quinta-feira, fevereiro 28, 2008


Pedra na areia.

GANDAIA DAS ONDAS.

Acordei como se fosse uma nova pessoa. Uma sensação maravilhosa de pertencer a algum lugar, de saber, de paz... E só depois, soube que era fruto de um sonho. Às vezes, meus sonhos acordam aos poucos, devagarinho, para não se evaporarem no turbilhão de pensamentos que sou eu. Lembrei de três momentos, três vezes ele se aproximava, querendo uma confirmação. Na primeira vez, achei petulância da parte dele, contestei e disse palavras amargas. Não era o que eu pedi. Da segunda vez, já depois de alguma convivência, quando ele falou que só seguiria o mesmo caminho, se acaso alguém fizesse questão de sua presença, esperei outros responderem, mesmo com seus olhos pregados nos meus. Depois, disfarcei e sorri, dizendo, Viu, todo mundo quer você ao lado, entra no carro e deixa de enrolação. Às vezes, o todo nos protege. E, na terceira vez, já depois de algum tempo, na areia fina de alguma praia, ele me pediu se lembrava da música que ele cantava, ao me ver. Como dizer para ele que não decoro letra de música? Peguei um caderninho minúsculo, e passei os olhos, cantando alguma estrofe em seu ouvido. Isso o fez rir, e começou a cantar a música para mim, bem pertinho...Não sei porque, lembrar sua música fez ele saber que eu o amava, mesmo negando anteriormente. Mesmo não confirmando... E a música, a voz, foram tantos beijos, abraços, pés descalços na água gelada... Acordei, guardando da letra da música a estrofe, que esqueci completamente pela manhã. Tudo o que restou foi: como... ondas...areia... pedra... morena. E para que serve o google mesmo? Para achar inclusive a música dos nossos sonhos. A letra da música que não lembro de ter ouvido, a não ser nesse sonho... Com esse homem... Que era loiro, olhos claros, e sorriso zombeteiro. Ah, propósito, na segunda vez eu disse claramente, é melhor fazer algo com essa cor de cabelo. Tenho certeza que ele entendeu, pelo fim... estava moreno. E sabe? A cor do cabelo nem faria diferença...Pedra na areia.

É bonito se ver na beira da praia
A gandaia das ondas que o barco balança
Batendo na areia, molhando os cocares dos coqueiros
Como guerreiros na dança
Oooh, quem não viu vai ver
A onda do mar crescer
Oooh, quem não viu vá ver
A onda do mar crescer

Olha que brisa é essa
Que atravessa a imensidão do mar
Rezo, paguei promessa
E fui a pé daqui até Dakar

Praia, pedra e areia
Boto e sereia
Os olhos de Iemanjá
Água, mágoa do mundo
Por um segundo
Achei que estava lá


Eu tava na beira da praia
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
Não vá, oooh, morena
Morena lá
Que no mar tem areia

Olha que luz é essa
Que abre caminho pelo chão do mar
Lua, onde começa
E onde termina
O tempo de sonhar

Orando por cada coração silenciado

Ah, oceano, faz tanto tempo...Cada passo é uma lembrança, como andar sobre ossos quebrados. Como naquele conto antigo, da menina que queria ser a melhor bailarina do mundo. Sim, disse a feiticeira, mas cada vez que pisares na terra, terás a sensação de facas cortando teus pés. Se aguentares a dor, teu desejo será concedido. E, quando eu estava ao lado dele, pensava Meu Deus, faça com que ele fique bem, se alguém tiver que sair ferido, que seja eu. Eu, que jamais fui de desejos intensos. Isso era novidade para mim, pensr em alguém, antes de pensar em mim. Sem diferenciar muito a pessoa de mim. Se ele estiver feliz, eu também estarei. Parece até coisa do destino, não acha? Para que a gente possa atravessar e continuar caminhando, temos que aprender a confiar. Mistérios devem ser assim, estão aí, e ninguém sabe.

