sexta-feira, fevereiro 24, 2006


Há coisas...

Li em algum momento, de certo guru famoso, rico e inteligente, daqueles semideuses hoje existentes, que existem dez coisas que devemos fazer e saber na Vida. Sob pena de pecarmos em considerarmo-nos ignorantes, néscios ou simplesmente insipientes. Uma destas era "saber de cor e salteado o poema/poesia preferido". Não sei porquê cargas d'água isso haveria de me impulsionar no meu destino, rumo ao sucesso, pois que não bastavam apenas "aquelas frases pequenas ditas muitas vezes sem pensar e nem saber quem as um dia ousou falar", tem quem ser integralmente o poema que representa aquilo que você sente como sendo você na vida. Lógico, no meu caso, nada mais certo que um lusitano, da minha Terra, embora nascida em outro local, minha'lma veio de lá. Tentei, ora se tentei, "o guardador de rebanhos", algo de Caiero que me dói quando leio. O único que consegui sentir e decorar (isso não é ato pra mim!), foi esse. Deve ter algum sentido nisso, pois como diz a zibia - tudo tem um porque, e nada é por acaso.

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

quarta-feira, fevereiro 22, 2006


De tudo, nada:.

Li, e achei o máximo. Do super Rubem Alves:

"Quando eu ainda era professor universitário fui nomeado presidente de uma comissão que iria examinar os candidatos ao doutoramento. Uma longa lista de livros havia sido preparada com antecedência, livros que os candidatos deveriam estudar. Aí no dia do exame eu tive uma idéia que submeti aos meus colegas e eles concordaram. Ao invés de inquirir os candidatos sobre as idéias de outros escritas nos livros, idéias que nós já conhecíamos, por que não pedir que eles nos falassem sobre suas próprias idéias? Falando sobre suas idéias teríamos condições de conhecê-los melhor. Assim, quando o candidato entrava na sala, trêmulo, esperando as perguntas terríveis sobre a bibliografia, eu lhe pedia: “Por favor, fale-nos sobre aquilo que você gostaria de falar...” Pensei que isso seria uma felicidade: falar sobre aquilo que pensavam!

Foi não. Foi um choque. De tanto ler o que os outros pensavam, eles se haviam esquecido daquilo que eles mesmos pensavam. Uma jovem entrou em surto, achando que se tratava de um truque. Poucos tiveram idéias sobre que falar. O que nos levou a pensar que talvez seja isso que aconteça: de tanto ler as idéias de outros, as pessoas se esquecem de que também podem pensar, e que o seu pensamento é importante. Excesso de leitura pode fazer mal à inteligência."

Com o que concorda Schopenhauer: “É o caso de muitos eruditos: leram até ficar estúpidos. Porque a leitura contínua, retomada a todo instante, paralisa o espírito...” E, em oposição àqueles que ensinam leitura dinâmica, Schopenhauer afirma que a leitura só é boa quando é bovina, quando leva à ruminação. Por tudo isso, não me sai da cabeça uma frase que um professor, meu amigo, afixou na porta da sua sala: “Havendo Deus colocado limites precisos à nossa inteligência, é profundamente lamentável que ele não tenha estabelecido limites também para a nossa estupidez.”

sábado, fevereiro 18, 2006


Depois de dias Tenebrosos:.

Padrão
Fernando Pessoa

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Este poema musicado integra o disco Mensagem, com voz de Caetano Veloso.
A música é acessada ao lado.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006


:.

Tirando o dia de ontem, e o de Amanhã, você está feliz Agora?
Clarice Lispector

terça-feira, fevereiro 14, 2006


sandices de mar:.

No meu mundo de paixões e Amor Avassalador, a Revelação de algo nunca resultou de números ou equações lógicas; vêem como um raio, um vento misterioso, um Amor... Ou permanece para sempre à sombra do desejo. Tenho cá com os meus botões que o que desejamos ardentemente não é previsto - pode vir em uma hora, no próximo ano, pode ser que já esteja por perto, à escuta, à espera, à disposição, à espreita... Se atentos aos sinais e ao Momento, realizamos sonhos; senão... perdemos oportunidades de Ouro.

