terça-feira, dezembro 27, 2005


Flores de Oleandro:.

Primeiro, o livro. Em dois dias o li, irresistível! A linguagem usada mescla a clássica estrutura best-seller, mas com tamanha elegância, que vale a pena cada minuto nesse mundo-de-páginas, onde nos deparamos por diversas vezes, com definições e acontecimentos que poderiam constar de nossa trama. Foi tamanha a curiosidade que vim pesquisar qual era o filme que envolvia o dito livro desta escritora maravilhosa, Janet Fitch. Neste mesmo dia, no livro-do-guru Osho, que fica no posto de gasolina, à disposição de clientes vips, encontrei esta frase: "Amores aprisionam. E não há amor maior que se compare a uma prisão do que uma mãe por seu filho". O restante, ah, não deu tempo. Eram só dez litros... Mas quem ler esta história maravilhosa, verá que tem "tudo a ver". Pois é, coincidências não existem, apenas as usamos para justificativas bobas.

O filme tem as duas estrelas que adoro: Michelle Pfeiffer e Renée Zellweger. E conta a inesquecível história de Astrid, uma menina que viveu uma odisséia pelos lares adotivos de Los Angeles (cada um deles com seu universo próprio, suas leis, perigos e lições), que se transforma em uma jornada de conhecimento pessoal. Depois de presenciar sua sedutora mãe, Ingrid (Michelle Pfeiffer) matar o namorado por tê-la abandonado, Astrid (Alison Lohman), de 15 anos, será afetada por toda a sua vida. A partir daí, esta jovem está totalmente só. Nos três anos que marcam sua passagem da infância para a juventude, Astrid precisará aprender o valor de ser independente, corajosa e forte, além de saber perdoar, amar para sobreviver e, assim, conquistar a antiga liberdade.

NOTAS DA PRODUÇÃO
"Assim que o produtor John Wells recebeu um exemplar do romance de Janet Fitch White Oleander, ele o leu em uma só noite e, imediatamente, comprou os direitos para filmá-lo. “Os personagens foram lindamente delineados”, comenta Wells, famoso escritor, diretor, produtor e um dos criadores de ER, The West Wing e Third Watch. “É um livro extraordinariamente bem escrito, com personagens indeléveis e uma mensagem muito positiva. Senti-me totalmente envolvido na jornada de Astrid.”Wells ficou impressionado como o romance desenvolve bem um tema tão universal como é o ato de crescer, uma experiência difícil, que nos definirá como indivíduos e nos distinguirá de nossos pais. “Se nos deparamos ou não com as adversidades que Astrid precisa enfrentar, é uma etapa que todos devem enfrentar durante a adolescência,” diz Wells.

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Do livro, continuo afirmando - vale mesmo a pena! O filme, ah... é uma merda.

“O lado bom do amadurecimento é a de tomarmos consciência de que nossos pais têm seus próprios deslizes e frustrações, que são humanos e não onipotentes. Mesmo que o amor deles seja verdadeiro, é tão imperfeito quanto eles e devemos aceitá-los como são e ir em frente.” Lembra o Oleandro o estranho relacionamento, belo aos olhos, mas causa envenenamento se sugar o néctar de suas flores, mascar suas folhas, usar seus galhos como espetos para assar carnes ou consumir o mel produzido por abelhas que usem o néctar de sua planta. Tem coisas que servem somente para deleite.

segunda-feira, dezembro 19, 2005


Começo:.

Que Deus dê a todos um Final de ano maravilho, um Natal cheio de amor para aqueles que comemoram essa data, e para os outros, que o Amor os envolva, dissipando sombras e tristezas que o ano trouxe. Imagine que ele já se foi... e amanhã, novo sol, orquídea e girassol na janela.

ponto de sombra.

Eu sempre gostei de terminar tudo. Com um ponto final, sem deixar reticências. Talvez por gostar de começar do zero, de viver e não sobreviver... Porque eu sei o quanto a vida é êfemera. E acredite que o Outro também deva ter essa conscientização; eu não posso ser olhos, ouvidos ou ponto de história para ninguém. Mas posso servir de Anjo, cuidar e mostrar o caminho, indicar as luzes e insinuar, entre muitas cores, onde está aquela que o preenche. Um dia eu escrevi algo "especial", e nem sei se foi lido... também não me incomoda mais a falta de interesse, ou a subjetividade e mentira por trás das justificativas. Há pessoas que temem dizer o que sentem; que tem dizer a verdade com medo de magoar; e terminam machucando muito mais ocultando enigmas e expressando mentiras veladas. E arrematando o ano com um laço, bem grandioso e digno de Amor, evoco o melhor momento. Através de pontos de sombra...

