segunda-feira, julho 31, 2006


De morte-morrida:.

>.: A história de que alguém morreu não é facilmente digerida; ainda mais por alguém como Beatriz, que sempre acha que tudo na vida é por um triz, e que o tio-tão-perfeito era muito, mas muito bom, pra subir pro céu sem sua permissão. Crianças não sabem o que é mentira, nem o que é verdade. Apenas existe o presente. Acho que assim a vida fica mais fácil - até para nós, adultos - ver a vida com a inocência de uma criança, e sem julgar, apenas enterrrar as coisas ruins. Deixar para trás aquilo que, em dado momento, o morto cometeu, pois maquinar ou fazer alguém se responsabilizar por seus atos idiotas é uma coisa difícil. Quem nunca foi amado, nunca conseguirá amar... Portanto, dar voltas nesse lodo-morto não é a melhor forma de limpar o erro que ele cometeu. Segundo o morto-falecido, Jorge Luis Borges disse que Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o homem compreende de uma vez por todas quem é. Nesse emaranhado de labirintos que ele próprio criou dentro de si, em dado momento, talvez houve a descoberta da pessoa que ele sempre foi - ninguém ou nada; e esse evento, logicamente, conduz a morte de quem foi, pra voltar ao nada que sempre esteve ali. Assim, pra Beatriz, a história começou com a Ilha do Pavão (que João Ubaldo intitulou como a ilha dos encantados, e que ela tanto adora ouvir). Num dado momento, os que moram-lá-em-cima viram que estava na hora do Morto-de-morte-mentida ir embora. Pelo menos de nossas vidas - pois a mentira, a inutilidade e o vazio não tem vez. Vieram os balões, e levaram-no da ilha que tinha caído, com seu pseudo-avião de brinquedo. Foi subindo, subindo e se encontrou com sua mãe, que lhe virou o rosto, porque mortos-que-mentem passam reto, e vão mais adiante - pra terra dos descontentes, viver num vazio eterno. O bom de tudo é que sempre aparece algo muito alegre quando algo muito horrível sai de perto de nós. Este morto-mentiroso era péssimo. Portanto, Beatriz, considere que um dos seus pedidos será realizado. Pra vida nos fazer feliz, com a morte-consentida de alguns por aí. Se, porventura, a morte aparecer para aquele que disse que morreu, já rezamos e colocamos flores por aqui. De nossa parte, acho que contribuimos bastante com a vida do morto-que-anda-por-aí: dinheiro pra gasolina e pra comida, sem falar no presente. Agora, que Deus lhe dê o que merece - a fatalidade de ser o que disse que nunca foi. Foi assim que, um dia, foi e nunca voltou a ser. Aquele que disse que morreu, e logo após, disse adeus. Tristes lembranças do Policarpo Augusto, que imaginava tanto ser feliz e amado, e acabaria sendo enterrado, chorando. Tomara que ele lembre do filtro solar. Sempre! Pois, nos conformes da autora americana Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale. Mas no filtro solar, acredite!

sábado, julho 29, 2006


Confissões-torturantes:.

Palavras-para-alguém-ausente:.
.:Você sabe, eu não gosto de amarelo - quer dizer, não gostava de vestir amarelo, apesar de amar girassol em todas as coisas e gostar dos tons certos, nos lugares apropriados. Amarelo me lembra algo que "descobrimos" no acaso e por insistência do destino, que não sabemos tudo, e, em quase 100%, quando temos certeza de algo - lá vem, lá vem, lá vem - não, não é o Renato Russo, mas a tempestade divina enviando muito daquilo que você já tinha afastado, desdenhando, de sua vida, pra dizer "o quanto somos vulneráveis e idiotas" em imaginar que, apenas por delimitar e riscar com régua algumas tolices - como dizer detesto pessoas que falam mascando chicletes, isso vai fatalmente inibir o ato de alguém com esse "modus operandi" aparecer na sua vida e você, irresistivelmente e abduzidamente, cairá, prostrada, aos pés do masca-chiclé. Pois é: por isso é que já fiz e cumpro regularmente a regra de não dizer que gosto ou desgosto de algo. Porque tudo que vier, é bom, se for remetente a Divindade ou o Meu Destino Certo. Também não adianta esperarmos para ver passar aquilo que não queremos que ocorra - invariavelmente, vêm novamente, sob a forma de outra pessoa, fato, ato... Mais uma regra do caminho nosso que escolhemos: "Se for pra ser, que seja já, pois mais tarde e mais velha, não teremos tanto saco pra aguentar as malas-que-temos-que-carregar". Agora, duas a mais, que devem ser colocadas em negrito: Somos, cada qual, o amor da vida de alguém. Sim, somos, apenas e lamentavelmente, de repente, esse alguém não é aquele indivíduo que é o amor de nossas vidas. Uma troca que não é passível de reparação. O outro legado regrado é: Seja o que eles pensam que você é, e caia fora o quanto antes. Porque a história de esmurrar ponta-de-faca não pertence a nós; e ficar sendo o que somos, continuamente, e, mesmo assim, ouvindo besteiras descontínuas e apavorantes de pessoas que tolamente só vêm o exterior e analisam tudo conforme "elas" são no fundo de si, é, no mínimo, rídicula perda de energia. Pessoas Tolas e superficiais não vão jamais enxergar a um palmo do nariz - se encontram voltadas para Elas. Egóicas totalmente. E tentarmos fazer com que estas ditas cujas vejam que estão estupidamente erradas, ao concluirem por isso ou aquilo, é burrice nossa. Ora, algum dia vão aprender, e se não for por amor, que seja pela desgraça e dor. Porque avisos não adiantam. Mostrar-mos como somos, todos os dias, não abre os olhos. Dizer de modo contínuo o que queremos e podemos fazer não suprime o conceito. Invariavelmente estas tolas pessoas continuarão a crer que são os Máximos Seres, e que podem deter mágoas, desesperanças, raiva ou frustração olhando para fora e concluindo com seus botões o que os outros são. Aí, bem... andam mais um percalço, e... lá vai um tolo caindo no próprio buraco que cavou: "passam meses vivenciando a armadilha que evitaram lá atrás, por impressões idiotas, surrreais e aleatoriamente externas". Acabam namorando pessoas que se parecem terrivelmente com "as qualidades da mãe que detestam", ou com aqueles "não gosto" que tanto alardeiam. Acho que é o ditado do "vai, toma lá, bundão, agora pelo c., já que não viu a benção que a vida enviou, por se deter no véu de maldição social que criaram para você".

Bem, é isso - MANOBRAS DO DESTINO. Os deuses jogam dados com pessoas que fazem listas-exclusão. Eu mesma, euzinha, que agora amo tudo e estou pronta para o que Deus quiser e Nossa Senhora mandar de coração - tanto disse que a inteligência literária era fator essencial, e não caí, feito cega e apaixonada, aos pés do lobinho-mais-lindo-do-mundo, que dizia gostar de ler "O rapto do garoto de Ouro"? Bem, pra que cérebro literário, se com ele aprendi coisas tão absurdamente mais "necessárias"? Por isso, digo novamente: "Não basta a razão, pra afastar a necessária emoção e paixão que DEVEMOS passar aqui".


