quarta-feira, agosto 29, 2007


Porque um dia...

"Não digas tudo o que sabes, a qualquer pessoa". Não coloques o candeiro sob o palheiro. Porque todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência e preparação daquele a quem se quer instruir ou com quem se conversa. Uma luz por demais viva deslumbraria, sem esclarecer. Poderia vir, inclusive, a confundir. Cada coisa na época própria - a semente na terra, fora da estação, não germina. A prudência, muitas vezes, manda silenciar-se, momentaneamente, sobre fatos, atos, fins e temas. "Não é que se esteja ocultando uma verdade, ou não querendo se defender de uma mentira; apenas tendo o discernimento de tudo esclarecer no momento correto". Não queira ser o mais inteligente, quando bastar ser bom.

"Porque àquele que já tem, mais se lhe dará; e ele ficará na abundância. Àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tiver se lhe tirará". Pois, ao que já tem, dar-se-á, e, ao que não tem, até o que tem se lhe tirará". O que recebe, tornou-se digno destas graças, seus esforços atraíram estas bençãos, foram um imã que chamou a si o que é progressivamente melhor. Porém, não será Deus que tirará daquele que pouco recebeu. É o próprio homem que, por não saber conservar, alimentar, aumentar, fecundar, cuidar, que não cultivou o campo, deixa tudo fenecer. Toma cuidado, lavra a terra, semeia, Confie. Tudo aquilo que nos "acontece", chega sempre no momento exato que deve frutificar. Agradece e não duvides. A confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim: deposita nas mãos daquele que Tudo Pode, eis que a Fé Remove Montanhas.

Porque um dia é preciso parar de Sonhar, deixar o sonho acontecer... tirar então os planos da gaveta, confiar e, de algum modo, RECOMEÇAR.

domingo, agosto 26, 2007


CARINHO-BOM-DEMAIS.

"As borboletas fizeram minha imaginação voar... pensei no seu fascínio. Acho que é porque elas são metáforas de esperança. A lagarta deixa de ser, desaparece da vista, oculta-se aos olhos, e renasce transfigurada. Quem, ao ver uma borboleta, poderia imaginar que ela fora um dia uma lagarta? Quem, ao ver uma lagarta, poderia imaginar que dentro dela se abriga uma coisa bela, que nascerá quando chegar o tempo? Na verdade minha vida inteira foi um cultivo de esperança. Não sei porque recusei-me, com uma teimosia que frequentemente exasperava os outros. Muitos queriam que eu abandonasse o meu desejo mais puro e me ajustasse ao prático e mais viável. Mas Eu acredito no poder mágico das palavras ditas com amor. Confesso: nada sei de táticas e de estratégias políticas. Só conheço a voz íntima da verdade que me manda ser fiel à reverência pelo Amor, e ainda que tudo seja inútil, é esta fidelidade que me faz Feliz."

Rubem Alves, Gestos Poéticos.

ACONCHEGO.

Adoro esse texto do Fabrício Carpinejar. Gosto de reler em dia de chuva, me perder nas entrelinhas, pular vírgulas e engolir frases inteiras. Quando termino, é como se tivesse seus pés nos meus. Porque nada vai nos separar.

NÃO HÁ COMO VOLTAR ATRÁS,
MUITO MENOS IR PARA FRENTE

Fabrício Carpinejar

Nada mais vai nos interromper. Os telefones, os gritos da rua, as visitas batendo na porta. Nada mais vai nos interromper. O terror de dizer, o terror de não dizer. Nada mais vai nos interromper. Minha ausência de culpa, seu excesso de culpa. Nada mais vai nos interromper. Sua pressa em fugir, minha pressa em entrar, o fingimento que não é conosco. Nada mais vai nos interromper. As conversas dos amigos, os dialetos de vidro, os desvios da cintura. Nada mais vai nos interromper. Os conselhos da família, seu casamento, as reuniões de trabalho. Nada mais vai nos interromper. Seus gatos, meus cachorros, os pássaros que morreram no domingo. Nada mais vai nos interromper. Pode esconder os lábios, que eu dou a volta no quarteirão. Nada mais vai nos interromper. Sua timidez, minha coragem, as esmolas dos pombos. Nada mais vai nos interromper. Pode envelhecer, que eu cedo meu lugar, cedo minha vida pelo teu lugar. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que seja a hora, mesmo que não seja a hora, mesmo que a gente tenha nascido para ficar longe. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que seja uma relação proibida, um contrabando, saudade usada. Nada mais vai nos interromper. Haverá unhas, haverá pele, haverá um jeito de escrever escondido e marcar um encontro. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que tenha que voltar ao início da fila. Nada mais vai nos interromper. As crianças, o trânsito, a falta de convicção. Nada mais vai nos interromper. Estamos tão rentes que recuar é ainda se tocar. Nada mais vai nos interromper. Sua respiração é como uma palavra indecisa. Nada mais vai nos interromper. A escama das lâmpadas, o gorjeio sofrido das árvores, a esperança da mentira. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que a gente desista, a gente se cale, a gente deixe de comparecer. Nada mais vai nos interromper. O orgulho, o preconceito, o capricho das roupas separadas. Nada mais vai nos interromper. Errar a música de ouvido, o instinto de se preservar, o arrependimento. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que um só ajude o outro a se perder. Nada mais vai nos interromper. Estar a favor de Deus, estar contra Deus, ajoelhar-se como um barco a seco. Nada mais vai nos interromper. Nossa falta de grana, os telhados das igrejas, o vestido branco. Nada mais vai nos interromper. Os despojos do dilúvio, os talheres tortos, os sapatos tontos na janela. Nada mais vai nos interromper. Pecar distrações, pescar desaforos, penhorar os anéis. Nada mais vai nos interromper. Contar segredos, guardar segredos, o degredo. Nada mais vai nos interromper. Seu corpo é meu corpo regressando. Nada mais vai nos interromper. Seu corpo é meu corpo partindo. Nada mais vai nos interromper. A leveza que some antes de entender, a letra que germina antes de rastejar, a crueldade da infância. Nada mais vai nos interromper. O desequilíbrio, o sarcasmo, a ânsia de fechar o livro. Nada mais vai nos interromper. As casas mal-assombradas, os barulhos dos becos, as bicicletas acorrentadas. Nada mais vai nos interromper. As cadeiras sobre a mesa, a denúncia, a fofoca. Nada mais vai nos interromper. Se é certo fazer, se é errado fazer, se é justo acreditar. Nada mais vai nos interromper. A educação, o sentido, o semáforo. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que não tenhamos provas de que houve alguma coisa, mesmo que o vento seja insinuação de chuva, mesmo que as pálpebras da água não substituam as nossas. Nada mais vai nos interromper. Mesmo que seja aconselhável a amizade, mesmo que seja aconselhável esquecer, mesmo que seja aconselhável não mudar. Nada mais vai nos interromper. Nem a nossa própria resistência em aceitar que seremos para sempre esquisitos depois de nosso amor.

REVITALIZAÇÃO.


Somos muito mais o que fazemos para melhorar aquilo que somos. Nossos questionamentos indicam a profundidade de nossa crença. Se duvidamos, ainda não acreditamos. Por fim, a vida deveria ser vivda por intuição, por inspiração, para terminar sendo uma Revelação. O DESTINO CONDUZ AQUELE QUE QUER, e arrasta aaquele que teima em fechar portas e janelas.

PAIXÃO.

Lembro de uma história que me foi repassada sobre ódio e amor, bem e mal. Dela, o que ficou dentro de mim foi o que se extraía. Que era mais-ou-menos assim. "É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não magoa. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende quando não se teve intenção de ofender. Ele só lutará quando for certo fazer isso, e da maneira correta. Mas, o outro lobo, ah!, este é cheio de raiva. Mesmo as pequeninas coisas o lançam a um ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo. Ele não pode pensar porque sua raiva e seu ódio são muito grandes. É uma raiva inútil, pois ela não irá mudar coisa alguma! Algumas vezes é difícil conviver com esses dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito. Mas eu sempre sei qual deles vence: Aquele que eu alimentar mais freqüentemente."

Pra sentir, tem que mergulhar.

E neste sábado lá estava a personagem Camila, depois de chorar suas mágoas no colo do pai (Dantas), esperando pelo veredicto. Close no personagem do Daniel Dantas (o pai), olhos ternos, voz suave, a deixa para a saída de mais um provérbio do pai-que-toda-menina-quer: "Filha, uma coisa que aprendi na vida foi sobre a tolice de permanecer tolerante demais num casamento falido há muito tempo. A outra coisa que aprendi nesta vida foi que, Quando o prêmio valer muito, aposte sempre, mesmo que suas chances de conquistá-lo sejam mínimas." Paulo Coelho teria dito: "Camila, só molhar os pés não adianta. Se jogue, mergulhe fundo, pra sentir a profundidade daquilo que tanto te angustia". Eu confesso que ando preferindo não ouvir mais frases de efeito. Quero colo, histórias de amor e superação reais, e muito carinho. Pensando bem, não tem um filme onde a mocinha encontra tudo isso contratando um 'garoto de programa'? Não, não é a idéia do homem, mas a perspectiva de que "os traçados nos fogem tantas vezes ao controle" que tem me deixado em "contemplação e suspiro". Alguém lá em cima, fazendo de nossas linhas retilíneas, corações. Terminando por nos deixar surpreendidos ante tanto "acaso" e "destino". No final, ainda nos convida a colorir o desenho que agora forma nossa vida. Quem sabe, até aquele que JAMAIS olha para trás, aprendendo a retroceder pra ganhar. MILAGRES AH... QUE EXISTEM, EXISTEM.

domingo, agosto 19, 2007


ASAS.

Será mais difícil, mas não impossível. Aquilo que julgamos impossível nada mais é do que incompreensão. Compreendemos errado e desistimos cedo. No amor, somos apressados porque o coração bate rápido. Não desista do Amor. Não desista de Amar. Porque há amores que nos ensinam a voar. Até que a morte nos separe é muito pouco para mim. Preciso de você por mais de uma vida.