domingo, fevereiro 24, 2008


blue rising

Às vezes me pergunto se existe uma realidade objetiva, intocada por qualquer julgamento prévio. Todas as coisas com as quais nos deparamos, parecem ser transformadas instantaneamente, quando batemos nossas pestanas sobre elas. Olhos sinceros, cabelos bem penteados, uma boca que aprendeu o que é bondade, porque se criou com muito pouco. Desconfiado, meio desajeitado, ainda não acostumado com tanta sorte. A pele do meu rosto ficou vermelha, quando ele soprou as palavras suavemente, perto demais para eu controlar emoções. Você, que age como se soubesse de tudo, do que preciso?

Talvez você precise de amor para curar seu coração, digo sorrindo. Eu, de repente leve, como uma menina no balanço, encontrando facilidade em aprender este jogo de sedução, no qual ele é mestre. Talvez a dor seja por isso. Eu, despudorada, estupefata ante minha total inexperiência no amor, quebrando todas as regras... Azia. É também isso. Vidas indulgentes provocam isso. Camomila pela manhã irá conter o incômodo ao longo do dia. A culpa de querer algo diferente, fica ruminando o dia todo, haja paciência para sobreviver!

É tão fácil assim, saber do que precisa uma pessoa?

As palavras de raiva, como as abelhas, carregam mel escondido. Sei o que quer dizer. Sinto muito se o seu destino nasceu costurado contigo, emoldurado pelos astros, veiculado em meus sonhos. Ah, não tenho medo de cara feia, nem nunca tive de bicho papão.

Esse homem deveria pertencer a uma segunda-feira. O que será que tenta provar, deixando de viver? Segunda é o dia do silêncio, de feijão mung branco, da lua... e agora, me lembrará sempre o seu rosto. Queria poder lhe dizer que eu não podia consertar tudo aquilo, demandaria uma fé de cortar o coração, eu que vivo numa enrascada maior do que qualquer um possa entrar, ainda não consigo... Começo a rir da ironia da coisa, ele tem aquela mesma certeza, mesclada a mesma ignorância, que me assolava quando sentia algo muito forte, e queria ser mais cautelosa, em vez de deixar acontecer... Antes dele chegar a minha vida, pressenti sua chegada, e esperava, entre apavorada e desejosa. O que eu queria saber, era se teria ele me sentido também. O que viu realmente, quando seu olhar me mostrou toda sua alegria em me encontrar? Todo mundo tem segredos, e esse homem era o segredo. Terminei por olhar profundamente em seus olhos, e dizer sorrindo, Eu nunca lhe disse que era fácil. Nada é fácil, falando de você.

Um vinco profundo, de desagrado, se formou entre suas sobrancelhas. Levantou-se, e proferiu uma despedida, palavras duras como uma parede entre nós. Eu devia ter esperado mais, agora sentia que o perdia. Quieto, aguardava, enquanto eu queria tanto lhe pedir para ficar, mas não podia decidir por ele. O que o irritou não foi o que eu falei, mas como ele sabe ser verdade cada palavra. Irrita-o saber, porque isso implica em pressioná-lo a mudanças. Ele, que odeia mudar qualquer coisa. Que tem tanto medo de desagradar. A voz dele, áspera e agressiva, o olhar evitando o meu olhar...

Você pode ir embora. Um dia, você vai ter que voltar para me dizer o que sente. Não importa quantos kilômetros você ande... Eu sei o que sentimos. E confio em você. Também nas suas histórias não contadas, nas nossas palavras não ditas, nos sonhos que se estendem como fios de ouro batido entre nós. Não sei porque sua vida foi tecida entremeada a minha tapeçaria, mas sei que foi deixada aos meus cuidados. Todas as minhas certezas são como areia, na tempestade que é você.

É, eu preciso ir, pra poder voltar. Parece até coisa do destino, não acha? Para que a gente possa continuar, eu preciso aprender a confiar... Eu volto. E você já sabe disso, não é? Sua risada, bem-humorada, foi tudo o que restou no ambiente quando ele fechou a porta atrás de si.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008


A roda da Vida

Quando acabamos de fazer tudo o que viemos fazer aqui na Terra, podemos sair de nosso corpo, que aprisiona nossa alma como um casulo aprisiona a futura borboleta. E, na hora certa, podemos deixá-lo para trás, e não sentimos mais dor, nem medo, nem preocupações - estamos livres como uma linda borboleta voltando para casa, para Deus...


NADA ACONTECE POR ACASO

Talvez isto ajude. Há anos tenho sido perseguida por uma certa má reputação. Na verdade, tenho sido perseguida por pessoas que me vêem como Aquela Senhora que Fala Sobre a Morte e o Morrer. Acreditam que o fato de ter passado mais de três décadas fazendo pesquisas sobre a morte e a vida depois da morte faz de mim uma especialista no assunto. Acho que não compreenderam bem.

O único fato incontestável em meu trabalho é a importância da vida.

Sempre digo que a morte pode ser uma das maiores experiências que se pode ter. Se você vive bem cada dia de sua vida, não tem o que temer. Talvez este, que é certamente meu último livro, torne isso mais claro. Poderá também despertar algumas novas perguntas e talvez até mesmo fornecer respostas.

Hoje, aqui sentada nesta sala cheia de flores de minha casa em Scottsdale, Arizona, os últimos setenta anos de minha vida me parecem extraordinários. Aquela menina criada na Suíça que eu fui jamais poderia prever, nem em seus sonhos mais extravagantes - e eles eram bastante extravagantes -, que acabaria sendo a autora mundialmente famosa de Sobre a Morte e o Morrer, um livro que, ao explorar o trecho final da vida, lançou-me no centro de uma controvérsia médica e teológica. Nem muito menos poderia imaginar que em seguida passaria o resto de seus dias explicando que a morte não existe.

Com os pais que tive, eu deveria ter sido uma boa e piedosa dona de casa suíça. Em vez disso, acabei vindo para o Sudoeste norte-americano e sendo uma psiquiatra obstinada, escritora e conferencista, que se comunica com espíritos de um mundo onde acredita haver muito mais amor e glória do que no nosso. Acho que a medicina moderna se tornou uma espécie de profeta que oferece uma vida sem dores. Isso é absurdo. A única coisa que conheço capaz de curar realmente as pessoas é o amor incondicional.

Alguns dos meus pontos de vista são pouco convencionais. Por exemplo, ao longo dos últimos anos, sofri uma meia dúzia de derrames, entre estes um mais leve logo depois do Natal de 1996. Meus médicos primeiro me fizeram advertências e em seguida me imploraram que deixasse de fumar, tomar café e comer chocolate. Mas ainda me permito esses pequenos prazeres. Por que não? É a minha vida.

É como sempre tenho vivido. Se sou independente, aferrada às minhas opiniões e modos de ser, se estou um pouco fora dos padrões, e daí? É assim que sou. Isoladas, as peças às vezes parecem não se encaixar bem umas nas outras. Mas aprendi com a experiência que nada acontece por acaso na vida. Coisas que aconteceram comigo tinham de acontecer.

Era meu destino trabalhar com doentes terminais. Não tive escolha quando deparei com meu primeiro paciente de AIDS. Achei que precisava viajar mais de quatrocentos mil quilômetros a cada ano para coordenar seminários que ajudavam as pessoas a lidar com os aspectos mais dolorosos da vida, da morte e da transição de uma para outra. Mais tarde em minha vida, senti o impulso de comprar uma fazenda de trezentos acres numa região rural da Virgínia, onde criei meu próprio centro de tratamento, fazendo planos de adotar bebês contaminados pela AIDS e, embora seja difícil admitir, vejo que era meu destino ser obrigada a sair daquele lugar idílico.