Portanto, para aquele/aquela, bem-feito. Avisei. E corre voltar para o presente, aceita o maná que bateu a porta, desprezado, e foge do que imagina ser benção. Deus manifestamente disfarça tudo; para saber se vemos com o coração ou com a tola indiferença de seres racionais e socialmente babacas. Depois não digam que não avisei - quem sonha com piolho, é amor e dinheiro caindo aos montes; pelo no rosto é a tempestade de conflitos passando e a solução chegando, por vias que não imaginamos. Sonho com pés é sinal de que o amor verdadeiro ficou naquela pessoa que foi descartada na primeira mão. Acho que "gratuitamente", é o máximo que posso fazer pelos que insistem em cair em bueiros.

domingo, julho 23, 2006


.:Inês é morta:.

Há muito e muito tempo atrás, existiu no Reino de Portugal e da Espanha, uma mulher lindíssima, que literalmente perdeu a cabeça por seu Amado. Nascida em Monforte, no ano de 1325, Inês de Castro era filha bastarda de um notável cavaleiro galego (primo, inclusive, de D. Pedro), Pedro Fernández de Castro, com a portuguesa Aldonza Suárez de Valladares, veio ao mundo com a sina de conquistar um dos maiores heróis portugueses, D. Pedro, o princípe herdeiro do Reino de Portugal, filho do Rei Afonso IV, e ser tomada por um amor tal, que ficaria para sempre na história mundial, mesmo morta com somente 35 anos. Esta bela dama galega, de sobrenome Castro, tendo irmãos intrometidos e guerreiros, prima do Infante Amado D. Pedro (08/04/1320, ariano!), em 1340, segue a Portugal no séquito de D. Constança Manoel, a prometida do herdeiro do trono lusitano, como dama-de-companhia da fidalga de Castela, a escolhida após a vitória da cristandade sobre a moirama da Península Ibérica, e eleita para o casamento real com o princípe, por ser filha de Afonso XI de Castela.

O infante, sempre insatisfeito com as uniões matrimoniais que lhe eram impostas, dispensara a primeira noiva quando esta contava apenas 14 anos, de fraca que era. Do compromisso com Constança, entretanto, não houve como evadir-se. Casaram-se, mas, porém, como o destino é quem dá as cartas, conforme naqueles tempos as adelitas já intuiam, quando o Princípe viu Inês, loira e de olhos verdes pela primeira vez, foi arrebatado de amor e desejo, tanto e muito, que diriam os mais afoitos que a palavra deveria ser perdidamente, visto que "o amor se perdeu entre eles", revelando-se adúltero e fulminante, porém destinado a perdurar no tempo. Como ainda era princípe, as ordens eram dadas por seu pai, Rei Afonso IV, e teve seu amor, Inês de Castro, quando souberam do caso, recolhido em Castelo na fronteira com a Espanha, pois que ainda era casado com D. Constança. Porém, em 1345 (ou 1349), a morte desta, que já havia lhe dado um filho, D. Fernando, lhe trouxe o que mais queria: o seu grande Amor de volta a sua cama, a seus braços e abraços. E, mesmo contra a ordem de seu pai, D. Pedro I chamou Inês de volta ao seu Castelo, já que no seu coração ela sempre permaneceu. Ali, viveram maritalmente, e tiveram três filhos.

Porém, já naquele tempo, que era ainda mais moralista e impiedoso do que os nossos atuais, a união, muito invejada, era assim açoitada de todos os lados: os súditos recriminavam tal espúria, os cortesãos mais íntimos enfureciam pelos Castros-irmãos, e clamavam por uma ação eficaz do Rei Afonso IV diante do pecado mortal. Foi tamanha a turbulência que um amor-de-verdade gerou dentro de uma sociedade que desconhecia esse sentimento, que, influenciado e temendo represálias, D. Afonso IV terminou por condenar Inês à morte em 07/01/1355, entregando-a a Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco, seus conselheiros, a responsabilidade pela execução de sua nora à frente de seus 3 netos, aproveitando-se da ausência planejada de seu filho, o princípe herdeiro, D. Pedro. A decaptação da Amada de D. Pedro, Inês, ocorreu nos paços de Santa Clara, em Coimbra, e provocou a ira e o ódio de seu amor, levando-o a iniciar grande devastação pelo país, tendo ao lado leais seguidores, só se reconciliando com seu pai pelos pedidos suplicantes de sua mãe. Por intervenção a rainha Beatriz, mãe de Pedro, pai e filho acabaram por assinar a paz. Mas o infante ainda tinha ânsias de fazer com que se pagasse pelo mal cometido. Foi como bom português que soube aguardar o oportuno momento da vingança, e dois anos mais tarde, em 1357, com a morte do pai, assumiu o trono e mandou executar, com extrema crueldade, dois dos conselheiros do rei que executaram sua Amada: A um, é arrancado o coração pelas costas, a outro pelo peito. Diogo Pachego consegue fugir a tempo, de Castela para Aragão, e dali para a França. "Quem trai a quem fez traição tem cem anos de perdão..." A obsessão do agora Rei D. Pedro I passa a ser a justiça que aplica, de forma inclemente, contra criminosos quer de origem nobre, quer plebéia, sem fazer distinção entre uns e outros, o que muito agrada à arraia-miúda. Porém, mais do que fazer justiça, D. Pedro gosta é de ver aplicá-la, goza muito com o sofrimento dos condenados, e, por isso, ora dizem que é Justiceiro, ora dizem que ele é Cruel. Séculos mais tarde ainda acharão outras definições: psicopata, sádico. Não digo que não seja, mas estou em crer que a sua Inês degolada em frente dos filhos, infectou e fez purgar o lado obscuro da sua alma...

A seguir, em 1361, promove a reabilitação de sua amada, a bela Inês, levando seu cadáver, a paixão de sua vida, com ostentação e pompa jamais vistos, do Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra para o Mosteiro de Alcobaça, onde lá Inês recebeu, depois de morta, o título de rainha. A 18 de janeiro de 1367, D. Pedro I morre em Estremoz, e se junta a sua amada, nesse mosteiro, para o repouso e encontro merecido, constituindo estes túmulos duas obras primas da escultura sepulcral portuguesa da Idade Média. Os baixos relevos do túmulo de D. Inês representam cenas da vida de Jesus, da Ressurreição e do Juízo Final. Sobre a tampa está esculpida a imagem de Inês, de corpo inteiro, com coroa na cabeça como se fora rainha. As esculturas do túmulo de D. Pedro representam cenas da vida dos dois apaixonados desde a chegada de Inês a Portugal. Por sua ordem, os dois túmulos são colocados dentro da igreja, à mão direita. Conta-se também, e não sei se lenda ou realidade, que D. Pedro I teria promovido o beija-mão e o coroamento ao cadáver de Inês de Castro. Diz-se ainda que o soberano tivera o cuidado, ao dispor o seu túmulo e o de sua amada no referido mosteiro, de postar as lápides não lado a lado, mas pé com pé. Para quê? Quando tivessem, ambos, de se acordar no juízo final, poderiam um olhar nos olhos do outro. O oitavo rei de Portugal, motivado pelos fortes sentimentos que o uniam a sua amada. Tal foi a comoção nacional despertada pelos acontecimentos - e pela aura de mito que em torno deles se criou - que não passaria, a história de amor entre D. Pedro I e Inês de Castro, incólume na produção artística, seja de Portugal, seja mesmo de outras nações européias.

