quarta-feira, julho 05, 2006


Sadness:.

.:Não imagine facilidade na hora de mudar algo que você tanto deseja. Porque, como já dizia Clarice Lispector, "em um desses tais defeitos" pode estar toda sua estrutura. Não dá pra ser o que outros decidiram e convencionaram para nós, porque assim não vivemos, apenas sobrevivemos em função de. Interessante é quando tudo tem paradoxos, nada convencional, e o amor conjuga e alia defeitos com poesia. Se fosse tão encaixado, tão simétrico, não me atrairia. Gosto de ver todas as nuances - desde a claridade, até a completa escuridão. Se você soubesse no futuro o que seria, e tivesse a mostra uma imagem de alguém que jamais sonhou para si ou para alguém, totalmente feia e distante do caminho que sonhava, ficaria passivo, ou começava novamente, no presente, a escolher os feijões? Porque foi em uma das decisões que tudo ocasionou aquela consequência medonha. Eu páro. E recomeço, jogando pro ralo o que tenho. Pra jamais poder ser o que nunca fui. Pra terminar, fecho aspas com Mario Pratas - Falhas, que tanto me fascinam.

"Uma das coisas que fascina na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que é um desnível no terreno da região que provoca pequenos abalos sísmicos de vez em quando e grandes terremotos de tempos em tempos. Você está caminhando pela cidade, apreciando a arquitetura, a baía, a Golden Gate, e de uma hora para outra pode perder o chão, ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a possibilidade, e isso amedronta mas ao mesmo tempo excita, vai dizer que não? Assim são também as pessoas interessantes: têm falhas. Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade linda, limpa, onde tudo funciona e você quase morre de tédio. Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize. Pessoas, como cidades, precisam ser limpas mas também é preciso suar na hora do cansaço, ter um cheiro próprio, uma camiseta velha pra dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou. Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis. De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser insensatas, ligeiramente passionais, demonstrarem um certo desatino, cometer erros de julgamento e pedir desculpas depois, pedir desculpas sempre, pra poder ter crédito e errar outra vez. Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar, porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar, nunca devem deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm rachaduras internas, portanto podem surpreender. Falhas. Agradeça as suas, que é o que humaniza você, e me fascina."

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial