domingo, março 26, 2006


Pés em polvo rosa:.

ICONOGRAFIA INTERNA DE UMA MULHER SIMPLES

Quem vai embora, leva a sua memória
seu modo de ser rio,
de ser ar,
de ser adeus
e nunca.

Rosario Castellanos

Quem reconhece a mulher que ama, à primeira vista? Aqueles desprovidos de fantasia conseguem tal proeza? Os que não temem aproximação, intimidade? Pois a vida não pára, a memória do corpo nunca entra em minúcias tal e qual o conhecimento e compreensão das palavras, e do escuro da imensidão de uma mulher. Cada corpo vai lembrar, do outro, aquilo que lhe deu mais prazer, não aquilo que o diminuiu. Memória estranha, mas muito mais generosa, é aquela que a retina vê, atrás de uma iconografia qualquer. Através das palavras soltas, a imagem da mulher... o tato, já desgastado pelas mãos acostumadas a rotina, excessivamente vão levar para trilhas erradas. Só o coração visualiza atrás do quadro, o esplendor do amor. Olhos imensos, negros, bem abertos e assustados, o fato de termos nos escolhido, cada um a seu modo, a sós e em liberdade, significou pacto instantâneo, espontâneo, sem papéis, sem testemunhas, e quando e por fim nos abraçarmos, aquém e além do que havíamos decidido e imaginado, saberemos enfim o que nos reuniu. Porque sabíamos ser duradouro, ficamos em definitivo. Talvez pela minha mente, o vento sussurre, frente a forte chuva: todo o duradouro que o transitório admitir...Se eu fosse revolucionária, queria ser Flora Tristán. Hoje, a presidenta do Chile. No ontem recente, Jacqueline Kennedy Onassis. Uma contradição conspiratória... porque no fundo sou tudo isso, um pouco mais. Para não esquecer: não sou lobo, sou chapeuzinho vermelho. Fácil, assim. Simples. Leal. Com capinha, ouso voar, e correr com os lobos, até matar alguns afogados no mar. Chapeuzinho tinha um lado perverso com quem fazia mal a sua vovozinha: esmagava pedrinha e jogava tudo no poço do oceano sem fim.

PoynterMark

A história que cada um contará é que é interessante: várias versões, todas baseadas num mesmo fato. Como um iceberg: tantos e muitos só enxergam acima, e desenvolvem mil e um contos sobre o bloco navegante no meio do oceano. Aqueles que vislumbram a profundidade da Ternura Glacial podem conter pedaços que você fantasiou existentes, e assim, de um dia para outro, tudo desaparece feito mágica. Pirlimpimpim. Pensando em Saramago, que recomendava: pare de tecer o futuro, se aquiete no presente, e quem vier atrás, que feche a porta. Uma recordação.Um livro. E tudo de repente é como entrar numa ilha desconhecida... De maneira que inventamos nossas lembranças, o que é o mesmo, como Rosa montero diz, que inventarmos a nós mesmos, porque nossa identidade reside na memória, no relato de nossa biografia. Portanto, diz a escritora, todos somos autores de um único romance cuja escrita dura a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas. É um runrum criativo que nos acompanha enquanto dirigimos, ou levamos o cachorro pra passear, ou mesmo quando tentamos dormir.

PeruginiSchuster

Todas ramos da mesma mulher: Que lê Clarice, e adora o estilo uruguaio de Mario Benedetti, curte Paixões, de Rosa Montero, e livros de culinária e direito. O tempero é pimenta; porém são 4 tipos existentes, que forram a prateleira. Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, um catálogo de estilos, onde tudo pode ser constantemente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis, já dizia Ítalo Calvino. Que Gafe, afinal? Eu. Declamava Clarice Lispector que "cada um é a própria gafe muda. E a felicidade de encontrar um dia um coração que pulse junto ao nosso, irmanados nas doçuras e agruras da vida, coração amigo que nos conforte, alma pura que nos adore e leve ao céu doce balada de amor, a mulher querida com quem sempre sonhamos..." Coisa Inesperada, Imprevista, e Oportunista - Agarrar o momento certo, e preencher-se de luz e esperança acesa é para poucos.

Perfil literato:.


Não leve muito a sério minhas definições, previsões, sussurros. Ou quem sabe, guarde secretamente tudo, porque ali está todo o fio da meada. Simplesmente tenho atração pelos enigmas, adivinhações, o que representa em mim exposto na imagem... a escuridão de dentro e a inclêmencia de fora, que nos protege do mundo, e então eu me abraço, tão ternamente quanto possível, pra desafogar aquele cultivo de ausência por tantos anos ativo..." Deixaria, no meio do seu livro preferido, de cabeceira, pra ser decorado, traduzido e assimilado esse caco de papel-camurça azul:

te amo por cejas, por cabello, te dabato en corredores blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz, te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz, voy poniéndote en el pelo cenizas de relámapago y cintas que dormían en la lluvia, no quiero que tengas una forma, que seas precisamente lo que viene detrás de tu mano, porque el agua, considera el agua, y los leones cuando se disuelven en el azúcar de la fébula, y los gestos, esa arquitectura de la nada,
encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro. Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo. Pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco con ese pelo lacio, esa sonrisa. Busco tu suma, el borde de la copa donde le vino es también la luna y el espejo, busco esa línea que hace temblar a un hombre en una galería de museo. Además te quiero, y hace tiempo y frío.


Julio Cortázar que, em espelhos, é inigualável.

Concha na Areia:.

“... as palavras são conchas de clamores antigos". Uma concha inesperada, na praia, quase desenterrada. Enorme, diferente, parece-me tão antiga, por quantas praias já cruzou? Quero escutar seu arrulho, e ouço uma pergunta: Agora, nesse momento, silenciosamente, pense nos três desejos que sempre teve, clamor antigo, jamais realizou, por esquecimento ou falta de prioridade... Visualize, eu realizo no momento certo, pra você.

1. desejo
Quero algo assim: que eu leve no pescoço, como eterna lembrança da nossa união. Dentro do coração de ouro, a foto do meu amor, de um lado, e no outro, dos meus amores-frutos. Fora, duas pedras lado-a-lado: uma turqueza, delicada, pequena, gema que para muitos serve como amuleto, espantando o mau-olhado, e que no século XIX, era a cor preferida dos apaixonados; a segunda, um topázio, que de acordo com os gregos, é capaz de transmitir força a quem o use. Se for possível, a cor deve ser de rosa-profundo.

O cordão que tudo sustenta, de ouro, rabo-de-elefante, e o tamanho dele, na medida exata para que o relicário moldado especialmente pra mim, fique pendendo diretamente no meio dos seio...Pra eu levar pra onde for meus amores, agasalhados no meu corpo.

2. desejo
Um anel tipo assim - mas em cima com um desenho diferente, especial, feito sob encomenda, contendo uma safira azul, se pudesse ser uma safira kashmir - daquele azul ligeiramente avioletado, aveludado, altamente satirada de tonalidade de média a média escura (muitas vezes descrita como flor de trigo azul), com transparência "adormecida; Safira que deriva do hebraíco Sapphir que significa a coisa mais bela, é que é símbolo da fidelidade, verdade, sinceridade e lealdade (e por isso mesmo muito usada em alianças), e também carrega o 'azul dos deuses'. Não é por acaso que os Persas acreditavam que a Terra repousava sob uma enorme safira, cujos reflexos davam a cor azul ao céu. Dizem que a safira apareceu pela primeira vez na Arábia. Nero, o imperador de Roma, recebeu de Derniero, o rei da Arábia, vária safiras e uma carta que explicava o significado da pedra. Em Harmonia, dentro do desenho, tem que conter as pedras diamante, lápis lazuli (azul diáfano) e ônix. Pra representar o anel Aliança, amor e duração. Tem que ter um nome, uma lenda e crença, um conto e magia, pro dedo mindinho. Entregue em ritual de lua cheia, com direito a música e muitos beijos. Só não quero deste tamanho, que aí não consigo dobrar o dedinho, e vou me irritar... o desejo irá virar uma maldição, se enorme e ostentação.

3. desejo
coração de diamanteNunca achei o modelo certo, pra comprar esses brincos-desejos, parecidos com os da marca "Manoel Bernardes"; mas o tamanho correto não há, e falta a agua-marinha azul em formato de coração. Um sonho de alma, perdido, que agora, fica aqui. Pra lembrar: O azul da água marinha simbolizando nossa felicidade. Dizem que esta pedra parece ter capturado a cor do oceano e os poderes revigoradores da água, e segundo a lenda sua origem é a arca do tesouro das sereias, ganhando poderes especiais quando imersa em água que o sol bateu por horas. A tradição diz que ela garante um casamento feliz e faz de seu proprietário uma pessoa rica. Considerada o talismã dos marinheiros, também atribui-se a essa gema o poder de estimular a atividade intelectual. Quero um azul de tom escuro e profundo, com boa transparência e brilho, pra indicar tudo aquilo que é o significado de Nós, conjuntamente.

sábado, março 25, 2006


Pra não esquecer:.

Fico parada, por minutos, tentando ver o que não vi até então. E após um momento, volto e torno a analisar este quadro, na expectativa de saber o que queria dizer Clarice Lispector quando colocou num conto - "se eu me demorar demais olhando Paysage aux oiseaux jaunes, de Paul Klee, nunca mais poderei voltar atrás... coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante, assusta a visão talvez irremediável e que talvez seja a da liberdde. O hábito de olhar através das grades da prisão, o conforto de segurar com as duas mãos as barras, enquanto olho. A prisão é a segurança, as barras o apoio para as mãos. Então reconheço que a liberdade é só para muito poucos. (...)É que a possibiliade, que é verdadeiramente realizada, não é para ser entendida. E à medida que a pessoa quiser explicar, ela estará perdendo a coragem, ela já estará pedindo; Paysage aux oiseaux jaunes não pede. Pelo menos calculo o que seria a liberdade. E é isso o que torna intolerável a segurança das grades; o conforto desta prisão me bate na cara. Tudo o que eu tenho agüentado - só para não ser livre...."

E continuo usando as palavras de outra pra expressar ou justificar porque faço. É mais fácil, não compromete, e me deixa livre. Pra me contradizer após algumas estações, escrever... humildade, técnica, dom, talento ou covardia de falar? Alento. Minhas intuições e sentimentos ficam mais claras, a medida que deslizo sobre comportamentos e falas de outros, um modo de não mentir o que sinto, e jamais confessar o que se passa por dentro. Porque acredito que tudo se esclareça sem muita ajuda, quem se justifica demais, em palavras e falas, confessa a ação. Com o tempo, tudo o que a gente deposita na água, vêm a tona, se for mentira, pra esclarecer névoa e fumaça. Aceito o risco de "não saber", mas esperar o momento certo de compreender a atitude de viver apaixonadamente, cada minuto, sem esperar mentira, falsidade ou desonestidade - deixo tudo com o mar, as máres, descarrilho e naufrágio resolvem as pendências.