Em 1985, depois de anunciar minha intenção de adotar bebês contaminados pela AIDS, tornei-me a pessoa mais desprezada de todo o vale de Shenandoah e, apesar de ter logo abandonado meus planos, havia um grupo de homens que fez de tudo, exceto me matar, para eu ir embora. Disparavam tiros em minhas janelas e alvejavam meus animais. Enviavam uma espécie de mensagem que tornava perigosa e desagradável a vida naquele lugar deslumbrante. Mas ali era o meu lar e eu teimosamente me recusei a deixá-lo.

Havia me mudado dez anos antes para a fazenda, que ficava em Head Waters, na Virgínia. A fazenda concretizava todos os meus sonhos e enterrei ali todo o dinheiro que ganhara com livros e conferências para transformar esses sonhos em realidade. Ergui ali minha casa, um chalé nas proximidades e uma casa de fazenda. Construí um centro de tratamento onde realizava seminários, o que me permitiu reduzir meu frenético programa de viagens. Estava planejando adotar bebês contaminados pela AIDS, que assim poderiam desfrutar dos dias que lhes restassem em meio ao esplendor da vida ao ar livre no campo.

A vida simples da fazenda era tudo para mim. Nada era mais relaxante depois de uma longa viagem de avião do que chegar ao caminho sinuoso que levava à minha casa. O sossego da noite tinha um efeito mais calmante do que o de uma pílula para dormir. Acordava com uma sinfonia de vozes de vacas, cavalos, galinhas, porcos, burros, lhamas... toda a barulhenta bicharada dando-me boas-vindas. Os campos desdobravam-se até onde minha vista podia alcançar, cintilando sob o orvalho fresco da manhã. Árvores antigas ofereciam sua sabedoria silenciosa.

Havia trabalho de verdade a fazer. Minhas mãos ficavam sujas. Tocavam a terra, a água, o sol. Trabalhavam com a matéria-prima da vida. Minha vida. Minha alma estava ali. Então, no dia 6 de outubro de 1994, puseram fogo na minha casa. Queimou inteira e foi considerada perda total. Todos os meus papéis foram destruídos. Tudo o que eu tinha transformou-se em cinzas.

Eu estava correndo pelo aeroporto de Baltimore, tentando pegar um avião de volta para casa, quando recebi a notícia de que tudo estava em chamas. A pessoa amiga que me contou isso insistiu que eu não fosse direto para lá, pelo menos por enquanto. Mas pela minha vida afora já me tinham dito para não seguir a carreira de médica, para não falar com pacientes terminais, para não começar um hospital especial para doentes de AIDS na prisão e, a cada vez, eu teimosamente fiz o que achava certo, em vez de fazer o que se esperava que eu fizesse. Dessa vez não foi diferente.

Todo mundo enfrenta momentos difíceis na vida. Quanto mais momentos difíceis enfrentamos, mais crescemos e aprendemos.

O avião seguiu zunindo. Em breve, eu estava no banco de trás do carro de um amigo, correndo pelas estradas escuras do campo. Era quase meia-noite. A uma distância de alguns quilômetros, vislumbrei os primeiros sinais da fumaça e das chamas. Destacavam-se contra o céu inteiramente negro. Dava para ver que era um grande incêndio. De perto, a casa, ou o que restava dela, mal se distinguia através das labaredas. Comparei a cena com estar no meio do inferno. Os bombeiros disseram que nunca tinham visto nada igual. O calor intenso manteve-os a distância a noite toda e pela manhã adentro.

Bem tarde, naquela primeira noite, procurei abrigo numa fazenda vizinha que costumava receber hóspedes. Preparei uma xícara de café, acendi um cigarro e refleti sobre aquela minha tremenda perda pessoal na fornalha enraivecida que um dia fora a minha casa. Era devastadora, atordoante, acima de qualquer compreensão. A lista incluía os diários que meu pai escrevera sobre a minha infância, meus papéis e diários pessoais, umas vinte mil anamnésias relacionadas à minha pesquisa sobre a vida depois da morte, minha coleção de arte nativa norte-americana, fotografias, roupas... tudo.

