segunda-feira, setembro 18, 2006


Deixa sair:.

Cena retirada do livro Deixa Sair, de Sônia Hirsch. "Num terreiro de umbanda, corria a sessão normalmente, quando alguém veio avisar a Pai José que tinha uma velhinha passando mal. Pai José mandou trazer a velhinha - uma senhora pequena, magrinha, de seus 70 anos, com cara de realmente estar nas últimas. Sentaram-na numa cadeira, enquanto Pai José a olhava, media e se concentrava. De repente perguntou baixinho pra ela Suncê peida, filha? A velhinha, agoniada, olhou em volta pedindo ajuda. Alguém traduziu: "Ele quer saber se a senhora solta gazes!" A velhinha, agoniada que estava, mais ainda ficou. Pai José pediu então para fazer um chá bem forte de dente-de-leão, e, enquanto isso colocou sua mão direita vibrando em direção à barriga da velhinha. Veio o chã, ela bebeu, e momentos depois soltava uma sonoríssima torrente de puns - e sua expressão foi se aliviando, as cores voltando, e ela começou a sorrir para o Pai José. Que sorriu de volta e comentou: Tem que peidar, né filha? Senào, esse gás aí dentro vai fazer suncê sair voando pelo céu antes da hora....

Há muita coisa que a gent põe pra dentro todo dia, depois não deixa sair e ainda reclama: Estou engordando. Meu intestino não funcional. Colesterol alto. Triglicerídios. Glicose alta. Cólicas menstruais horríveis. Pedras nos rins. Catarro nos pulmões. Ai, que dor de cabeça!

Curioso. Porque o nosso corpo é feito justamente para deixar sair, e assim, evitar qualquer doença. A gente faz cocô, xixi, sua, arrota, peida, expira, tosse, chora, menstrua, assoa o nariz, tem orgasmo e outras coisas para se livrar de excessos que, se ficando, perturbam o bom funcionamento físico, mental e espiritual. Aquela tensão na nuca é um excesso que tem que sair. Aquele ideal vibrando no peito um dia tem que sair. Talentos abandonados e apetites mal satisfeitos acabam virando doença.

Vou ler até o final, e aprender. A praticar diariamente o que minha mente já sabe.

comer, pra ser:..

Blaise Pascal colocava que diversamente arranjadas, forma as palavrs um sentido diverso - os sentidos, diversamente arranjados, produzem efeitos diversos. Máxima outra: "você é o que você lê e o que você come" - a alimentação do corpo faz-se pouco a pouco, plenitude de alimentos, pouca substância. A mente humana necessita de muito mais alimento do que o corpo físico; por isso é importante comer para viver, em vez de viver para comer. Se eu sou o que amo comer, sou doce de abóbora com coco; arroz-doce; camafeu de nozes; licores e doces caramelizados. Sorvete, todos os tipos em todas as estações. Torta de limão. Falar em doces aguça minha salivação e os pensamentos... De salgado, basta o mar.
Renova-te
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços, para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado
para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro!
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo".
Cecília Meirelles

Na Alma a cura:.

Vozes na escuridão. Uma voz semelhante aos "pios de um passáro" que nos importuna saindo de um corpo imponente fala por "um proprietário que não confia em si mesmo para estar à altura de suas possibilidades e colocá-las em uso; é de supor tanto o medo da própria força e da impressão que se causa quanto a distância da corporalidade - o ânimo interno, ao contrário da aparência interna, é medroso e sem autoconfiança. Voz Rouca deve-se a cordas irritadas e não a um estado de ânimo reconhecidamente irritado, podendo indicar que seu proprietário permanece constantemente nas proximidades do grito, sem realmente berrar do fundo do coração. A voz soa extremamente fatigada, seja porque gritou de maneira apenas parcial, e não total, ou então porque o brado tem de ser constantemente reprimido. A rouquidão mostra que a voz provém do âmbito da cabeça e do pescoço, e certamente não da barriga e do coração. Conseqüentemente, seu proprietário não coloca toda a sua pessoa naquilo que exterioriza. Para harmonizar-se com sua voz, é inevitável admitir-se nos planos de sentimentos que vibram em conjunto a cada momento, vivê-los e deixar que falem a partir de si mesmo. Somente assim surge a chance de estar (vocalmente) livre e aberto para todos os estados de ânimo.

Problemas como Bócio ou relativos à Tireóide sugerem respostas às seguintes perguntas: Vivo em um ambiente que proporciona poucos estímulos à minha vivacidade? Faço a mim mesmo coisas que me incham e que me impedem de participar da vivacidade mutante da vida? Por que não quero mais estar vivo? O que me leva a viver somente em ponto morto? O que meu excesso de peso quer me dizer? O que ele substitui em mim? Onde escondo minha energia vital? O que me transforma em um bloco de gelo? O que deveria deixar morrer para voltar a estar vivo? Onde está meu lugar, onde poderia viver e florescer?

Entender a doença como linguagem da alma não é fácil. O tratamento implica em, tal como uma cebola, retirando camadas e camadas, para enxergar o "ponto crucial". Quando vemos e utlizamos as oportunidades contidas nos sintomas, nossa vida não se torna necessariamente mais fácil, mas nós nos tornamos mais conscientes da responsabilidade; cada erro, uma possibilidade de crescimento, um aprendizado que pode ser acrescentado, se dermos a devida valoração a oportunidade. Outro fato é que o homem autorealizado, que encontrou o centro entre os pólos e o centro em si mesmo não avalia mais e sabe no fundo de seu coração, que tudo o que distribui volta para ele. Em ultima instância, toda terapia que merece esse nome pode ser resumida naquele que é talvez o mais importante dito de Cristo: "Ama seus inimigos". Muitas vezes nossos inimigos são superfícies externas de projeção que refletem para nós aquilo que não podemos suportar em nós, e que por isso mesmo, detestamos nos outros. Assim, os sintomas das doenças são inimigos internos para a maioria das pessoas. Quando conseguimos amar os inimigos externos e internos, o resultado é a cura. E nós o conseguiremos tanto mais facilmente quanto mais estivermos em condições de reconhecer a doença como linguagem da alma. Então, o que temos é a doença como caminho. Este caminho não é nove nem complicado, ele é tão atemporal, tão simples e tão exigente como as eternas palavras: Ama teus inimigos.

Baseado no livro de Rüdger Dahlke. A doença como linguagem da alma [Os sintomas como oportunidades de desenvolvimento'.

terça-feira, setembro 12, 2006


"Sacred book":.

Se vocês acreditam em Deus ou não (...)têm de acreditar nisto: quando nós, como espécie, abandonamos a confiança em um poder maior do que nós, abandonamos também nossa noção da obrigatoriedade de prestar contas. A fé, todas as formas de fé, são advertências de que existe algo que não podemos compreender, algo a que temos de responder. Com fé, prestamos contas uns aos outros, a nós mesmos e a uma verdade maior. A religião é falha, mas só porque o homem é falho. Se o mundo exterior pudesse ver esta igreja como eu vejo, além do ritual de dentro dessas paredes, veria um milagre moderno, uma fraternidade de almas imperfeitas e simples, querendo apenas ser uma voz de compaixão em um mundo do qual se está perdendo o controle.

Eu o li. Não identifiquei de onde veio o pensamento assim, confesso que gosto do adágio que diz que "a fé remove montanhas"; creio também que devo ter em alta conta a "crença em uma força maior", porém quando mesclada em um paragráfo assim, tendencioso e cheio de filosofias díspares, tenho a tendência de simplesmente deletar tudo. Eu só o guardei porque era interessante ver através dos seus olhos a Igreja sacramentada que carregas dentro de ti. Obsoleto este conceito, dinossauro?. Não sei. Sei que, para mim, se a alma e o coração não estiverem ao lado da mente, não traz prazer. Vida. Amor. Portanto, a Igreja precisa de reformas. Cores. Vitrais.

Leonard Wolf, meu pai, é um velho poeta visionário e rebelde. Ele acredita que a sabedoria criativa do coração traz uma mensagem mais importante que qualquer outra, e que, na vida, nossa tarefa é compreender essa mensagem. Leonard passou a vida identificando os desejos de seu coração e isso se reflete nas coisas à sua volta. Ele tem vinte máquinas de escrever antigas. Tem uma faca kukri, dos gurcas do Nepal, usada para degolar novilhos com um só golpe. (...)Empilha pedaços de madeira, e os montes de vidro trazidos pelo mar ficam em enormes cestas à volta da casa. Tem uma caixa de cravos de ferradura "porque cravos de ferradura são essencialmente bonitos". Tudo isso faz parte dos desejos de seu coração, por serem símbolos de uma vida de aventuras e descobertas. Entre as coisas que ele não possui: mapas atualizados para qualquer destino que seja. (...)Meu pai não tem telefone celular ou agenda eletronica. É a única pessoa nos EUA que manteve o endereço de correio eletrônico dado pela AOL, genérico e impossivel de lembrar. Desde que me tornei adulta, venho tentando explicar a ele o principio dos juros compostos. Ele não liga para esses detalhes porque não têm nada a ver com o que pensa que realmente importa.