Umbigo de Mim:.

RenoirTem um texto de Clarice Lispector, que diz:
- (Eu te amo)
- (É isso então o que sou?)
- (Você é o amor que eu tenho por você)
- (Sinto que vou me reconhecer... estou quase me vendo. Falta tão pouco)
- (Eu te amo)
- (Ah, agora sim. Estou me vendo. Esta sou eu, então. Que retrato de corpo inteiro).


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Clarice não deixa ninguém indiferente: ou se fica enfeitiçado, ou se detesta. Algumas pessoas não suportam enigmas, paradoxos ou "imprecisões" de linguagem. Palindrome. Como no filme Melhor Impossível, onde o sentimento ambíguo pelo personagem do Jack Nicholson é ressaltado, apesar de todo talento, demora a soltar seu ardor... Aqueles que precisam controlar a realidade como quem acerta um relógio; os pragmáticos mórbidos, para quem tudo tem que ter uma finalidade imediata que justifique sua existência; os avestruzes, que preferem esconder a cabeça num buraco para não ver a realidade; os pretensiosos, donos da verdade, racionalistas radicais, fanáticos de qualquer crença ou preconceituosos, esses dificilmente chegariam a perceber a riqueza e a sutileza de sua obra. Não que seja preciso um alto grau de perfeição para entender um pouco o significado do que ela escreveu. Nem mesmo cultura ou erudição. Basta um pouco de humildade, amor à palavra, capacidade de sentir com o outro. O texto de Clarice fala diretamente ao coração, e essa é sua maior dificuldade: o coração da gente quase sempre usa colete à prova de emoções genuínas. Como prisão, alguns preferem a seguraná de... a liberdade é temerária. Amarras soltas, barco ao léu, sem planejar, destino ao vento... Por onde a vida me levar, lá vou eu.

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Pra pensar...
Míriam achava que a vida só valia a pena porque as pessoas amavam. Fora disso não havia salvação. Mas sentia a garganta apertada, mãos frias, coração destemperado. Quando foi ver O paciente inglês reconheceu o sofrimento do conde Almasy... seria só fantasia? Lembrou-se tanto de si ao se ver no lugar do chamuscado, isolado do mundo, que só podia lhe oferecer a alegria que provinha dos outros. Porque as próprias memórias não eram mais suficientes para compor outra vida. Uma vida de verdade é aquilo que se procura o tempo todo? Seria o que impulsiona, dá força e tesão? Fora disso, tudo deve ser ser um arranjo consigo mesmo, um desejo reprimido pela hora de tomar todas as ampolas de morfina de uma vez. Saber que se está feio, que não vai ser possível ser desejado de novo, que Hana não estava mais ali, naquela realidade. E uma Hana é uma só para cada vida, e assim mesmo alguns morrem sem conhecê-la. Queria ser um pouco Hana. Invejava Hana e seu amor à flor da pele. Hana não chegará nunca a ser um chamuscado cheio de recordações, morrera antes, plena de vida, amando, explodindo em alguma mina que não pensou em evitar para poupar o paciente Kip. Sem medo de ser só, sem vergonha de se oferecer, sem vaidade nem pretensão nenhuma. Por que não ser Hana? Sabia que já em alguns momentos tinha deixado essa Hana escapar de dentro de si, e nesses momentos lúdicos, quase-era-feliz, se não fosse o famoso e derradeiro destino de voltar a ser "o que todos queriam que fosse", Miriam, a infeliz.

Com relação a este filme, a mesma sensação com Dr. Jivago. O amor pela Lara, girassóis despetalados...Na vocação para a vida está incluído o amor, inútil disfarçar, amamos a vida. E lutamos por ela dentro e fora de nós mesmos. Principalmente fora, que é preciso um peito de ferro para enfrentar esta luta na qual entra não só o fervor mas uma certa dose de cólera, fervor e cólera. Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas. E tem muita ferida porque as pessoas estão bravas demais, até as mulheres, umas santas, lembra? Costurar as feridas e amar os inimigos que odiar faz mal ao fígado, isso sem falar no perigo da úlcera, lumbago, pé-frio. Amar no geral e no particular e quem sabe nos lances desse xadrez-chinês imprevisível. Ousar o risco. Sem chorar, aprendi bem cedo os versos exemplares, Não chores que a vida... é luta renhida. Lutar com aquela expressão de criança que vai caçar borboleta, ah, como brilham os olhos de curiosidade. Sei que as borboletas andam raras mas se sairmos de casa certos de que vamos encontrar alguma... O importante é a intensidade do empenho nessa busca e em outras. Falhando, não culpar Deus, oh! por que Ele me abandonou? Nós é que O abandonamos quando ficamos mornos. Quando a vocação para a vida começa a empalidecer e também nós, os delicados, os esvaídos. Aceitar o desafio da arte. Da loucura. Romper com a falsa harmonia, com o falso equilíbrio e assim, depois da morte - ainda intensos - seremos um fantasminha claro de amor
Ligia F. Telles

quinta-feira, março 23, 2006


Paixão:.

Ouso me balançar entre a razão e a emoção. Sentimento e Lógica Quântica. Na política, sou razoável e racional, quando faço ciência, pura e dialética, mas em matéria de amor, parodiando Cortazar, não sou neutra, nem imparcial: sei onde tenho o coração, por quem ele bate. Pois, como ensina a canção, "lo que puede el sentimiento, no lo hay podido el saber". O tempo é minha matéria. Estar com você ou não estar com você, como dizia Borges, é medida do meu tempo.
Quando você for se embora
(...)me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
(...)me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
(..)me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
(...)me leve no esquecimento.

Ferreira Gullar

Jamais:.

Sem sonhos, as perdas se tornam insuportáveis, as pedras do caminho se tornam montanhas, os fracassos se transformam em golpes fatais. Mas, se você tiver grandes sonhos... seus erros produzirão crescimento, seus desafios produzirão oportunidades, seus medos produzirão coragem. Por isso, meu ardente desejo é que você Nunca Desista de Seus Sonhos.

Augusto Cury

quarta-feira, março 22, 2006


Impensável:.

"(...)Certos estavam os franceses do Chienlit, naqueles dias atônicos do final da década de 60, com seu slogan desafiador: "Seja Realista, peça o Impossível!". A vida é mesmo feita de conservação, e, principalmente, de transformações. Discernir entre o que se deve ser conservado e o que deve ser transformado pode impedir paixões desenganadas, trágicas, fatais. Às vezes, é preciso prudência, às vezes tudo que a vida exige é ousadia. Não é preciso se privar do prazer, só ficar atento ao risco, como Ulisses, que tapou os ouvidos com cera, e mesmo sabendo do risco das sereias, seguiu adiante, em sua Odisséia. Às vezes, no entanto, a despeito dos perigos, é preciso ousar e entregar-se à sedução da paixão. Mesmo sob o risco de arremeter contra os recifes e naufragar. Quem não se lembrará da imagem contundente, comovente mesmo, do solitário estudante chinês, de braço erguido à frente do tanque, paralisando, por breve momento, mas com infinita coragem, a marcha das tropas sobre a Praça da Paz Celestial em Pequim? É preciso, de regra, respeitar a lei e a autoridade. Mas quando uma e outra não forem respeitáveis, é preciso valer-se do direito de resistência, que é a paixão que se ergue, acima da lei, pela justiça e liberdade." Sonho em ver um Estado de Direito com um direito plantado em fortes vigas constitucionais, de respeito e dignidade ao cidadão. E se cada um seguir o seu coração, certamente estará optando pela escolha certa. Não nos permitamos a imolação de nossos sonhos e ideais na fogueira de leis humanas e desleais com aquilo que vai por dentro de nós. Ninguém sabe a chaga que fica ao renunciar àquilo que nos sustentava...


Um belo pedaço estava num livro de direito. Nas últimas páginas, nas ousadas linhas de Barreto, onde ele defendia uma liberdade plena: de escolhas e opções. Pra quando a gente envelhecesse, pudesse saber que viveu sempre movido a paixão.

segunda-feira, março 20, 2006


Não resisto a imagens:.

A-do-rei isso, que vi no Marco Aurélio É, custa pra fazer, perde-se tempo, mas no final, tão boa a sensação de jogar pra fora imagens que iam por dentro, tentando nos explicitar...

Um Nome:.
Quando me quero, não me chamo. Atualmente, mamãe é mais usual. Também doutora, e nem sequer tenho doutorado, fico vermelha, corada, vergonha de portar algo sem ter o título... Nome que eu queria, às vezes esse, outras aquele. Hoje, no momento, Hannah.Tem um na certidão, a numerologia achou melhor não, e pra não contrariar, a gente vive de imaginar... Inventar um nome, pra mesma essência. Sempre.


Nome de seu animal de estimação:.
Nesse item, estamos em falta. O último foi devolvido, era a Nina1, beagle, com pedigree, devidamente vacinada, enfim, quase todos os requisitos indispensáveis para a sua permanência - mas ela tinha patas enormes, com unhas que arranham Beatrice, e mesmo que essa não chorasse, porque considerava brincadeira de amiga-cã, na escolinha já andavam perguntando o que tinha de arranhão a menina. E infelizmente, a cã-beagle-nina1 não sabia e não queria saber nem de penico, jornal, areia ou qualquer coisa do gênero, só aceitando o tapete da sala. Também roía tudo: desde o meu sapato de salto, até a legítimas havaianas recém-lavadas, bailando ao sol. Bicho assim, melhor na amiga, que aí a Beatriz brinca, eu visito quando quero, e não me dá a preocupação constante em nunca deixar nada de valor por baixo, solto, por aí. Mas como a projeção de tudo tende a se concretizar, posto a Nina e a Carolina, futuras integrantes da família, depois de conhecerem o lugar de fazer xixi.

CarolinaNina


Sua fruta ou vegetal favorito:.
Eu não sou fã de nada, devota então... todo dia comendo tomate-cereja, me empaturraria até a próxima reencarnação, suco de abacaxi por dias seguidos me fariam ojeriza... Algo com muita assiduidade... Tô Fora! Eu gosto de ousar: coisas simples, diferentes, mas com complemento. Tomate, Pepino... em conjunto com algo mais. Nasci humana, sou carnal. Azeitona-verde serve pra definição de Verde que como? Amo-adoro. Com Bacalhau, tomate e palmito.
bacalhau, tomate-cereja e palmito

Sua comida favorita:.
Aquilo que me faz andar quadras, mesmo com bolhas no pés. O que me retira de casa, tira dinheiro da minha carteira, e não fico sem, de maneira nenhuma, por muito tempo, nem que eu tenha que ir ao fogão e fazer todo o ritual, inclusive o glacê... Camafeu de Nozes. Eu sou do doce, antes de ser salgada...depois a tortinha de palmito, e pra finalizar, nozes, por favor, de novo.
tortinha de palmito

sua bebida favorita:.
Uma coisa que adoro é aquilo que não tenho a mão (e nem posso com isso!) todo dia. Licor, amarula. Na minha rotina diária, dentro da geladeira, o que não pode faltar é suco de fruta e água (em jarras específicas e de vidro).
Amarula.

seu animal favorito:.
Lince. Pelo olhar, que desvela segredos de qualquer alma.
lince

sua cor favorita:.
A cor que eu pintar, que eu me encantar... Aquarela-toda!


seu local favorito:
Para uma vagabunda, melhor lugar não há...do que a beira mar... O Mar... Areia. E frio. Colo. Aconchego do Amado. Em qualquer lugar, nos braços dele...