Certa tarde, daquelas chuvosas onde sua alma está triste e o coração amargurado, recebi uma mensagem - e decidi fazer algo que não tinha feito. Dizer a alguém o quanto ele tinha sido especial antes do acontecimento extraterrível; que não sabia distinguir qual era a pessoa que eu havia conhecido: se a de antes, cheias de palavras, ou a do depois, cheia de "falta de ações". Confessei minha mágoa, e não lembro se disse que não o perdoava por eu ter sido enganada e desrespeitada, assim, num zumpt-zapt, num estalar de dedos e esmagar de razões supremas. Kant adoraria fazer uma análise sobre a falta de princípios do ato. Eu, hoje, não busco e nem quero mais nada: apenas me desvencilhar do ano que passou e do momento que ficou, preso a esta pessoa.

Todos sabem que a vida não é eterna, que nossa passagem por aqui é rápida. E tudo o que hoje é rotina, amanhã de repente, não é mais. Mas alguns não tomam conhecimento dessa efemeridade, com medo de viver, porque já se acostumaram a sobreviver. Sobreviventes não sofrem tanto, e nem perdem mais nada, porque não se entregam a nada, a não ser a eles próprio. Se Ele soubesse o valor de cada momento que surge em nossa vida, talvez pensasse duas vezes antes de jogar fora oportunidades de "ser e fazer" alguém amado e feliz; e deixar de depositar vãs ilusões em cima de pessoas que "são cenas trágicas de cinema" - pura ilusão de ótica. Saberia apostar no azarão, porque na perda muitas vezes a gente ganha tudo. Quem sabe prestaria atenção àquela pessoa que surgiu do nada, e valorizava as palavras e ações. Mas o tempo... ah, o tempo, só ele sabe o momento certo.

Gosto de imaginar que nosso relacionamento, como uma flor, foi colhido cedo demais. Em botão. Que por um tempo Ele sentiu algo por aqui... Porque racionalmente sementes nunca vão brotar, flores precisam de sentimentos para viver a vida inteira. Olhando para trás e vendo, pétala por pétala, aquilo que acreditei ter virado vento e possivelmente pó, tento crer que foi por algum motivo especial. Porque há pessoas que não sabem adivinhar, nos olhos de uma pessoa, onde elas se encontram. Muito menos conseguem olhar na palma dessa pessoa sua vida ali, cruzada e bem marcada. Jardineiros descuidados, apressados em tomar decisões, peritos em lógica racional. Deixar para trás algo que não foi o que esperava é normal, já que "deve ter tido todos os seus sonhos atendidos" como mágica, no momento que ousou pedir. E assim, se privou de expressar aquilo que jamais teve chance de expressar; e também deixou de viver o que sempre pediu e buscou. Eu me calei, quando deveria ter dito, com muita raiva, o quanto estava insatisfeita em saber que a coragem e o amor que eu presumia que havia por ali se evaporavam a menor fumaça de discussões ou contradições.

Contudo, o tempo passa. E se o abraço e o olhar se foi, a vida não pode me cobrar por perder uma oportunidade. Eu fiz tudo o que me era possível fazer - mais seria invadir um território que é sagrado, a sua intimidade. Tem uma autora portuguesa, Maria Filomena, cujo livro tem como título "ponto de sombra". Ponto de sombra era um tipo de bordado, famoso em Portugal, cruzado, feito pelo avesso, em tecido transparente, fazendo com que a linha seja somente delineada pelo direito. Minha avó era mestra nessa arte; e Ele é a descrição perfeita desse tipo de bordado. Poderia começar a chamar esse momento de olhar, onde me descobri dentro de outro alguém, como "Ponto de sombra". Porque começamos pelo avesso, contando tanta coisa escusa e mal-versada, retiramos as mentiras e prometemos enveredar somente pela verdade, para evitar desenhos enganosos no direito. Omitimos certos defeitos que nos machucavam, à época, muitos ainda agora presentes.

O que quero, nesse final de linha, é, embora assustada pela dimensão do que um momento e uma pessoa pode trazer a uma vida, desvencilhar-me dessa história. Porque quero aceitar que Ele seja uma daquelas pessoas pouco curiosas em olhar para o Outro, que não percebem o que jaz dentro de cada um, e contentam-se apenas com aquilo que o fato mostra: "um bordado linear, harmônico, sem saber que, por baixo daquilo, esconde-se uma trama dócil e amorosa". Digamos que eu passei muito tempo tecendo esse bordado, e agora quero passar para o outro lado, enredada nas linhas do avesso. Quero alguém que ouse ver minha transparência, mesmo eu estando completamente vestida. Porque não sou um fato, ato ou momento: sou uma série de dias cruzados, felizes e amorosos. Nada de teorias: a coisa aqui é simples - basta, mesmo em meio a completa escuridão, jamais se desvencilhar da minha mão, e sempre confiar em mim. Não precisa entender o porquê, nem necessita procurar justificativas, apenas necessito que me ame, a ponto de se jogar para trás, esperando que eu esteja atrás, pronta a lhe sustentar. Porque eu posso, a primeira vista, não ser tudo aquilo que você enumerou, listou e colocou como "prioridade" - porém, tenho certeza de que seria capaz de solucionar a única procura que você anseia: a sua busca em ser amado e amar pra vida inteira.