Lógico que para captar o instante com tal maestria "é necessário aquele grãozinho de loucura, a interrogação do nada, a intuição que faz uma criança estender a mão para tocar no novelo de poeiras e fios, imaginando nunca um alfinete, mas sempre uma estrela. Assim é, e foi - não vejo fase da minha vida onde a fantasia e a distração não tenham convivido entrelaçadas. O mundo parece querer sempre me dizer algo - nas árvores o vento, na chuva o silêncio, no perfume das rosas o amor que chegava... Até hoje, nos cantos da casa encontro os tumultos das sombras que apareciam, e somente eu via. Destas, mantenho até hoje convivência pacífica - muitas vezes ainda muitos pensam que eu falo sozinha, simplesmente estou "costurando" panôs com meus fantasmas enluarados...

Transformei-me assim, de menina peralta e sonhadora, nesse projeto de Adulta, integração precária, feito encantamento de alguma alma desastrada. Entre meus desejos e realizações hoje há muito mais do que um mar, há todo um Oceano, aqui dentro de mim, me separando do que quero, e daquilo que planejaram para mim. Vivo em duas canoas, completamente furadas agora, ao final da vida. O passado de uma me alimenta, e o presente da outra me sustenta...

Talvez pela lua cheia, já em câncer, sinto mais próximas as brumas da memória. Chegam de soslaio, e me envolvem, recordando os Tempos de minha bisavó, onde "para cada mal sob o sol tinha um remédio; se este não existia, não devia se preocupar com nada. Se houvesse, devíamos obstinadamente procurá-lo, desejá-lo, conquistá-lo". Inspirada nela foi que, nas ventosas tardes de março, ou nas noites de Agosto que, na varanda, em uma cadeira de balanço e mil histórias para relembrar, recolhia-me num mundo de fantasias. Retirava do bolso um surrado baralho cigano, escolhia a léu uma carta e começava as oferendas destinadas a saciar minha Alma.

Muitas vezes fiquei em dúvida se aquilo que eu estava ali, traçando, eram meras especulações, sandices de uma velha, ou atos reais e mal-acabados de meu bordado-Vida. Enfim, não me interessam muito os porquês, já estou no fim, o leite derramado não tem mais como limpar, virou em poça sangrenta com os fatos que vivi...

Recordo que foi numa noite úmida de agosto, com o vento sussurando por entre as árvores, que viajei dentro de uma melhores histórias. De Amor, desejo e paixão. Do quanto somos escravizados pelo desejo, e nos afastamos do Caminho do Amor, pois todos são disfarces de uma mesma natureza, e após algum tempo ficamos em dúvida a respeito de "qual é qual". Ficamos na sala, eu e meus fantasmas camaradas, dia de frio, coberta até os joelhos e chá quente na mão. Havia toda uma preparação ritualística para o começo das aventuras, como se eu precisasse "de conexão" para navegar naquele mar de dentro de mim. Ouvi uivos crescentes, e pela janela fui espiar - "ah, são apenas os velhos e conhecidos banshees, aqueles espíritos femininos que já vi e ouvi. Ficam por aí, se lamentando do lado de fora de alguma casa durante a noite, predizendo sempre a morte de uma pessoa da família. Por aqui, já passaram há muito tempo - e como sempre, levaram vida - de lá para cá ando num mundo tão cinzento, sem paixão, que me sinto desprovida do alento de viver."

Pego meu bordado, e começo a passear com a agulha nos diversos buraquinhos minúsculos, difíceis agora de enxergar, tentando traçar rotas coloridas, construindo cenários onde caibam fadas e bruxas, gnomos e duendes, amor e paixão. Principalmente, alegria e amor. Já que tudo ali era possível, é só imaginar e tecer! Olho para cima, e um sorriso surge quando as lágrimas começam a cair. "Muito tempo atrás meu pai disse que os chorões e os que peidam tem a mesma justificativa para o ato insano - dizer que se contermos lágrimas ou peidos, isto nos sobe pela cabeça, ou escoa para cima, cada vez mais alto, até que um dia esta explode, simplesmente". Não gosto de olhar para trás, mas agora é preciso. A carta é essa, para hoje: dos desejos que nos corrompem, e dos amores que nos buscaram, e que nós perdemos.

É. Tem gente que acredita que desejo e Amor são a mesma coisa. Tolice de quem só desejou, pois se algum dia tivesse dado com o pé na raiz do amor, teria ficado zonzo, tropeçado, jamais confundiria as caixas desses "remédios para a Alma". Mas na falta destes, com o tempo a gente se acostuma a viver na monotonia do cotidiano - depois desta história que agora coloco aqui, jamais pensei em encontrar Amor verdadeiro, e a vida para mim tornou-se "escovar os dentes, preparar o café da manhã, almoço, limpar o jardim, e fazer o jantar". Sem, é claro, deixar de lado a falsa animação. Enfim, dia-a-dia de alguém que, como eu, perdeu seu coração em determinada curva do caminho, e jamais voltou atrás para recolhe-lo.

Pois é, maldito orgulho que se apropria da Alma e do Corpo da Gente! Por causa dele pensei estar de posse de tesouro, quando tinha algo verdadeiramente sem valor; foi desse jeitinho que larguei aquilo que me sustentava, pela simples mesura de achar que aquee outro, chinfrin, velho e roto "não estava aos meus padrões". Esse mesmo orgulho reduziu-me a algo do tamanho de uma mosca, mas uma mosca sem cabeça, rabo ou asas, porque não consigo me erguer do chão. Fiquei ali, estatelada, de cara no assoalho, vendo o tempo passar por mim... Nem a cebola que costumo ingerir diariamente, para me chocalhar, e me fazer asperamente ver a realidade, adiantou.

Cresci ouvindo dizer que o caminho do Amor incluia achar alguém que me amasse em retribuição, saisse e dançasse a noite inteira, passear no escuro de mãos dadas. Nada disso adiantou para esquecer quem até hoje me enlouquece. Conselhos, bah, não me servem mesmo! Sou uma dessas pessoas que não podem ser advertidas para se afastarem da desventura. Pode-se tentar, pode-se oferecer todos os alertas, mas ainda assim, sigo minha própria mente e estratégia. Sempre fui dominada pelo desejo de Ter aquele que um dia Vi, na floresta, e agi como você deve estar pensando - com a bruxa dentro de mim. Pena que no auge do sentimento, da transmutação em amor, matei-a rapidamente, cortando sua garganta com meu athame afiadíssimo. Era preciso Athena, o mundo das Bruxas virou livro de histórias...

Eu, que recebia lições de cozinha há anos, esqueci a maior delas - seja cautelosa com o que desejar, pois alguns destinos são assegurados, não importa quem tente interferir. Por causa do meu ato, caí aos pedaços, e até agora tento colar-me, sem encontrar aquele que deve ser o coração. Este, tenho certeza, o diabo do moço de olhos azuis levou consigo, por eu hesitar, por eu ter escolhido segurança e lar. Por eu ter deixado passar o Amor, batido, e entrado na porta que me conduzia a paixão de algumas semanas, terminei na sala, prisioneira dum marasmo eterno. Pudera, o que eu pensei?

Que Amor era um brinquedo, uma coisa fácil e doce apenas para se divertir. Fui tola, idiota sim. Sabia que estava amando, e mesmo assim, achei que, conhecedora dos mistérios além-sem fim, podia me libertar dos laços que me prendiam... Sabem, o verdadeiro amor era perigoso demais, exigia tanta coisa, eu uma insegura e carente mocinha, só queria filhos e uma casa. Um lar! Mas à noite sentia ele me dominar por inteira, aqui dentro, me agarrava firmemente e revirava minhas entranhas, até que eu, num acesso de vômito, explodisse no piso, se não levantasse com rapidez para ir ao banheiro. Sorte ou azar, tive marido bondoso, que pensava tratar-se de doença crônica, me trazia chá na cama, e alisava meus cabelos até eu parar de chorar e entrar em sono profundo. Dizia que "iria com o tempo amainar"; o que ele não via é que o relógio só fazia crescer a tempestade ocêanica que jaz em mim. E aquela bondade, para mim nunca foi uma virtude, e sim falta de firmeza e medo, disfarçados como humildade. Seria tola se pensasse outra coisa do homem com quem vivi por todos esses anos! Pelo resto da minha vida vou ser seguida por alguém, por toda parte, que me ama mais do que a própria vida, e eu não consigo nem sequer mandá-lo embora. Cão sem dono, tenha piedade dos meus olhos que a ti volvei! E isso me deixa dolorida, por dentro e por fora.

Muitas vezes a coisa certa a se fazer torna-se depois de terminada e encerrada totalmente errada. Comigo foi assim...Num dia como esse agora, nessa mesma hora foi quando ouvi os banshees pela primeira vez. Encantada e tomada por aquela espécie de medo que nos faz destemidas e audaciosas, em vez de me esconder, saí para a floresta, a fim de esclarecer quem eram essas tais criaturas! E foi num clarão, num forte esbarrão que encontrei com os olhos daquele moço, tão límpidos como o Mar! Acho que foi exatamente nesse contato que o desejo infiltrou-se sorrateiramente em mim, transformando-me em algo muito tolo, como uma mosca que não pára de perseguir o mesmo cão velho.

A coragem inflamou-se em minhas veias, destemida, e ousei com ele ultrapassar tantos limites e tantas ondas quanto podia. Mais, achei que iria me afogar, não confiava nos braços seguros do amante enevoado. Nos amávamos como duas bestas selvagens, e também como dois casais de pombos, entre arrulhos e gemidos ternos; nos unimos certo dia propício, pela cerimônia da Agulha de Prata, onde cada um estendeu sua mão esquerda, e depois de picado o terceiro dedo desta, deixou-se pingar sangue com sangue, cruzando destinos, unindo corações. Porém, que imprudência - não exerci o papel de bruxa completa - não houve o zelo de guardar tecidos vivos do meu amado, como aparas de unhas, fios de cabelo, sêmen. Sabia que aquele era o Amado predestinado, não o somente desejado. E aquilo que é para nós destinado, nada no mundo toma. Esqueci da última linha - "A não ser nós mesmos..."

Com aquele homem, fiquei feito mulher-conjuro, vagando pela Vida, não há meios de dormir, descansar, conversar, trabalhar, sem pensar no derradeiro... Sei que só encontrarei a paz quando ele voltar, pois ali irei serenar, em seus braços. Mas, e quando esse dia chega? Já se passou tanto tempo, e não há volta... Repito toda a noite os movimentos de evocação do seu espírito, antes de ir para cama, crio pombas selvagens, solto-as com os devidos gestuais ancestrais aprendidos, mas continuo assim - sem o seu retorno e sendo devorada viva pelo Amor que perdi. Também pela culpa de ter Escolhido esse fado.

Após alguns meses meu pai descobriu nosso romance. Ficou em estado deplorável, exigiu que aceitasse a proposta imediatamente do nosso vizinho de Terras, pessoa rica e destinada por ele a mim desde que nasci. Choravam em casa o dia inteiro, e por certo tempo realmente não me importei com o que as pessoas diziam. Não importava nem o que poderiam dizer. Porém, insegura, cai na cilada de outra mulher - fui colhida pelos ciúmes: ao ver meu Amado conversando com a dona da Boate, de muito perto, muito íntimos, chegados assim, boca no ouvido, nariz aspirando o perfume do colo do seio... Fiz escândalo, ele me conteve, ela ria muito alto.

Não adiantaram suas súplicas e explicações. Muito menos seu amor esparramado aos meus pés: meu orgulho dizia que havia sido traída, e devia agora agir com a razão. Assegurar um caminho rapidamente para mim, uma rolha para tapar aquele "buraco negro" que já sentia-se enorme dentro de mim, sem limites como um Oceano. Seus protestos vãos enchiam a noite, varavam madrugadas, mas não olhei para trás. Acreditava que ser ruim quando as pessoas erravam era a glória dos Fortes; contudo aprendi que a ruína era o próximo passo - um abismo me esperava depois...

A última vez que eu o vi estava parado no "nosso jardim", num canto onde havíamos plantado limão-cravo, verbena e odorífera, tomilho e erva-cidreira. Colheu uma das viçosas peônias ali existentes, que protegiam contra o mau tempo, enjoo em viagens e também evitavam a entrada do mal à casa, juntou a alfazema à suas mãos, mais o confrei, pelo seu odor característico, e fez disso um buquê. Transpassou a distância que nos separava, já com lágrimas nos olhos e disse-me: "Nestas estarei sempre ao seu lado, mas já não posso fisicamente ficar aqui, vendo-te tomar outro rumo, se afastando de mim. Estou quebrado, meu mundo e sonhos acabados. Preciso sair daqui, fugir pra bem longe. De repente isso pode significar um novo rumo, e ter algo lá no fundo, a direção certa que me acolha e me conserte. Adeus".

Fiquei ali, em pé, sem pedir para ele voltar, nem pude segurar sua mão. À esta época estava casada, fazia poucos dias, algo decidido às pressas, num impulso, rompante vingativo de uma menina mimada. Jamais acreditei que sua fuga era uma viagem sem volta...

Enfiando a agulha no tecido, agora pelo avesso, termino o prosaico desenho de um carvalho em meio a um caminho limpo. Olho, admirada para ele, e concluo a história da noite: "Depois da decisão que tomei, selando a voz do coração e anestesiando minha pele que se enchia de tesão só de vê-lo, nunca mais nos encontramos. Eu e ele nos perdemos, de vez. E nem eu mesma me encontraria mais depois da partida do Amor.

Por isso quando o Amor acenar na janela, feito girassol amarelo-resplandecente, salte-a, rompa barreiras, percorra kilômetros, mas vá. Voe até lá, se não for possível outro meio, use a vassoura. E jamais deixe que o monstro do Orgulho te rodeie, em círculos. No final, nunca adormeças sua Bruxa, despertando somente a Princesa Encantada, esquecendo dessa forma de ser precavida. A coleta faz parte do nosso mundo - comece no início a guardar aparas das unhas do Amor para que, numa fatalidade talvez, você possa chamá-lo rapidamente... Pois nem nos contos de fadas de hoje os finais felizes são para sempre.

Histórias de Beatriz: Pra gente poder ser feliz sem aquele triz.

Borboletas:.

Tenho uma visão diferente sobre o Amor Eterno, mas pode ser que todos os olhares sobre esse tema cheguem a Roma. Há um único amor, várias paixões. Há os casos de homens-segurança, homens-muleta, homens-sorriso. Homens-Levanta-Astrais. Homens-bençãos. Há aqueles que passam, e logicamente deixam momentos maravilhosos, e nem lembramos os maus momentos, de tão rápido e tão passageiro! Quer dizer, houve alegria, risos, paixão, desejo, mas... Faltou intimidade. Muitos foram companheiros, amigos, o que faltou foi pele, desejo, tesão. Familiaridade demais - homens-irmão.

Eu não sei exatamente o que pode ser essa Força Imensa que é O Amor, da forma como concebo. Mas o que eu sinto é uma força que impele você a pensar na vida do outro, em momento de perigo. Aquele sentimento que te acalenta, te nutre e conforta, e te faz feliz, pelo simples saber que o outro está feliz. Um tipo de amor incondicional, misturado a muito tesão, intimidade, companheirismo. Não amo por causa de, ou apesar de... Amo o conjunto, e se há defeitos, ou qualidades, sei lá... Roda direitinho no meu micro, encaixe perfeito, magia contagiante.

Não há problema na convivência. O mau humor dele é clássico, mas basta um sorriso e um chamego... Um pouco egoísta, sim. Porém eu adoro mimar, e mimar muito mesmo, aqueles que eu amo. E quando ele se sente seguro na capacidade de amor que recebe, ah, derrama uma torrente de ações simbólicas, que querem dizer o quanto ele ama, mas não consegue expressar por meio de digamos, palavras.

Não há defeitos, não há qualidades nesse Amor. Apenas um Homem, em cujos olhos enxergo a mesma dor que já senti inúmeras vezes e encontro a mesma busca ansiosa pelo prazer de ser amado. Nele recarrego forças, é muito BOM você ter um dia horrível, ou um acontecimento péssimo, e saber que alguém, ali perto, vai te abraçar, e dizer: "Está tudo bem, eu resolvo tudo. Está tudo bem, porque eu estou aqui. Já passou”.

Se rola briga, acaba em risadas; ou em altas discussões filosóficas, que terminam em pura paródia. Acho que um relacionamento, quando tem dentro de si um sentimento verdadeiro, para evoluir e transcender precisa que os dois amadureçam. Apesar da idade, ou da experiência, ainda estamos cheios de couraças, bagagens emocionais, medo, armando defesas contra a pessoa que amamos e que nos ama. Continuar com isso seria destruir o laço que nos uniu, nos implodir e detonar uma série de acontecimentos externos. Pois ceder não é submeter-se ao outro, pedir desculpas não é fraqueza, Amar é mergulhar em si, compreendendo o Outro inteiramente.

O tempo é como um espelho: mostra o quanto podíamos ter sido melhores, e o quanto fomos idiotas. Evoca nossas facetas, nos conduz a um crescimento memorável, e fatalmente a uma situação que ilustra a carta da Morte – uma transmutação, uma morte e um renascer, energias sendo transformadas. Não é um corte, mas uma nova postura em relação a algo. Nós somos seres individuais, e ao mesmo tempo, somos um. Na busca da individualidade, podemos ter cometido sérios deslizes. Forças externas impedem uma convivência pacífica, um casal deve ter um tempo para se conhecer, se aprofundar e crescer, sozinhos.

Portanto, não digo que amei, mas que amo. Pois o presente é a única coisa certa em minha vida, o passado já se transformou em experiências e tratados memoráveis, do futuro cuidam os deuses. Hoje Amo. Se acabar, não era amor. Foi paixão.

Caixa Aberta:.

O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse não.
O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse não.
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração...
Rainha ou Mulher?

Luz Dos Olhos
Ponho os meus olhos em você
Se você está
A dona dos meus olhos é você
Avião no ar
Guia para esses olhos sem te ver
É como o chão do mar
Eu ligo o rádio à pilha e a TV
Só pra você me escutar
Que a nova música eu fiz agora
Lá fora a rua vazia chora
E eu te chamo
Eu te peço vem
E diga que você me quer
Porque eu te quero também
Pois meus olhos vibram ao te ver
São teus fãs um par
Pus nos olhos vidros pra poder
Melhor te enxergar
Luz dos olhos para anoitecer
É só você se afastar
Eu pinto os lábios para escrever
A sua boca
Que a nossa música eu fiz agora
Lá fora a Lua irradia a glória
Porque eu te amo
E eu berro vem
E grita o que você quiser
Que eu vou gritar também
Pra eu te dar minha mão nessa hora
Levar as malas pro fusca lá fora
Eu vou guiando
Eu te espero vem
E siga onde vão meus pés
Que eu te sigo também
Porque eu te chamo
Eu peço vem
E diga que você me quer

Depois disso, então, nunca me deixe, acredite em mim, acredite em nós dois, acredite que nos fundimos, que somos como a água e a lua. que somos uma só saliva, com apenas um gosto de fruta madura, volte para nossa casa, volte para nossa cama, volte para o corpo que te pertence. Lute por isto, cale minha boca com seu beijo, prenda meu corpo com seu peso, me ponha dentro de você, faça que eu goze das delicias do amor, depois me chame de seu menino, de criança que saiu de dentro de você, e mande, ordene que eu fique quieto, e que te escute, e diga apenas que sou seu homem e que você me ama, pois é minha mulher, eu te amo.


"(...)Tem mais alguma coisa para lavar?
Tem, sim, o encardido da alma,
um grão de esperança lava.
Pode ir brincar, Beatriz".
(Adélia Prado)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006


leis.

Ensinamentos de Chuan Tzu, há três mil anos

Fé: Antes de entrar em uma batalha é preciso acreditar no motivo da luta.

O Companheiro: escolha seus aliados e aprenda a lutar acompanhado, porque ninguém vence uma guerra sozinho.

O tempo: uma luta no inverno é diferente de uma luta no verão; um bom guerreiro presta atenção ao momento certo de entrar no combate.

O espaço: não se luta num desfiladeiro da mesma maneira que numa planície. Considere o que existe a sua volta, e a melhor maneira de mover-se.

A estratégia: o melhor guerreiro é aquele que planeja seu combate.