sexta-feira, novembro 24, 2006


.: Tulipa Amarela:.

Ao que parece, os homens tendem a fugir de mulheres que são agressivas no primeiro encontro, como que quisessem devorá-los; também as que se revelam muito inteligentes ou interpretativas dos segredos do homem, não revelando-se quem verdadeiramente são e o que querem do homem, terminam pondo os homens para correr. Os homens são herdeiros de um mito muito antigo, um complexo cujo fundo inconsciente consiste no temor de perder algo seu muito importante para essa mulher predadora, guerreira, fatal, competitiva, em relação ao homem. Muitos casados ao descobrirem o alto preço que estão pagando em viver com esse estilo de ser mulher - supermulher- terminam perdendo o tesão por ela, talvez uma reação de defesa made in inconsciente para evitar perder seu precioso objeto fálico para a voracidade sem limites da fêmea fatal, siliconada ou bem sucedida nos negócios.

quarta-feira, novembro 15, 2006


.:Palindromes:.

Querido D.,

Vi inúmeros desses tipos que você gosta hoje.
E percebi que você tem razão em muitas coisas...
Talvez consiga me ver de trás para frente,
e de algum modo, ainda me visualizar ali.
sei, quase nunca digo o que eu quero,
e metade do que falo podem ser palavras-de-vento
A outra parte, o mistério, escondida,
não está longe das suas mãos.
Eu não sei quem eu sou,
também não sei o que eu quero.
Aparentemente, o Senhor deve saber
mas quando for a hora
poderia me salvar?
Então dava para o Senhor dar corda
na minha caixinha de música
que nunca foi tocada?
para que eu possa começar a minha dança,
nesta vida-de-bailar
e quem sabe adquira vida e tudo o mais que for preciso
não é só fechar os olhos e se entregar?
Deixarei a música tomar conta de mim
me libertarei de tanta saudade, que é só dor
de repente eu me vejo como se estivesse morrendo
tanta saudade me saturando e me afogando
como se desfalecesse todo dia algo por dentro-de-mim
como se caindo ou desmaiando, não me sustentasse
sem você em sonhos
faço tudo ao contrário, sou evasiva,
mas tenta ler de trás para frente:
AVPS.

domingo, novembro 12, 2006


.:Dupla via.

Viver, enfim, de coração aberto, enseja muita coragem. Disso deveria vir alguma coisa assim, como a felicidade. Um lugar comum, provavelmente, como a aventura interior que ele vivera com ela. Mas frequentemente a vida se assemelha a um lugar-comum. Talvez ela tivesse acabado por se enamorar de um homem suficientemente disponível para experimentar com ela esse exílio insensato no mais próximdo dos países longínquos. Aquele que tivesse tido a delicadeza de denunciar sua vacilação interior. A inteligencia de vencer suas hesitações secretas. A coragem de ajudá-la a romper suas amarras. A audácia de tomar a decisão no seu lugar. A sutileza de não lhe roubar o domínio de seu destino. A força de ser forte por dois. Um homem de acordo com seu desejo, um homem de alguma maneira, um homem, simplesmente. Um dia, pessoas vão embora voluntariamente para nunca mais reaparecer.

Desde que essa mulher o habitava(...) conseguira ser cativado por ela sem lhe ser cativo. Mas afinal, o que ele sabia verdadeiramente da sua vida? O essencial lhe escapava. Ignorava os momentos chaves de sua infancia, lances inteiros de sua juventude, as falhas onde se insinua a loucura costumeira, os interstícios que encobrem perturbações vertiginosas, esses detalhes onde se tem mais chance de encontrar Deus. O lado da sombra o transportava para as zonas de claridade. Verdadeira tortura é amar e ser amado em segredo. Calar essa felicidade compartilhada. Não poder confiá-la a ninguém. Verdadeira tortura, sim, se proibir abrir-se a quem quer que seja. De ser uma alma sem descanso. (...)a que pont admirava todos que tinham a coragem de sua paixão e a audácia de sua transgressão (...) que muitas vezes assumiam o risco de perder tudo (a boa vida, a segurança, os hábitos, as amizades..) em troca de beijos, e embriaguez de uma felicidade sem igual. Hipotecavam o futuro para viver plenamente o momento presente, as certezas pela inquietude, tudo aquilo por isso. Quando paramos de trocar, para que serve uma união?

Pierre Assouline

quinta-feira, novembro 09, 2006


.:Um:.

Não possua nada, não domine nada, e não permita que alguém o possua ou o domine. O amor eleva o outro, ajuda o outro a desabrochar, é pura amizade mesclada com furor. Uma parceria alcançou sua meta quando um não precisa mais do outro. O amor é um ato de consciência e significa abrir os limites da nossa percepção para o ser que amamos, de modo a nos tornamos um com ele. O amor quer ser um, nada mais, e feliz aquele que compreende que as únicas coisas que não lhe podem ser tomadas são aqueles que ele próprio é capaz de manifestar.

