eessa doença que é a rotina. E tudo isso sem perder a esperança. E tudo isso sabendo que tem muito mais. E tudo isso mesmo quando se está cansado. E tudo isso sabendo que não é fácil e que a maioria fracassa... E tudo isso...O amor não mora só no "eu te amo". Ele se faz nisso tudo aí e em tudo omais. E quem ama de verdade não pode deixar por menos... E nem consegue. Um "eu te amo" real traz implícito todos esses momentos, vividos, mas agora passados; por isso que ele é doce na boca de quem diz e apaixonante no ouvido de quem fala. E deve ser por isso que, pela primeira vez, essa frase,tão cheia de beleza, me soou tão cheia de sentido. Porque pela primeira vez, tudo o que está escrito acima, e mais um pouco oculto entrelinhas, está disposto à mesa.

P.S. AMO VOCÊ, NETO.

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Afinal, nem sei quem foi a autora de (quase) tudo isso (com certeza eu devo ter remodelado algo, isso aqui estava guardado há mais de 2 anos); se alguém souber, avise.

Muitas praias depois:.

Imagino que alguém que sai de sua praia, e contorna o mundo, para adentrar em outras terras, queira realmente fazer de sua vida novo horizonte. Ou o velho horizonte tão acalentado dentro de si. Porém o que percebo é que - e não sei porque - novamente as coisas estão se encaixando, tudo está ficando cômodo, disposto em prateleiras.... e o que era novo, surpreendente, ousado, foi parar dentro de velhos baus, aos pés da cama.

Ora, mas o que faz a gente encaixotar NOVAMENTE sonhos, idéias, pensamentos, VIDA? Não sei, cada um deve atingir sua resposta. Também não sei porque voltar a usar o velho pijama, quando o novo está disposto em lugar acessível. Não, não precisamos de atitudes radicais. Apenas deixar ser o que sempre escondeu. Caminhar como chegou até esta praia. Continuar a irradiar a luz que mantinha você focado em seus sonhos e objetivos. Ocultar tudo agora só irá faze-lo viver a situação QUE JÁ VIVEU há pouco tempo. Empurrar com a barriga a situação agora, por comodidade, não trará alento. Apenas postergará a tempestade.

Afinal, nessa praia não há farol ou roupa de mergulho para alguém verificar o quanto o mar anda sujo de detritos, e que a tempestade não tarda a chegar se não houver algum posicionamento? Pois é, veja só a coincidência: não é só os computadores que se infectam de vírus. Ou de repente não é só isso o que quer dizer a infecção da sua realidade. Se verificar bem, quem sabe o Universo não esteja te alertando para que, mesmo sendo você tão cuidadoso com tudo, verificar se não está deixando tudo de lado - suas resoluções, paixões, e voltando a ser o que não era. A menos que você goste de viver no cinza e amanhecido cotidiano, faça alguma coisa.

Onze minutos:.

"Quero ter a certeza de que isso é o que você queria, que me esperava, que toda a determinação e vontade do mundo não bastam para impedir que o amor mude as regras do jogo de uma hora para outra. "

Penso que talvez nos apaixonemos sempre no momento em que olhamos o homem de nossos sonhos pela primeira vez, embora a razão naquele momento diga que estamos errados, e passemos a lutar - sem vontade de vencer - contra esse instinto. Até que chega o momento em que nos deixamos vencer pela emoção...

Em todas as línguas do mundo existe um mesmo ditado: o que os olhos não vêem o coração não sente. Pois eu afirmo que nõa há nada mais falso do que isso; quanto mais longe, mais perto do coração estão os sentimentos que procuramos sufocar e esquecer. Se estamos distantes, queremos guardar cada pequena lembrança de nossas raízes, se estamos distantes da pessoa amada, cada pessoa que passa pela rua nos faz lembrar dela.

Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam. Geralmente estes encontros acontecem quando chegamos a um limite, quando precisamos morrer e renascer emocionalmente. Os encontros nos esperam - mas a maior parte das vezes evitamos que eles aconteçam. Entretanto, se estamos desesperados, se já não temos mais nada a perder, ou se estamos muito entusiasmados com a vida, então o desconhecido se manifesta, e nosso universo muda de rumo.

No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso. Já me senti ferida quando perdi homens pelos quais me apaixonei. Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém. Essa é a verdadeira experiência da liberdade: ter a coisa mais importante do mundo, sem possuí-la.

Se tenho que ser fiel a alguém, ou a alguma coisa, em primeiro lugar tenho que ser fiel a mim mesma. Se busco o amor verdadeiro, antes preciso ficar cansada dos amores medíocres que encontrei. A pouca experiência de vida me ensinou que ninguém é dono de nada, tudo é uma ilusão - e isso vai dos bens materiais aos bens espirituais. Quem já perdeu alguma coisa que tinha como garantida termina por aprender que nada lhe pertence. E se nada me pertence, tampouco preciso gastar meu tempo cuidando das coisas que não são minhas, melhor viver como se hoje fosse o primeiro (ou o último) dia da minha vida.