Não sofre menos quem o reconhece. Sofre quem finge desprezar sofrer. Pois não esquece. Isto até quando? Só tenho por consolação, que os olhos se me vão acostumando... À escuridão.*

*Fernando Pessoa.

domingo, dezembro 18, 2005


Sonhos...

Sonhava com uma casa assim: cheia de amor, teria varanda, um lugar mágico pra onde querer ir, todos os dias. Junto dele sempre surgia alguém: era moreno, não via seu rosto, mas sua mão aparecia pousada sobre um cachorro. Seu lugar predileto era perto de uma árvore, e lembro que por diveras vezes ali chorou. Em algumas pela perda de alguém de sua família, nas mais recentes as lágrimas caíam por alguém que lhe havia machucado o coração. No sonho, eu procurava falar ao seu ouvido que era hora dele partir, de procurar outro porto, de me encontrar. Era hora dele ser amado; por inteiro. Era hora dele se apaixonar. Mas teria que ter coragem - pra cortar laços, pra viver sozinho, pra me perder uma vez, e pra voltar atrás e vir atrás, quando percebesse a falta e o amor que sentia. Seus olhos, um dia, encontraram os meus... Eu nunca esqueci desses sonhos - eram constantes. E provocaram muitas risadas, atos hilariantes, porque quando encontrava uma pessoa interessante eu logo perguntava: "tem cachorro? Tem sítio? Tem alguém que morreu na família? Perdeu alguém por amor?" Lógico, aos poucos... pra não imaginarem a louca que sou em crer em "sonhos meus". Mas sonhos são uma espécie de antecipação de realidade, e um dia lá estava, aqueles olhos nos meus. Não era do tamanho que eu cria, nem tinha a coragem de um leão. Pelo contrário: tímido, silencioso, pra dentro. Calado. O que ele falava, mais da metade ficava trancado, e eu tinha que acessar o tradutor... Porque tudo naqueles olhos cujo rosto parece sempre estar feliz e alegre me diziam a tristeza que já sentira.

Eu não sonho mais com ele. Porque no momento em que eu precisei de compreensão, ele foi racional como um dicionário, e colocou um ponto final sem minha permissão. Me deu uma rasteira, e não pediu desculpas pela decepção. Não é uma questão de ego; apenas de sentimento. Porque ainda sinto sua tristeza, seu mundo e seu olhar, dentro de mim. O que foi é que ele fechou a porta, na minha cara, me mandou pra rua, e esqueceu de retirar-se de dentro de mim. De repente, estava na chuva, carregando alguém pra sempre, sem poder saber pra onde ir. Claro que guardo mágoas - detesto pessoas que não confiam em mim cegamente. Detesto pessoas que de repente se soltam da minha mão, e me deixam na praça, sem eira-nem-beira. Detesto mais ainda esse momento, porque eu sei o que essa pessoa representa, e o sentimento que ela é. O que eu peço pro Papai-Noel esse ano é fazer com que essa pessoa comece também a acreditar em magia, amor e visão. Sonhos e paixão. Quero que ela saiba quem eu sou, do mesmo modo que eu a vi. E prometo ser boazinha, sem muito sermão e dificuldades, para esta estrela cintilante voltar a brilhar no meu firmamento. Não há tempo, nem vida sem amor...

terça-feira, dezembro 13, 2005


"Se o que você pede, você consegue fazer, então arregaçe as mangas. Porque o setor de Deus é o dos Milagres." Bem, do Papai-Noel é o setor econômico, que desfigura o princípio constitucional da igualdade, e me faz sempre ficar cheia de culpa ao entrar nas Lojas Americanas, e ver minha filha passar a mão num boneco Morangão maior que ela, e não poder levar. Enquanto vem outra, e lá se vai o lendário. Pra que tudo não resulte numa incrível choradeira, tem sempre uma estória. Lembra filha o filme dos monstros que a gente assistiu? Aqueles que eram bonitinhos e depois comeram a familia inteira? Não parece meio igual?

diferença:.

Tinha um concurso (só para assinantes), do Estado do Paraná, onde se pedia uma frase para demonstrar a diferença crucial entre sua irmã e você. Bem, entre eu e minha irmã (que amo demais!) é que ela gosta de pps. E de mensagens da Martha Medeiros. Do Osho. De Auto-ajuda. Mas é do meu email que lembram... Direcionar todas as mensagens doces, suaves e angelicais, todos os dias, só não é pior que carne de porco.