:::

"Em setembro de 1923, no Polo Grounds, em Nova York, Jack Dempsey enfrentou Luis Angel Firpo, da Argentina, o Touro Selvagem dos Pampas. Dempsey derrubou Firpo SETE VEZES no primeiro round, só para levar um murro que o atirou para fora do ringue. Dempsey subiu de volta antes do fim da contagem e, no segundo round, NOCAUTEOU Firpo. Moral da História: Às vezes não importa se você é atirado para fora do ringue. O que importa é você ter a coragem de voltar lá pra cima".
Alan Parker.

sexta-feira, agosto 17, 2007


A VIDA COMO ELA É.

Essa filosofia de "arco-íris" não existe no mundo de Rocky Balboa. Assisti (finalmente!), e não gostei (como dos demais). Fica aqui a "lição" que o Bruto passa (como está recheado de frases de auto-ajuda). Perfeita para Josés que esqueceram da missão de 'estar sempre ao lado de suas Marias'.

"E em algum lugar, você mudou. Deixou de ser você. Se deixou convencer que não era bom. E quando a coisa apertou, começou a procurar algo para culpar. Como uma grande sombra. Vou dizer algo para você: O MUNDO NÃO É FEITO DE ARCO-ÍRIS. É um lugar ruim e duro. E não importa o quão forte seja, vai colocá-lo de joelhos, e deixá-lo lá. Ninguém vai bater mais forte em você que a vida. Te digo que não importa como você baterá, e sim "QUANTO TEMPO PODE SUPORTAR E SEGUIR EM FRENTE". É assim que se ganha. Se tem valor, busque o que digno de você. Mas tem que estar disposto a apanhar, e não levar seu dedo na cara de alguém, dizendo que não é o que deseja por causa deste alguém. COVARDES FAZEM ISSO. Você não é assim. É MELHOR QUE ISSO. Eu sempre vou amar você. DE QUALQUER JEITO. Não importa o que aconteça. Porque você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Mas, até você acreditar nisso, em si mesmo, e na possibilidade de ser feliz, não terá uma vida".

"Nada está acabado enquanto não chegar ao fim. Vá atrás daquilo que te faz feliz (mesmo que só a Constituição Americana garanta a busca da felicidade). E mesmo que, às vezes, a dor seja tão intensa que te impeça de respirar, continue batendo, batendo, batendo...

Acho que a máxima dele é "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura".

quarta-feira, agosto 15, 2007


Lullaby

Somewhere over the rainbow
Em algum lugar sobre o arco-íris
Bem lá no alto
Existe uma terra sobre a qual eu ouvi
Uma vez numa canção de ninar
Em algum lugar sobre o arco-íris
Os céus são azuis
E os sonhos que você se atreve a sonhar
Realmente se realizam
Um dia eu farei um pedido a uma estrela
E acordarei onde as nuvens estejam muito além de mim
Onde os problemas derretam como pastilhas de limão
Bem acima do topo das chaminés
É lá que você me encontrará
Em algum lugar sobre o arco-íris
pássaros azuis voam
Pássaros voam por sobre o arco-íris
Por que, então, ah por que não posso?
Se felizes passarinhos azuis voam
Além do arco-íris
Por que, ah por que não posso?
Eu vejo árvores verdes e rosas vermelhas também
E assisto elas florescerem para mim e para você
e eu penso comigo
QUE MUNDO MARAVILHOSO
Eu vejo céus azuis e nuvens brancas
e o brilho do dia
e o escuro da noite
e penso comigo "que mundo maravilhoso"
As cores do arco-íris no céu
também estão nas faces das pessoas que passam
(...) e o sonho que você desafiar (tornar realidade)
por que,
por que eu não posso?

COLD CASE e...

AS MÚSICAS QUE ADORO (aparecem no final de cada episódio)!!!

Creedence - Have you ever seen the rain?
I Say A Little Prayer – Aretha Franklin
Somewhere Over The Rainbow – Israel Kamakawiwo'ole
Edie Brickell e New Bohemians - Circle.

TUDO, mas tudo mesmo nesse blog, sobre o seriado conforme o que se passa no Brasil. Caprichado, sem a neura do miguxes (ix, nem sei escrever a tal), por ordem de capítulo... Como eu acompanho na Warner e no Sbt, nos momentos em que lembro e que "disponho", tenho uma série de perguntas pra fazer (que poderão ser desvendadas em algum tempo além graças AQUI. Já sei que Rush, que é A loira, que é a detetive que amava um promotor, que sumiu da história, e que agora tem um que (meio sem graça)está com a irmã dela, mas teve um caso com ela, ou apenas tinha com a mulher da sua vida que se atirou da ponte (suicidio esquizofrenico)? Peraí,mas o 4º marido da detetive é do passado, e lá na frente ela briga com esse outro... Hummm, no final da temporada (4ª), ela leva um tiro, mas não morrerá, tem 5ª season, ao que parece a memória volta com força total, o passado se levanta... Klute condena ou não? Já vi que estou pior que homem quando assiste o último capítulo de novela das oito.

terça-feira, agosto 14, 2007


ENQUANTO houver Sol.

Quando não houver saída, Quando não houver mais solução, Ainda há de haver saída, Nenhuma idéia vale uma vida. Quando não houver esperança, Quando não restar nem ilusão, Ainda há de haver esperança, Em cada um de nós, algo de uma criança. Enquanto houver sol, enquanto houver sol, ainda haverá... Enquanto houver sol, enquanto houver sol. Quando não houver caminho, mesmo sem amor, sem direção... A sós ninguém está sozinho. É caminhando que se faz o caminho. Quando não houver desejo, quando não restar nem mesmo dor, ainda há de haver desejo... Em cada um de nós, aonde Deus colocou.
Enquanto houver sol,
enquanto houver sol
Ainda haverá
Enquanto houver sol,
enquanto houver sol...

Ovelha Negra.

Hoje é dia de mudar de casa, de rua, de vida. As malas sufocam os corredores. (...) Hoje é dia, mais uma vez, de mudar de casa e de vida. Os olhos buscam signos, avisos, o coração resiste (até quando?) e o rosto se banha de estrelas dormidas de ontem, estrelas vagabundas encontradas pelas latas de lixo abundantes de London, London, Babylon City. Alguém pergunta: “O que é que se diz quando se está precisando morrer?” Eu não digo nada, é a minha resposta. (...) Amanhã é dia de nascer de novo. Para outra morte. Hoje é dia de esperar que o verde deste quase fim de inverno aqueça os parques gelados, as ruas vazias, as mentes exaustas de bad trips. Hoje é dia de não tentar compreender absolutamente nada, não lançar âncoras para o futuro. Estamos encalhados sobre estas malas e tapetes com nossos vinte anos de amor desperdiçado, longe do país que não nos quis. Mas amanhã será quem sabe o acerto de contas e Jesuzinho nos pagará todas as dívidas? Só que já não sei se ainda acredito nele. Tão completamente sento e espero que quase acredito ir além deste estar sentado no meio de escombros... Só espero, não penso nada. Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada. (...) Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar teu olho escuro com kol, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar, gritar, cantar, fazer qualquer coisa, desde que você venha, para que meu coração não permaneça esse poço frio sem lua refletida. Porque nada mais sou além de chamar você agora, porque tenho medo e estou sozinho, porque não tenho medo e não estou sozinho, porque não, porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas eram tão reais e um pouco assustadoras dentro da sua ameaça constante, mas onde existe um verde imaginado, encantado, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do oceano de onde viemos os dois.”

Caio F.

eSTRANgeira

Então espero mais. Cuido os táxis que passam, como se ELE pudesse estar dentro de um deles e poderia sim, poderá quem sabe abrir a porta rápido para que eu entre, sem descer, apenas recuando um pouco para dentro, para me dar espaço a seu lado, nesse ninho morno do banco de trás, e diga o endereço ao motorista caprichando na pronúncia francesa para que eu o admire, embora isso não me importe agora, quero apenas encontrá-lo, e meio ao acaso, pouco depois, quando o carro recomeçasse a andar, tomar entre as suas uma das minhas mãos avermelhadas pelo frio e pelo peso da mochila, e afinal comece a falar sem parar naquela língua que ambos conhecemos bem e não ouvimos faz tempo, contando coisas engraçadas, estranhas ou até mesmo um tanto estúpidas, não importa. Não importará nada do que diga ou faça, desde que venha e tudo aconteça desta ou de outra maneira inteiramente diversa da que invento, parado na frente da estação desta cidade do Norte onde, dizem, existe também o mar.

CAIO F. ABREU

TaS.

Eu quero mesmo muito pouco eu quase não quero nada de tão pouco que eu quero só retorno. Quero depois do beijo e do apreço, que jamais percas novamente a veneração pelos prazeres comuns da vida. Acordarás antes de mim para poder contemplar meu rosto, e rezarás silenciosamente em agradecimento pela presença minha no seu travesseiro. O peso do passado não existirá mais, e nada mais te atormentarás, a não ser a falta minha, que será dor e agonia. Cada por-do-sol parecerá aos seus olhos presente do céu sob encomenda para te alegrar. Contar-me-á seus segredos, meus olhos se encherão de lágrimas, e depois de te escutar, tomar-te-ei em meus braços para te consolar. Aninhando-te no abrigo de paz que sempre existirá entre nossas mãos e o pulsar de nossos coraçãos, percorrerei devagar seus cabelos, sua curvatura, desenharei círculos em seu corpo e farei tatuagens com minha vontade e gula. Serás a rocha sobre a qual minha vida se manterá firme, seus braços e beijos o manancial que me sustentará. Rezarei pela sua felicidade e serenidade, e lembrarei de ti pela manhã e à noite, todos os dias até eu fechar os olhos para sempre. Perdoarei todos os seus pensamentos cruéis a meu respeito, mesmo as pragas que possa lançar ou ter jogado ao vento contra meu nome. E quando enfim você vier a mim, proíbo-o de sofrer um só instante que seja de remorso ou culpa por mim. Peço-lhe que lembre apenas desta benção e promessa que lhe deixo agora, e eu então irei, com o coração partido, mas livre, andar... Até você voltar e tudo renascer. Aí então abrirei janelas, enterrarei o rosto em seu peito, passarei a mão em seu cabelo, encantada por encontrar as coisas do mesmo modo e lugar que as deixei. É terrível constatar quanta coisa pode ser esquecida, e faço do ato de evocar lembranças ato sagrado pra sacramentar você dentro de mim. Que seus olhos sejam abençoados, que seja abençoado o caminho sob seus passos, que seja neutralizado o vento que suave toca sua face. Meu coração é seu, repleto, sempre. Selah.