Por vinte e quatro horas, fiquei em estado de choque. Não sabia como reagir, se chorava, gritava, sacudia os punhos para Deus ou apenas ficava pasma com a dureza da mão do destino. As adversidades somente nos tornam mais fortes. As pessoas sempre me perguntam como é a morte. Digo-lhes que é sublime. É a coisa mais fácil que terão de fazer.

A vida é dura.
A vida é luta.

Viver é como ir para a escola. Dão a você muitas lições para estudar. Quanto mais você aprende, mais difíceis ficam as lições. Aquela experiência foi uma dessas lições. Já que não adiantava negar a perda, eu a aceitei. O que mais poderia fazer? De qualquer forma, era só um monte de coisas e, mesmo sendo importantes ou tendo valor sentimental, nada que pudesse ser comparado ao valor da vida. Eu estava ilesa. Meus dois filhos, crescidos, Kenneth e Barbara, estavam vivos. Um bando de idiotas tinha conseguido queimar minha casa com tudo o que estava dentro, mas não tinham conseguido me destruir.

Quando aprendemos as lições, a dor se vai.

Esta minha vida, que de certa maneira começou pelo mundo afora, foi muitas coisas - mas nunca foi fácil. Isto é um fato, não uma queixa. Aprendi que não há alegria sem dificuldades. Não existe prazer sem dor. Saberíamos o que é o bem-estar da paz sem as angústias da guerra? Se não fosse a AIDS, será que perceberíamos que nossa humanidade está ameaçada? Se não houvesse a morte, apreciaríamos a vida? Se não existisse o ódio, saberíamos que nosso objetivo supremo é o amor?

Como gosto de dizer: "Se protegêssemos os canyons dos vendavais, nunca veríamos a beleza de seus relevos.”

Confesso que aquela noite de outubro há três anos foi uma dessas ocasiões em que é difícil encontrar beleza. Mas no decorrer de minha vida já estivera em encruzilhadas semelhantes, buscando no horizonte algo quase impossível de se enxergar. Nesses momentos, ou você cai no negativismo e procura atribuir a culpa a alguém ou opta pela recuperação e por continuar a amar. Como acredito que o único propósito de nossa existência é crescer, não tive problemas para fazer uma escolha. Assim, alguns dias depois do incêndio, dirigi-me à cidade, comprei uma muda de roupas e preparei-me para o que viria em seguida.

De certa forma, esta é a história de minha vida.

in A roda da vida, Elisabeth Kübler Ross.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008


DESCAMINHOS

Engraçado como são os finais dos arco-íris que imaginamos aparecer em nossas vidas. Mais hilariante (se não fosse doloroso e trágico) a maneira como nos conduzimos pelo caminho. Por que não viver aquilo que sentimos? Por que vamos até o fim, em relações que sabemos inúteis, e que nos fazem angustiados e amargurados? Por que nos iludimos, justificando ests escolhas em prol do filho, pela família, quando a verdade é que, sem nos verem felizes, nada crescerá sadio? Qual é o filho que, vendo seus pais mantendo uma relação sem paixão e socialmente (aparentemente) aceitável, conseguirá crescer sem ansiar por amor, por momentos de paixão, por vida e alegria? Surpresa, Ling-Lee, esta não é uma maneira adorável de contar a você como já fomos tolas. A deliciosa novidade é que eu sei que você está de cabeça cheia, aborrecida pela rotina e cansada de tantas reclamações, portanto, não se importará com aquilo que eu escrever, e nem precisará fingir que não concorda com tudo isso. Aposto que, se você persistir, sairá desse descompasso, o que não será nada surpreendente, considerando que você é a mais especial e inteligente das pessoas. Depois, o texto abaixo não é meu. É retirado do livro da Cecelia Ahern, assim, com as emendas de adaptação 'de sempre'. Quem conta um conto sempre aumenta um ponto, não? Então, leia isso como: "Eu não tenho culpa de nada daquilo que você interpretar daqui". Afinal, somos peritas em retirar sorrisos, de toda e qualquer situação que nossas tolas mentes inventam em nossa realidade. Quer saber? O meu arco-íris termina nem sei onde, mas SEI ONDE COMEÇA. E isso é o que importa (para mim!) - saber onde eu sinto que é meu lar. Onde ficou o meu coração.

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Como duas pessoas conseguem se perder, e marcar bobeira por 30 anos, apenas por não dizerem a verdade daquilo que sentem um pelo outro. Ou, resumindo, como agem duas pessoas medrosas, inseguras e sem coragem para dizer e assumir aquilo que sentem, e pelo que o coração exagera em bater:::


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DE ROSIE
PARA STEPHANIE (irmã de Rosie) e PARA RUBY (melhor amiga)
Assunto TÃO ROMÂNTICO

Oh, Steph e Ruby, foi tão romântico! Eu não tinha absolutamente a mínima idéia que ele me pediria em casamento! Ele me levou para passar o final de semana fora, numa cidadezinha no oeste do qual nunca ouvi falar, portanto não vou sequer tentar soletrá-la. Ficamos em uma encantadora pousada, e comemos em um restaurante chamado Presa do Pescador. Adorei a salada! Tínhamos o local inteiro para nós. Ele me pediu em casamento durante a sobremesa, e em seguida caminhamos ao redor do lago, e voltamos para a pousada. Foi reservado e tranquilo, mas muito romântico.


DE STEPHANIE
PARA ROSIE
RE: TÃO ROMÂNTICO

É engraçado, Rosie, ler isso, porque conheço você. Sempre pensei que você tivesse dito que queria fogos de artifício e romance, pétalas de rosa e violino enquanto seu companheiro ficasse de joelhos e lhe propusesse casamento diante de uma multidão arquejante e chorosa. O pedido de casamento parece romântico, e tudo mais, mas o que aconteceu com seu sonho? Será que você não está se iludindo? É esse homem que você ama, ou que diz amar você? Mas, se a ama, como não conhece você? VOCÊ DETESTA CIDADEZINHAS LINDAS! VOCÊ DETESTA POUSADAS! VOCÊ DETESTA PEIXE! VOCÊ DETESTA LAGO! É isso o que quer para sua-vida-inteira, permanecer ao lado de alguém, tendo que reinventar outra Rosie?


DE RUBY
PARA ROSE
RE: TÃO ROMÂNTICO

Ele a pediu em casamento em Bogger-reef? Mas você gosta de cidades grandes, metrópoles, barulho, poluição, luzes brilhantes, pessoas e prédios altos! Você é obcecada por hotéis, quer ser administradora de um, vive num deles, e pra você a melhor coisa é ficar num hotel, e ele a levou para uma pousada nojenta no meio de lugar nenhum? Afinal, foi a você que ele queria propor casamento? Tem certeza de que ele não está confundindo você com alguém? Você matou de fome o peixinho dourado de sua irmã, você tem ânsia de vômito sempre que vê alguém comendo ostras, você tapa o nariz sempre que come atum, acha que salmão defumado é obra do diabo, e lagostins a fazem vomitar!!! Você sempre diz que salada é para coelhos ou modelos, VOCÊ ADORA O MAR, quer viver numa praia, secretamente quer ser uma sereia, acha que lagos são tediosos, e diz que lhe falta o drama do mar para viver!!! Oh, por favor, se esse homem não consegue ver quem é você, pare de mentir para si mesma, Rosie, porque você também não o conhece. Quer parar de tentar esquecer aquele-que-não-posso-falar-o-nome, e ir atrás de viver esse sentimento? Pelo menos, o início do caminho será verdadeiro. Detesto quando você sabota seu mundo, pra sobreviver.


