quarta-feira, maio 31, 2006


No Jardim, símbolos:.

Desde a famosa macieira, no extinto Éden, as árvores exercem um fascínio imenso. No livro O Homem e Seus Símbolos, de Carl Gustav Jung, compara-se o desenvolvimento do ser humano ao das plantas. A semente contém o futuro pinheiro. Mas reage às circunstâncias, como qualidade do solo e vento, inclinando-se em direção ao sol, e modelando o crescimento da árvore. Assim também acontece com o homem, de maneira espontânea e inconsciente. Os celtas acreditavam que há muito em comum entre as árvores e as características das pessoas. Se você fosse uma árvore, qual seria? Carlos Drummond colocava que não é mistério para os entendidos que há uma linguagem das plantas, ou, para ser mais exato, que a cada planta corresponde uma linguagem. Como a variedade de plantas é infinita, faz-se impossível ao entendimento, por muito atilado que seja, captar todas as vozes de vegetais. E só os mais perspicazes entre os humanos conseguem entender a conversa entre duas plantas de espécies diferentes: cada uma usa o seu vocabulário, como por exemplo num diálogo em que A falasse em espanhol e B respondesse em alemão. Daquelas que eu conheço, pequenas metáforas. Opiniões a favor ou contra, não, pois ainda são fonte de lucro e ganha-pão.

ciprestO CIPRESTE, símbolo das pessoas que detém capacidade para Realizar qualquer coisa que colocar na sua mente. Com certeza, deve ter sido nele que o inventor da PNL se inspirou. Forte, saudável, costuma ser bom amigo, gostar da vida ao ar livre, no campo ou na praia, animais e crianças. Sabe ser versátil, jovial, e encara, mesmo com medo, os sentimentos mais malucos que encontra dentro de si. Descobre-se, se reconcilia, se autocura. Se um dia perdem o sorriso e o sentido da estrada, morre, madeira extraída, feito dente-de-leite. Porque são como crianças-crescidas, fiéis e carinhosas, dispostas a tudo para conquistar seus sonhos. Precisam de água, música clássica, e, algumas vezes, uma poda completa – como fazemos nos poodles; porque, conforme vão crescendo, tem o costume de guardarem tudo, como colecionadores. Nisso, viram baús de madeira, e esqueçam o caminho, a missão e o destino. Até aparecer alguém com a chave para reabri-los, muita neblina e farol baixo... E, quando se reiniciam, se parecem com ervas-daninhas, tamanho o fôlego e vitalidade para a vida. Aprenderam o que é importante, e não costumam abrir mão de mais nada, então. A menos que não sejam ciprestes, e, na verdade, mangueiras ou goiabas de madeira.


CARVALHO, símbolo das pessoas especiais, em busca da sabedoria ancestral. São muito forte, tanto fisicamente quanto moralmente, e mesmo que se quebrem, não se envergam. Muito observadores, com raízes profundas, pés muito no chão. Inteligentes, lineares, diretos. Nada de entrelinhas, entremargens, entrearbustos, com eles tem que ser tudo com pingos nos is, e t devidamente cortado. Letra perfeita. Apaixonam-se, fazem drama, fingem amar. Porque só com o passar do tempo e de um casamento estarão prontos para o Amor Verdadeiro e a verdadeira felicidade. Fiéis e duráveis. Perfeitos para adega. Ou construção de caixões. Geralmente, aceitam brincadeiras, mas limitam tudo. Um carvalho é coisa séria, pra vida inteira.


ipe-rosa
IPÊ–ROSA, árvore símbolo da pessoa dotada de intuição. Costumam ser os mais calmos, persuasivos e sabem argumentar na defesa de suas idéias. Embora gostem de convencer os outros, não são do tipo que insistem e perseveram, pois para eles reza o provérbio que se deve deixar que o tempo se encarregue de mostrar que estavam certos. Pois, invariavelmente, estão corretos. Tímidos, instrospectivos, a vida inteira trabalharão para que isso não transpareça a ninguém, para não demonstrar nenhuma farpa de fraqueza. São filhos do inverno, e muito distante do seu elemento, não sobrevivem. O ponto forte dessas pessoas é a criatividade, além da verbalização e da argumentação [sabem usar os bons argumentos para convencer as pessoas que estão a seu lado], e quando isso não acontece, deixam o tempo conspirar a seu favor. Sendo um pouco introvertidas, conseguem imaginar e fantasiar melhor as suas ideias e situações. Estão geralmente voltadas para as artes literárias e advocacia criminal. A vida amorosa e afetiva ficará mais satisfatória e tranqüila quando encontrarem o adubo certo. Aí sim, poderão ser mais, e quem sabe, permanecerem floridos o ano inteiro. Dependendo de sua profundidade e do amor recebido...