Codornas em pétalas de rosa.


INGREDIENTES:
12 rosas, de preferência vermelhas
12 castanhas
Duas colheres de manteiga
Duas colheres de fécula de milho
Duas gotas de essência de rosas
Duas colheres de anis
Duas colheres de mel
Dois alhos
6 codornizes
uma pitada de sal

MODO DE FAZER:
Desprendem se com muito cuidado as pétalas das rosas, procurando não picar os dedos, pois além de ser muito doloroso (picar se), as pétalas podem ficar impregnadas de sangue e isto, além de alterar o sabor do prato, pode provocar reacções químicas, muitíssimo perigosas. Mas Tita era incapaz de se lembrar deste pequeno pornenor perante a intensa emoção que sentira ao receber um ramo de rosas, das mãos de Pedro. A única coisa que nesse momento tinham era codornizes, e então decidiu alterar ligeiramente a receita, o que importava era utilizar as flores. Sem pensar duas vezes saiu para o pátio e dedicou se a perseguir codornizes, Depois de apanhar seis meteu as na cozinha e preparou se para as matar, o que não lhe era nada fácil depois de =as ter cuidado e alimentado durante tanto tempo. Com uma profunda inspiração, agarrou na primeira e torceu lhe o pescoço como tinha visto Nacha fazer tantas vezes, mas com tão pouca força que a pobre codorniz não morreu, em vez =disso foi se queixando penosamente por toda a cozinha, com a cabeça pendurada de lado. Esta imagem horrorizou a! Compreendeu que não se podia ser fraco nisto da matança: ou se fazia com firmeza ou só se causava uma grande dor. Nesse momento pensou em como seria bom ter a força da Mamãe Elena. Ela matava assim, de um golpe, sem piedade. Bom, ainda que pensando bem, não. Com ela tinha feito uma exceção, começara a matá la desde pequenina, pouco a pouco, e ainda não lhe dera o golpe final. O casamento de Pedro e Rosaura deixara a como à codorniz, com a cabeça e a alma fraturadas e antes de permitir que a codorniz sentisse as mesmas dores que ela, num ato de piedade, com grande decisão, rapidamente acabou com ela. Com as outras foi tudo mais fácil. Só procurava imaginar que cada uma das codornizes tinha um ovo quente engasgado no bucho e que ela piedosamente as libertava desse martírio dando lhes uma boa torcidela. Quando era pequena, muitas vezes desejou morrer para não ter de comer o famoso e obrigatório ovo quente. A Mamãe Elena obrigava a a comê lo. Ela sentia que o seu esôfago se fechava todo, com muita força, incapaz de conseguir deglutir qualquer alimento, até que a mãe lhe dava um murro na cabeça que tinha o efeito milagroso de lhe desfazer o nó na garganta, por onde o ovo deslizava então sem qualquer problema. Agora sentia se mais calma e os passos seguintes foram executados com grande destreza.

Depois de depenadas e esvaziadas, agarra se nas patas das codornizes e atam se, para que se conservem numa posição graciosa =enquanto se põem a dourar na manteiga, polvilhadas com pimenta e sal a gosto. É importante depenar as codornizes em seco, pois molhá las em água a ferver altera o sabor da carne. Este é um dos inúmeros segredos da cozinha que só se adquirem com a prática. As rosas conferem lhe um sabor refinadíssimo. Depois de se desfolhar as pétalas moem se no almofariz juntamente com o anis. À parte, põem se a dourar as castanhas no comal, previamente descascadas e cozidas na água. Depois, fazem se em puré. Os alhos são finamente picados e alouram se na manteiga; quando já estão louros junta se lhes o puré das =castanhas, a pimenta moída, o mel, as pétalas de rosa e sal a gosto. Para que o molho fique um pouco mais =espesso podem juntar se lhe duas colherzinhas de fécula de milho. Por último, passa se por um tamis e juntam se lhe só duas gotas de essência de rosas, não mais, pois corre se o perigo de ficar demasiado perfumado e estragar o sabor. Assim que estiver apurado retira se do lume. As codornizes só se mergulham durante dez minutos neste molho para que se impregnem do sabor e retiram se. O aroma da essência de rosas é tão penetrante que o almofariz que se utilizava para moer as pétalas ficava impregnado durante vários dias.

(...) fundiram se imediatamente de uma tal maneira que quem os tivesse visto só teria notado um único olhar, um único movimento rítmico e sensual, uma única respiração agitada e um mesmo desejo. Permaneceram em êxtase amoroso até que Pedro baixou a vista e a cravou nos seios de Tita. Esta deixou de moer, endireitou se e orgulhosamente ergueu o peito, para que Pedro o observasse plenamente. O exame de que foi objeto mudou para sempre a relação entre eles. Depois desse perscrutante olhar que penetrava a roupa já nada voltaria a ser igual. Tita soube na própria carne por que é que o contato com o fogo altera os elementos, por que é que um bocado de massa se converte em pão, por que é que um peito sem ter passado pelo fogo do amor é um peito inerte, uma bola de massa sem qualquer utilidade. Em apenas alguns instantes Pedro tinha transformado os seios de Tita de castos em voluptuosos, sem precisar de lhes tocar. Se não tivesse sido a chegada de Chencha, que tinha ido ao mercado buscar chiles anchos, quem sabe o que teria acontecido entre Pedro e Tita; talvez Pedro tivesse acabado por amassar sem descanso os seios que Tita lhe oferecia, mas, infelizmente, não foi assim (...)

Laura Esquivel, Como Água para chocolate. Filme e livro ótimo.

Beijos e Beijos.

“Estávamos sentados juntos e, de repente, vi um brilho em seus olhos, que nunca havia percebido antes. Meus lábios se aproximaram dela e nos beijamos. Impossível descrever exatamente o que senti naquele momento, mas parecia que a minha vida inteira estava resumida naquele
maravilhoso momento de prazer."
Oscar Wilde

:::
Aqui vale a letra de "As Time Goes By", a trilha sonora do filme Casablanca: "A kiss is still a kiss/(...) The fundamental things apply as time goes by (um beijo é só um beijo, (..) as coisas fundamentais acontecem enquanto o tempo passa)." Os lábios são a parte mais atraente do rosto. Eles são uma das partes mais emocionantes e expressivas do corpo humano. O lábio é uma dobra muscular, carnosa e isenta de pêlos que circunda a abertura bucal que é movida para expressar emoções, produzir palavras e, claro, beijar. Os lábios estão tão ligados ao nosso sistema nervoso visceral e aos músculos associados da face inferior, que nós raramente os mantemos imóveis. Assim como as mãos, os lábios são comunicadores extremamente dotados e sempre são objeto de observação. Os lábios adornados com uma gloriosa cor vivaz transmitem beleza e sentimentos íntimos. Reside aí a importância da boca (e dos lábios) no ato de beijar. Não importa qual seja o humor do ser humano, se frívolo, atrevido ou ofuscante, brincalhão ou profissional, ele pode ser expresso com o aspecto adequado dos lábios. Os lábios expressam amor e afeição a alguém que nos é especial em nossa vida cotidiana. Ainda podem transmitir sentimentos de desagrado, até mesmo de ódio.

Pedro Paulo Carneiro, Dossiê do beijo.

HOT. RED.

Freud diria que gostamos de beijar porque assim evocamos o primeiro gesto de sobrevivência do bebê quando nasce. Nossas reminiscências orais se manifestam e saímos por aí beijando e testando através do beijo nossa capacidade de amar e de ser amado e, conseqüentemente, nossa capacidade de sobreviver. Ao invés do leite materno, saboreamos néctares diferentes, odores novos e conhecidos e uma aflição no peito que não sabemos direito se nasce na cabeça ou no doce encontro de duas bocas. Beijar é muito bom. Se fomos crianças amadas, fomos beijados muitas vezes no decorrer da infância. Até uma certa idade nem sabemos do que se trata, mas achamos bom. A lembrança do seio materno está ainda bem próxima. Depois, mais crescidinhos, menino ou menina, o beijo começa a nos incomodar. Nosso universo é outro. Nossas referências de afirmação passam longe do beijo. Não é que seja sempre ruim, mas vivemos muito bem sem ele.

Às vezes um brigadeiro ou um brinquedo sonhado faz mais efeito. Mas dura pouco. Logo, logo voltamos a querer beijar. É só a menina da carteira ao lado desviar o olhar do quadro negro para depositar em você, pela primeira vez na vida, a chama da sedução que o beijo volta como a primeira referência do gesto de amor. É o beijo escondido, o beijo proibido, o beijo inocente que dá mais dor de barriga que aqueles dois sacos de cheesitos-bacon que você comeu escondido. Mas o sorriso de satisfação e prazer é tão grande que nunca mais esquecemos. Essa é a sensação que carregaremos pelo resto da vida e será glória ou ruína de nossos corações enquanto sentirmos desejo por alguém. É nesse momento, da pré-adolescência, que o beijo entra em nossas vidas abrindo um arco de possibilidades infinitas de sensações, sabores e desejos. Assim como a impressão digital, não existem dois beijos iguais. E o beijo é o cartão de visita da relação. Se o beijo for bom, é meio caminho andando para outros beijos em outros lugares do corpo e da imaginação. Um beijo ruim pode afastar duas pessoas que aparentemente teriam tudo para dar certo. Se olham, se atraem, se aproximam, se tocam e se beijam. E pronto. Uma ducha de água fria, de desinteresse, até mesmo de aversão afasta para sempre a possibilidade daquele encontro amoroso. Por outro lado, um beijo roubado inocentemente, na chegada ou na despedida, no erro de mira quase involuntário, pode fazer nascer um amor enorme, onde o próprio beijo será sempre a porta de entrada do afeto, do prazer, do amor em todas as suas possibilidades.