DE ROSIE
PARA ALEX
ASSUNTO: SOS

Alex, por favor, salve-me de minha família e amigos. Eles estão me deixando louca. Aquele seja-lá-qual-for-o-nome-dele me pediu em casamento, me levou para uma cidadezinha tranquila no interior, ficamos em uma linda pousada, comemos em um simpático restaurante "Fisherman Catch", adorei a salada, e enquanto eu estava com a boca cheia de profiteroles de chocolate, eu disse sim, fizemos um passeio pelo lago, e observamos a lua sobre a água. Não é romântico? Você não sente que é amor? Todos acham que me conhecem melhor do que eu mesma, acredita? E ficam dizendo que não sou eu que fui pedida em casamento, como também não é com ele que quero me casar. O que você acha? Poderia ser diferente?


DE ALEX
PARA ROSIE
RE: SOS

Quão melhor? O que você teria feito para torná-la melhor? Claro, todos parecem conhecê-la melhor que você, ou é você que está com medo de saber o que você realmente quer? Quer que eu vá em frente e diga a verdade? Bem, isto soa como um desafio! Rosie, primeiramente, eu a teria levado para um hotel na costa, de forma que sua suíte tivesse a melhor vista do mar possível. Você poderia dormir ouvindo as ondas batendo de encontro às rochas, eu espalharia sobre a cama pétalas de rosas vermelhas e acenderia velas por todo o quarto, colocaria seu CD favorito para tocar baixinho ao fundo, mas não a pediria aí. Eu a levaria para um local onde houvesse enorme multidão, para que todos ficassem sem fôlego quando eu me ajoelhasse e fizesse o pedido. Ou algo assim. Perceba que coloquei em itálico as palavras indispensáveis ao momento. O momento que pertence a você. O tempo todo você fala de seus sonhos. O tempo todo, minha querida. O tempo todo. Quem quer que conheça um pouco perceberá que é mais ou menos o tipo de coisa com que sempre sonhou. Mas se você não consegue gostar tanto de si mesma, para acreditar que merece o melhor, que pode viver um relacionamento onde há sentimento verdadeiro, então, pode ser que "goste de pousada e outros tantos mais", e justifique que teve "sorte" em arrumar alguém que não sabe quem você é. É, vá em frente, todo mundo pode brincar com o destino, e bagunçar sua vida. Mas não demore, viu? Você faz falta, sendo você mesma.

:::tempo

DE ROSIE
PARA ROSIE (uma forma de decidir o que fazer)
ASSUNTO O FINAL

Não posso acreditar que permaneci por tanto tempo num casamento, fingindo que era feliz, forçando-me a esconder sentimentos, renunciando a tanta coisa. Mais uma vez, não sei absolutamente para onde estou me encaminhando. Parece que a cada poucos anos junto os pedaços de minha vida e começo do ponto de partida em todas as direções. Não importa o que eu faça ou o quão duramente tente, parece que não alcanço as vertiginosas alturas da felicidade e da segurança. SErá que é porque eu saboto o caminho que me faz feliz? Não estou querendo me tornar milionária e viver feliz para sempre. Refiro-me apenas a chegar em casa querendo estar ali. Olhar ao meu redor e soltar um suspiro de felicidade quando avistar a pessoa que partilha a minha vida. Pensar: "Agora estou onde quero estar". Estou perdendo algo, sabe? Aquela "centelha" especial que a vida supostamente deve trazer. Tenho um emprego, uma filha, família, admiração, sucesso, apartamento, carro, mas perdi a centelha. Eu quero não precisar me convencer que amo alguém. Todos querem brincar de família feliz, mas as coisas não funcionam assim. Pelo menos, não para mim. Eu não reconheço essa pessoa que me tornei. Mas tenho certeza que eu sei onde posso começar, para ser feliz.


DE ROSIE
PARA ALEX
ASSUNTO: QUER SE CASAR COMIGO?