Meu pai tem 80 anos, é professor e ensinou em todo tipo de ambiente, por quase sessenta anos, e está longe de ser rigo, mas tem prazer em pagar caro por seus objetos de valor inestimável. ele transforma a vida das pessoas porque acredita que todo o mundo aqui na Terra está como artista, para contar sua historia especial ou cantar sua canção insubstituivel; para deixar uma assinatura criativa singular. Acredita que a paixão e os sentimentos de cada um em relação a tal fato devem ter prioridade sobre todas as outras exigencias racionais: status, lucros, práticas palpáveis. Este livro é sobre por que ele acredita nisso, e o que sua crença faz às pessoas que o rodeiam.

O importante não é se o seu trabalho criativo tem valor de mercado; o que interessa é que seja seu. Ele quer saber se voce colocou ali sua emoção, sua disciplina de artista, se perseverou até o final e colocou seu nome, pelo menos na mente. Se fez, ele acredita que seu trabalho ganhou vida e dá vida aos que estão por perto. E, com certeza, dá vida a você. Verba volant/Scripta manent - "As palavras voam, os escritos permanecem". Relaxe, faça seu trabalho criativo, seja qual for. Se você não estiver realizando com paixão seu trabalho criativo, sua vida perderá a cor. Pare tudo: ouça sua alma com atençao, identifique o verdadeiro desejo do seu coração e mude de rumo. URGENTEMENTE.

Você pode aprender a viver da literatura, da arte, a chave para uma vida feliz e expressiva não vai ser encontrada em seçao de auto-ajuda, nem em diva de terapeuta - mas na atençao que se dá a poesia de como se vive, o que quer que você assim entenda como poesia. Existe um artista em cada um. Acredite. Meu pai acredita no amor apaixonada, em colocar o amor apaixonado no alto da lista das prioridades, e em colocar a paixão no centro de sua vida romantica, por mais domestica que seja. Acredita que ninguém deve deixar por menos. Seus alunos estão sempre abandonando relacionamentos seguros, mas não essenciais, e encontrando outros mais verdadeiros - seja um sentimento intenso em relação a alguem, que antes tenham considerado "inadequado" ou arriscando-se à solidão, em uma busca renovada por sua verdadeira alma gêmea.

O primeiro dos doze passos é: FIQUE QUIETO E PRESTE ATENÇÃO- porque você precisa entender que é um espectador e também um ator neste mundo. O silencio pode curar, porque é no silencio que seus nervos terao a oportunidade de se recolocarem em suas posiçoes e observarem para prestar atenção. Você pode começar do zero, com sua sensibilidade revigorada, pronta para receber qualquer coisa - quaisquer mensagens enviadas pelo Universo. Pode apenas ser o barulho de um passaro. Ou a mensagem que o universo precisa lhe enviar a respeito de uma completa mudança de direçao. Mas você não poderá ouvir até que esteja tudo calmo, você fazendo nada.
Naomi W., Meu pai me ensinou.

Lost but not least:.

Paul Gauguin, Mãe, Aline
Fale-me das Virtudes, mãe. "Ora, vamos, Elizabeth. Pare de ficar se fazendo de coitada". .:É uma atitude com relação ao mundo. Com relação aos outros no mundo. E para consigo mesmo. É uma atitude de... É uma crença baseada num compromisso pessoal de fazer a coisa certa, sejam quais forem as circunstâncias de sua vida. E suponho que seja minha filosofia de vida: você tem de estar preparado para agir... em pensamento. Porque as más ações nascem de maus pensamentos. De maneira que você tem de desenvolver em si mesmo uma bondade de pensamentos. As boas ações nascerão daí. Não importa que nem sempre funcione. É quase sempre difícil. Na alma, no coração e na mente. Requer que se empenhe tudo de si.

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Existem várias maneiras de se ter uma infância de privações. Uma delas é ter sorte demais. Este conhecimento, dádiva do tempo, ganha-se lentamente. Dizem que o véu que nos esconde o futuro foi tecido por um anjo misericordioso. Mas o que nos cega diante de nosso passado imprevisível? Por que estamos encapuzados enquanto procuramos em meio a suas ruínas, aprisionados pela teia intrincada de motivo e ação? Romancistas de nossas próprias vidas, inventando-nos a partir de pequenos pedaços de outras pessoas, usando os mortos e os vivos para contar nossa história, contamos histórias. Esta é uma delas - fragmentos de uma vida. De algumas vidas. Especialmente da minha. E da dela.

Não leu ainda Josephine Hart? Perde-se quase tudo ignorando seus livros. Perdas e Danos e Pecados são primorosos. Confusos. Apaixonantes. Encantados. Só pra quem não tem preconceito contra a verdade real, e já abriu mão da tal verdade formal, aquilo que alguns chama de autoengano.