O beijo na vida adulta amplia horizontes. Desembarca do encontro de bocas para explorar outros caminhos e outros lugares do corpo onde é mais do que bem-vindo, é necessário, é indispensável, é como se os lábios molhados introduzissem o desejo em cada ponto do corpo que eles percorrem. É através do beijo que saboreamos o corpo que nos acompanha e acionamos todos os nossos instintos afetivos para o prazer. É preciso beijar muito nessa vida. Um beijo é sempre um novo beijo. Sua capacidade de renovação não deve ser desprezada. Podemos estar cansados, sem dinheiro, sem trabalho e até mesmo sem esperança, mas um beijo bem dado é capaz de fazer renascer o que no fundo nunca perdemos: a lembrança de que a vida começa num beijo.

MIGUEL PAIVA

sexta-feira, agosto 10, 2007


Simplicidade.


Em dias de paz, sinto quase nula a distância entre nós. Talvez porque você permaneça em grande parte de mim, sua mão ainda está no meu corpo, seu cheiro agarrado às minhas roupas. Haverá dias que sua imagem irá se abrandar, porém eu sei que jamais desaparecerá por completo. Em alguns momentos encherei seu peito de saudade, e tudo por aí exalará aroma almiscarado, tão intenso e penetrante que sentirá se desfalecer de tanta dor. À noite, perdurarei em seus sonhos, cada vez mais intensa, até que seus ouvidos ouçam o que seu coração quer tanto dizer. Porque o amor nunca morre. E assim também as pessoas que são amadas. Basta algo insignificante, como um som, um nome, para trazê-los de volta. Os incontáveis sorrisos e lágrimas, suspiros e sonhos de dois. (...) descobrirás que existem insondáveis profundezas, e mesmo um coração se recusando a amar, permanece leal aquele que o tocou. De todos os prazeres da vida, só o amor não deve nada a morte.. Enquanto eu viver, andarei contigo de dia, e me deitarei contigo de noite.
Selah

Anita Diamant

À espera.

Enquanto eu olhava para o céu, alguma coisa disparou, deixando um traço diagonal de luz em sua passagem. Uma estrela cadente. Incendiando-se enquanto avançava. Pedaços de gelo transformando-se em fogo. Foi a primeira vez que vi. Lembrei do pedido que sempre se realiza. Mais duas estrelas cadentes riscaram o céu. Meu sorriso do tamanho do mundo, meu coração em festa. Quando despontou a terceira, o mesmo pedido saiu automaticamente. Três vezes. Isso é pouco comum, não é? Ser tão fiel ao que nos faz feliz. Como uma daquelas coisas que podemos nunca ver acontecer em nossa vida. Porque precisa se saber exatamente para onde e quando olhar.

caminhos.


Sempre fui cautelosa. Extremamente, aliás. Você pode convencer a si mesma que encontrou uma exceção, aquela que está ali para a longa jornada, mas estará somente enganando a si mesma. No fundo, nosso caminho só conta com nossos passos. Tem pessoas que passam a vida reivindicando uma vida melhor. Alguma coisa que possam fazê-los sentir vida. Felicidade. Sentido. Então, quando estão prestes a conseguir essa vida, o que fazem? Abandonam tudo. Deixam tudo ser destruído, por algo que aconteceu há muito tempo. As pessoas podem ser cruéis, e cometer erros enormes. Abandonam, ou são abandonadas. Mas é o que acontece em seguida o que realmente importa.

Importará por toda uma vida.

Carefree.

Por mais agitado que meu jardim possa parecer estar, sinto muita, mas muita falta da tulipa vermelha. Leio suas palavras, tento enxergar a paisagem e o clima de seu dia. Às vezes quente, em geral me parece ventoso. Vasculho o meu coração-armário, procuro ansiosa por um agasalho quente de carinho e afeto, mas apesar da variedade, poucos servem. Porque o frio de um coração só outro coração pode aquecer. Daria o meu sem ressalvas, de novo e novamente, sempre, se conseguisse saber se o tamanho atenderia de verdade suas expectativas. Tenho sempre a impressão de que sou deficitária perto de você. Alguns gostam de uma pitada de açúcar, outros de uma colher de sopa bem cheia.

Persistência.

Estava apreensiva, trêmula, despreparada para vê-lo, e mesmo assim, prosseguia com passos largos. Não tinha a mínima idéia do que iria lhe falar. Ou do que iria ouvir. Quando chegou ao edifício no centro da cidade, parou por um instante, precisava recuperar o folego. Então, alguma coisa lhe fez girar o corpo, a sensação da presença dele. Ele ali, parado, olhando sem nenhum sorriso, nenhuma expressão de prazer, mesmo alívio ou choque não havia em seu rosto. Só encarava-a, sem ao menos piscar.
- O que está fazendo aqui, Liz? - perguntou, mas seu tom de voz deixava claro que não queria saber da resposta.
- Não sei ao certo. - respondeu, as mãos firmes na bolsa.
- Ora, sua vida radiante não tem lhe ocupado seu tempo precioso? - seu rosto expressava todo o sarcasmo que ainda continha para desferir.
- Gostei da palavra. Radiante. Parece conter toda esperança. Parece me conter em um tempo logo atrás.
- As coisas muito boas não trazem ou deixam de trazer esperança, Liz. Elas somente acontecem. O que você faz das coisas muito boas que acontecem na sua vida é que a tornam esperança, sentido, e tudo mais.
- seus olhos agora brilhavam, em uma expressão de desafio, que lhe encarava detidamente, braços cruzados ao redor do tórax.
- Essas são as únicas opções para a vida que existem? Ou pequena e simples, ou maior e impressionante? Que tal uma vida feliz? Já percebeu que você, mesmo com toda essa sua postura sábia, não conseguiu ter longe de mim?
- Você demora. Em tudo. Quando eu quis conversar, você se afastou. Quando eu resolvi me abrir, resolveu agir como se o que havíamos vivido não tivesse a mínima importância. Eu não sabia que você podia ser tão cruel. Ou que eu podia ser igualmente, quando via o quanto você me fazia sofrer. - parou por um segundo, olhou para baixo e quando ergueu seus olhos, disse com doçura - Por que você demorou tanto para chegar, Liz?
- O que eu queria parecia tão simples, mas me custou muito. Você não imagina o quanto. Amor vem sempre de mãos dadas com a dor?

quinta-feira, agosto 09, 2007


HAPPY BEGINNING.

O que nos uniu eu não sei. Tem coisas que eu não compreendo, fazer o quê? É, mesmo que eu ache que sei tudo (e goste que você pense assim!), ainda não entendo muita coisa. Sorriso aberto, olhou pra ela com doçura, segurou firme sua mão e a puxou pra junto de si. De uma coisa sabia, não haveria nada que a levasse de seus braços agora. E mesmo Deus, se quisesse, teria que travar uma batalha. Porque quando queria, conseguia ser muito, muito firme. Principalmente, porque sentia que sem ela não vivia mais.

UNDELIVERY.

O brilho de algumas horas de felicidade são suficientes para tornar suportáveis as desilusões e sacanagens que a vida não cansa em aprontar. Porque a vida separa os que se amam, já dizia Jacques Prevert. E quando eu senti que ele ia, comecei a guardar tudo: seu cheiro, o modo de olhar, sua mão na minha mão, a marcha trocada a dez dedos, o modo de me chamar atenção. O que me salvou foi a mesma coisa que quase me matou.

FILIGRANA.

Toda vez que olhava para ele sentia como um pequeno choque elétrico. Suas mãos tinham uma forma bonita, nem grande, muito menos pequena. Forte. Firme. A intensidade do seu olhar provocava rebuliço. O gosto de sua pele era explosão de aroma, lembrou da garrafa de vinho que tinha comprado para eles tomarem - bordeaux cheval-blanc, safra de 1982. Que chance você acha que tínhamos da gente se encontrar por aí, em qualquer lugar? Quanto bastaria pra gente nunca ter se tocado? Eu não tenho fortuna, não busco riqueza, não quero fama. Não possuo coisa alguma, nem mesmo um apartamento no meu nome, mas apenas um trabalho que é toda a minha vida. E um amor que é tudo que eu sempre sonhei. Você me deu uma esperança, que acho que você pode adivinhar qual seja. O dia em que você me amou foi um dia de muito muito sol.

MÃOS-NA-MINHA-MÃO.

Quando ela deu com os olhos em suas unhas roídas, escondeu rapidamente os dedos, cerrando os punhos. Ela sorriu, divertida. As palavras dela sempre o tocavam profundamente, e não entendia como alguém podia conhecer tanto outro alguém, tão profunda e rapidamente. Sabe quando eu te falei que achava você a pessoa certa pra mim, mas o momento era errado? Foi uma meia verdade, porque dentro de mim algo me dizia que, se eu quisesse arriscar, podia fazer daquele instante o momento exato pra nós. Bastava eu apostar em você. E aí você me perguntou porque tinha cruzado comigo, porque tinha se apaixonado justo por mim, se havia milhões de pessoas melhores que eu. Fiquei com tanta raiva, "como melhores que eu", foi aí que eu achei melhor deixar você com esses milhões. Olha, a verdade é que não se sabe o que será do amanhã. Nem como ele será feito. Só o presente vale a pena, e você sabe que essa é minha filosofia de vida. Aqui e agora. É assim que eu vivo. Então, agora, hoje, O que você tem a me oferecer, gatinha?

Havia um brilho irônico no seu olhar, mas seu rosto conservava a expressão doce e sincera que tinha mexido com ele, desde a primeira vez. A verdade é que dentro de si carregava uma certeza inabalável. Ela era a pessoa certa. Mulher da sua vida. E não estava mais se importando se o momento era certo ou errado, isso era problema dos outros. O que ele sabia é que não iria jamais soltar da sua mão novamente. Mesmo que ela dissesse não. Mesmo e tantos outros mesmos, então...

CORDA BAMBA.

Levantou-se, sem esperar pela resposta dele. Equilibrava-se há meses numa espécie de corda bamba, era quase impossível viver sem a presença dele. Se o coração lhe dizia para viver plenamente a felicidade, a razão a aconselhava a não se deixar levar por sua mão, ele já a havia machucado tanto... Sabe, eu nunca disse a você que tudo estava previsto nos mínimos detalhes. Nem que a vida era somente a realização de um roteiro previamente escrito. O que eu disse e quero dizer é que existem realmente coisas das quais não é possível fugir. Porque, dando as costas, estamos indo... sem jamais termos saído do lugar. Consegue entender isso? Nós somos feitos daqueles que amamos, nada mais. Quando você partiu, andei tentando juntar meus pedacinhos e tudo o que eu encontrava era você dentro de mim. Pra me reconstruir, tive que recolocar você inteirinho novamente em mim. Então, sabe... Ir sem você não existe, amor.