Essa história correu oralmente pelo povo, e literariamente, entre Camões, em "Os Lusíadas", na tragédia de Antonio Ferreira, e inúmeros outros romances de muitos idiomas. A frase célebre de Camões, A que depois de morta foi rainha, sempre terminava a história (uma de poucas) que meu pai contava, e sempre quando algum de nós apontávamos a solução, depois do "leite derramado", ele dizia: "o que importa? Agora é tarde, Inês é Morta". Peguem os panos e limpem a sujeira, e sigam adiante. A primeira vez que bati o meu carro recém-tirado da concessionária, estreando carteira nova, ele repetiu a mesma coisa: "Que adiantam as lamúrias e os "se"? Inês é morta, agora pegue a chave do meu, limpe as lágrimas, e vá pra casa com o meu. Essa frase "agora é tarde, Inês é morta" me seguiu os 4 kilômetros até em casa, e me fizeram esquecer o trauma da batida, não pensar na culpa do outro, nem enche-lo de maldições por ter feito aquilo. Era tarde, e o que me restava era seguir em frente. Uma hora, lá na frente, haveria uma oportunidade certa, um momento correto, onde eu poderia limpar a história, acendar velas e entoar hinos - não por vingança, apenas por retratação e por condução de D. Inês ao seu devido lugar. Pois sim, esta era a segunda frase que ouvia quando meu pai obtinha algo que haviam lhe tirado: "Abram o vinho, acendam velas, Inês é Rainha, mesmo depois de morta, idolatrada pelo seu povo". Porque para ele o amor e a verdade sempre seriam, no final, eternos, mesmo que tragicamente, durante certo tempo, pisoteados e cravados como cacos-de-vidros dentro de nós.

Ah, já ia esquecendo o principal para uma mulher... Se D. Pedro I foi fiel à sua musa-morta? Bem, outros amores depois da morte de Inês... Sabemos que não voltou a casar, muito menos a se amancebar. Dizem apenas que, de uma Teresa Lourenço, teve certo bastardo, ao qual pôs o nome de João, porém a história real coloca-o como filho de D. Inês de Castro, e o que sei de mesmo-mesmo é que foi esse danado-esporádico, ilegítimo e "que veio ao mundo de escapão", como diziam, que veio a ser o futuro Mestre de Avis, fundador da segunda dinastia portuguesa? Pois é, realmente tudo tem seu momento de glória, se dentro houver verdade e Amor.

E o que fica, de tudo isso que escorregou aqui? A expressão que ouvi hoje, não de meu pai, mas de duas pessoas. "Agora Inês é morta", espera pela hora certa. Convém sabermos quando é inútil certas ações tardias, adágio que também tem o sentido de que "nada mais pode ser feito", naquele exato momento. Das muitas histórias, todas terminavam com a mesma reza-canção: Nesta rua nesta rua tem um bosque, Que se chama que se chama Solidão. Dentro dele dentro dele mora um Anjo, Que roubou que roubou meu coração. Agora durma, porque dizem também que após a meia-noite os amantes costumam assombrar crianças que ficam de olhos-abertos, pra espreitar o encontro dos dois". Jamais dormi no escuro, sem cabelo ao lado pra segurar... O caso é irreversível, Inês é morta!

quarta-feira, julho 19, 2006


Mente, sorrindo:.

Os Cinco Sentidos.
Rubem Alves

Os cinco sentidos são, a um tempo, seres da "caixa de ferramentas" e seres da "caixa de brinquedos". Como ferramentas os sentidos nos fazem conhecer o mundo. A cor vermelha no semáforo diz que é preciso parar o carro. O som da buzina chama a minha atenção para um carro que se aproxima. O cheiro estranho na cozinha me adverte de que o gás está aberto. Como brinquedos os cinco sentidos me informam que o mundo está cheio de beleza. Eles são órgãos sexuais: com eles fazemos amor com o mundo. Dão-nos prazer e alegria. Os cinco sentidos, para realizarem suas funções de poder e prazer, exigem a presença do objeto a ser conhecido ou a ser amado. Para sentir a beleza de um ipê florido é preciso que haja ipês floridos - como agora. Em julho os ipês rosa, em agosto os ipês amarelos, em setembro os ipês brancos. Já até sugeri que um músico compusesse uma sinfonia em três movimentos dedicada aos ipês. Para se sentir a beleza triste do canto de um sabiá é preciso que haja um sabiá cantando. Para se sentir o perfume de um jasmim é preciso que haja um jasmim florido. Para se sentir o gosto bom de uma laranja é preciso que haja uma laranja. E para se sentir a delícia de um beijo é preciso que haja uma boca que me beije... Os cinco sentidos só fazem amor com coisas existentes, no presente. Eles vivem no "aqui" e no "agora".

Mas há um sexto sentido dotado de propriedades mágicas, um sentido que nos permite fazer amor com coisas que não existem... Esse sentido se chama "pensamento". Digo que o pensamento é um sentido mágico porque ele tem o poder de chamar à existência coisas que não existem e de tratar e as coisas que existem como se não existissem. E é dele que surge a grandeza dos seres humanos. O pensamento nos dá asas, ele nos transforma em pássaros! "Mas que realidade têm as coisas que não existem ?", poderão perguntar os filósofos. Aí serão os poetas que darão respostas aos filósofos". Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?", perguntava Paul Valery. E Manoel de Barros acrescentaria: "As coisas que não existem são mais bonitas..." Leonardo da Vinci pensava e desenhava máquinas que não existiam e que só poderiam existir num futuro distante. Mas que alegria aquelas entidades não existentes lhe davam! Por isso ele as guardava como segredos perigosos que, se conhecidos, poderiam levá-lo à Inquisição. Mas o prazer valia o risco. Beethoven estava completamente surdo. No seu mundo os sons não existiam. Mas do silêncio dos sons que não existiam ele fez surgir, no seu pensamento, a Nona Sinfonia, que canta a alegria da vida.

Faz uns meses resolvi reler o Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Marques. Que amontoado de não-existentes! Invencionices de alguém que trata o existente como se não existisse. Pensei, de brincadeira, que ele deveria estar bêbado quando escreveu o livro, tantos são os absurdos maravilhosos que ele constrói. Uns tolos disseram que aquele livro era uma parábola sobre a América Latina. Ou seja, disseram que o livro falava sobre uma coisa que existia: o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, depois de passar pelo crivo da hermenêutica, nada mais seria que uma crônica histórica disfarçada. Nada mais longe da verdade. O livro Cem anos de solidão só existe no espaço imaginário do que não existe. E apesar de saber que aquilo que estava escrito era mentira, que nunca acontecera porque era impossível que acontecesse, eu ri, sofri, vivi. Meu corpo fez amor com o inexistente. O que não existe nos faz viver. Não vivemos só de pão. Somos comedores de palavras. E as palavras operam em nós estranhas transformações. Quantas pessoas eu degolei com minha espada de samurai ao ler o Sho-gun! Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramente no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que "o homem é o mundo do homem" então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, "atores" de teatro. "Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigure o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olhos, suas palavras tremam e, inteiro seu organismo se acomode à essa mera ficção? (Shakespeare, Hamlet, ato 2º., cena II). Os atores são seres alienados da realidade por estarem vivendo totalmente no mundo da ficção. É nisso que se encontra "a virtude paradoxal da leitura, que consiste em fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido." (Daniel Pennac, Como um romance , ASA, Portugal, p. 17 ). Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência. Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura...

Quem experimentou a magia do pensamento uma única vez não se esquece jamais...

No avesso:.

Como traduzir, desmontar uma impressão, perceber por que gostamos de algo? Até sabermos explicar passam dias, passam meses. Depois, de repente, sem se dar conta, encontramos a música que não conheciamos, desvendamos o som de chorar baixinho, por detrás das palavras e do riso. O coração adere antes da cabeça, sinal do que não se explica. Venham os críticos, venham os escolásticos, venham os académicos de lupa na mão para estudar o fenómeno. Não importa: ouve-se esta história como sendo nossa. Uma sucessão inglória de dias, onde tudo o que existe, a única realidade, talvez seja mesmo, só, a expectativa. Não é ela que nos mantém vivos? Acordados? Em prova? A história é a de qualquer de nós, mesmo dos que vivem a dizer a si mesmos que existem mais coisas para além do amor. Ou que conseguem viver sem ele. Claro que existem. Claro que conseguem. Mas conseguem o quê? Sem ele, a vida tem o sabor de um cozinhado sem sal. Tereza é um pássaro triste que esbanja a última esperança sem saber que é a última no aceno de um homem, nas palavras de um outro, nas mentiras que ouve e diz a si mesma. São assim, muitas vezes, as heroínas dos romances. Elas perdem, a esperança vence que remédio, ganharão quando muito uma resposta qualquer. E a resposta, onde está? Nem isso. É assim a vida: troca-se tudo por uma resposta que pode não vir, que pode nunca vir, ou vir apenas quando já a vivemos sem a reconhecermos. Teresa, Diogo, Luísa, Eduardo. Nomes comuns, sentimentos comuns, somos nós aqui. No que concedemos, no que transgredimos, no que esperamos e desesperamos, no que quase nunca passa por nós. Ou que passa, claro que passa, mas ignoramos por onde, o que vai dar no mesmo. A vida é assim. Igual a si própria, sem momentos de glória ou fins grandiosos, ou com tudo isso e uma testemunha apenas: nós. O sexo disfarçado de amor, ou o contrário a baralhar ainda mais. E depois a pergunta, sempre nova e a mesma: «Quem está aí?» Somos nós ou o outro? Nós, claro, quase sempre, mas só mais tarde nos reconhecemos. Depois do trabalho do tempo. E do amor. Porque também o descobrimos no desamor, ou no mau amor, ou nos gestos desajeitados, nas covardias, nas traições, nas precipitações. Amor. Anda por aqui, pairando como uma alegria possível, mas só parece existir na cabeça desta Teresa. É isso, finalmente: o amor da Teresa já existe. Intenso, brutal, disponível, humilde, devastador talvez. Tão grande que mete medo a quem se aproxima e afugenta quem ainda não está preparado para ele. Ou arranjou, há muito, uma definição de amor prática e portátil. Amor já há, sempre houve, mesmo naqueles que o temem ou declinam. Falta o objeto, sempre o objeto que o mereça ou não. E o amor, merece-se? Ou é sortilégio, como juram os poetas? Não sei, ninguém sabe ainda, ninguém sabe nada, sobretudo quem ama. E Teresa limita se a perguntar. Baixinho, muito baixinho: «Onde está o amor a que eu tenho direito?» Tão baixinho. Mais baixo que o riso para não o espantar. E o riso será finalmente a última coisa. A última? A única? Não, há também a esperança. Mas não se sabe, no fim, se ela começa ou acaba. Teresa continua a rir e a chorar ao mesmo tempo. E a esperança pode estar na dor ou no júbilo porque ninguém sabe onde a procurar. Teresa procurou . Será que teria encontrado? É importante porque se ela encontrou, talvez também você o encontre. O amor, sim, que outra coisa? Hoje. Qualquer dia. «Até quando?», como ela mesma pergunta. E todos notam que Tereza está diferente. Diferente porquê? Será paz ou renúncia, lucidez ou cansaço? Amor... talvez.

Rita Ferro

segunda-feira, julho 17, 2006


.: todo mundo tem um lado sombrio:.

.: Zinédine Yazid Zidane, nascido em Marselha, França, à 23 de junho de 1972, infelizmente geminiano, casado e pai de três filhos. Encerrou sua carreira definitivamente após a Copa do Mundo de 2006, tendo a França sido vice-campeã, por sua obra. E foi o melor jogador do Mundo pela FIFA. Também deu a melhor cabeçada, merecidamente, pois da mãe, da esposa e da irmã não se fala, nem se xinga. Isso é o meu lado sombrio: esse homem é o ícone da beleza para mim. Descendente de Berberes argelinos, descendente de cristãos espanhóis, é, junto com Sean Connery e o ator de Perfume de Mulher, meu trio perfeito. Pra olhar, lógico. Todo mundo tem o coração cheio por aqui.

.:Combina com Brugge, na Bélgica. Com o Hino regional de Flandres, aí do lado, "De Vlaamse Leeuw (O Leão Flamengo), e o melhor: rima com flamengo e flamenco, minhas paixões. Zidane e meus outros mitos-homens, ao som do hino, que tem tudo a ver com nosso espírito de Guerreiro-cabeceiro: Nunca o domarão, ao feroz Leão da Flandres, ainda que ameacem a sua liberdade com gritos e grilhetas. Não o domarão: não enquanto viva um Flamengo. Não enquanto o Leão tenha garras, não enquanto tenha dentes. (...) Pobre do insensato, do traidor e do hipócrita, que o queira amansar para o levar a morte indigna. Não há movimento que não perceba, à ofensa, ergue a juba e ruge. (...) O sinal da vingança foi dado; cansado dos importúnios, com o olhar em fogo, salta sobre o inimigo, rasga, destrói, esmaga, cobre de sangue e lama. E, triunfante, ri sobre o corpo tremente do inimigo. É o que espera o Vasco, na próxima partida.

.:Aí, pra terminar, olha o encanto por trás de todo bruto - esse lago, essa coisa-de "Meu Deus", assombro de beleza. Aí de mim, ainda moro por lá, qualquer dia desses, nessas vielas, de tamanco e meias, cantando o hino e torcendo pelo Flamengo. Sempre leal e fiel àquilo que vem do mais escuro lado do meu coração. Tanto ao claro, como ao escuro, igualdade de direitos e tolerância. Finalizo com o Le Corbusier a escrever o poema sobre o ângulo reto, e que tanto adora Oscar Niemeyer, porque me lembra eu a falar da curva deste trio que tanto me fascina: "Não é o ângulo reto que me atrai Nem a linha reta, dura, inflexível, Criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, A curva que encontro nas montanhas do meu país, No curso sinuoso dos seus rios, Nas ondas do mar. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, O universo curvo de Einstein."

sábado, julho 15, 2006


.: Estado de Necessidade:.