Paulo Coelho - Onze minutos.

Essas mulheres:.

E tudo o que em algumas mulheres lembra maternidade, responsabilidade, vínculo pessoal e necessidade erótica suscita sentimentos de inferioridade, e as obriga a fugir naturalmente para a mãe, a qual vive tudo aquilo que as filhas consideram inatingível, digno de uma superpersonalidade: a mãe. Involuntariamente admirada pela filha, a mãe vive tudo antecipadamente em seu lugar. A filha vive uma 'espécie de sombra' da própria mãe, um prolongamento da vida da mãe. Estas virgens-mulheres não estão imunes ao casamento; muito pelo contrário, apesar de sua qualidade de sombra e de sua apatia, ou justamente por causa disso, elas são altamente cotadas no mercado do casamento. São de tal forma vazias que um homem pode nelas enxergar o que bem entender; além disso, são tão inconscientes que seu inconsciente estende inúmeras antenas, para não dizer tentáculos de pólipos invisíveis que captam todas as projeções masculinas, para a grande satisfação dos homens (Noiva em fuga). Esse tipo de mulher tem um efeito estranhamente aliviador sobre o marido, mas só enquanto este não descobre 'com quem' casou-se, e quem dorme com ele na cama... isto é, a SOGRA. O notório desamparo e a aparente inocência ofendida dessas mulheres exerce sobre o ser masculino uma atração especial: ela é tão inexperiente e necessitada de ajuda que até mesmo o mais meigo dos pastores de ovelhas se transforma num arrojado raptor de mulheres, prestes a arrebatar traiçoeiramente de uma mãe amorosa sua filha.

Este tipo de mulher aproxima-se do mundo desviando o rosto, tal como a mulher de Lot, o olhar voltado pra Sodoma e gomorra. Nesse interim, a vida passa por ela como um sonho, uma fonte enfadonha de ilusão, desapontamentos e irritações, que repousam unicamente em sua incapacidade de olhar para frente. MAS OLHAR PARA FRENTE significa o conhecimento e descoberta da verdade, condição indispensável da consciência. Uma parte da vida foi perdida, o sentido da vida porém está salvo. Warneck fala desse tipo de arquétipo mulher, morta para a energia de Afrodite - "Não raro ela assume os traços da sabedoria, quando torna-se avó, bem como as características da bruxa. Quanto mais o arquétipo se afasta da consciência, mais clara esta se torna e o primeiro assume uma forma mitológica cada vez mais nítida. A passagem da mãe para avó significa que o arquétipo subiu de categoria. Isto se torna claro por exemplo, na concepção dos bataks: o sacrifício funerário para o pai é modesto, é comida comum. Mas quando seu filho tem um filho, o pai torna-se avô, conquistando com isso um tipo de dignidade mais elevada no além. Então lhe são oferecidos grandes sacrifícios.

Oceano de Dentro:.

Do que foge uma mulher? De alguém especial. De sentimentos complicados e barreiras contraditórias. Do seu escuro e da sombra que enxerga nos olhos do amado. Não é a mulher, um homem também empreende fuga quando se vê apaixonado demais.

(...) e ele trouxe-me apaixonadamente para si. Não podia suportar o sofrimento no meu olhar; queria afagar-me até o esquecimento. Explorou o proibido ao toque, dissipando assim todas as nossas couraças. Sentir verdadeiramente, era isso a emoção; não apenas excitação sexual... Era uma espécie de derretimento, como se fôssemos enormes icebergs descongelando; e assim se mesclando, moldando-nos... todas as nossas defesas esvaiam-se pelo chão, deixando-nos totalmente desarmados e abertos.
E quando voltei a si, perguntei-me o que estaria ali perto de meus olhos, curvado e cheio de vida, no escuro, e o que dizia aquela voz... O que era ele? Uma vida forte, estranha, selvagem, que ofegava com a minha na escuridão até aquela hora. Foi tudo tão maior que nós próprios que eu me calei. E depois de uma noite assim, permanecemos por horas ambos quietos, pois tínhamos conhecido as imensidões da paixão. Sentiamo-nos pequenos, semi-temerosos, infantis e perguntando-nos, como Adão e Eva, quando e qual foi o momento que havia nos feito perder a inocência, e assim, perceber a magnificência do poder que nos expulsara do paraíso para a grande noite e o grande dia.

Foi para cada um de nós, uma iniciação e uma saciação, este Ato de Entrega e Paixão. "Fome de Pele" - era esse o nome. Conhecer o nada que éramos, conhecer o tremendo dilúvio vivente que nos impelia sempre, deu-nos a serenidade dentro de nós mesmos. Daqui para frente podíamos deixar-nos carregar pela vida, fluir com a vida, sentindo uma espécie de paz, cada um no outro. Havia uma verificação do que ambos havíamos tido juntos. Nada poderia anulá-la, nada poderia tomá-la de nós; era quase possível dizer que "unindo-nos" surgiu a 'crença' na vida. E no cotidiano da realidade, essa estrela que ousaramos tocar não se apagava...