RECOMEÇO.

De soslaio, pousou os olhos nele. Como era inalcançável, mesmo agora. Carapaça espessa, mesmo depois de anos, nunca chegava a baixar a guarda totalmente. E o que ela tinha medo era de que as feridas dele jamais fossem reversíveis nem reparáveis. Porque tudo o que queria era poder pertencer àquele mundo que ele havia construído para si. E nós ainda tão grudados um ao outro, eu meio viva, ele morto em parte... quando amamos, quanto de nós encontramos no outro..., pensava ela, enquanto ele ainda segurava sua mão, esperando respostas. Era maciço, um homem de verdade, ninguém duvidaria! E riu alto, assustando-o, que também sorriu. O brilho que surgiu no olhar dele fez seu coração paralisar de tanta dor. Olhando detidamente para ele, agora que havia deitado em seu colo, sentiu que nada por fora indicaria o homem que jazia por dentro. Seu sobretudo impecável, o terno bem cortado, a aparência de solidez e elegância, só o olhar ostentava um véu de melancolia... Jamais havia sentido essa necessidade absoluta de alguém, como poderia ir sem Ele? O capricho do Acaso. Ou seria o destino? Ei, moço lindo, diz pra mim, do que depende o desenrolar dos acontecimentos? Acha que existe algo a que a gente não possa fugir?

OUTONO.

Ele encostou sua mão na dela, e gentilmente a puxou para si. - Por favor, tente me escutar, mesmo que esteja com raiva de mim. Sei que esses últimos meses foram difíceis, mas acredite, foram para nós dois, eu nem por um momento deixei de pensar em você. Sei que você também pensa que eu poderia ter arrumado a situação toda: nada disso teria acontecido se eu tivesse tido a coragem de lhe pedir para ficar comigo, em vez de todas as bobagens que fiz, inclusive quando te deixei subir naquela droga de ônibus. Não foi por falta de vontade, moça.

Suspirou, esperando que Ela dissesse algo. Pelo menos um hã-hã, como era importante ouvi-la dizer que estava prestando atenção! O ar estava frio e cortante, e por trás do ar de desafio que havia visto em seus olhos, logo que a avistou, o que via agora eram lágrimas. Sempre assim, mesmo quando nada diziam, tudo era dito em silêncio.

- Sinto muito. Acredite, vontade não faltou para eu jamais sair daqui. Mas talvez... Apenas por eu ter perdido a confiança na vida, por medo de que a nossa história se ampliasse... Fiz, aconteceu, e nós estamos vivendo as consequências desses meus atos. Eu estou agindo como um robô, trabalho no piloto automático, vivo enrolado com o tempo. E você? Olha pra mim, diz se eu posso ainda ter esperanças, diz alguma coisa, diz pra eu ficar aqui. Com você.

Diz.

terça-feira, agosto 07, 2007


SKIDAMARINK.

Entrou no local, perdida em devaneios. Nada jamais é inofensivo, nem sempre percebemos corretamente a repercussão dos nossos atos. É, era preciso que ele se desse conta disso, antes de ter partido. Tudo bem, os dois acabavam de viver uma lua-de-mel de dois dias, como se estivessem sozinhos no mundo, sem qualquer referencial, mas essa era uma ilusão perigosa, estava ciente disso. Claro que era preciso mais tempo para que o amor recém-nascido se apoiasse em bases sólidas. Bateu o joelho em uma mesa, tropeçou na cadeira antes de sentar... A verdade é que havia perdido totalmente o prumo, atropelada por algo de cuja existência sequer suspeitava. Por outro lado, ainda flutuava em sua nuvem, mas enfim... nutria mágoas por ele ter mentido. Ele era casado! Ou quase...ah, tudo a mesma coisa. Levou um susto quando Ele pôs a mão em seu ombro, e a tirou de seu mundo particular. Quanto tempo fazia que não se via nos olhos dele?

- Oi.
- Oi...
(...)
- É. Acho que nos jogamos nos braços um do outro meio sem pensar.
- Queimamos etapas, é isso? Não conheço você realmente, e muito menos você a mim.
- Mas se você vier pra cá...
- Ah, tudo bem, captei a mensagem. Se eu vier pra sua cidade, se você estiver a fim de se divertir, seria legal a gente se ver.
- Não foi isso que eu quis dizer.
- Esqueça.
- Achei que as regras estavam claras...
- FODAM-SE SUAS REGRAS!


Ela levantou-se bruscamente, a xícara de café voou, esborrachando-se no chão. Andava rápido, cortando a frente da multidão, que reclamava em coro. No fundo, sabia que ele tinha razão. Dois dias de romance não eram suficientes para construir uma relação. Claro que a magia de uma paixão não pressagiava a compatibilidade a longo prazo entre duas criaturas. Corria de cabeça baixa, perdida em reflexões, e na sua mágoa. De repente, errou de direção, tornou a voltar e, por engano, pegou uma escada rolante no sentido inverso. Já sentia que esse era o pior dia de sua vida. Distraída, respirou fundo para acalmar as palpitações. Não sabia mais onde estava, sentou em uma mesa na primeira doceria que viu, pediu um café. Nesse momento sentiu um desejo: reencontrá-lo. Mas precisava ser forte. Dali em diante faria como todo mundo - vida regrada, morna, contando as calorias, tomando café sem cafeína, comendo comida natural, se exercitando todo dia durante meia hora. Não seja boba, não se entregue a um cara que não quer você. Esse cara não a ama, não moveu um dedo para fazer você ficar. Exausta, cansou de reprimir a vida que existia dentro dela, e as lágrimas começaram a cair. Maldita vida equilibrada, amanhã eu tento você!

Foi somente no instante em que Ela se foi, e o café desabou no granito do piso, que Ele entendeu como a tinha magoado. Saiu lentamente dali, como se não tivesse mais energia. Ora, não havia lugar em sua vida para Ela. Afinal, essa história não poderia levá-lo para lugar algum. Depois, havia a sua mentira, e o peso de um passado não superado. No entanto, era preciso admitir - aqueles dois dias tinham mudado sua vida. Alguma coisa dentro dele se soltara. Finalmente, sentia-se liberado daquela angústia surda que o acompanhava desde a infância. Quando se preparava para ir embora, uma força misteriosa o grudou ali. Não, não podia deixar passar essa oportunidade. Se Ela fosse embora agora, ele se arrependeria por toda a vida. Voltou, andando como um desatinado, há muito se considerava acima dos ímpetos da paixão e da dor da perda, mas não era nada disso. O amor lhe metia medo ao mesmo tempo em que o atraía e, como nunca, tinha fome de viver e esquecer todos os antigos temores. Pela primeira vez, acreditava que isso fosse possível, graças a uma mulher que, 48 horas atrás, tinha lhe tocado profundamente, e não sabia como nem porquê. Seria a última esperança de um homem desesperançado? Enquanto andava, pensava que não podia voltar atrás, não queria recomeçar porque não sabia se podia mais parar, sempre foi forte ia continuar sendo. E revia o rosto dela, seu perfume, seu jeito de sorrir, a fagulha de vida que a acompanhava. Dobrou a esquina, pra espantar as lembranças, cruzou a rua, pra evitar se afogar no rosto que lhe tomava a mente, e entrou no primeiro café que viu, pra tentar se salvar de tanta dor que o afligia. Abriu caminho e, no fundo do salão, a viu. Se Albert Cohen estivesse ali, teria escrito "Foi no espaço de um abrir e fechar de de olhos, e Ela olhou para mim sem me ver, e foi a glória, a primavera, o sol e o mar tépido..." para esse momento. Quando seus olhos se encontraram novamente, foi tal como uma confirmação tácita, que misteriosamente declarava que 48horas de amor sempre prenunciavam o início de uma vida. Mesmo que um dos dois perseguisse o fim por algum tempo. Sorrindo, sentou ao seu lado. Num átimo, pegou sua mão, e lhe disse que iria provar que podia segurar sua mão com mais força quando ela resolvesse ir embora. Pra evitar outra xícara de café no chão, menina.

O QUE VALE É SEMPRE A ÚLTIMA VOLTA.

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*Ajuda do Guillaume Musso, SOCORRO! Este romance é perigoso, manipula nossa mente e nos faz transbordar o que, aqui e o que vai além...

SIDE VIEW.

Concentração 0 (tempo, tempo, tempo... não corre, deixa eu novamente entrar no seu ritmo, depois dessa "quebra")

PRA-alguma-coisa-que-faça-sentido

Um Mês - MAIO
Um nome - VICENZO
Um Número - 6
Uma Cor - AZUL (Todas as nuances, PRINCIPAL: verde-mar-azul-céu)
Uma Flor - TULIPA VERMELHA e ORQUÍDEA.
Um Livro - CADERNO e CANETA (o meu livro inacabado rs!)
Um Filme - AMOR ALÉM DA VIDA.
Um Objeto - PAPEL (formas, tamanhos, cores, estilo, qualidade)
Um Pecado - NENHUM (rs rs rs)
Uma Pedra - SAFIRA e TURQUESA AZUL-CLARA.
Um Bicho - PANDA.
Uma Carta do Baralho - ÀS.
Um Signo - TOURO.
Um Planeta - JÚPITER.
Um Lugar - BUDAPESTE.
Uma Palavra - SZÍVEM.
Um Cheiro/Aroma - ADORO o CHEIRO DO HOMEM QUE EU AMO (Nuca, hum).
Uma Parte do Corpo - MÃOS.
Um Sentimento - AMOR.
Um Verbo - ENTRELAÇAR.
Uma Estação - OUTONO.
Um Instrumento Musical - SAXOFONE.
Uma Bebida - VINHO.
Uma Comida - BACALHAU.
Um Gosto - hummmm.... rs rs.
Um dia da Semana - QUINTA-FEIRA.
Uma Árvore - CARVALHO.