.: Uma teoria já-em-uso-há-tempos-na-realidade, advinda do livro prazeroso As pernas de Úrsula e outras possibilidades, da Cláudia Tajes. Tudo nesse livro é muito bem-humorado, lógico que não é nenhuma obra secular, mas garante deleite. Apenas tirem a orelha esquerda, que a Dra. Cíntia escreveu: muita abobrinha, pra pouca horta. Parece que está falando com intelectuais, e estes jamais leriam livrinhos da Tajes. Segundo o personagem do livro:
.:Talvez a solução para um casamento em crise fosse uma das partes - de preferência no meu caso, o marido, iniciar um relacionamento com uma terceira pessoa. Havendo ainda amor entre os dois primeiros, o que pulasse a cerca fatalmente se transformaria em um cônjuge mais atencioso e afetuoso com o outro, como forma de aplacar a própria consciência. Longe de representar um ardil do traidor, esta seria, na realidade, a maneira de compensar o traído por algo que ele nem sabia estar sofrendo. E, não sabendo, viveria feliz, como vivem os ignorantes. Esta teoria não é nova, e possivelmente já se transmite de geração para geração de traidores. Mas enquanto eu acariciava o cabelo de "minha mulher", que dormia ao meu lado, tudo fazia sentido: eu ia me envolver com outra mulher também porque amava minha esposa e não queria perdê-la. Um pouco de romance, era disso que nosso casamento precisava. Mesmo que fosse o meu romance com outra mulher. Agora eu já estava pronto para acordar sem culpa:." (...) Eu estava me apaixonando, e os indícios não eram apenas físicos, embora estes fossem bem acentuados, no momento. Ela, a outra, foi embora, e eu fiquei enlevado, embevecido, arrebatado, com ela e, principalmente, comigo e com a minha incrível capacidade de transformar em realidade algo tão improvável quanto o nosso encontro. No momento, tratava-se de concilicar o meu casamento com o meu namor. Precisaria de consultoria..." (...)Hoje eu sou livre para ir aonde quiser... mas prefiro ficar no meu apartamento, sozinho. Por enquanto, tem sido o bastante, mas a namorada já começa a perguntar sobre as promessas de amor eterno, seguidas de casamento, que eu devo ter feito algum dia. (...) A verdade é que tudo tinha acontecido tão rápido... a paixão por outra pessoa, desistir de minha esposa, minha nova vida de solteiro, tudo rápido demais. A saudade do bebê L. me perturbava e era faltar Nescafé em casa que eu lembrava do lar que havia deixado. Tão organizado. Tão limpo. Tão cheio de nescafé que minha esposa comprava, no armário da cozinha. (...) Fui para a praia com a namorada e seus pais. Enquanto ela exposta ao mormaço, e aos olhares de cobiça dos atletas da bocha, resolvi dar uma caminhada na beira do mar para colocar as idéias em ordem. Ali, escutando as ondas e pulando esgotos a céu aberto, pensei na vida com uma clareza que o pedaço de Atlântico que banha o Rio Grande do Sul jamais conseguiu ter. Eu havia feito muitas coisas em um tempo muito curto. Largar um casamento de quinze anos. Conquistar o pivô da separação e mantê-lo razoavelmente entretido ao meu lado. Ser um bom pai para o bebê L., apesar das adversidades. Eu havia feito tudo isso, mas não me sentia satisfeito comigo. Estava na praia com minha namorada nova, de pernas tão maravilhosas que distraía até as equipes locais de bocha, e eu preferia caminhar sem rumo na areia quente. Eu me transformara em um chato, como meu amigo insinuara - Sempre na TPM. (...)Deus tinha sido generoso comigo. Por outro lado, era impossível negar as evidências: o mundo era maior que minha esposa e a minha namorada. Em uma praia sem atrativos como aquela, eu via mulheres de todos os tipos e jeitos, mesmo que procurasse não olhar. Morenas de maiô branco. Loiras com a parte de cima do biquiní aberta nas costas, espécie de topless familiar. Ruivas ficando mais sardentas, meninas aprendendo a virar moças e ainda aquelas com livros na mão, revistas ou jornais, ou a bula do protetor solar, que fosse. Cada uma, uma possibilidade. Então tive eu a única iluminação da minha vida, contrariando todos os avisos de apagar luzes que o governo, em crise de energia, andava espalhando. Não era a namorada que eu queria, quando me separei de minha esposa. O que eu queria, na verdade, eram as possibilidades.


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"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...", Clarice Lispector. E o que importa é tentar. Sempre.

Life's:.

.:Há uma regra nesta nova sociedade consumista que "fazer a vida acontecer" é jamais ficar parado; nem nunca deixar a vida acontecer. Visualizam a pausa e a espera como horrores que se abatem sobre nossa vida, um intervalo que os faz pensar e revirar suas vidas de cima-para-baixo é um ciclo ruim - dói, magoa e faz crescer. Esse tal "acontecimento", imprevisto e que de repente páira em nossa alma é como Thomas Merton disse: Um não-fazer, ou uma ação inativa, um não intencionar resultados e não se preocupar com planos eitos de maneira consciente ou com tentativas deliberadamente organizadas. Wu Wei é o oposto de conquistar ou lutar conscientemente; e seria o antônimo dessa parada. Significa renunciar a necessidade de sempre manipular e estar no controle de tudo; e pescar somente os acontecimentos e minutos ao nosso redor, saboreando-os sem necessidade de respostas, apenas deixar as perguntas dentro-de-si. Nessa longa espera, nos vemos em oração, sentados no parapeito de uma janela do nosso coração, silenciosos e atentos, totalmente entregues a algo-que-comanda-tudo, muito acima de nós. E nosso rezar é diferente: parados, em silêncio, ouvimos Deus fazer isso dentro de nós. Paramos de esperar coisas caindo do céu; de imaginar nossa vida suspensa no ar. Thomas Keating colocava: A maior facanha da vida é sermos o que somos, a idéia de Deus sobre o que Ele quis que fôssemos quando nos trouxe à vida... Aceitar esse dom é aceitar a vontade de Deus para nós; e nessa aceitação encontramos o caminho do crescimento e da satisfação desejada". Aquilo que perdura nasce de uma espera. E essas coisas simplesmente nos exigem isso: esperar para receber. Como a árvore, esperamos que a seiva corra. Nesse silêncio, convivemos com dúvidas, vemos nossas partes demolidas, curamos velhas feridas e aprendemos o que é essencial para nossa nova vida. Abraçamos as dúvidas, e começamos a viver.
"Eu lhe suplico, que me ajude a ser paciente com o que não está resolvido em meu coração, e que eu consiga amar minhas próprias dúvidas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira. Que eu não procure agora as respostas, que não me podem ser dadas porque não seria capaz de vive-las já. O segredo está em viver todas as coisas; e quero viver as perguntas nesse momento. Que eu seja capaz de saber esperar. E confiar. Talvez eu possa então, gradualmente, sem perceber, viver a resposta, em algum dia, distante ou não..."*


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Uma parte meio-transformada do que li em livro do Rainer M. Rilke.*
Essencial para qualquer pessoa nessa-espera, o livro da Sue Monk Kidd, Quando O Coração Amanhece.

sexta-feira, julho 14, 2006


.:Construção de um Herói:.