Um filme:.
Amor além da Vida:.cores, simbologia, crença. Imagens.


Seu humor:.
Sou um doce, querida, terna e paciente. Um pisão no meu tornozelo de Aquiles, e lá se tem uma irascível medusa, matando com olhares, fulminando com palavras cruéis... Um instante após, novamente leve, solta, feliz, sem mágoa ou rancor. Só não engulo sapos que não me pertencem.
Miau

Felicidade é...:
Rede, livro e pés nos pés do outro. Silêncio. Paz. Cheiro do mar e as ondas indo e vindo... o barulho, maresia. Sensação de ser amada.


O Amor é...:
Algo que surge onde menos se espera, quando não se procura. E não se define, porque antes se sente.


Seu mundo é...:
Lótus... Um caminho onde exista e tenha Amor... Vida, todos os dias algo que me faz sorrir. Momentos em que choro, e logo após, decido ser feliz... mesmo e com aqueles obstáculos no meio do meu caminho. O que importa é como reajo a eles.


Manias:.
Recortar. Revistas: Cláudias, Novas... Jornais e catalogar as notícias. Livros, e fazer sínteses. Fazer colagens daquilo que quero. Montar caixas com tecidos, decorar. Arrumar, ordenar, depois de bagunçar tudo. Numa desordem e caos, tudo a minha volta tem a ordem da minha vida. Seleciono livros por tamanho e cores: gosto de arco-íris na minha biblioteca.

Um mau hábito:.
Eu gosto de dormir. Sou como uma gata, ronronando pelos cantos... Assim, sem remédio, em qualquer lugar, na hipótese de estar cansada e com sono, lá vou eu, desabar... Por isso, às vezes sumo de festas, de repente, sem tchau ou adeus, direto pra minha casa, minha cama, desfrutar dessa delícia. Braços, pernas, cabelos nos meus dedos. Tudo emaranhado. Gosto porque amo dormir abraçada, enrodilhada...Um hábito que, se for muito maligno, de tão gostoso e prazeroso, não quero retirar da minha vida tão cedo...Adoro sonhar.

Feliz Aniversário:.

Atrasado. Não como sempre, mas como aí o relógio anda pra trás, conta como se o dia também fosse assim... Deve estar correndo por aí, faz tempo que a gente não pára e se costura, vê se arruma um tempo agora na Páscoa e vem pra cá (traz o livro junto, senão não vale!) Ah, seu presente? Óbvio que enquanto essa sua cadela não encomendar a cã da minha filha, que, inclusive já tem nome (Nina Carolina), não tem nada. Beatriz manda beijos, abraços, pede DINOVO a cã dela, e diz que "a gente sempre acredita" que após o aniversário tudo passa, o inferno astral pra trás. Depois me conta se o Acaso te fez feliz. Como eu quero: em todos os campos!

"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Eu ainda creio nisso: um amor, várias paixões, inúmeras ilusões e atalhos que nos perdem... Depois dos trinta, sempre. Parcialmente provido.

Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se contaram pra você isso, da laranja que não existe, é gente que não gosta do Fábio Jr., não é fã. A gente nasce inteiro, ou quase, às vezes já inicia com partes perdidas. Completar, no sentido de "amar sem precisar", de olhar para a pessoa ao lado e se imaginar assim, aos oitenta anos.

Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Eu afirmo que não existe amor sem afinidade, e é um pé-no-saco a convivência com alguém que não se confunde, em nenhum tema, com a gente. Aqueles que tudo interpretam, literalmente, e quando a gente diz: "sai do sol", respondem: "Como, se estou no mundo?" Deve ser a praga da vida ter ao lado uma pessoa que não entende metáforas, não visualiza fantasias, não viaja no nosso pensamento. Principalmente, nem sequer sabe o que se passa dentro dos olhos da gente...

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto. Temos sorte de uma coisa: ninguém faz a gente acreditar em nada, sem a gente provar de tudo. Qualidade ou defeito, o contraditório é o que nos move.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém. Aí aqui você termina e vê o quanto é importante a gente não precisar de nenhum maluco pra dizer tudo isso pra gente. Num divã, em análise, em livro, ou auto-ajuda. Nascemos com isso criado dentro das células da barriga.

"Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama ou acha que ama, e que não quer nada com você, definitivamente, não é a pessoa da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você..! Minha avó dizia uma coisa: há na vida duas chances de ser feliz - há aqueles que precisam amar menos do que serem amados; outros necessitam amar demais, e receber de menos. O que ela não previa é que existe a exceção: eu amo na exata medida do tamanho da minha alma. E nem me interessa se recíproco, se longe... O amor é incondicional. Não há mera possibilidade de ajuste ou estratagema com o coração - sim, eu li "A arte da guerra", e não bolei ainda resposta para aqueles seres infelizes, que boicotam-se a si...

Ah, pra que tudo isso? Só pra dizer que "quando cai uma chupeta do céu", acredite, ela muda pra sempre as três vidas que a viram. Vira a mesa, nos revira. E faz do lúdico o nosso caminhar. Aí então eu sonhei com botas. De caminhar. Passou: havaianas, pra três decadas depois.

quarta-feira, março 15, 2006


Credere:.

Falei Credere, li Credence. Um representa todo o meu ritual em busca de um sonho, provém do latim e significa ter confiança (em mim!), e emprestar em confiança (muitas coisas nem o Master, muito menos o Visa compram! rs); o último me traz uma lembrança tão boa, de uma amiga que amava essa banda. Eu entrava com o carro, ela com os CDs. Credence, ABBA (aquele filme da Muriel era magia pura pra fazer a gente se matar de rir) e uma música que lembro da melodia, sei qual é, mas esqueci a banda. É, eu esqueço os nomes, fico com a parte profunda. Aquilo que me tocou. Escutei essa música um milhão de vezes, herdei o CD de tanto que ficava no "Ogromóvel", e agora ela foge...Certas pessoas se fixam em algo - muitas ao meu redor são enraizadas em uma única música. Beatriz é um caso pior, conjuntamente com uma prima, que só cantava da música da Vanessa da Mata o refrão: "um banho de chuva, um banho de chuva". Praia, Sol, e o refrão. Apartamento minúsculo, cansaço, e o refrão. A mesma coisa ocorre com a minha menininha agora - ela acorda olhando pra mim e dizendo: "eu gosto de você, eu gosto de você, eu gosto de você..." No jantar, num-de-repenteco, ela falou rapidamente: "Daiana, eu quero o Ben". Deixei passar - não sei se ela confundiu o Ben (da novela que nem assisto bang-ban) com o Ken (marido divorciado da Barbie, que não existe em nenhuma loja, porque fugiu da praça pra não ser capturado novamente pela boneca); ou o que é pior - ela achar aquele cowboy bonito, começar a idealizar e de repente, como em magia e sedução, terei um genro grosso, barbudo e sujo. Se eu fosse a Daiana, tomava cuidado: ela sempre consegue o que quer. Nem que seja chorando bem alto, até que os tímpanos do meu ouvido peçam clemência, e eu, candidamente, me ajoelhe a sua frente, e decida barganhar com suas lágrimas. "Você brigou comigo, mamãe". É, nem eu conseguia ser tão perfeita quando criança...

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Porque ainda preciso das palavras dos outros. Adoro a metáfora e a surrealidade exposta dessa maneira. Se não é o que eu disse, desista. Eu me convenci, e pronto.

(...) Burrice pega mesmo. De tanto eu mentir para ser da mesma opinião dos outros, porque não adianta contrariar, fiquei lesa. Confundi as falsas moedas com moedas verdadeiras.. Na verdade o que eles são mesmo é: best-sellers...As opiniões deles são best-sellers, as idéias deles são best-sellers. Acrescente-se a isso a falsa modéstia dela, uma vontade de ser mártir, e uma vontade best-seller de ser vítima e de ter angústias. Acresce-se a isso que ela me procura tanto que já não agüento. E de manhã, de tarde, de noite. Uma coisa que se diga a ela, fere a susceptibilidade dela, e ela passa a noite chorando! Ela é sofisticada. Fala-se de artistas bonitos ou atraentes de cinema, ela diz com ar de Greta Garbo: nunca reparei se um artista é ou não bonito, só presto atenção no trabalho. Muito chato, meu Deus... (Essa expressão best-seller ligada às pessoas em geral é invenção de Ceschiatti, que vive descobrindo expressões perfeitas em relação às coisas).
Uma carta de Berna para as irmãs, sobre a vida no meio diplomático e os diplomatas ou suas esposas, de Clarice Lispector.


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(...) perdi alguma coisa que me era essencial,e que já não me é mais.Não me é necessária,assim como eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável.Essa terceira perna eu perdi.E voltei a ser uma pessoa que nunca fui.Voltei a ter o que nunca tive:apenas as duas pernas.Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta,era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma,e sem sequer precisar me procurar. Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?Nesta minha nova covardia - a covardia é o que mais de novo já aconteceu,é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la- na minha nova covardia,que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir.É difícil perder-se.É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar,mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar:nessa pessoa organizada eu me encarnava,e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver.A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna,daquela que me plantava no chão. Mas, e agora? Estarei mais livre? Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar- e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída.Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada.E nunca antes eu me havia deixado levar,a menos que soubesse para o quê. Ontem,no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem,eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero simplesmente ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo,não sei me entregar à desorganização.Como se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação:a ser? E, no entanto, não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? Como é que explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra- como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que ver é uma tal desorganização? E uma desilusão. Mas desilusão de quê?se,sem ao menos sentir,eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer a um sistema.

No entanto se deveria dizer assim:ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido.Ou que eu era antes, não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor:a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro.O medo agora é que meu novo modo não faça sentido?Mas por que não me deixo guiar pelo o que for acontecendo?Terei que correr o sagrado risco do acaso.E substituirei o destino pela probabilidade No entanto,na infância as descobertas terão sido como num laboratório onde se acha o que se achar? Foi como adulto então que tive medo e criei a terceira perna? Mas como adulto terei a coragem infantil de me perder?perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que for achando.As duas pernas que andam,sem mais a terceira que prende.E eu quero ser presa. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir.Mas enquanto eu estava presa,estava contente? Ou havia, e havia.aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira?ou havia, e havia, aquela coisa latejando, a que eu estava tão habituada que pensava que latejar era ser uma pessoa. É? Também,também. Fico tão assustada quando percebo que durante horas perdi minha formação humana. Não sei se terei uma outra para substituir a perdida. Sei que precisarei tomar cuidado para não usar sub-repticamente uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como capim,e a essa perna protetora chamar de "uma verdade". Mas é que também não sei que forma dar ao que me aconteceu.E sem dar uma forma,nada existe. E - e se a realidade é mesmo que nada existiu?!quem sabe nada me aconteceu?Só posso compreender o que me acontece mas só acontece o que eu compreendo- o que sei do resto?o resto não existiu!Quem sabe me aconteceu apenas uma lenta e grande dissolução?E que minha luta contra essa desintegração está sendo a de tentar agora dar-lhe uma forma?Uma forma contorna o caos,uma forma dá construção à substância amorfa- a visão de uma carne infinita é a visão dos loucos,mas se eu cortar a carne em pedaços e distribuí-los pelos dias e fomes- então ela não será mais a perdição e loucura:será de novo a vida humanizada. A vida humanizada.Eu havia humanizado demais a vida. Mas como faço agora?Devo ficar com a visão toda,mesmo que signifique ter uma verdade incompreensível? (...) talvez o que me tenha acontecido seja uma compreensão- e que ,para eu ser verdadeira,tenho que continuar a não estar à altura dela,tenho que continuar a não entendê-la.Toda compreensão súbita se parece muito com uma aguda incompreensão. Não.Toda compreensão súbita é finalmente a revelação de uma aguda incompreensão.Todo momento de achar é um perder-se a si próprio.Talvez me tenha acontecido uma compreensão tão total quanto uma ignorância,e dela eu venha a sair intocada e inocente como antes.

(...)Até então eu não tivera a coragem de me deixar guiar pelo que não conheço e em diração ao que não conheço:minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria.Não eram as antevisões da visão:Já tinham o tamanho dos meus cuidados.Minhas previsões me fechavam o mundo. (...)Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão. Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria.Muitas vezes antes de adormecer - nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior- muitas vezes,antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou,vou para a enorme ausência de forma que é o sono.E quando mesmo assim não tenho coragem,então eu sonho. Ir para o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha liberdade.Entregar-me ao que não entendo será pôr-me à beira do nada.Será ir apenas indo,e como uma cega perdida num campo. Essa coisa sobrenatural que é viver.O viver que eu havia domesticado para torná-lo familiar. (...)A verdade não faz sentido,a grandeza do mundo me encolhe.Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive,veio no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra.Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular,só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome. Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como de uma célula-ovo? (...) por que não digo nada e apenas ganho tempo?Por medo; É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto.É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale. (...)Eu me pergunto: se eu olhar a escuridão com uma lente,verei mais que a escuridão? A lente não devassa a escuridão,apenas a revela ainda mais. E se eu olhar a claridade com uma lente, com um choque verei apenas a claridade maior.

Clarice Lispector

terça-feira, março 14, 2006


Poesia sem fim:.

"Meus olhos já não violam as coisas, envolvem-nas ternamente, sabendo a distância entre o meu corpo e o mundo. Eu tenho algo de orquídea, que brota exclusiva de um tronco, inteira. Esutou pronta para o definitivo, descolei-me da superfície das coisas, e mereço a profundidade, pra poder amar e ser amada por inteiro". Pela primeira vez eu me espanto de sentir que havia fundido dentro de mim uma esperança em vir a ser aquilo que ainda não era; e ter aquilo que sempre soube querer. Não me preocupo mais em entender, e quanto a ética, a questão da moral é mantê-la em segredo". Se me perguntarem a idade ou ano de nascimento: não tenho. Desde quando a poesia me brotou, fiquei como as manhãs e os orvalhos...

Uma fusão de Sant'Anna com Lispector, e Carlos Nejar, colorida por mim

Vade Mecum:.

"Todos os seres humanos passam a vida buscando o seu particular ponto de equilíbrio... Quando traímos a nós mesmos, quando nos curvamos, quando nos vendemos, somos duplamente notórios em nossas atrapalhadas. (...)Aliás, desconfio dos puros: eles me apavoram. Dessa pureza fictícia nascem os linchadores, os inquisidores, os fanáticos. Não se pode ser puro sendo humano, de modo que devemos se adaptar... Às vezes a mesma pessoa pode apresentar comportamentos diferentes: pode ser heróico frente a alguns desafios e miserável em outros. O celebérrimo manifesto de Zola a favor do judeu Dreyfus sempre é citado como exemplo do compromisso social e moral do escritor, e sem dúvida, Émile precisou ter coragem para escrever seu iracundo Eu Acuso quase absolutamente sozinho contra os bem-pensantes. Mas nunca se recorda que, três anos antes, esse mesmo Zola negou-se a assinar um manifesto de apoio a Oscar Wilde, condenado a dois anos de cadeia nas desumanas prisões vitorianas só por ser homossexual. Mas, naturalmente, defender naquela época um sodomita, como eram chamados, era ainda mais difícil que defender um judeu, e demonstrava uma liberdade intelectual muito maior. Henry James também não assinou: só André Gide o fez, talvez porque compreendesse o drama de Wilde, já que também era homossexual(...)Na verdade o que atrapalhou Zola foi o preconceito; ... por isso minha preferência por Voltaire."

A Louca da Casa, Rosa Montero.


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Lendo esse trecho no livro, que não está "citado ipsis literis", me vem a mente o dia da mulher. Quantas manifestações gloriosas, quanta falácia e desilusão. Porque um dia para as mulheres, isso eu não compreendo. Eu sou dona de todo ano; porque a história da minha vida sou eu que escrevo. Geralmente, quem sai em defesa dessas metáforas anacrônicas e ilusórias são fanáticos: acreditam que tendo um dia para a manifestação, podem se revelar. As feministas, que vão a rua, por direitos iguais... O que elas deveriam explicar minuciosamente é que a "igualdade" não existe do modo como projetam - há o que chamamos "uma busca pela igualdade entre desiguais". Porque jamais existirá Igualdade Real; posto que é ficta. Sempre haverá alguém com mais capital, mais inteligência, mais dom, mais talento, mais cultura, mais herança familiar. Uma mulher é um ser humano, com iguais capacidades para o trabalho laboral - ou seja, há muitas que são péssimas para qualquer atividade, outras se sobressaem em qualquer nicho de mercado. O que não existe são igualdades de condições de trabalho. Porque a Mulher é mãe; e sendo assim, metade de si estará sempre ausente, zelando e cuidando dos que gerou. Também é esposa; e uma parte precisa ser quase-perfeita nesse quesito, para que nenhuma "Bruna Surfistinha" depois lhe preguem que "deveria ter cuidado melhor de seu homem ou de si". É a matriarca da família, e com isso a responsabilidade da educação e da condução do lar é sua. Geralmente a limpeza é sua carga extra, nos finais de semana, e embora haja aqueles que dividem tais atos, um homem para lavar é uma coisa, na hora de secar e guardar já se evaporou. E foi no dia das Mulheres que uma mãe deixou em sua casa de madeira, num bairro pobre, suas três filhas - sete, cinco e três aninhos, dormindo. Estava quente aquela madrugada, e, preocupada, ligou o ventilador, imaginando proporcionar melhor sono para seus anjinhos. Ela entrava as 4hrs da manhã no trabalho, e, não, não era prostituta, nem saiu para "dar", como alguns apregoaram. Indústria do Frango, turnos ininterruptos... foi o que conseguiu pra sustentar sua prole, tarefa que exercia sozinha. É, entre as conquistas das mulheres, essa foi a maior conseqüência: ser integralmente responsável. Às sete horas havia bombeiros na frente de sua casa, a imprensa e um bando de vizinhos (que não sei como, só naquele momento acordaram), pra ver o estrago que havia feito uma faísca elétrica, um ventilador ligado. Não, não houve nenhum anjinho salvo, porque a demora foi excessiva; e a casa, tão pequena... de madeira. No dia das Mulheres, essa mulher recebeu a notícia de que a conquista e luta por direitos iguais, pelo seu direito de trabalhar e labutar sozinha pra sustentar 3 filhas, lhe tinham concedido um dever: o de prestar esclarecimentos sobre possível negligência quanto a criação de seus filhos. Porque elas estavam mortas. E ela devia contar que a babá, que chegava as sete horas, não podia começar antes. Também tinha os seus... sua família. Qual é o amparo que o Estado dá a estas mulheres, excluídas da Sociedade?

Eu nunca comemorei esse dia da Mulher; tão falso como ganhar anel de zircônia, imaginando brilhante. Como os índios, negros, deficientes e paupérrimos, as mulheres com filhos, numa situação assim, deveriam ter também uma lei que as diferenciasse e as igualasse as outras, que detém babás e lar estável pra poder trabalhar. Todo serviço público deveria ter sua cota para elas, como para as outras minorias. Todo horário decente deveria ser oferecido prefencialmente a estas; para que se evitasse mais tragédias. Uma lei que amparasse essa minoria, indefesa mais e mais a cada dia. Discriminada na hora da contratação, por ter filhos. Preterida. E aí perguntam porque tantas mães estão deixando os filhos recém-nascidos nas ruas. De repente para os pais os proverem, e para que não haja nenhum contato, nem convívio. Para que elas possam ser tão livres como eles. Já que não lhes é permitido opção pelo aborto, pois o corpo não lhe pertence. Qual é a igualdade existente para essas minorias dentro de uma faculdade, estudando a noite, com crianças pra cuidar, sozinha e ainda responsável para trabalhar e sustentar sua família?

*Quem sabe essa atitude de viver um pé atrás de tudo - do amor, do clímax, da vida, não era porque nunca havia vivido livre, mas sim presa a grilhões, que mudavam constantemente de mãos? maridos, filhos, manter um "eu"conveniente para cada momento. Natureza difícil, financeiramente dependente*. Oh, sem Voltaire por nós, resta orar, coisa que toda mulher aprende, desde pequena... Ave-Maria, gratia plena, dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus et benedictum frutis ventri tui Jesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis, minoria desamparada, nunca et ora nostrae morte. Amem.


*Lispector.

segunda-feira, março 13, 2006


No país das últimas coisas:.

Algo desaparece e, se você passar muito tempo sem pensar nele, nada haverá de trazê-lo de volta. Recordar não é um ato de vontade, afinal. É algo que ocorre a despeito de nós, e, quando há muita coisa mudando ao mesmo tempo, o cérebro vacila e os objetos lhe escapam. Às vezes, quando me vejo tateando em busca de um pensamento que fugiu, começo a evocar os velhos tempos, a me lembrar de quando eu era menina e toda família viajava de trem para o norte, nas férias de verão. William, meu irmão mais velho, sempre deixava para mim o assento da janela e, a maior parte do tempo, eu não falava com ninguém, viajava com o rosto comprimido na vidraça, contemplando a paisagem, estudando o céu, as árvores e a água, enquanto o trem percorria os campos. Achava tudo tão bonito, tão mais bonito que as coisas da cidade, e, todos os anos, dizia a mim mesma: "Anna, você nunca viu nada mais lindo. Tente se lembrar disso, tente memorizar as belas coisas que está vendo, para que fiquem para sempre com você, mesmo quando já não as possa ver".

Não creio que tenha olhado para o mundo com mais interesse que naquelas viagens ao norte. Queria que tudo me pertencesse, que tudo se tornasse parte do meu ser, e recordo que tentava guardar aquela beleza na memória, armazená-la para depois, quando me fosse realmente necessária. O diabo é que não consegui. Tentava tanto, mas, de um modo ou de outro, sempre acabava me esquecendo e, por fim, só conseguia me lembrar do quanto tentara me lembrar. As coisas passavam muito depressa e, mal as via, já se haviam escapado, substituídas por outras que também desapareciam antes mesmo que chegasse a vê-las.

Paul Auster, No País das Últimas Coisas, pp. 77-78.

Outras e mais:.

"Baskara tinha uma filha chamada Lilavati. Quando essa menina nasceu, consultou ele as estrelas e verificou, pela disposição dos astros, que sua filha, condenada a permanecer solteira toda a vida, ficaria esquecida pelo amor dos jovens patrícios. Não se conformou Baskara com essa determinação do Destino e recorreu aos ensinamentos dos astrólogos mais famosos do tempo. Como fazer para que a graciosa Lilavati pudesse obter marido, sendo feliz no casamento? Um astrólogo, consultado por Baskara, aconselhou-a a casar Lilavati com o primeiro pretendente que aparecesse, mas demonstrou que a única hora propícia para a cerimónia do enlace seria marcada, em certo dia, pelo cilindro do Tempo. Baskara colocou o cilindro das horas e aguardou que a água chegasse ao nível marcado. A noiva, levada por irreprimível curiosidade, verdadeiramente feminina, quis observar a subida da água no cilindro. Aproximou-se para acompanhar a determinação do Tempo. Uma das pérolas de seu vestido desprendeu-se e caiu no interior do vaso. Por uma fatalidade, a pérola levada pela água foi obstruir o pequeno orifício do cilindro, impedindo que nele pudesse entrar a água do vaso. O noivo e os convidados esperaram com paciência largo período de tempo. Passou-se a hora propícia sem que o cilindro indicasse o tempo como previra o sábio astrólogo. O noivo e os convidados retiraram-se para que fosse fixado, depois de consultados os astros, outro dia para o casamento. O jovem brâmane, que pedira Lilavati em casamento, desapareceu semanas depois e a filha de Baskara ficou para sempre solteira. Reconheceu o sábio geômetra que é inútil contra o Destino e disse à sua filha: Escreverei um livro que perpetuará o teu nome e ficarás na lembrança dos homens mais do que viveriam os filhos que viessem a nascer do teu malogrado casamento." O que ele não sabia é que o destino desafia; não determina, apenas indica. As escolhas sempre serão nossas, diante das encruzilhadas. Fatalmente, chegaremos ao mesmo fim que é a morte - mas diferentes, em seus interiores. Há aqueles que terminarão relembrando, imaginando como poderiam ter sido felizes. Outros, estarão sorrindo.

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Rubem Alves, DIVÓRCIO: Uma amiga está triste porque está se divorciando. Divórcio é uma palavra tão doída! Aí ela ficou pensando se, nas suas origens, essa palavra não podia ser bonita. Quando a palavra divórcio nasceu, qual era o seu sentido? Que imagens ela invocava? Fui então ao dicionário Webster, que é uma da minhas alegrias. Eu o encontrei num sebo nos Estados Unidos, dois volumes grossos com capas artísticas douradas. Comprei-o por pouco mais que nada. Nele, além dos significados das palavras, encontram-se as suas origens, a etimologia. Os sentidos originais têm o poder de dar vida a palavras mortas, por revelar seus sentidos ocultos. Pois é isso que ele diz, traduzido: “Divórcio: do Latim ‘divortium’, uma separação; de ‘diversus‘, particípio passado de ‘divertere’, que significa ‘ir em direções diferentes‘“. Coisa terrível é caminhar por um caminho pelo qual não se deseja ir. Antigamente era assim: o marido era transferido para um fim de mundo e a mulher era obrigada a ir. Ia contra a vontade, ficava triste, chorava, ficava deprimida, perdia a vontade de fazer amor, e o amor virava ressentimento e ela pensava em silêncio. “Quando ele morrer eu volto para o lugar de onde vim...“ Quem anda por um caminho obrigado, contra a vontade, fica desejando que aquele ou aquela que obriga morra. A liberdade é assassina. Pois o meu pensamento de repente divorciou-se de mim. Divorciou-se: deixou o caminho que eu estava seguindo e embrenhou-se por uma trilha onde estava escrito o nome “Walt Whitman“. Como não quero ficar sozinho, vou atrás dele. Sim, Walt Whitman, o maior de todos os poetas americanos, o poeta do corpo. Antigamente os lares protestantes tinham o hábito do culto doméstico: a família se reunia ao final do dia para ler a Bíblia e orar. Penso que seria desejável que fizéssemos coisa parecida: a família reunida para ler poesia e ouvir música. Meia horinha por dia. Acho que todos ficariam mais mansos e mais sábios. Pois o Walt Whitman escreveu: “Quem anda duzentas jardas sem vontade anda seguindo o próprio funeral, vestindo a própria mortalha...“ Por vezes o divórcio é o jeito de parar de andar contra a vontade, o jeito de não seguir o próprio funeral – e nem desejar o funeral do outro... A gente vai andando por um caminho numa planície. Aí o caminho se bifurca. Encruzilhada. No caminho da direita há uma tabuleta que diz: “Mar“. No caminho da esquerda, uma tabuleta que diz: “Selva“. Um dos caminhantes sente o chamado do mar. O outro sente o chamado da selva. Não é sábio que cada um siga o seu caminho? Está dito nas Sagradas Escrituras: “Como andarão dois juntos se não estiverem de acordo?"

Retalhos:.

Vê como a natureza é um livro vivo, incompreendida, mas não incompreensível [...] Em cada objeto, montanha, árvore e estrela – em cada nascimento e vida, como parte de cada – desdobrada de cada – significado, atrás da manifestação, uma cifra mística espera involucrada".

"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado, E disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos? E minha alma disse: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho."

"Uma Mulher Espera por Mim
ela tudo contém, nada falta,
(...)
Significados, experiências, purezas,
delicadezas, resultados, promulgações,
Canções, mandamentos, saúde, orgulho,
o mistério da maternidade, o leite seminal,
Todas as esperanças, benefícios, doações,
todas as paixões, amores, belezas, deleites da terra,
Todos os governos, juízes,
deuses seguiram pessoas da terra,
(...)
Agora vou dispensar-me de mulheres frias,
Vou ficar com ela que espera por mim
(...)
Eu me abraço efetivamente, não escuto súplicas,
Não ouso me afastar até que deposite o que, há muito,
estava acumulado dentro de mim."
Walt Whitman

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(...)desencuentros que se quedan en el camino, recuerdos del futuro que presiento. Calma. O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond.

Promenade:.

Olhe em volta, o mar a frente, o vento forte que ouriça-nos. Silêncio. Ele fala. Sussurra pelas frestas, ventríloquo, penetra com milhões de vozes meu ser. Revela-me segredos, amores trágicos, traições dramáticas. Chora. Ri. Aos 16 anos, eu estava tão ansiosa em encontrar o amor que o vi em lugar errado; aos trinta, errei ao seguir um estranho. O passado pode ser uma ilha, cercda pelo tempo, muitas vezes perdemos a barca, amargamente. O beijo do Sol para o perdão... todos os dias acordei, esperando que as coisas ficassem diferentes, mas iguais, elas permaneciam. Às vezes devemos dar uma mãozinha para a mágica transformar nosso cotidiano. Uma espécie de empurrão, o começo de uma história. Libertando aromas, verões, lugares... Foi assim que dei vazão ao Oceano de dentro. Pra encontrar quem estava além.


Buda+Pest.
Sou sujeita a uma espécie de química diferente: posso profetizar futuros, mas o que quero é saborear o presente que, abençoado, vislumbro. Aos poucos se avizinha, misterioso, deixando no ar vapores luminosos. Farol que me guia? Um brinde, um adeus, um olá... O que nos prende? Seis pontes. Coisas simples do dia-a-dia. O que nos impede? Nada, se for com você, lanço âncora ao mar. Pois o que sei e não sei são coisas tão parecidas... Quem distingue o mar do que nele se reflete? A diferença entre a chuva que cai e a solidão que sente-se por dentro, nos correndo? Talvez, com a idade, eu esteja vendo beleza onde jamais esperei encontrar. A felicidade me orienta, me concede sinais e estrelas-guias. Muitas vezes eu ouvi você chorar, por dentro, sua face era a tristeza, e não conseguia te alcançar. Os passos até você demoraram a se içar: eram necessárias pontes e cabos de aço. Construí seis, pois você é pássaro fugidio, e com medo, pode dizer que não acha o caminho. Coloquei cabos, pra nossa segurança. Nunca mais barganharei com aquilo que não posso perder, não abro mão dos meus sonhos e do meu Amor, e jamais deixarei, pelos meus dedos, escorrer nossa história... você. A única preparação é compreender. Mas só se você não agarrar o momento.

Aperto os olhos, tentando entrar em seu mundo, libertar sua mente, segurar sua mão. As palavras são delicadas: às vezes precisamos delas para desabafar a mágoa, supurando no peito. Se não desabafamos, gangrena e nos mata. Às vezes as palavras podem despedaçar sentimentos. Às vezes as palavras são pontes. A chuva cai, e há uma pergunta no ar. O amor age à sua maneira oblíqua, empre enverendando-se entremeio a coisas que nos são tão difíceis de largar. Sonhos custam caro, um amor custa nossa vida. E eu me agito, porque agora toda esperança. E me calo, porque falar é dissipar tudo o que há no ar. Amar alguém completamente é também abrir mão de nossa identidade. Porque exige, antes, fusão. Quando eu me deitar ao seu lado, assusta-me que saberei que "voltei para casa". Sei que conseguirei compreender o que nunca expliquei: quem eu sou, por que, e quais deuses assombravam meus sonhos. Antevi a praia, estou atenta. À espera. Porque tudo termina onde podemos recomeçar seguros. E a incompreensão de tudo se transforma em oferenda. Bençãos pela maré que me fez avistar você, ainda em alto-mar.

Tudo tem energia, e pode nos ensinar algo. Aquela pluma que, solta, se espraia abaixo de seus pés. O livro que aleatoriamente abrimos, procurando abrigo. As imagens que sorrateiramente avistamos, para tentar nos segurar... Tudo precisa de uma gigantesca energia para se manter. Até os átomos necessitam disso, para serem percebidos e poderem ser tocados. O que nos tange agora é absorver esta energia, e transformá-la em "Para sempre, com amor". Que as súplicas e queixas fiquem para trás, e os agradecimentos, pela manhã, se tornem firmes e fortes. Uma lei Universal é mais forte do que qualquer outra...A decisão agora é sua: Hic et nunc.

domingo, março 12, 2006


Clássica e eterna:.

Neste Universo de Dragões Ardentes e Medrosos, Fadas Amorosas e destemidas... são demais os perigos dessa vida para quem tem paixão. Principalmente quando a lua chega de repente, e nos encontra à meia altura do chão, nos convidando a mergulhar fundo nessa paixão, apostando alto neste Amor. O mais importante nesse Estado de Enlevo é sempre lembrar de Gil e sua música: "O seu amor/Ame-o e deixe-o/Livre para amar/Livre para amar/ Livre para amar/O seu amor/ Ame-o e deixe-o/ Ir aonde quiser/ Ir aonde quiser/ Ir aonde quiser... orque quanto mais você quer uma coisa, mais deve deixá-la livre. É a tal lei do sabonete - uma espécie de Lei de Murphy adaptada: se você for todo afobado para segurá-lo a qualquer custo, provavelmente seu amor vai escorregar, e escoar pelo ralo. Onde, não lembro, li que existe três tipos de amor - aquele mesclado com amizade; o que vem disfarçado de desejo, e por último, o que conjuga os dois primeiros. Para amar com paixão e amizade, é necessário saber cavalgar touro indomável. Porque o sentimento não é controlado, e você se envolve em um labirinto, onde nem Ariadne fornece fios. Dali só sai iniciado por Diana, e o que é mais difícil: com uma escolha que pode mudar sua história. Amar é isso, um rio caudaloso, à nossa espera períodos de calmaria com tempestades e noites escuras. Quem desiste no meio? Quem agüenta permanecer algum tempo no fundo? Quem fica até o final?

Amor é, antes de tudo, paciência. Mas com certeza, uma história de amor foi tecida. Com fios de ouro. Talvez não por Penélope, já que a Fada das Águas Profundas não gosta de Espera. Adoraria aqui iniciar o encontro de almas que se reencontram. De libélulas que se encontram. Contudo, essa história não é minha. Apenas repica alto, em tom maior, a que me pertence. E esta sim, eu posso contar. E que se acenda a lareira, preparem os olhos, porque ainda não sou resumida. E os detalhes, ah, os detalhes na minha história de Amor fazem toda a diferença! Atinem-se, e aliem Bonassi a tudo por aqui, pois quem sabe, como ele, "Eu minta. Minta sobre o passado, sobre o presente e o futuro. As mentiras saem de mim de forma tão natural, que se incorporam à minha vida com o peso de experiências. Filmes que não vi, lugares que não visitei, mulheres que não tive, presentes que não ganhei, sofrimentos que não passei. Minto assim... sem nenhum charme. Diria mesmo que, vez por outra, os acontecimentos são mais interessantes que as mentiras que coloco no lugar. Minto pra cacete. Minto inutilmente. Minto de me envergonhar. Agora mesmo... eu nem sei se estou falando a verdade".

Estou cheia de recordações, minhas e algumas emprestadas. O amor pode ser descoberto pela mão do homem? O que quero escrever, e às vezes pode parecer obscuro, é que muitas vezes amamos aquilo que nos convem. Amamos aquilo que queremos. Amamos aquilo que é necessário no momento. Por querer sentir a raiz firme de tudo, abandonamos barcos no mar, nos recolhendo a praia, em segurança. Isso pode nos trazer momentos alegres; mas um grande vazio. Sempre vai faltar a exaltação perturbadora, a felicidade insuportável, o amor incondicional. Por precaução nos privamos de Amar. Por medo de sofrer, nos agarramos às pessoas que não são destinadas a nós; porém, com certeza, são opção Nossa. Abafar o que o coração sente traz prazer pra muita gente. Optaram e escolheram pela serenidade, pela calma de um sentimento inventado. "Escolhem o caminho que nada pode acontecer". Deixam de viver, para poderem sobreviver. "Normalmente as pessoas associam a carência como fraqueza a ser combatida. Não acredito. Não há nada de errado em admitir que se é carente. A carência difere em muito da dependência. Ela sim é um sinal de fraqueza. Não há nada mais repugnante do que uma pessoa que procura um companheiro para dar sentido a sua vida. Entendo que a pessoa deva ter a sua independência, ou seja: Primeiro ela deve se sentir feliz consigo mesma. Deve se sentir feliz estando sozinho. Somente após conseguir estar feliz, ela pode procurar alguém para compartilhar essa felicidade... A pessoa precisa saber conviver bem com a solidão para poder se sentir bem consigo. Admitir que se é carente, admitir que deseja estar ao lado de alguém ao invés de optar por ficadas e relacionamentos sem sentido, é antes de mais nada, um ato de bravura, um ato de coragem, um ato de gente forte. Mais forte ainda é não se sucumbir a esta carência e não se de desesperar por estar com alguém, se sujeitando a estar com pessoas erradas, a perder qualquer tipo de amor próprio."

Confesso que eu quase desisti desse sonho de Amar e estar ao lado de um Amor. Porque geralmente Amor machuca, dói, nos deixa inseguras, faz um turbilhão de nós dentro da gente. Por que eu não posso me contentar com um sentimento inventado? Não posso fingir que amo, como quase todo mundo que eu conheço faz? Olhar para o lado, racionalizar e começar a namorar. Sem pensar em Amor, mas na carência, no buraco que há de se tapar. Uma vontade de largar o bordado de Penélope, e arriscar-se com um dos pretendentes, mandando Odisseus às favas, junto com suas sereias, em algum lugar bem fundo, no Mar. Cruzar o portão sem tchau, e só chorar depois da esquina. Porque tenho quase a certeza de que Meu Amor não está valendo Nada, mesmo com toda devoção do Meu Sentimento. E de quem seria a culpa, se acaso eu abandonasse o "amor" e fosse em busca de Paz? Da paixão que não tem limites, e é fenômeno desconhecido e reinventado todos os dias? Do acaso, que se mete em qualquer ocasião? Ou dos deuses, que fornecem pistas para todas as lições, mas não dão o gabarito?

Alguns dias eu levanto com uma imensa vontade de cantar: Você vai pagar é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar... Aí me dá uma inveja desta gente, que vai em frente nem sem ter com quem contar. O meu amor, tem um jeito manso que é só seu. E que me deixa louca quando me beija a boca, minha pele toda fica arrepiada, e me beija com calma e fundo até a minha alma se sentir beijada. Se eu só lhe fizesse o bem, talvez fosse um vício a mais e você me teria desprezo por fim. E tenho cá pra mim que a gente é obrigado a ser feliz, por se amar tanto assim. Amar é paciência. Espera. Encontro. Na verdade, o amor é bastante violento. Nos arrebata e nos força a transpor limites, enfrentar "desconhecidos", alterar rotações... As vezes é tao doloroso e devastador; porque vem destruindo tudo, como um ciclone... arrancando todas as flores do seu jardim. Nao há nada pior. Ah, ontem eu vi que há sim: a rotina e o muro. Porque se arrancou, eu planto tudinho de novo: o jardim é meu, e as flores sempre crescem... e tudo volta! Mas imaginem a mesma coisa sempre, sem sonhos, expectativas, sem enlevo, sem lágrimas, sem alegrias para se agarrar, sem aqueles momentos (podem ser poucos) que nós sorrimos verdadeiramente, iluminando todo nosso ser.... Hoje, prefiro chorar um caminhão de lágrimas, correr riscos, enfrentar a vida... do que permanecer em cima do muro, olhando tudo sem pretensao de alterar nada... Só o medo ao meu lado. A ausencia dos altos e baixo é insuportável; e nao olhar para trás é muito difícil. O segredo é nao relembrar com muita frequencia. Levar no coraçao apenas os bons momentos, e deixar os maus para trás. PERDOAR... Recomeçar. Porque amar vale a pena. Sempre.

Poderia dizer que tudo começou com um desenho. Mas não foi bem assim. Olhando através do tempo, não consigo achar o início, o fio que deu origem a esta história. Talvez seja melhor começar com era uma vez... Uma menininha. Resolveu embrenhar-se na floresta virtual, ainda que advertida por seus companheiros da brutalidade desse mundo. Começou a ansiar por correr com lobos, e uivar pra lua. E certa manhã, deparou-se com um lobo, que sonhava em desenhar-se Touro. Viu a tristeza em seus olhos. Enxugou suas lágrimas pelos sonhos perdidos. Ousou pegar em sua mão, pra acalentá-lo em seu colo. Em sua pureza e ingenuidade, o amor podia tudo, inclusive reconstruir o coração do lobo-touro, que encontrava-se despedaçado. No mundo de rosas vaidosas em que vivia, a menininha descobriu um sentido para seu caminho: o coração daquele lobo ela não queria mais ver chorar. Como posso explicar a relação inicial? Quem sabe não foi o encontro da raposa, ensinando o que é amor àquela menina, que vivia sem nunca tocar profundamente em nada? Nesta história, a única coisa que crescia era o sentimento. A tal ponto, que passava-se o tempo, e mesmo incomunicável, eu sentia. Sua presença, embaixo da minha. Será que quando tocamos nossa Alma, elas jamais se desprendem de nós? O destino não aceita barganhas. E a luta contra ele só o faz atiçar. Porque tudo o que eu fiz pra permanecer em minha redoma de vidro, terminaram por atirá-la longe... " As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!"

Uma vez que chegamos até o ponto de não mais nos vermos, e de fecharmos as portas ao que fomos, agora tudo que nos resta é seguir em frente e pisar no chão. Esquecer que a alma grita para não deixar de sentir, e sentir é tudo que não podemos mais... Mas, mesmo com esta decisão, sinto que o amor vai estar em nós: quieto; escondido; cansado; lento e quase morto; mas de alguma forma respirando e esperando ser reencontrado. Reavivado.Tempestade que despenca sob mim, assim sou eu andando sob seu gelo, mas não significa que eu esteja caída. Haverá sempre o meu coração que bate e luta em meio ao que se ficou para trás... E não é porque choro que significa que desisti de ser feliz. Espanto a solidão com tapas e socos no ar e com as mãos erguidas aos céus continuo a ver que ainda há tempo para acabar com as magoas que existem entre nós.Andar pelo meio do fogo sem se queimar, uma missão inglória a quem não pode evitar amar . Isso significa ter que saber lidar com as queimaduras que vão arder na carne e assombrar a alma. E de alguma forma sobreviver a isso é estar livre do não-viver... Ainda que eu acabe sozinha, no final, algo foi sentido e vivido. Tudo se foi e ficou para trás e nós estamos diante do tentar de novo... esperando que o tempo volte aos dias em que havia esse amor divido por dois. Nem esse anjo triste pode nos ajudar, nos devolvendo o amor que deixamos de sentir e que ficou perdido no vazio. Quem sabe numa outra vida, num outro mundo, em outro momento? Assim devemos nos afastar da beirada do abismo antes que algo nos desequilibre e nos faça cair...

Novamente nos braços um do outro.

quinta-feira, março 09, 2006


Mulher:.

"Quando pensei que tudo tinha acabado, me descobri por inteiro. Pode parecer uma afirmativa irônica, mas é real. Quando mais nada se tem a perder, quando as perspectivas são poucas e pensa-se não ter mais futuro, nos despimos da demagogia, da hipocrisia, das aparências e de todas as "máscaras" que a vida nos impôs. Estamos sós. Nós conosco próprias... E agora? De dentro de nós, numa fúria avassaladora, emerge o nosso "eu" real. Quero viver! E, incrível, só então perdemos o medo da sociedade, dos preconceitos, da discriminação. Vou morrer um dia... quem não vai? Portanto, tenho plena consciência do valor da minha vida e cultivo cada minuto em que estou aqui. Nada mais tenho a perder ou temer. Assumi integralmente minha identidade, e vou, de corpo e alma, à luta, da minha real necessidade: a vida."

Relato da advogada Beatriz Pacheco, que descobriu que havia contraído o HIV depois que seu primeiro marido morreu. Naquela época já estava casada com Carlos Antonio Aleixo, que morreu no último dia 23/02. Integra a Rede Nacional de Pessoas vivendo com HIV e AIDS e o Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas.

quarta-feira, março 08, 2006


Sem Fim:.

Dizem que pra gente incendiar algo, tem que estar "ardendo" por dentro. Entendo que tudo o que eu colocar paixão e amor em cima, vira, vira e se transmuta... Olhando o mar, imagino se ele não sente medo quando, de repente, é oceano. Nesses dias tenho sentido um medo incrível daquilo que a gente chama de esperança, não o inseto, mas "o que vai rolando por dentro"...Pausa. Pra poder entender o que acontece. Dentro de Mim.

terça-feira, março 07, 2006


Significados:.

esperança
Libélula: Ela tem 24 horas para saborear a vida; pois é esta a sua duração. Vem mostrando a nós alguma ilusão: algo que estamos vivendo e fingindo "ser normal". Quando nos enganamos, acreditando que limitações físicas nos impedem de mudar e crescer, a Libélula nos ensina a atravessarmos estas ilusões. Quer nos lembrar de saborear o presente, mesmo que este seja efêmero. Sonhar uma libélula supõe-se que a pessoa deve apreciar a necessidade de libertar-se de algo que "já foi", e também admitir que pode existir por pouco tempo, por isso o começo é naquele momento. As ações devem ser imediatas. Deve se centrar no que quer da vida, e correr atrás. Simboliza que a busca pelo amor não precisa mais ser feita: ele está a sua frente. Conta uma lenda que havia uma garotinha chamada Libélula cruzando montanhas atrás de seu coração; assim como também um dia foi um Dragão muito sábio”que espargia luz pelas noites escuras. Certo dia não resistiu à ilusão e à vaidade e aceitou o desafio do Coiote para que provasse seus poderes mudando sua forma física para o que hoje é a Libélula. Em inglês a Libélula é chamada de Dragonfly (Dragão Voador). “O Dragão perdeu seus poderes mágicos e não pôde mais retornar à sua forma primordial". A Libélula expressa a essência dos tempos de mudança, das mensagens de iluminação e sabedoria, e a comunicação com o mundo dos elementais”. A nível psicológico, a Libélula lembra “que você precisa se livrar das ilusões que estão garroteando, limitando suas idéias e empreendimentos”. Apostar no coração.

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Beija-Flor: Voa em qualquer direção: para cima, para baixo, para esquerda, para a direita e também paralisa no ar, como se estivesse observando e preparando seu próximo passo. Sua presença é pura alegria e sempre provoca reações de admiração. Mensageiro da cura, amor romântico, claridade, graça, sorte, suavidade. O beija-flor se lança no mundo espalhando graça e beleza nos ensinando a apreciar as maravilhas e magias de nossa existência diária. Um dos maiores presentes que podemos obter seguindo seus ensinamentos, é o de entender os enigmas e os mistérios que envolvem as dualidades e contradições. É só observar o comportamento desse Animal em relação as plantas e flores para percebemos como a sua presença está relacionada a reprodução.

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Borboleta: Auto-transformação, clareza mental, novas etapas, liberdade, renascimento. A borboleta representa os ciclos da vida, movimento e mudança. Elas possuem um período curto de vida. Elas nos preparam para mudanças e progressos. Quando você se sente estagnado e incapaz de se mover, a evolução entra em cena e lhe dá a força necessária para iniciar as mudanças. O medo é normalmente o maior obstáculo para as mudanças. A borboleta sai da segurança de seu casulo para se deparar com um novo mundo em sua nova forma confiando em suas asas frágeis em um vôo ainda desconhecido. Insatisfações com sua vida, com relacionamentos e crises lhe forçam a tomar atitudes e promover mudanças radicais. A borboleta lhe traz a mensagem para você se preparar para as mudanças antes que elas caiam sobre você, sem aviso. Lembre-se que em todo fim há um novo começo.

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Pomba: Paz. A paz simbolizada pela pomba é da mais profunda. Ela acalma as nossas preocupações e pensamentos inquietantes e nos permite encontrar renovação no silêncio da mente. é, fundamentalmente, um símbolo de pureza, de simplicidade, paz, harmonia, esperança. Lealdade. Sorte, bons ganhos. Diz a lenda que Um dos ingleses algozes de Joana D’Arc viu sair dos lábios dela, quando exalava o último suspiro, uma pomba voando em direção ao centro da França. O Espírito Santo.

Aspirações:.

Eu olhei, e desejei. Queria ler esse livro. Na Livraria, o preço era astronomico para uma pessoa contendo despesas. Nas Americanas, em promoção. Aí... uma comichão. Talvez, quem sabe...Apos Perder a Esposa de Forma Tragica, Quoyle Muda-se Para Terranova. Disposto a dar Outro Rumo a sua Vida, Encontra Emprego Como Jornalista no Unico Jornal da Cidade, Escrevendo uma Coluna Sobre Noticias do Mar. Definitivamente, o mar anda à espreita... De Budapeste, quem sabe a LERdeza não compre no seu aniversário? E empreste pra querida, do outro lado do mundo, em conjunto com o "Quando N. chorou?" Em março...

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Este eu estou lendo. Digo que a pressa não é inimiga do tempo, porque o livro está dando trabalho. Tenho que reler, parar, degustar outros... pra poder continuar firme nele. É muito "estranho". Muitas vezes esse autor escreve tudo pontilhado por ... reticências. Detesto isso. E quando vou desistir, ele volta ao estilo normal. Tanto palavrão. Tanto sofrimento. Humor negro. Sarcasmo puro. O cara é simplesmente "um dos maiores escritores que já li". Viagem ao fim da noite aguarda. Talvez demore meses pra terminar... Mas é um gênio.

segunda-feira, março 06, 2006


Tentações:.

"Fazendo esta série pude, enfim, comprovar que todas as mulheres que retratei se afastam completamente da norma. Por exemplo, como já assinalei na introdução, abundam os amantes muito mais novos do que elas. Dir-se-ia que também são frequentes as angústias, depressões e obsessões: como se muitas delas se tivessem abeirado dessa terra de ninguém a que a sociedade chama loucura. Mas isto não quer dizer que as mulheres famosas sejam necessariamente lunáticas, nem que as protagonistas destes quinze capítulos nada tenham a ver com as suas contemporâneas. É mais ao contrário: os seus soçobros são um reflexo da sua época. Não esqueçamos que durante muitos séculos as mulheres que não se adaptavam ao estreito papel do feminino eram condenadas à alienação (...). Por isso não, claro que não, é óbvio que estas mulheres não foram normais. Assim que espreitamos vidas concretas, em quotidianidade oculta e silenciada, descobrimos que a realidade tem pouco a ver com os anais oficiais, com a ortodoxia social, com a história que o poder nos contou. E não se trata só de mulheres, mas também de muitíssimos homens que ousaram sentir, desejar e agir à margem das convenções. Fazendo esta série vi com mais clareza do que nunca que cada vida é uma aventura, um desvio das limitações do correcto. Talvez seja isso, em conclusão, a coisa mais importante que eu aprendi: que a normalidade é o que não existe.

Histórias de Mulheres, Rosa Montero. Mulheres retratadas no livro: Agatha Christie, Mary Wollstonecraft, Zenobia Camprubí, Simone de Beauvoir, Lady Ottoline Morrell, Alma Mahler, María Lejárraga, Laura Riding, George Sand, Isabelle Eberhardt, Frida Kahlo, Aurora e Hildegart Rodríguez, Margaret Mead, Camille Claudel, as irmãs Bronte... É dela também o Rei transparente, a Louca da Casa e paixões.

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Da série de Receitas que vou fazer pra você.
BADEJO COM CHAMPANHE E UVAS

Jonathan Swift dizia que o peixe, para ser bem saboroso, deveria nadar três vezes: uma na água, outra na manteiga e outra no vinho. Aqui, esquecemos a manteiga, mas, para compensar, usamos champanhe. Ervas, uvas e castanhas se somam aos ingredientes afrodisíacos deste elegante prato de badejo, peixe de carne firme e doce sabor.

4 filés de badejo (cerca de 250 gramas cada)
Sal e pimenta branca a gosto
2/3 xícara de champanhe seco
2 colheres de sopa de suco fresco de limão
2 cebolas pequenas picadas
1/2 colher de chá de raspas de casca de limão
1/2 xícara de creme de leite
2 colheres de chá de estragão fresco, cortadinho
1 xícara de uvas champagne ou verdes
sem sementes, cortadas ao meio
2 colheres de sopa de avelãs, cortadas bem finas
1 colher de sopa de cebolinha verde, cortadinha

Tempere os filés de peixe com sal e pimenta a gosto e ponha-os numa frigideira média. Numa tigela pequena, misture champanhe, cebola, suco e raspas de limão. Regue os filés com a mistura e leve ao fogo médio. Quando ferver, reduza o fogo e cozinhe por mais 5 minutos. Remova o peixe com uma escumadeira ou espátula e ponha em uma travessa rasa que vá ao forno. Em fogo alto, reduza o caldo pela metade. Tire então do fogo, junte o creme e bata até incorporar. Regue o peixe e cubra com as uvas e as avelãs. Leve ao forno bem quente para dourar, por 2 ou 3 minutos. Salpique cebolinhas verdes e sirva.

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Quando a minha bisavó paterna era viva, costumava recitar sozinha, em voz alta, pelo menos uma vez no dia em que eu estivesse por perto: O destino de uma pessoa é como a linha e uma pipa. Uma extremidade fica aqui, na Terra, a outra presa no céu. Não há como se esconder dele. Eu quero fundear, espraiar, sem ter que novamente funambulizar. José Saramago dizia que "é limitado julgar os outros, baseado no quesito melhor ou pior. Não ter pressa não é incompatível com não perder tempo. Porque quando encontramos nossa paixão, paramos de nos entendiar. Nem sempre estaremos felizes, satisfeitos, entusiasmados. Muitas vezes angustiados. Mas paramos de devanear em "viver outra vida", porque no presente temos tudo aquilo que nos completa. É uma espécie de sossego mental, com o coração fazendo maratona. Depois do início, do encontro, a coisa mais difícil e a tenacidade e a persistência. Seis pontes ligam Buda a Pest; não há como BudaPest não se reencontrar...

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Passei os olhos ontem pelo filme "paixões paralelas". Estava passando em algum canal de TV, e como já tinha assistido, "e muito bem", não havia atenção. Assim, sem mais nem menos, o que não percebi quando o vi naquela primeira vez, que movi céus e terra para assisti-lo, percebi: Demi Moore em suas duas vidas usava libélulas de brilhantes no cabelo. Sim, eram libélulas. Uma, lindíssima, no cabelo, ostentada atrás. Toda cena que eu via achava uma libélula. Parecia "a série onde está Wally". Lembrei do filme, ruinzinho, "Mistério de Libélula", que tanta angústia e lágrimas havia liberado. Não, não foi o filme... eram as libélulas. Lembranças de você. Mais? Nem eu sei o porquê de tudo. Apesar de tentar...

domingo, março 05, 2006


O que nos define:.

Magritte, A página em Branco, 1967. Sempre me imaginei surrealista. Talvez por querer compartilhar da manifestação de Palova, em Budapeste. Mesmo com Dali se revoltando contra o movimento, no final da vida, ainda apoiava essa idéia de mim - "Surrealista, vanguarda européia, cheia de propostas de liberdade, anti-convencionalismo e anti-tradição dos valores da cultura ocidental, trazendo à tona os impulsos das regiões ainda inexploradas da minha mente, e pra isso recorrendo ao inconsciente e subconsciente : o acaso, a loucura, os sonhos, as alucinações, o delírio ou o humor. Junguiana. Quando o assunto é o corpo humano, um dos temas fortes no Surrealismo é o olho. O lábio, símbolo de voluptuosidade. Salvador Dali e Mae West. "A chave do procedimento surrealista é o deslocamento. Quando um objeto é deslocado de sua função e de seu meio, ocorrem variações em relação à associação original que impunha um sentido para ser identificado por quem estiver interessado . Desta maneira, estabelece-se uma contradição entre o reconhecimento costumeiro e sua nova definição". Sim, surrealista. Usando esse vestido... seres do mar são muito presentes no vocabulário simbólico surrealista, quem não se lembra do peixe na capa do primeiro número de A Revolução Surrealista? Eu. Não lembro, porque não estava ali. Mas sei que Salvador Dali tinha uma fixação com lagostas, e eu não as como, porque sagradas. É melhor dizer isso do que falar que não curto. Digno de nota é o fato de que a lagosta muda de cor depois de passar do mar à mesa, ela passa do marron esverdeado para o vermelho – e surrealista é uma mutação ambulante. Do mar ao céu, a borboleta é o símbolo surrealista da metamorfose... elas irrompem como que anunciando nova vida. É bem possível que a sedução venha desse princípio irredutível de liberdade que orienta o Surrealismo. Mas é também possível que se veja aí algum artifício de certo facilismo da criação poética. Daí a leitura equívoca de que tudo o que não faz sentido é surreal, como se costuma ouvir com relativa freqüência. Diz o poeta guatemalteco Luiz Cardoza y Aragón que "escrever não é cifrar nem decifrar: é balbuciar o estupor de ser". Pois bem, essa identificação mútua e ampla, no sangue e na letra, com o que se faz, com a criação, é o que revela o Surrealismo como sendo o princípio maior a ser buscado, aquilo a que o argentino Enrique Molina se referia como sendo um "humanismo poético". Creio que esta é a raiz essencial da sedução do Surrealismo, e o que o torna sempre atual, pois além de todo tempo.

Mas a curiosidade por ser "minimalista" apareceu. Na enciclopédia: "A literatura minimalista é caracterizada pela economia de palavras. Os autores minimalistas evitam advérbios e preferem sugerir contextos a ditar significados. Espera-se dos leitores uma participação ativa na criação da história, pois eles devem “escolher um lado” baseados em dicas e insinuações, ao invés de representações diretas. As personagens de histórias minimalistas tendem a ser banais, comuns, inexpressivas, nunca famosos detetives ou ricos fabulosos. Geralmente, as histórias são pedaços da vida." Pode ser que eu seja surrealista e minimalista ao mesmo tempo? É muita coisa querer ser simples e profunda? O Minimalismo reduz: o menor conto já produzido em Língua Portuguesa, de Luís Dill:
Aventura
Nasceu.

Pouco a pouco descubro que o jeito-minimalista-de-ser só tem vantagens. Economia. Simplifica. Reduz o peso. Sintetiza. Não sei se serei capaz de ser assim, ao pé da letra. Mas é um fato a conhecer...

E a nossa grande Raça partirá em busca de uma índia nova,
que não existe no espaço, em naus que são construídas
"daquilo de que os sonhos são feitos”.
E o seu verdadeiro e supremo destino,
de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal antearremedo,
realizar-se-á divinamente.

Fernando Pessoa

quarta-feira, março 01, 2006


Justitia:.

Eu mando postais, pra garantir sua visita. O lugar é pequeno, há o mar, pescadores, gente honesta. Ainda não conheço os que portam a ignorância e o mau-humor; por mim tal ato demoraria anos. Gosto da idéia de ter certo tempo de paz a celebrar. Safiras, por todos os lados.

Hoc est enim:.

Terça-feira, final de Carnaval. O vento sussurrando a noite inteira, aquele mesmo vento quente, cheirando a peixe e fritura que já me impelira a enfrentar dois longos caminhos cheios de percalços e obstáculos, frutos e desilusão. Final de Carnaval sempre foi uma caixinha de surpresa em minha vida - nada como agora aguardar ansiosamente a bailarina saltar e girar... nada mais de homens-de-preto ou máscaras de cera. Passei a dormir com sândalo sob meu colchão, desde a última tempestade: precaução contra possíveis pesadelos e loucuras de uma menina ensandecida por um velho pescador de sereias, que teme ressuscitação preemente e inadiável. Do destino ninguém escapa, diria minha avó a Ela, rindo muito de sua paixonite. Até agora tem servido para adoçar meus sonhos, e permitir que estes avancem com firmeza em minha direção. Agora sei que há um caminho brilhante pela frente. Me descubro cada vez mais intranquila, num impertinente espírito de contradição, entre farfalhar de papéis, caixas e roupas para embalar e doar. Não sei se me despeço do velho tão perto do novo. Nessa noite de cinzas eu me levantei e pequei minhas cartas da caixa onde tinha prometido sepulcro definitivo delas. Entre meus dedos paeciam frias e distantes, porém logo se encaixaram para o prenúncio de rumo e direção. Safira-estrela me acendendo luzes. Como o homem-de-preto escreveu, em dedicatória, uma vez: "é preciso seguir adiante..." Sim, sempre, mesmo transportando um baú de mágoas dentro de si, pesada e cautelosamente, um pé adiante, outro enfim...Com o aviso da mulher de Ló, sem me voltar para trás, deixo-me ser conduzida pelo vento. A torre. O carro. O Diabo. O passado, finalmente, para trás.
Todos os sete deslizam no pano azul, estendido a minha frente. Meu Presente. O Futuro encaixo na caixinha de música, sem vê-lo. Preciso me acostumar a decisões do momento, sem me preocupar com o que vem pela frente. Aceitar ajuda, ouvir meu coração, a sandice da menina-escura novamente aparecendo, presságio ruim para ela. A calmaria me incomoda, o ar quente e doce me irrita, sei que preciso tomar uma atitude firme e poderosa no ato, e isso me faz lembrar pó de serragem e fôlego de gato. "Tempo de Mudança, mas agora é Março, e decido que somente no dia 19 pego o rumo da Estrada". Todo Dia D tem uma espécie de prenúncio mágico, os desastres foram em outros meses, este é especial. Faço festa no mês dela, sapateio em cima, carnaval pra-nós-três. Sei, eu já me perdi. Da torre cairam pessoas, paredes desmoronaram, e o medo da estrada e da perda fez o eremita permanecer na frente de sua caverna. Já sem luz em sua lanterna-guia. Agora corro atrás do prometido dez de copas, da fragância de lilás que toma conta do ambiente toda vez que sinto a presença dele. Na encruzilhada, nem cajado nem jururus vão me boicotar, e por conta disso carrego o eremita comigo, levo-o a luz bruxuleante da vela, e vejo-o ser contorcido aos poucos, a carta dura flamular e se quedar em cinzas, depois de um pouco de resistência. Quarta-feira. Cinzas de um homem-de-preto. Santa Genoveva faz a defesa, a safira brilha ao redor, contra ventos contrários a maldição de minha avó. Por um momento flerto com a possibilidade de fazer mais, mas não ouso desacatar o coração. Quem é que toca o sino agora, querido? Me sinto pronta para qualquer vento que soprar. Um tolo que pavimentava caminhos para outras passarem. Meus medos se foram, a nova vida sopra adiante, e a voz nova dentro de mim ri alto, satisfeita. Espero que somente desta vez seja um acalanto. Mesmas circunstâncias, mesmo fim, final diferente. Porque há agora a certeza de benções e do Amor. "Donia é donia, doce é Deus, o perdão que pediste eu agora posso lhe dar". Sopro as cinzas, sopra o vento, volto pra cama e me encaixo novamente nos meus sonhos. A felicidade não é mais por um triz. "Hoc est enim corpus meum". Para sempre, Beatriz.