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CAIXOTE

Minha irmã é pura síntese. Resume tudo em três linhas. E deixa páginas e páginas ocultas (cabe a mim entender o conteúdo completo). Quando vejo um email dela na caixa, tenho ganas de correr. Às vezes, faço a maratona. De fugir, dizendo que não vi. É difícil párar o mundo, pra perceber o "mundo do outro", no meio de uma tarde modorrenta, cheia de trabalho, frio delicioso e cappuccino à vontade. Hoje, ela conseguiu o intento. Ah, terminaram de montar minha estante. Adivinha qual livro tem prioridade? Lógico, aquele que você me trouxe. Há tanto lugar vago...Fico querendo ocupar, sabe, com coisas boas, tão e quanto.
13hrs. "Qual é mesmo o livro a que ela se refere? (Vivo enchendo-a de livros).
13h35. "Caçador de Pipas (Eu não dei, ela pegou e não devolveu!!!).
14h40. "Espaço vazio... tá querendo alguma coisa."
15h20. "Que mês nós estamos? ah, perto do aniversário dela."
16hrs. "Droga, aquele Khaled deve ter lançado alguma coisa."
16h15. SUBMARINO. Hum... A cidade do sol. Pré-venda (chega amanhã rsrs).

Mariam tem 33 anos. Sua mãe morreu quando ela tinha 15 anos e Jalil, o homem que deveria ser seu pai, a deu em casamento a Rasheed, um sapateiro de 45 anos. Ela sempre soube que seu destino era servir seu marido e dar-lhe muitos filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Laila tem 14 anos. É filha de um professor que sempre lhe diz: "Você pode ser tudo o que quiser." Ela vai à escola todos os dias, é considerada uma das melhores alunas do colégio e sempre soube que seu destino era muito maior do que casar e ter filhos. Mas as pessoas não controlam seus destinos. Confrontadas pela História, o que parecia impossível acontece: Mariam e Laila se encontram, absolutamente sós. E a partir desse momento, embora a História continue a decidir os destinos, uma outra história começa a ser contada, aquela que ensina que todos nós fazemos parte do "todo humano", somos iguais na diferença, com nossos pensamentos, sentimentos e mistérios.
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16h23. PRONTO. Agora eu comprei dois, pra não ficar sem (lembrei do óleo e das noivas, viu?) Dá próxima vez, eu corro 6 dias do email.

CHEGADA.

Dizem que há pessoas que são capazes de reconhecer o MOMENTO PRECISO em que o próprio destino está prestes a mudar. Dizem que somos feitos daqueles que amamos, E NADA MAIS. Sêneca coloca que o destino conduz quem o aceita, e arrasta aquele que o rejeita. "Quando penso em tudo que aconteceu comigo, não posso tirar da cabeça a idéia de que um destino misterioso tece os fios das nossas vidas com uma visão muito clara do futuro, sem levar em conta nossos desejos ou projetos"*. VAI CORRER pra QUANTO? Decididamente, você como marcador de ritmo tem me levado a taquicardias freqüentes.

*Matilde Asensi

Vai correr quanto?

Como todas as manhãs, Nathan foi acordado por duas campainhas simultâneas. Usava sempre dois despertadores: um ligado na tomada e outro movido a pilha. Mallory achava isso ridículo. Depois de engolir meia tigela de cereais e enfiar um moletom e um par de Reebok surrados, saiu para sua corrida diária. O espelho do elevador lhe devolveu a imagem de um homem ainda jovem, de aparência agradável, mas com a expressão cansada. “Nathan, meu garoto, você está precisando de férias”, pensou ele, observando mais de perto as leves manchas azuladas que haviam se instalado sob seus olhos durante a noite. Subiu o zíper do agasalho até o pescoço e calçou luvas forradas e um gorro de lã com o símbolo dos Yankees. Assim que pôs o nariz na rua, uma fumaça branca e fria saiu da sua boca. (...) Após 45 minutos de exercício, fez uma parada na altura da Traverse Road e matou a sede fartamente antes de se sentar na grama.

(...) O rosto de sua mulher Mallory e seus grandes olhos lhe passaram pela cabeça, antes que fosse tarde, se forçou a não insistir na lembrança. “Pare de cutucar a ferida.” Mas não conseguia... Que saudade sentia dela! (...)continuou sentado na grama, ainda tomado por aquele vazio imenso que o assombrava desde que ela havia partido. Um vazio que o devorava por dentro há vários meses. Nunca imaginou que a dor pudesse ser desse jeito. Sentia-se só e infeliz. Num instante, lágrimas quentes lhe encheram os olhos antes que o vento gélido as varresse. Tomou mais uns bons goles de água. Desde que se levantou, vinha sentindo uma dor estranha no peito, como uma pontada, que lhe dificultava a respiração (...), apertando o passo, voltou ao San Remo para tomar uma ducha antes de ir trabalhar.


De terno escuro e recém barbeado, adentrou a torre de vidro que abrigava as salas do escritório de advocacia Marble&March, na esquina da Park Avenue com a rua 52. De todos os escritórios de advocacia comercial da cidade, o Marble era o único que ia de vento em popa(...) Uma trajetória excepcional na sua idade. Nathan realizou sua ambição: tornar-se um rain-maker, um dos advogados mais renomados e mais precoces do ramo. Venceu na vida. Não por ter feito o dinheiro frutificar na Bolsa ou por se aproveitar dos relacionamentos familiares. Não, ganhou dinheiro com o próprio trabalho, defendendo indivíduos e companhias e fazendo cumprir a lei. Brilhante, rico e seguro de si. Assim era Nathan Del Amico. Visto de fora.

Passou a manhã toda em reuniões com os advogados contratados, cujo trabalho supervisionava, examinando os casos em andamento. Por volta do meio-dia, Abby lhe trouxe um café com pretzels de gergelim e cream cheese. (...)Como não tinha qualquer compromisso na hora seguinte, Nathan aproveitou para desatar o nó da gravata. Decididamente, aquela dor no peito persistia. Massageou as têmporas e jogou um pouco de água gelada no rosto. "Pare de pensar em Mallory". (...)Quando ela entrou em sua sala, sua respiração se acelerou estranhamente e, por um instante, seus pensamentos se embaralharam. SURPRESAS ACONTECEM TODOS OS DIAS.

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Mais do Nathan? COMPRE o livro "E depois..." (INTERESSANTE), OU Socorro!. O francês Guillaume Musso entende de "massa", fazia tempo que não "devorava" um livro atrás de outro. Mas se quer algo para "degustar devagar", tal o primor, vá de Fundo da Baía, do Joseph Mitchell (minha edição é portuguesa, da Âmbar).

Água PESADA.

"As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são, e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobre tudo como dirias, emoções. que nem sempre se mostram."
Natureza Viva, Caio F. Abreu.

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“As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. Você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis, e as pessoas podem te olhar de maneira esquisita, sem entender nada do que disse, nem porque era tudo tão importante. Muito menos vão querer saber porque você quase chorou quando estava falando. Isso é pior. Quando o segredo fica trancado lá dentro, não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda”.

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Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e coisas.
Nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
túneis habitados pela lua,
perguntas que insistiam na areia.
tudo era dos outros e de ninguém,
Por quais caminhos e como te dirigiu a minha alma?
Quem te ensinou os passos que te levaram a mim?
Que flor, que pedra, que fumaça
mostraram minha casa?
Pablo Neruda

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O caminho do Amor não tem Volta.
Porque não há partida.
Apenas ausência física...

segunda-feira, agosto 06, 2007


PESCARIA.

As lições de moral que realmente permanecem são as que vêm não dos livros, mas da experiência.
MARK TWAIN


Ele tinha onze anos e, a cada oportunidade que surgia, ia pescar no cais junto ao chalé da família, numa ilha no meio de um lago de New Hampshire. A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas ele e o pai saíram no fim de tarde para pegar peixes-lua e percas, cuja pesca era liberada. O menino amarrou uma isca e começou a praticar arremessos, provocando ondulações coloridas na água. Logo as ondulações se tornaram prateadas por causa do efeito da Lua nascendo sobre o lago.

Quando o caniço vergou, soube que havia algo enorme do outro lado da linha. O pai olhava com admiração enquanto o garoto habilmente arrastava o peixe ao longo do cais. Finalmente, com muito cuidado, ele levantou o peixe exausto da água. Era o maior que já tinha visto, mas era um dos peixes cuja pesca só era permitida na temporada. O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras para trás e para frente, sob a luz da lua. O pai acendeu um fósforo e olhou o relógio. Eram dez da noite - faltavam duas horas para a abertura da temporada. O pai olhou para o peixe, depois para o menino.

- Você tem de devolvê-lo, filho - ele disse.
- Mas, papai! - reclamou o menino.
- Vai aparecer outro peixe - disse o pai.

O menino olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou barcos visíveis ao luar. Olhou novamente para o pai. Mesmo sem ninguém por perto, o garoto sabia, pela clareza da voz do pai, que a decisão não era negociável. Devagar tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura. A criatura movimentou rapidamente seu corpo poderoso e desapareceu. O menino desconfiou que jamais veria um peixe tão grande como aquele.

Isso aconteceu há trinta e quatro anos. Hoje, aquele garoto é um arquiteto de sucesso em Nova York. O chalé de seu pai ainda está lá, na ilha no meio do lago, e ele leva seus filhos e filhas para pescar no mesmo cais. E ele estava certo. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite, há tanto tempo. Mas ele sempre vê o mesmo peixe - repetidamente - todas as vezes que se depara com uma questão de ética. Porque, como seu pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de certo e errado. Apenas a prática da ética é que é difícil. Agimos corretamente quando ninguém está olhando? Nós nos recusamos a passar por cima de regras para conseguir entregar o projeto a tempo? Ou nos recusamos a negociar ações com base em informações que sabemos que não devíamos ter? Faríamos isso se nos tivessem ensinado a devolver o peixe para a água quando éramos jovens. Porque teríamos aprendido a verdade.

JAMES P. LENFESTEY

Notadamente, logo...

TAS. T.A.S. tas. tAs. SAT. TAS. T.a.S. S.A.T. TAS. TAS. TAS. TAS. TAS. TAS. T.A.S. TAS. T.AS. T.A.S. T.A.S. TAS. T.A.S. t.a.s. t.a.s. tas tas tas t.a.s. T.A.S. tas tas tas.

Pode parecer promessa mas eu
Sinto que você é a pessoa
Mais parecida comigo que eu conheço
Só que do lado do avesso
ALICE RUIZ

T.A.S.
T.a.s.