.:Madre Teresa dizia que a coisa mais importante que alguém pode usufruir durante sua construção é de uma estrutura familiar. Eu diria que é mais do que isso: é essencial dispor de uma família-que-construa, mas muitas vezes eu imagino que as pessoas com quem "cruzei" pelo caminho seriam muito mais felizes se tivesse alçado vôo bem antes, do ninho. Não sei se foi sorte, prefiro dizer que fui digna de ter a família e todos os ancestrais que dela se originamos. Lógico, a presença de cada um deles explica muitas nuançes em meu comportamento, principalmente, a maneira como eu "encarava" a vida. E a vida gira, e percebemos que somos muito mais que somente essa página da vida - cada um de nós é um elo, não é uma ilha, e faz parte de tudo aquilo que nos complementa - a divindade. Graças à educação, estilo de vida, alimentação, formação cultura, acabamos por desenvolver esse "Eu" que pensamos estar pronto aos trinta anos. Pelo menos, o que houve comigo foi "a desconstrução de uma mulher", e a descoberta de um ser que continha brilho e temperamento próprio, um lado escuro e outro claro, frio e calor, repouso e escuridão. Principalmente, que havia sido bem aterrada nos princípios da Moralidade, do Amor e da Bondade. Após tanta colagem, recortar e pintura, se descobre que o máximo de nosso caminho consiste em "amar aos outros" como "amamos a nós mesmos", ou seja, a prioridade deve ser nós, sempre. Porque se não nos amamos, não conseguimos repassar esse sentimento. Se não somos felizes, o que fazemos é comprar felicidade aos outros. Se esquecemos de nossos sonhos, não compreendemos as pessoas que detém asas e são mutantes. Se não lembrarmos qual é o nosso fim, não poderemos completar o meio, e nem ao menos relembrar com gosto o começo...

Meu pai tem um armazém de sonhos: a marca é registrada, pessoal e intransferível. Cruzou mares, conquistou milhões de mulheres, e conseguiu a única que ele amou - e pela vida inteira vai amá-la mais que a si próprio. Alçou vôo cedo; decerto isso o fez tão "Ulisses", tão desconexo e ao mesmo tempo, tão convencional. Geminiano, mas aquela porção taurina mesclada ao canceriano que o domina tanto. Formou ramos de uma árvore, e sabe distinguir suas paixões. Isso eu acho mais relevante: sempre sabemos a importância que tudo na vida dele tem. Mesmo assim, não há do que reclamar - hoje. Risos. Porque devemos mesmo priorizar o que nosso coração manda, e nossa alma grita e se inflama. Sim, Portugal, mesmo distante, permanece nele. A cruz por cima da estrela, tem um significado próprio, pessoal e íntimo. O filho-homem, lindo e quase-idêntico a ele, quando moço, é um enorme pedaço de sua vida: acho que ele se vê atravês desse homem-lindo-que-meu-irmão a cada dia se transforma (não é paparicagem - ele não lê banalidade, nem sabe o que é blog); e eu e minha irmã também concordamos: realmente ele é o liame, o meio. O nosso queridinho [talvez de minha parte, um pouco de culpa, bati tanto quando era pequeno e miúdo, era um chato que se recusava a obedecer sem apanhar]. Após minha mãe, portugal, meu irmão, o galo-do-time-de-futebol, há a neta. Depois o neto. Mais uma neta. Minha irmã, Madre Teresa em pessoa. Azeite, comida, e amigos. Trabalho, dinheiro. Trabalho e como hobby, trabalho. Aí, acho eu, que me encaixo assim, por cima de tudo - pois sou aquilo que ele ainda não compreende, nem consegue abranger. Posso dizer que sempre me senti meio sol, meio lua, feito coruja - uma fada que caiu displicente, no lugar de sua filha, mas que ele jamais deixou ir sem ter avisado que não corta o cordão umbilical. Porque quem sobrevive sem Sol? A modéstia é minha qualidade, sim. Contudo, a sinceridade e lealdade é muito mais forte por aqui. Tenho certeza de uma coisa: já tenho meu herói geminiano, meu irmão geminiano, e não preciso de mais figuras masculinas desse signo. É como comer berinjela, couve-flor e escarola, uma vez por semana - isso eu não quero pra vida-a-dois. Serve como amores incondicionais - partes de uma familia, onde todos são diferentes, mas com alguma coisa em comum - todos, sem exceção, amam colo, cafuné, massagem, muito mimo e paparico. Há gerações somos os "mimadinhos" da Beira-Mar:.

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.:Abre aspas, no meio-de-tudo, deixo aqui a canção que pode embalar aqueles "que ainda não aprenderam a montar o quebra-cabeças da propaganda - retirar peças e trocá-las, uma a uma, para se chegar ao outro lado, com um carro-vida nova. Se assusta? Lógico, a ponte pode ter sido pura corrupção, e desabar, como a de sete quedas. Em um instante, você lá no fundo... Ou você pode vencer, e encontrar-se a si, e ao Mundo, dando um sentido e direção ao rumo que já tinha destinado a sua vidinha-de-violeta-sem-flor. A libélula, e o Girassol-sem-flor, que ouçam, ouçam e ouçam - apenas o Raul Seixas.
Veja,
Não diga que a canção está perdida
Tenha em fé em Deus, tenha fé na vida
Tente outra vez.
Beba,
Pois a água viva ainda está na fonte
Você tem dois pés para cruzar a ponte
Nada acabou, não não não não!!!
Tente,
Levante sua mão sedenta e recomece a andar
Não pense que a cabeça agüenta se você parar,
Há uma voz que canta, uma voz que dança, uma voz que gira
Bailando no ar!!!!!!
Queira,
Basta ser sincero e desejar profundo
Você será capaz de sacudir o mundo, vai
Tente outra vez

Tente!
E não diga que a vitória está perdida
Se é de batalhas que se vive a vida
Tente outra vez.

.: Sempre:.
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Se não der certo, tentem os dois o Ray Conniff. Talvez a segurança da idade melhore tudo [RISOS}. Quem se acostumou com madeira, demora a aceitar o tijolo na construção.

quinta-feira, julho 13, 2006


Cross my mind:.

Aqui, com meus botões, banalidades e surrealidades despercebidas até a leitura completa do jornal on-line. Minha profissão me mata: ser mulher e arrimo de família é dose pra leoa. Mas, voltando as páginas, se no Brasil é proibido a pena de morte, e eu sou completamente favorável a não introdução desta aqui, neste país, pela corrupção e sacanagem em tudo quanto é lugar, podíamos ter uma alternativa coerente: extradição para casos muito especiais - sequestradores de criancinhas com menos de seis anos. O que é que aquele advogado fez com um menininho de cinco anos, deixando-o longe da mãe e de toda uma estrutura familiar durante sessenta dias? Arruinou uma cabecinha, introduziu medo, aquele menino-lindo, com uma mãe desesperada, um pai amoroso, e logo um advogado pra estragar-tudo. Como aqui pode ocorrer tantas coisas num procedimento penal, até o julgamento do querido, poderia enviá-lo para os EUA, que reinviaria o Lindinho-vizinho para o Iraque, à frente de tudo, com uma camiseta - "detesto iraquianos". Simples. Ele poderia ser sequestrado... ficar a mercê de mãos arábes e palestinas... tudo ao mesmo tempo. Ah, minha modesta contribuição a quem faz doer coração-de-mãe e de criancinhas inocentes - exaustiva, peremptória, porém prática. Com pretensão de liquidar esse crime no Brasil. Pois quem haveria de querer tal coisa, no ato do flagrante delito?