Porque a Estrela era nítida nos olhos dele, ou mesmo nos meus. Suscintava medo e irritação também, porque depois desse Ato, estávamos expostos à Dor. Desviávamos o olhar, com receio de nos aprofundarmos ainda mais em nós e no Outro, tentados a nos fechar novamente, a voltar a cabeça para o intelecto, controlar as coisas, fugir... Fugir de Nós, Fugir... Sentimentos há muito enterrados emergiam nos olhos e sorrisos que trocávamos, num baile de fantasmas e recordações.

Entramos em conflito conosco; em guerra com nosso mundo interior para podermos nos abrir e permitir-nos amar e sermos amados. Isso exige coragem; mas uma vez aberta a porta dourada, a experiência vivenciada será eterna e inesquecível, mesmo que aquele "que apertou a campainha da porta" não caminhe ao nosso lado eternamente.

domingo, abril 08, 2007


O importante é insistir na vida:.

A vontade de abandonar tudo pode até nos provocar, mas em vez de fugir, há que se correr atrás de nossos objetivos. Porque, no final, veremos que a vida valeu a pena de verdade. Cada momento da caminhada.

Estes recortes de 'auto-ajuda', como diria um amigo meu, não tem autoria certa. Mas muitas vezes eu faço destas linhas meditação diária, fazendo destas palavras meu guia e minha luz. Pra ter a certeza de que não me desviarei do caminho que optei - aquele que detém o meu coração.

"Talvez, lá no final, eu veja que envelheci rápido demais. Ou que não conservei-me em formol, por não ter malhado tanto, nem feito todas as cirurgias plásticas que o método exige. Mas saberei que lutei todos os dias para que os instantes da minha vida tivessem significado. E isso fará com que a vida tenha valido a pena.

Talvez eu não tenha forças para realizar TODOS os meus ideais e sonhos. Mas jamais me considerarei uma derrotada por mais que um minuto.

Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda. Uma grande passada de perna de terceiro. Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão.

Talvez eu ainda sofra mais desilusões no decorrer de minha vida. Mas farei com que elas percam total importância diante dos inúmeros gestos de amor que encontrei e que ainda me depararei.

Talvez em alguns dias o sol deixe de brilhar. Então vou sair e dançar na chuva.

Talvez um dia eu sofra injustiças; mas o papel de vítima não me servirá jamais!

Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos. E diante disso, terei humildade para aceitar as mãos estendidas em minha direção - geralmente mãos das pessoas que menos esperarei ajuda, tenho certeza!

Talvez em muitas noites derrame lágrimas, mas continuarei a não ter vergonha nenhuma de vertê-las.

Talvez eu seja enganada inúmeras vezes. Mas não deixarei de acreditar que existem pessoas que merecem minha confiança.

Talvez, com o tempo, eu perceba que cometi grandes erros. E farei o possível para - ainda nesta vida - procurar repará-los, para continuar trilhando meu caminho de "costas limpas".

Talvez eu perca muitas amizades. Mas irei aprender que aqueles que são meus verdadeiros amigos estarão ao meu lado, no final, e outros que passaram por minha vida provavelmente terão outros a ampará-los.

Talvez algumas pessoas queiram o meu mal. Mas não me deixarei contaminhar por atitudes como essa, e continuarei plantando a semente da amizade e do amor por onde eu passar. Porque "as obras que espalhamos atraem energias semelhantes".

Talvez ainda fique triste em alguns momentos ao me deparar com a impossibilidade de cantar, ou mesmo de seguir uma coreografia até o final. Mas logo a seguir me lembrarei que posso fazer a música seguir o compasso dos meus passos.

Talvez eu não venha a enxergar esse "tal de final do arco-íris". Porém aprendi a desenhar um dentro do meu coração.

Talvez amanhã possa me sentir fraca. Mas terei a certeza de que sempre posso recomeçar, nem que seja de uma maneira diferente.

Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias. Mas terei a conciência de que os verdadeiros ensinamentos já estão gravados em minha alma.

Talvez eu me deprima várias vezes por não saber muitas coisas. Mas posso me alegrar com as pequenas conquistas que já tive e que ainda estão por vir.

Talvez eu não seja exatamente quem eu gostaria ou sonhei em ser. Mas passarei a admirar a pessoa que SOU CAPAZ de ser, e de me tornar.

Porque no final, saberei que, mesmo com incontáveis dúvidas, sou capaz de construir uma vida melhor. E se ainda não me convenci disso, após tantos "talvez", é porque nada chegou ao final.

E nesse final não haverá mais nenhum talvez. E sim, a certeza de que minha vida valeu a pena porque EU FIZ O MELHOR.