Se você AMA, diga.


Quando eu era criança, lembro como era fácil escrever cartões para meu pai dizendo que eu o amava. Vinha da escola com alguma colagem, todo entusiasmado para abraçar e mostrar aquele homem que eu chamava de pai o quanto eu o amava. Fui crescendo, e lembro que aos 18 anos gestos e palavras tinham se perdido. Ainda nos amávamos, mas tínhamos enorme dificuldade em demonstrar. O amor se complica com a idade e o conhecimento. Continua sendo amor, mas não é mais algo simples.

Depois de um acidente sério que sofri de carro, quando eu mal tinha um ano de carteira, meu pai ficava muito nervoso toda vez que eu saía de carro. Lembro que, um dia, logo depois deste acidente, eu disse ao meu pai que ia a uma festa e voltaria tarde.

- Dirija com cuidado! - meu pai advertiu.

Virei-me para meu pai com um olhar de tristeza e perguntei: - Por que você sempre diz isso? "Dirija com cuidado." É como se você não confiasse em mim dirigindo.

- Não, filho, não é nada disso -
meu pai explicou. - É só a minha maneira de dizer "Eu te amo".

- Olhe, papai, se você quer dizer que me ama, diga isso! Se não, posso confundir a mensagem.

- Mas...
- meu pai hesitou. - E se seus amigos estiverem com você? Se eu disser "Eu te amo", você pode ficar sem graça.

- Nesse caso, papai, quando estiver se despedindo, basta colocar sua mão perto do coração e eu vou fazer a mesma coisa.


Tanto eu quanto meu pai queríamos expressar nosso amor. Mas sei lá por quais convenções sociais que passamos, algo dentro de nós cerceava “palavras”. Combinamos, a partir daquele dia, que sempre nos lembraríamos que nos amávamos. Pelos gestos que só nós dois compreenderíamos.

Aos quarenta e seis anos, meu pai morreu. Tenho setenta e seis anos agora. Uma vez ouvi o repórter Pete Hamill, de Nova York, dizer que as lembranças são a maior herança de um homem, e tenho de concordar. Sobrevivi a quatro invasões na Segunda Guerra. Tenho uma vida cheia de toda espécie de experiências. Mas a única lembrança que permanece é a da noite em que meu pai e eu aprendemos a extravasar o amor que sentíamos um pelo outro.

Passamos uma longa parte de nossa vida nos contendo. Aguardamos, guardamos, esperamos. Mas a vida não é algo que venha com mapa, surpresas aparecem em cada esquina, e de repente... não há mais tempo. O que aprendi com meu pai foi “forjar lembranças”. Quando as ações falam, as palavras não são necessárias. O que importa, nessa vida, é amar e ser amado. É o valor que damos ao amor que recebemos, porque ele vai sobreviver por muito tempo depois que sua riqueza e sua saúde tiverem acabado. Se você for como eu, “que contém dentro de si um dique imenso” represando palavras bonitas, principalmente “eu te amo”, ritualize um gesto. Faz toda a diferença a pessoa que você ama SABER que você a ama. Diariamente.

“Expressar afeto é o melhor dos métodos quando se quer acender a paixão no coração de alguém e senti-la no seu próprio”.
RUTH STAFFORD PEALE

domingo, agosto 05, 2007


Minha vida. Em você vivida.

(...) Lavou o rosto apressado, saiu do banheiro com a toalha nas mãos ainda molhadas, tudo o irritava como se o tempo tivesse parado. Sentou-se distraído na cama, abriu a gaveta e suspirou mais calmo, como se aquela imagem tivesse o condão de suavizar seu mundo. Com voz simples disse ele soprando de leve o retrato na mão, olhando atentamente aquele rosto, "Eu te amo, minha menina". Seria a primeira vez em que o dizia? indagou-se com surpresa e censura. Dissera demais, dissera demais, pensava olhando-a com quase-medo, de algum modo já pensava em autodefesa, enquanto seus olhos mergulhavam nos olhos dela com profundidade, absortos, pesados destes pensamentos que sempre o contiveram. Não saberia dizer a ninguém e nem a si próprio, pensava, como era ela importante para ele. Como a conhecia, nas reações de seu próprio corpo. Sentia-se renovando, sem muito esforço de sua vontade e de memória, rápida e fugitiva percepção dela que o atormentava diariamente. O que mais o assustava era alguma coisa que não conseguia falar nem pensar, essa espécie de assombro e espanto pela condição que se estabelecia a cada vez que nela pensava, parecia que se ligava, se conectava... e se concretizava em prazer, na visão dela. Amor devia ser isso, essa coisa que não compreendia separação, distância, essa docilidade que tomava conta do seu ser quando olhava seu retrato, e sentia sua vida apertar-se de sentimento, seu coração atropelado, suspirando com força, guardando em silêncio, dentro de si tanto desejo, vem pra mim, vem pra mim, vem nesse instante... veloz... vem... Doía-lhe pensar assim, ela existir dentro dele cheia de vida, respirar, comer, dormir, e não ter a certeza de que ela poderia também pensar e sentir assim, algo tão grande por ele. Por que você não me interrompe, por quê você não aparece, você deve saber o que é essa coisa que me consome por inteiro. Eu estou tão perdido, por quê você me deixa errar? Abriu a gaveta, o retrato novamente colocado no lugar de sempre. Ela nunca saberia como era difícil para ele proferir uma palavra para pedir socorro, uma tarefa impossível ele pedir ajudar, ele que sozinho desde sempre se sentia. O coração doendo, pensava que havia errado com uma força que não se podia deter, imaginava que não poderia ser mais feliz do que foi ou mais infeliz do que era... Contra o que lutava? Ainda tentava se equilibrar na ponta dos pés, e milagrosamente atravessava o dia, exausto de cansaço chegava para dormir para no dia seguinte recomeçar tudo igual. Essa era a realidade da sua vida, e daí se não tinha coragem? Nesses instantes era que a odiava, e tinha gana de apertar seu pescoço, até fazê-la sumir de dentro de si. Queria matá-la, mas tinha medo que ela morrendo não sobrasse ar para ele respirar. E terminava por rir sozinho, contraditório amar ele admitia, era gostoso sentir tanta vida dentro de si. Vida Minha, minha vida, nela toda revivida.

Deitou-se, espreguiçando-se lentamente na cama nova, sorriso bobo ainda na face, ao lado viu o livro recém-adquirido, abriu-o num impulso, tentativa de tirá-la da mente, "dona da minha cabeça", riu lembrando da música. As frases que ia grifando entravam silenciosamente dentro de si, "Quebrar padrões de rigidez, aquela espécie de lista interna "isso pode, aquilo não pode" que carregamos, mesmo sem tomar consciência o tempo todo. Abrir-se para oportunidades e possibilidades, e quando desse vontade, FAZER. Renovar-se agora. Permitir-se ser outro nesse instante. Jogar fora conceitos obsoletos, a segurança da certeza, o apoio que não lhe levava a lugar algum. Dar um fim na monotonia dos dias, deixar o vento levar as lembranças e cicatrizes que impediam de ser feliz. De se arriscar. O que você gostaria de estar fazendo agora? FAÇA. Nada mais de procrastinar, de adiar VONTADE, de frear sonhos ou podar DESEJOS. Curtir, se mover, romper limites, mudar. Realizar e experimentar coisas em que seu coração vibrava. Parar de construir obras que outros iriam gostar. Romper padrões, quebrar regras.

Hahaha, quantas frases lindas, belo ditado... Parecia tudo tão simples! Onde apertava o botão? Não espere perder para sentir que era necessário ganhar. Aprenda a viver pra não passar sobrevivendo de sobras. Quanta baboseira, auto-ajuda servia mesmo pra quê? No fundo, sabia que essas tolices lhe incomodavam. Dissimulou pensamentos e desejos despertados, e jogou o livro displicentemente no chão. As desculpas que usava para adiar tudo eram essenciais, como podia desistir delas? Ficou pensando na pergunta inicial daquela chatice de salvação-livro, "o que fazia ele sorrir, do que ele sentia falta quando imaginava que tinha tudo que queria. Errou o autor, devia era indagar "o que ele estava esperando pra recomeçar a sentir-se feliz." Fechou os olhos, tentativa para dormir rápido e evitar pensar demais. Ajuda, ajuda... ele precisava era de ajuda. Por que você não me ouve, menina-que-me-faz-feliz? Se ele errava, culpa dela porque não interrompia os passos dele. Sim, tudo no final era culpa dela. Agora era raiva o que sentia, a raiva o fazia dormir sem chorar, sem sonhar, sem sentir aquele vazio... Mais raiva por ela não estar ali. Ao alcance de suas mãos que insistiam em alcançá-la... Vem, vem... atravessa a rua, me encontra na esquina, vem...

sábado, agosto 04, 2007


Suspiro. Pra Expirar...

É comum, o homem que eu amo. Desses que passam na rua sem se notar. Mas resplandece em meus braços. E sorri, quando lhe afaga, sem aviso, no meio da tarde, a lembrança dos meus lábios nos seus lábios. O meu gosto. Então, roça, em pensamento, a minha pele, arranha com a barba a minha nuca, percorre-me, penetra-me. E deixa que se lhe aflore o desejo, e permaneça, sabendo que me terá, quase sempre, à hora certa. Quando queira. Embora me saiba um pouco além do alcance imediato de suas mãos. Assim que o avistei, à minha espera, em algum ponto naquela Parada, hesitei. Tive ganas de dar meia volta, e partir, medo-medo-medo, medo assim. Mas ele já me vira e se aproximava sorrindo. Penso sempre nele nessa hora. Às vezes, desse dia, lembro dos olhos verdes, que para mim são mais cinza-mutante, o jeito exclusivo de andar e abraçar. Mão forte na minha mão. Esse o instante quando percebi a sua boca. E sem dizer palavra, me deixei beijar. Ah, aquela boca daria um romance. Mas como, não sendo escritora, não saberia escrevê-lo, tratei de aproveitar. E pelos próximos três dias, vesti-me daquela boca. Duro foi ter que desvesti-la, à hora de regressar. Quanto havia ainda de sonho por trás da boca minha sem batom e dos seus olhos cinza-mutante, quase cansados. E quanto de desejo! Duas noites sem dormir, feira por fazer... À hora em que, casquinha de sorvete à mão, lambia lenta e delicadamente as bolas. Deliciando-me em dobro. A relembrar outros jogos de língua. Em tardes distantes.