Sempre criamos exatamente as situações nas quais iremos aprender aquilo que precisamos aprender. Todas as várias formas de relacionamento, incluindo o separar-se e o ficar só, existem para nos curar e nos transformar. Uma maneira não é melhor do que a outra. Quando nossos relacionamentos atravessam mudanças, isso não significa que há algo errado; ao contrário: tem de ser assim, porque as próprias pessoas estão atravessando continuamente um processo de evolução. Nenhum relacionamento se desintegra a menos que haja algo mais importante à nossa espera lá fora. É claro, nem sempre podemos reconhecer isso a partir de nossas perspectivas limitadas. Tais situações são dádivas, que são dadas para nos permitir experimentar um amor maior. Um sentimento à altura de nosso novo eu, que modificou-se. O amor que damos é recebemos em relacionamentos não passa de um reflexo desse amor maior que nos espera.

Muitas vezes as pessoas se aprisionam em relacionamentos e depois experimentam ainda mais claramente que estão separadas dos que as cercam. De certo modo, sentem que a relação acabou quando o relacionamento não lhes dá o que realmente querem: união com seus verdadeiros eus. Todas as pessoas que entram em nossas vidas ensinam algo - só devemos aprender a abrir mão destas quando é hora de conhecer outro aprendizado, outro sentimento. Se atualmente você vive só e está a procura de uma parceria satisfatória, se abra e deixe de lado medos e preconceitos. Dessa maneira poderá se defrontar com o parceiro que espera se ele ou ela já existirem. Esteja disposta a "entrar na cabeça de seu parceiro", veja os pensamentos e idéias dele como se fossem eus. Precisa também estar aberto para deixar suas próprias idéias crescerem e mudarem, permitindo que o ser amado o inspire, descobrindo nele o ser interno que você já reflete. Nós amamos nos outros aquilo que se encontra dentro de nós.

terça-feira, novembro 07, 2006


.:Destino:.

Você sabe, o sonho é como um rio
Sempre está mudando enquanto corre.
E o sonhador é como um barco
Que deve segui-lo aonde quer que ele vá.
Tentar descobrir o que há atrás
e nunca saber o que há adiante
Faz de cada dia uma luta constante
Apenas para estar entre as margens.
Corra de peito aberto para a vida
Ou fique sentado em casa, esperando.
Todas as coisas boas e ruins
Virão até você: é o destino.
Ouça a música, dance se puder.
Vista-se de trapos ou use suas jóias.
Beba o que quiser, acalente seu medo
(...)
Lágrimas de um dragão, D.R.Koontz

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Nesse seu lugar-perfeito, tem algo como "uma pequena trattoria italiana que é fantástica, com mesas forradas de oleado, garrafas de vinho servindo de castiçais, um bom nhoque, um manicotti fabuloso"???

.:Saudades daquilo que não se viveu:.

Quero acreditar que a possibilidade de se viver o mesmo sentimento com outra pessoa pode ocorrer. Isso seria uma surpresa, não creio em vários amores. Sem se aprofundar demais no mérito do texto que me foi repassado, de não sei quem...O importante é que a forma em que as lembranças ficam é exatamente tal e qual colocado abaixo.

O Homem estava muito triste. Sabia que os dias do Gato estavam contados. O médico havia dito que não havia mais nada a fazer, que ele deveria levar o Gato para casa, e deixá-lo o mais confortável possível. O Homem acariciou o Gato em seu colo e suspirou. O Gato abriu os olhos,
ronronou e olhou para o Homem. Uma lágrima escorreu pela face do Homem e caiu na testa do Gato. O Gato lhe lançou um olhar ligeiramente irritado. "Por que você está chorando, Homem?", perguntou. "Porque não suporta a idéia de me perder? Porque acha que nunca vai poder me substituir?"

O Homem fez que sim com a cabeça. "E para onde acha que eu irei quando deixar você?"- o Gato perguntou. O Homem deu de ombros, sem saber o que dizer. "Feche os olhos, Homem", disse o Gato. O Homem o olhou sem entender bem, mas obedeceu. "De que cor são meus olhos, meu pêlo?", o Gato perguntou. "Os olhos são dourados e o pêlo é marrom, um marrom intenso e vivo", o Homem respondeu. "E em que parte do corpo tenho pêlos mais escuros?", o Gato perguntou. "Nas costas, no rabo, nas pernas, no nariz e nas orelhas", disse o Homem. "E em que lugares você mais costuma me ver?", perguntou o Gato. "Eu vejo você... no parapeito da janela da cozinha, observando os passarinhos... na minha cadeira preferida... na escrivaninha, deitado em cima dos papéis de que eu preciso... no travesseiro ao meu lado, à noite".