Sobre escrever Merda:.

.:Farol ligado em alto-mar:.

.:Que os anjos lhe concedam firmes asas, na sua queda iminente de anjo-diabólico:. Bem, era isso que minha avó diria se estivesse viva, após um intolerável palavrão, que troquei pela palavra-título, já que não costumo repetir isso. O Gênio-do-mau sempre está por perto, quando estamos quase-saindo e chegando perto de algo MUITO BOM. Estava disposta a engolir mais esse sapo, tão tolerante e querida que "fui socialmente e familiarmente" coagida a ser. Mas não sou mais aquela menina tão suave e doce, longos cabelos e vestido azul, em campo de flores... Sou muito mais e além; e detesto sapos. Eu confio muito na minha capacidade de reconhecer quando uma pessoa está falando ou escrevendo uma mentira, e como posso evitar me envolver. Há dias que outras coisas chamam nossa atenção, e uma fenda se abre... A Marinha do Brasil deveria aplicar constantemente testes psicológicos em seus servidores, ops, nossos também, pois brasileiros que somos. Inventam incidentes aéreos em águas internacionais - Bendita Maria, será que a pessoa é tão burra a ponto de não conhecer direito marítimo e internacional, trabalhando na marinha brasileira? É. Há pessoas e há meninos maus. Porque não passa de um menininho de treze anos que esqueceu de crescer - esperando a mamãe voltar pra casa, sabendo que nunca mais ela vai chegar. Numa crise pessoal, resolveu se unir a ela - quem sabe? Eu não sou psicóloga, apenas acredito em teorias - , e criou toda uma mentira, envolvendo inclusive o nome {falso} do almirante-de-esquadra da Marinha do Brasil. Esse fenômeno-de-mentiras virtual me provoca preocupação quando atinge menores. Por isso, como o email hoje vale como prova, autentiquei-o em cartório, juntamente com uma leva que provam por a+b que jamais precisaria se matar, já que nem sequer o induzi a nada, nem coagi, muito menos fiz algo que cerceasse sua defesa e liberdade pessoal. Por isso, tenho agora a idéia clara do que é uma pessoa não-cerebral: essa, a que só faz e fala merda. Levanta-se uma questão: só isso é o que se aproveita na Marinha do Brasil? Brilhantemente, esta não respondeu sobre nada. A colocação do Presidente, nada sei mesmo estando aqui, abrange muita coisa. Mas como expos pessoas especiais a lágrimas, e foi de tamanho mal gosto ao se intitular almirante-de-esquadra, fiz uma produção sistemática de provas contundentes, eficientes e lícitas; agora gostaria que o devido decujus que jamais morreu fosse com precisão punido por seu ato ilícito, escrito e falado. Violou normas de segurança de uma instituição brasileira, com regras severas; violou as normas morais de uma sociedade. Meninos maus não vão para o céu - e se querem realmente falecer, tentam outros métodos. Porque, por aqui, a seca está tão grande, e o frio tão gostoso, que as lágrimas servem somente para aguar minha orquídea, e minha mente para relembrar o girassol maravilhoso, longe e tão perto de florescer. Dá licença, menininho-mau-do-Hans-Andersen, de ficar atrás do Oceano, lá no fim-do-mundo, Iraque, Beirute ou raios-que-o-partam? Ah, rezei sim. Muito. E quem sabe meus anjos da guarda não virem a mesa, estilo Ricardo Semler? Se bem que sou mais o dono da Sony, haja vista que o Ricardo faliu várias vezes... Prefiro passo-a-passo, mas segurança no chão. Jamais mexam com minha filha, ou com alguém que amo incondicionalmente - eu vou até o Inferno, para o Resgate, sem deixar de lado a história.

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Trocando de miscelânea, pra começar a falar de coisa boa, gostosa e que frutica na alma. O caso da chácara chão, do Domingos Pellegrini é THE BEST. Coisa de varar noites, dispensar programas e não sair das cobertas enquanto a leitura não terminar. A sua prosa, a escrita, o estilo... Coisa de Primeiro Mundo: Londrina é aqui pertinho, qualquer dia bato no portão da chácara pra recolher mudas. Aquela do maracujá que não florescia, em especial. Um Banquete de essenciais palavras, pra-todo-mundo-ler. Imprescindível pra quem quer ter um dia uma casa, varanda e muitos frutos no pomar, com flores no chão.

segunda-feira, julho 10, 2006


O "Eu", o "Outro" e a Tolerância:.

.:Óbvio: sempre procurei ser defensora da laicidade, mesmo tendo optado por outro caminho, para poder preservar direitos de outros; para permitir que outros se expressassem, e eu, tolerante, pudesse ouvi-los; porque foi a única forma encontrada para conviver com outros. Mas chega uma hora que o coração se despedaça, tal qual um vaso quebrado, e exige o começo de uma série de pedidos claros e diretos. De objetivismo. Da luta pelo desejo do que Eu Desejo e Preciso. E se eu jamais esperar ou optar por acreditar no inesperado, ele não chegará nunca. Assim, eu caminho entre vidro, sem havaianas, mas com o crédito de ter comigo uma passagem, transcrita a lápis, por alguém que resolveu me dar "o pontapé inicial" para que eu começasse a ser tolerante a ponto de permitir-me ser feliz:. A feliz citação, ipsis litteris:
.:"Os deuses estão em todo lado. Um jovem desconhecido que mostra o caminho pode ser Mercúrio (...) E, como Ulisses está escondido sob os andrajos de um mendigo, e vá mendigar de porta-em-porta (...). É preciso, portanto, abrir um crédito de honra e de hospitalidade a toda forma de homem. Em primeiro lugar, a Nós e ao que nossa alma e coração clamam".*

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[*Alain, Os deuses de Homero]

sábado, julho 08, 2006


Você se cala, eu ouço:.

.:De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania é a audição. Disse o escritor sagrado: "No princípio era o Verbo". Eu acrescento: "Antes do Verbo era o silêncio." É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. Sabem disso os poetas, esses seres de fala mínima. Eles falam, sim. Para ouvir as vozes do silêncio.

Existem milagres todos os dias. Só não paramos para ver "em detalhes” nosso cotidiano. Bênçãos para agradecer, mas esquecemos porque deixamos de ouvir e sentir tanto amor que chega até nós. A junção do girassol com a Tulipa provavelmente dará uma bela margarida-parecida-com-girassol Lavanda. E quem passar por ela, há de sentir o cheiro de Alfazema, mas crer que é lavanda que leva na alma, ao caminhar. Flor-única. Se as palavras que vi ou li me fizeram chorar? O amor não fere, apenas tenta, suavemente, nos tocar mais firme, para ver o quanto aguentamos. Uma bateria de testes. A magia do sentimento se faz presente nos interstícios silenciosos que há entrelinhas. É nesse silêncio que se ouve a melodia que não havia. Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir. Todo mundo quer ser escutado. Amamos não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A escuta bonita é um bom colo para eu me assentar; e nessa terra eu garanto: haverá sempre flores, e nenhuma chance da semente azedar:.