E por vir.


Quase-tudo da Márcia Maia.

sexta-feira, agosto 03, 2007


Novelo-no-fio-do-telefone.


- Oi.
- Oi.
- Pode falar, agora?
- Tô falando, agora.
- Tá, já vi que tá brava.
- Não, tá ouvindo que tô muito brava.
- Quer falar?
- Do quê?
- Sobre o que tá incomodando.
- Não gosto de falar dos outros.
- Só desta vez não quer soltar a língua, meter a boca...
- Não posso. Tem uma promessa IDIOTA.
- Tá, tô indo aí.
- Pra quê?
- Ora, já vi que você quer é cafuné, chorar e ouvir Eu soltar o verbo.
- Pode ser. Demora?
- Abre o portão. E tem pessoas que não entendem o que você fala. Eu não entendo isso.
- Adoro ouvir sua risada.
- Então desliga, porque odeio pagar conta de celular.

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"Na África, todas as manhãs uma gazela acordava sabendo que ela deveria conseguir correr mais do que o leão se quisesse se manter viva. Todas as manhãs, o leão acordava sabendo que deveria correr mais do que a gazela se não quisesse morrer de fome. Não faz diferença se você é gazela ou leão, quando o sol nascer você deve começar a correr."

"Se você quer chegar a um lugar ao qual a maioria não chega... precisa fazer algo que a maioria não faz"

Marte-e-Vênus.

Tem pessoas que se guardam na geladeira. Era isso que eu queria falar pra você. Passei a semana inteira com uma lembrança da minha adolescência, e talvez seja a solução. Vou dizer bem rápido, porque hoje estou enrolada, mas tempo pra pausar...

Um dia, lá atrás, me chamaram, fui pra rua ver o muro da esquina: "Amor é igual chicletes, a gente usa, masca, e quando perde o sabor, joga fora". Iniciais acima e abaixo do negritado provérbio popular. Olhei para os lados, dei risada, fiz troça, e desabei no meu quarto. "Filho-da-puta, o que é que eu fiz pra você me odiar assim?" Não sabia de onde vinha tanto ódio, tanta raiva, eu que não tinha feito nada (refletia, passava a limpo, e nada). Tanta desordem instalada entre nós, agora um muro, quase um outdoor. Depois da raiva e lágrima, a tristeza se instalou, tomou conta de vários dias - ficava dentro de mim indagando o que eu poderia ser para ter feito alguém sentir tanta raiva a ponto de ferir alguém inocente. Porque eu não tinha feito nada que ele não tivesse "mandado" eu fazer. Passou tempo, passou momentos, passaram horas... e em outro dia nos esbarramos. Eu com o muro ainda dentro de mim. Ele com "tudo aquilo" dentro de si.

O que você quis dizer com aquilo? Tive que pintar o muro, idiota.

Disse o que estava ali. Que te amava, e odiava amar alguém que sabia ficar em silêncio, longe de mim. Queria ver você maluca, correndo atrás de mim. Ligando pra mim, pra eu poder desligar na sua cara. Queria ver você mandando bilhetes de amor, pra eu poder mostrar para os outros - 'olha, ela me ama, não falei?'. Queria você no chão. A meus pés. Porque era assim que eu estava. Completamente apaixonado".

Não era mais fácil dizer que me amava? Que em vez das muitas que você namorava, era comigo que queria ficar? Não é mais fácil dizer o que a gente sente, em vez de se opor ao sentimento? Tanto conflito, por nada.

Não é mais fácil você ser como todo mundo? Se descabela por um homem, mulher. Porque por um garoto, na sua adolescência, você jamais foi capaz. Que eu saiba, até hoje você se guarda na geladeira. A Rainha da Geleira. Iceberg dos meus quinze anos.

Eu realmente não compreendo a forma de expressar que muitos homens utilizam. Pra dizer eu te amo, dizem que são livres, que querem paz e sossego. E te empurram pra bem longe, verborragicamente. Se querem voltar, dizem o quanto estão bem, enfatizam sua vida maravilhosa, só pra ver se você vai chorar ou dizer que não está bem. Ah, sem falar em um que disse que meus pés pareciam ser enormes. Levei anos pra olhar para os ditos, e deslumbrar a beleza que todos viam. Por causa do moço que, em vez de dizer "eu amo ATÉ seus pés", soltou o citado apanágio. Por linhas tortas, querem atingir o alvo. Ai, ai, ai... Fico cabreira com qualquer "Eu te amo" para o meu lado. Uma frase que (muitas vezes) "não quer dizer" nada, além de um "gosto até bastante de você".

Porque o que fica oculto, é o que mais profundo toca. Pensem nas cartas que não mandaram, naquilo que não disseram. Nas pessoas que tanto quiseram. Naquilo que fica, toda a vontade do coração. Quanto tempo leva pra gente aprender que "amo você" pode ser dito de tantos modos, não precisando cair no esquema odeio-que-você-não-me-procure? Às vezes, basta o silêncio.

P.s.: A força das palavras é imensurável. Lembre que quem escreve, constrói um castelo, e quem lê, passa a habitá-lo. Quem ouve, toma posse da morada.

2005/dezembro.

Nasci pra ser do contra. Sou complexa, mas me tornei simples. Contraditória, caminho coerentemente. Enigma, ouso ser transparente em cada olhar. Ainda adoro quem tenta me devorar ou me decifrar - aquelas pessoas que sabem agarrar algo quando sentem que querem aquilo, pra sempre. Não sou de decorar nada, mas levo comigo essa frase: "Não há determinismo ou escolha absoluta: jamais sou coisa, jamais sou consciência nua". Sou festeira, sou caseira, não faço poesias, mas posso colocar outdoors pra explanar meu amor. Surpresas me atraem, me desafiam, me excitam. Péssima cantora, inclusive de banheiro, mas ao pé do ouvido sei dizer aquilo que todo mundo quer ouvir. Adoro dormir, cama, o meu quarto, andar descalça pelo mundo, sem grande afetação. Sou amante do Inverno, vento nos cabelos, bochechas rosadas e da fumaça que sai em baforadas. Quero ir pra Budapeste, e deixo Paris para outros. Às vezes a gente tem que abrir mão de certas coisas para conseguir outros sonhos. Gosto de compartilhar afetos, sentimentos, amizades, e também tenho necessidade daquele tempo de solicitude, só pra mim, pra sentir tristeza, saudade, alegria, felicidade, ou apenas ficar sem fazer nada. Devota de Santa Bárbara, e Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, incluí esses dias a virgem de Guadalupe, por achar que as santíssimas devem sempre serem três.

Adoro escrever, é essência, paixão. Minha profissão, estudos e teses, Causas e debates. Opinião alheia, a paixão inflamada nas palavras dos outros - isso me fascina. Até onde vai um homem pelo que ele Ama? Aceito toda forma inteligente de pensar, descompromissada de preconceitos e cheia de respeito. Não sou muito ligada em computadores, fico dias com preguiça de ligar-me a esse mundo virtual, que ainda me deixa com um pé atrás. Sou sim, ciumenta. Desconfiada, olhos nos olhos é minha paixão secreta, e conhecer uma pessoa pela palma da mão, outro segredo. Do meu tempo eu faço o que eu quiser, do amor eu faço o meu caminho, e quem quiser dinheiro, já digo: hoje não tenho um tostão. Ainda me acho tão menina, não ligo pra data de nascimento, mas ao mesmo tempo sinto que meu tempo passou, e a colombina que havia dentro de mim não volta mais. Será que desaniversários fariam diferença?

Da infância ficou o gosto por Monteiro Lobato, Emília, os disquinhos de historinha de uma coleção colorida, e a fixação por dicionários e verbetes. Amo amar, ser amada, cuidar [às vezes displicentemente] de animais e plantas, gosto de coisas simples, mas também adoro me produzir e andar bem vestida: salto quinze, perfume francês. Não curto política, datas fixas, horário e pessoas com fixação no relógio. Amo céu coberto de estrelas, terra cheirando a chuva, cama com box duplo king-size, quatro travesseiros de penas, lençóis de algodão, cobertor peludão. Tenho paixão pela cozinha - pratos simples ou alguma receita sofisticada, de preferência que inclua nozes. Ainda curso gastronomia em Itajaí, me dêem trinta anos. Viagem e mochila nas costas é programa que gosto mesmo; vinho, licor, batida de coco são coisas que muitas vezes me fazem invadir outros mundos... Sou apaixonada por livros, leitura, quero ter uma biblioteca imensa até meus 80 anos, não gosto muito de piadas sem graça, nem de poesias chulas, detesto dar festas, e sentir ansiedade de esperar convidados.

Carrego mil cadernos de memória em baús enfeitados, já aproveitei muito cada fase da minha vida, houve algumas que saltei sem para-quedas e foi morte e suplício na certa. Lembro de certo dia em que fiquei assim - meio-bêbada por tequila, sal e limão, mas nada que me fez perder a cabeça ou as lembranças do dia anterior. Sou conservadora quanto a drogas, gente chata e vulgar. Não gosto de sexo por sexo, sem sentimento. Amo gatos peludos, banho de chuva e orvalho. Não tenho medo de muita coisa, mas adoro me sentir protegida. Já perdi muita coisa, mas conservo tudo dentro de mim: as lembranças não morrem, mesmo que enquadradas em algum caderno, coloridas e redescobertas. Sinto orgulho em ser uma pessoa sincera, honesta e filha de alguém cheio de moral e príncipios. Digna dos amigos que tenho. Não me culpo, nem me recrimino por já ter me relacionado com pessoas que não eram boas companhias: o que não me espelha some feito fumaça da minha vida. Tenho dificuldade em dizer tchau, oi e sinto muito; não gosto de telefone, e é muito difícil eu entender um "eu te amo" se não tiver exatamente essas palavras. Sou mesmo distraída, indecisa, impaciente, feito oceano, se moldando a cada maré...
Quero tudo (e sempre mais)
amor, dinheiro, saúde, felicidade.
Quero mais (e sempre tudo).
Quero Você, além de aqui
Dentro de Mim.