"Você consegue me ver em todos esses lugares agora, mesmo de olhos fechados?", perguntou o gato. "Claro. Vi você neles por muitos anos", o Homem disse. "Então, sempre que você quiser me ver, tudo o que precisa fazer é fechar os olhos", disse o Gato. "Mas você não vai estar lá de verdade", respondeu o Homem com tristeza. "Ah, é mesmo?", disse o gato.

"Pegue aquele barbante do chão - ali, meu brinquedo". O Homem abriu os olhos, esticou o braço e pegou o barbante. Tinha uns 60 centímetros e o Gato conseguia se divertir com ele por horas e horas. "De que ele é feito?", o Gato perguntou. "Parece que é de algodão", o Homem disse. "Que vem de uma planta?", perguntou o Gato. "Sim," disse o Homem. "De uma só planta ou de muitas?" "De muitos algodoeiros," o Homem respondeu. "E seria possível que outras plantas e flores nascessem no mesmo solo do algodoeiro? Uma rosa poderia nascer ao lado do algodão, não?", perguntou o Gato. "Sim, acho que seria possível", disse o Homem. "E todas as plantas se alimentariam do mesmo solo e da mesma chuva, não é?", o Gato perguntou. "Sim", disse o Homem. "Então, todas as plantas, a rosa e o algodão, seriam muito parecidas por dentro, mesmo aparentando ser muito diferentes por fora", disse o Gato. O Homem concordou com a cabeça, mas não conseguia entender o que aquilo tinha a ver com a situação. "E então, aquele barbante", disse o Gato, "é o único barbante do mundo feito de algodão?" "Não, claro que não", disse o Homem, "foi tirado de um rolo de barbante". "E você sabe onde estão todos os outros pedaços de barbante, e todos os outros rolos?", perguntou o Gato. "Não, não sei... seria impossível saber", disse o Homem.

"Mas mesmo sem saber onde estão, você acredita que eles existem. E mesmo que alguns pedaços de barbante estejam com você, e outros estejam em outros lugares... mesmo que alguns sejam curtos e outros sejam compridos, e mesmo que seu rolo de barbante não seja o único no mundo... você concorda que há uma relação entre todos os barbantes?", o Gato perguntou. "Nunca tinha pensado nisso, mas acho que sim, há uma relação", o Homem disse. "O que aconteceria se um pedaço de barbante caísse no chão?", perguntou o Gato. "Bom... ele ia acabar enterrado, e se decompondo na terra", o Homem disse. "Sei", disse o Gato. "E talvez nascesse mais algodão naquele lugar, ou uma rosa". "Pode ser", concordou o Homem. "Quer dizer que a rosa no parapeito da janela pode ter alguma relação com o barbante na sua mão, e também com todos os barbantes que você nunca viu", disse o Gato. O Homem franziu a testa, pensando.

"Agora pegue uma ponta do barbante em cada mão", instruiu o Gato. O Homem fez o que foi pedido. "A ponta na mão esquerda é o meu nascimento, e a na mão direita é minha morte. Agora junte as duas pontas", disse o Gato. O Homem obedeceu. "Você formou um círculo contínuo", disse o Gato. "Alguma parte do barbante parece diferente, melhor ou pior que qualquer outra parte dele?" O Homem examinou o barbante e então fez que não com a cabeça. "O espaço dentro do círculo parece diferente do espaço fora dele?", o Gato perguntou. De novo, o Homem fez que não com a cabeça, mas ainda não sabia se estava entendendo onde o Gato queria chegar. "Feche os olhos de novo", disse o Gato. "Agora lamba a mão". O Homem arregalou os olhos, surpreso. "Faça o que eu digo", disse o Gato. "Lamba a mão, pense em mim em todos os meus lugares costumeiros, pense em todos os pedaços de barbante, pense no algodão e na rosa, pense em como o interior do círculo não é diferente do exterior".

O Homem se sentiu bobo, lambendo a mão, mas obedeceu. Ele descobriu o que um gato deve saber, que lamber uma pata é muito relaxante, e ajuda a pensar mais claramente. Continuou a lamber, e os cantos da boca começaram a esboçar o primeiro sorriso que ele dava em muitos dias. Esperou que o Gato lhe mandasse parar mas, como este não mandou, abriu os olhos. Os olhos do Gato estavam fechados. O Homem acariciou o pêlo marrom, quente, mas o Gato havia morrido. O Homem cerrou os olhos com força e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Viu o Gato no parapeito da janela, na cama, deitado em cima dos papéis importantes. Ele o viu no travesseiro ao seu lado, viu os olhos dourados brilhantes, e o marrom mais escuro no nariz e nas orelhas. Abriu os olhos e, por entre as lágrimas, olhou para a rosa que crescia em um vaso na janela, e depois para o barbante que ainda segurava apertado na mão. Um dia, não muito depois, tinha um novo Gato no colo. Era uma linda gata malhada... tão diferente do seu querido Gato anterior mas, ao mesmo tempo, tão parecida.