Palova:.

Entendo agora o que despertou seu interesse em Budapeste. "Igualdade, querida". Somos reflexos daquele cego que tenta nos orientar, a beira do metro. "Somos também parte daquela falácia, daquela mentira e daquele esplendor falso". Se ele não fosse cego, e protegido pelas leis internacionais de Budapeste eu com certeza teria roubado-lhe um beijo. Só pra saber como "eu beijo". Porque nunca me vi tão ali, presente...

Qual é o seu sonho?:.

Esta era a pergunta que tínhamos que responder em certa formalidade idiota. Vê se sou pessoa de ficar falando de meus sonhos assim, pra todos ouvirem e baterem palmas. Sonhos eu guardo, tranco em caixas bordadas, escrevo com caneta especial, decoro com fotos maravilhosos... Os sonhos são meus e tão íntimos, que às vezes eles se tornam mais poderosos do que eu, a própria sonhadora. Mas era uma obrigação, um dever responder a questão: chá das cinco e sociedade me causam repulsa. Poderia até falar que foi, diante disso, que a caneta parou. Contudo, eu não minto. Lei primeira das Joaninhas - a verdade é margem do nosso caminho.

Eu não sabia mesmo o que colocar ali. Qual é o meu sonho? Se pensar em tanta coisa boba e fútil que quero, bastaria eu dizer: "ganhar milhão e meio de dólares". E daria pra comprar o cão, a casa, o sítio, viver de renda, investir no mercado de defensoria privada contra atos de imobiliárias abusivos e coercitivos, o gato, as viagens.... o mestrado e o doutorado, na Espanha. O curso de inglês na Austrália. Acho que ainda sobrava pro carro e pra faculdade do meu filho. Mesmo assim, me achei idiota se colocasse "como sonho" dinheiro. Coisa estúpida e tão rasteira essa coisa de querer dinheiro! Sonho é pra provocar frisson, dor no coração, ataques de asma e riso. Sonho é pra sonhar, e só.

Lembrei daquela redação que passava correndo, de correio em correio, pela net, de certo candidato a vaga na Volkswagen. "Qual sua experiência"? Mesma pergunta boba: experiência do que? Se não fosse a minha educaçao tão européia a resposta sairia na mesma desordem. E o nome assinado também me conferiam certa prisão.

"Sim, eu tenho um sonho. E uma certeza de que ele vai se realizar. O quando não me interessa, porque sonhos são acalanto e esperança. Sonhos são pra se guardar, dentro do coração, pois inconfessáveis. Mas já fiz tanta coisa que nunca sequer cheguei a sonhar. Já li "As Aventuras do H. Finn", e coagi amigos a entrarem em casa assombrada; eu confesso que não fui porque nunca fui boa em pular nada. Uma vez, numa fazenda, um touro se soltou, e todos pularam a cerca pro outro lado. Era de arame, e eu não conseguia - porque eu sabia que aquilo iria doer. Mesmo sabendo que o touro provocaria mais estragos. É, tive um salvador. Quando eu tinha dez anos, aprontamos algo muito chato, e eu fui a unica que apanhei mesmo, porque meus primos e irmãos subiram numa árvore e ficaram por lá duas horas. Até hoje não me conformo com isso: eu salvei aqueles trastes de uma surra dolorida de chinelo havaiana!

Eu tinha um sonho de cruzar o oceano; mas com seis anos a bóia daqueles pneus enormes virou, e eu fui a última a ser salva. Porque eu era a mais resistente, foi o que meu pai disse. Não sonhei mais com voltas ao Atlantico, porque não queria mais ser forte, e passar tanto pavor. Nunca fugi de casa, mas já passei tanto tempo fora, em casa de parentes, que esquecia de voltar. Bati nos meus irmãos dia sim e dia sim. Eles precisavam ser corrigidos. Confesso que metade de mim sempre foi uma ditadora. "Tomar banho, agora!". "Entrar em casa, sem um pio!". "Pegar isso, comprar aquilo, fazer já". Eu já fiz muita gente chorar... e chorei por dentro, pra que não visse o quanto eu estava sofrendo.

E, pra confessar, como não pertenço a nenhum grupelho especial, decidi colocar o que acho meio impossível - porque certos sonhos devem ser assim - difíceis, imprevisiveis. "Eu quero meu nome lembrado com tanto amor como da Madre Tereza, com a reverencia do Fidel Castro, com a genialidade do Einstein, a perseverança do Ghandi, e a nobreza de coração do meu pai". Se isso der dinheiro ou não, não importa, o que quero, é Amor.