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* Quando VERDE, autoria do Rubem Alves.

quarta-feira, julho 05, 2006


Sadness:.

.:Não imagine facilidade na hora de mudar algo que você tanto deseja. Porque, como já dizia Clarice Lispector, "em um desses tais defeitos" pode estar toda sua estrutura. Não dá pra ser o que outros decidiram e convencionaram para nós, porque assim não vivemos, apenas sobrevivemos em função de. Interessante é quando tudo tem paradoxos, nada convencional, e o amor conjuga e alia defeitos com poesia. Se fosse tão encaixado, tão simétrico, não me atrairia. Gosto de ver todas as nuances - desde a claridade, até a completa escuridão. Se você soubesse no futuro o que seria, e tivesse a mostra uma imagem de alguém que jamais sonhou para si ou para alguém, totalmente feia e distante do caminho que sonhava, ficaria passivo, ou começava novamente, no presente, a escolher os feijões? Porque foi em uma das decisões que tudo ocasionou aquela consequência medonha. Eu páro. E recomeço, jogando pro ralo o que tenho. Pra jamais poder ser o que nunca fui. Pra terminar, fecho aspas com Mario Pratas - Falhas, que tanto me fascinam.

"Uma das coisas que fascina na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que é um desnível no terreno da região que provoca pequenos abalos sísmicos de vez em quando e grandes terremotos de tempos em tempos. Você está caminhando pela cidade, apreciando a arquitetura, a baía, a Golden Gate, e de uma hora para outra pode perder o chão, ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a possibilidade, e isso amedronta mas ao mesmo tempo excita, vai dizer que não? Assim são também as pessoas interessantes: têm falhas. Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, onde tudo funciona e você quase morre de tédio. Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize. Pessoas, como cidades, precisam ser limpas mas também é preciso suar na hora do cansaço, ter um cheiro próprio, uma camiseta velha pra dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou. Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis. De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser insensatas, ligeiramente passionais, demonstrarem um certo desatino, cometer erros de julgamento e pedir desculpas depois, pedir desculpas sempre, pra poder ter crédito e errar outra vez. Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar, porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar, nunca devem deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm rachaduras internas, portanto podem surpreender. Falhas. Agradeça as suas, que é o que humaniza você, e me fascina."

.:Desire:.

.:Heróis? Quem o é, sem culpa? Sem ter feito o ato, previamente já imaginando tornar-se um? Quero saber de pessoas que conseguiram domar seu pior inimigo: eles próprios. Porque somos autodestrutivos, se não visamos essa força para o exterior. A maior coragem é encarar, sem medo, esse oponente, e desarmá-lo, limitando-o a atos nulos e sem efeitos. E enquanto isso não ocorre, a vida vai indo, sendo levada por algum menino maroto, que zomba da dificuldade de uma senhora mais velha, trôpega e sem fôlego. A vida passa por mim, e eu aceno. Leva adiante o carrinho, meus sonhos... pra quando eu me equilibrar, chegando nesse tempo, tudo esteja conforme os planos. Nos devidos lugares.

terça-feira, julho 04, 2006


Da janela, eu toco o Horizonte:.

.:Quando a gente enxerga longe, nossa alma perde os limites, e se preenche da Divindade que existe em nós. Não há mais pequenas imperfeições, incertezas de uma beleza, daquilo que se podia ter encontrado lá atrás... há flores na frente, e mais adiante, sinais e coincidências. Uma profusão de cores, suavidade de tons, música no vento, vozes que soam divinamente. Tudo aquilo que parecia separar agora é nexo, relação para a existência de. O ritmo da natureza: enquanto a semente germina, ninguém percebe o que há por baixo daquela terra. E aquilo que nos faz sentido, que nos acalentou e povoou nossos sonhos, num instante aparece, de lugares mais insólitos, por pequenas brechas. Oportuna e agradável coincidência, que também vêm colada a uma advertência e lição: antes disso, ouse se transmutar aqui. Ali. Apare e reborde, pra jamais desunir. Porque quando mudamos nosso destino, num simples acaso, temos que estar enraizados em base firme e sólida. Quando damos valor ao significado das coincidências, 'esses acontecimentos felizes e fortuitos em nossa vida', que podemos chamar de lampejos do milagroso, entramos em contato com o "campo dos sonhos e possibilidades Infinitas". Um estado que algum guru que esqueci o nome chamou de "Sincrodestino", e que eu chamo de Teia da Aranha. Tudo ali se torna possível alcançar, nossos desejos mais profundos, se compreendermos a natureza profunda das coisas, se reconhecermos o manancial de inteligência que criou este Universo. Pois é, não duvide - há dentro de nós uma gota dessa luz, desse potencial infinito, onde tudo se torna real e possível. E essa nossa parte está entrelaçada com tudo o que existe e com tudo o que virá a existir, e começa a agir em nossas vidas quando tomamos consciência da correlação entre todas as coisas, a maneira como uma afeta a seguinte, como tudo soa em uníssono. Há sempre uma grande lição; e ninguém pode passar essa pelo outro. Se você não quer fazer alguém infeliz, provavelmente virá alguém, que possivelmente a persudirá por outro caminho, pra que tudo se alargue, e se estabeleça. Há clareza e objetivo em cada intenção. E quanto mais atenção dermos a esses casos ocasionais, mais provável é que ocorram, mais acesso às mensagens, mais sinais indicando o caminho certo, mais setas nos colocando na direção e sentido de nossas vidas. Nós somos o desejo mais profundo de nós mesmos. Como é o meu desejo, assim é a minha intenção. Como é a sua intenção, assim é a sua vontade. Como é a sua vontade, assim é a sua ação. E como é ausa ação, assim será seu destino. Porque a intenção cria as coincidências. O fim que você coloca na sua vida atrai o que você quer. Tudo que precisamos é de atenção às oportunidades que surgem, de repente, desacreditadas, sozinhas, faceiras e esperando crédito. Normalmente, só o coração corre ao encontro destas, despertado, pululante, com asas de borboleta... É, infeliz constatação que na vida diária aprendemos a descrer de tudo, e ficamos na sina de Beatriz - "por um triz, quase foi feliz". A intenção atrai as forças, os eventos, as situações, as circunstâncias e os relacionamentos necessários para que tudo que era pretendido seja atingido. Por nós. Nesta missão. Nosso amor sempre revela o amor do próximo, se o expomos primeiro. E, na esteira de Beatriz, ousamos ultrapassar adágios e músicas, e cantarolar outra canção: não somos aquilo que queriam para nós; muito menos o que cantaram antes de nós. Somos fruto e construção do desejo e intenção que há em nós... Beatriz quer ser trapezista, quer voar, viver em circo, na Espanha, na Galizia, talvez em Bruge... e me ajuda a construir o meu caminho, encantando-me com suas piruetas que me assustam de montão. Me apavorando com o dia que ela voará, sem a rede e proteção dos meus braços, iluminada apenas por seus sonhos e sua vontade de fazer acontecer.