Suspiro alto. É assustador falar o que sinto. De verdade. Mas aprendi que não faz sentido fingir orgasmos e sonhar com você, pra que outro tenha algum prazer. Aprendi que um lar não é um lugar, é um sentimento. Posso tornar o apartamento tão bonito quanto conseguir, colocar tantos vasos de flores no peitoril das janelas quantos quiser, colocar um tapete de boas-vindas na porta de entrada, pendurar uma placa de "lar docelar" sobre a lareira e começar a usar aventais e bater bolos, mas a verdade é que sei que não quero ficar aqui para sempre. É como se eu estivesse esperando em uma estação de trem, fazendo apresentações para juntar um pouco de coragem, apenas para pegar o próximo trem. E, claro, a coisa mais importante que é minha filha. Onde quer que ela esteja deveria se parecer com um lar, mas não é assim porque criar um lar para ela depende de mim. Sei que ela crescerá, e daqui um tempo não precisará mais de mim. E não quero passar minha vida sentindo uma saudade louca. Há tantas coisas que aconteceram comigo, pequenas coisas bobas do dia-a-dia que desejo ardentemente lhe contar. Como o fato de que meus sentimentos mudaram muito, desde aquele nosso beijo. Eles se intensificaram a cada dia que passou. Vou direto ao assunto porque se não disser o que preciso dizer agora, temo que nunca seja dito: Preciso dizer. Hoje o amo mais do que nunca; desejo-o mais do que nunca. Preciso de você, mais do que nunca. Sou uma mulher, e sabe, não temos mais vinte anos, e estou me sentindo uma adolescente apaixonada, pedindo-lhe que me dê uma chance e me ame em resposta. Porque amo você de todo coração. Sempre. Mesmo quando dizia que te odiava. Faça-me a mulher mais feliz desta terra, ficando comigo. você é mais do que bem-vindo para ficar comigo quando achar que estiver pronto. Com todo o meu amor,


DE ALEX
PARA ROSIE
ASSUNTO: SIM

Rosie,
Tenho quase absoluta certeza que essa carta vai chegar, quando você já estiver nos meus braços. Porque estou saindo de casa agora. Para ficar com você. Não quero mais fingir que tudo está perfeito, porque vejo que não está. Eu fiz isso por dez anos, junto com alguém. Foram mais de cinco anos com outra pessoa. E meus olhos sempre me traíram, de tempos em tempos. A tristeza estava ali, ou por aqui, remoendo por dentro. Você merece alguém que a ame a cada batida de seu coração, alguém que pense a seu respeito a cada instante, alguém que passe cada minuto do dia apenas se perguntando o que você está fazendo, onde está, com quem está e se está bem. Eu não sou assim, mas sabe que faço o melhor de mim, não é? Afinal, você precisa mesmo é de alguém que possa ajudá-la a alcançar seus sonhos, e protegê-la de seus medos. Alguém que vá tratá-la com respeito, que ame cada aspecto seu, especialmente suas falhas. Você deve ficar com alguém que possa fazê-la feliz. Realmente muito feliz, flutuando de felicidade (algumas vezes, pelo menos). Alguém que deveria ter aproveitado a chance de estar com você ano atrás, em vez de ter se assustado e amedrontado demais para tentar.

Não estou mais assustado, Rosie. Não tenho mais medo de tentar. Sei que vou morrer se a vir se afastando com alguém, para percorrer o resto da sua vida. Não quero mais imaginar isso, antes de ser capaz de lhe dizer como eu sinto ou abraçá-la, ou o quanto a desejo. Já fiz da maneira errada. Mas lembra, eu também falei que fazia isso: na primeira escolha eu sempre erro. Eu nunca deveria ter deixado que seus lábios se afastassem dos meus. Nunca deveria ter me afastado. Nunca deveria ter entrado em pânico. Nunca deveria ter passado todo esse tempo sem você. Dê-me uma chance para compensá-la. Esta é a nossa oportunidade, não perca tempo em vinganças. Não desista de mim. Precisamos parar de ter medo e agarrar a chance. Se eu quero casar com você? Só posso prometer que a farei feliz. Isso é um sim (antes que você não entenda, e decida-se por outra interpretação rsrs). você acha que estou pronto? Hum... Esta parte deixo para você conferir pessoalmente.
Com todo o meu amor,
Alex