eucalipto EUCALIPTO, as pessoas símbolo desta árvore são dotadas de um grande sentido de humor, inteligentes e astutos. Intelectualmente aguçados, completamente inventivos, sabem agarrar oportunidades. Profissionais! É o inventor, o improvisador, o motivador; um charlatão capaz de extrair tudo com o seu encanto inimitável. Sendo o gênio malandro, é flexível e inovador. Pode resolver problemas complicados com facilidade, e será um aprendiz muito rápido. Pode dominar qualquer coisa sob o sol, e tem geralmente a aptidão para ser um lingüista muito bom. Nenhum desafio será demasiado grande para ele. A menos que provenha do coração, e que lhe peçam para realizar algo intuitivamente. Muito bom em esconder seus sentimentos, em perseguir o sucesso, e em ser orgulhoso. Seu caráter sociável pode iniciar o lado bom de todos; pena que geralmente não termina nada. Os insultos, as acusações e as reprimendas dirigidas ao macaco provarão ser ineficaz. É simplesmente impensável para ele acreditar em todas aquelas coisas feias que você o chama. Não pode ser verdadeiro. Tem um retrato tão exato dele próprio, dos seus talentos e da sua fortuna, que você só pode ser um louco ciumento ao fazer tais indicações ridículas sobre ele. Um pensador original e apesar de ser um amor de companhia, tende a estimar a sua independência. Aquele que se inibe da sua natureza ou tiver muitas limitações pode tornar-se muito infeliz, pois necessitam se concentrar numa coisa de cada vez, e só assim é que conseguirá certamente algo a mais, longo prazo. O eucalipto, quando já adulto e equilibrado, não é uma árvore nociva: se agora se vê por todo o lado, como praga, é porque lá o plantaram. Por outro lado é uma árvore muito bonita não só por ter um tronco cilíndrico e muito direito, despido de ramos até grande altura, com casca fibrosa castanha clara, como também por ter uma copa densa de folhagem verde escura. Um eucalipto em plena maturidade é um prodígio da natureza: possante e esbelto, erguendo-se numa urgência de tocar o céu; o seu aroma é dos mais agradáveis que se conhecem: intenso aroma a limão que as folhas exalam quando esmagadas. É comum ao eucalipto retirar os nutrientes do solo e absorvê-los totalmente, nutrindo-se destes para depois transformá-los em matéria-prima, para várias finalidades específicas. Semelhantes características possuem as pessoas-símbolo dessa árvore, que costumam doar-se para favorecer, muitas vezes àquele que se apresenta como o mais fraco, mesmo que a verdade não seja exatamente esta. Contudo, e apesar disto, são inteligentes, criativas e dinâmicas, buscam freqüentemente realizar projetos inovadores e grandiosos, muitas vezes visando auxiliar os mais próximos. Mostram –se aparentemente calmas, mas por dentro, encontram–se em constante agitação, porque sempre estão em movimento, realizando coisas para agradar a outros. Quando o eucalipto servirá a si, ainda não se sabe, ele está muito apressado, tanto como o coelho da Alice, em saber que horas são, correndo de um lado para outro, pra pensar nas oportunidades e momentos que cabem a si próprio.


jacarandá JACARANDÁ, símbolo das pessoas que protegem todos, geralmente ingênuas e puras, e que parecem envoltas em aura mágica. Sofisticadas, vaidosas, imaginativas, flutuam ao vento, colorindo tudo... Gostam do comando, das relações intensas, dos valores fortes e profundos. Não dão a menor importância às convenções sociais que os humanos prescreveram, porque são generosas e sociáveis. São tão cativantes que ninguém consegue se irritar com elas, mesmo que cometam altas gafes e alguns abusos. Não guardam mágoas, perdoam com facilidade e aceitam críticas. Também são bem ambiciosas, mas sempre preservam o meio para o alcance do fim. Não admitem serem enganadas, e são capazes de fazer uma fogueira com a árvore que se atrever a tal ato. Para conquistá-las, só mesmo seu grande Amor, porque jamais se entregam totalmente, até terem a certeza de que foram destinadas àquela terra, àquele lugar. Tudo para elas tem que ter valor e durabilidade. São pessoas que amam o verão (no Hemisfério Norte!), que possuem grande sensibilidade, misteriosas e donas de força enorme na palavra e no pensamento. Voltadas para os trabalhos grandiosos e de repercussão, serviços de comando e profissões liberais. Aqui também para avisar que, do outro lado de lá, ou seja, em Portugal, os Jacarandás começaram a florir, sendo oficialmente aberta a época Azul. Se é Azul, é árvore-símbolo desta Praia - mas ainda a considero "cor de lavanda".

Fala Sério:.

O que uma falha na comunicação ocasiona... Surrealidades do meu cotidiano, aventuras de Beatriz numa cidade grande. Entramos no local indicado, eu e a menininha mais linda do mundo, num antiquário chique e maravilhoso, cujo proprietário deve ser o mais elegante senhor, e delicado anjo que vive na terra. Enquanto eu me esbaldava em procurar o que queria, ela se esparramava no tapete com cabeça de animal, peludo, e olhava as gravuras selecionadíssimas, em preto-e-branco, que o anjo-vovô mostrava com paciência. Sei que quando fui ao encontro deles sua cara era uma moldura fixa, seu olhar me enquadrava no rol das piores mães do mundo. O que teria havido ali, naquela sessão de contar histórias? Sei bem o que a pequena é capaz de contar, mas na pressa em falar, esquece detalhes dignos de talhar qualquer doce-de-leite. Ele me perguntou porque "raios" eu tinha escolhido um nome tão horroroso pra minha filha? Como eu a deixava ter contato com cães raivosos? Por que eu a perdia sempre nas Americanas? O que estava acontecendo comigo, que parecia tão normal e querida, a primeira vista, e agora já era a bruxa malvada que literalmente engolira criancinhas. Bem, resumo da prosa: ele perguntou o nome pra querida menininha, que detém a maior imaginação mexicana já vista, em tenra idade. Ela rapidamente disse, e o que ele ouviu, e eu também ouviria (se não soubesse de onde originava-se aquilo) foi: Zéffina Joana. Você tem animalzinho pra cuidar? Eu tenho, mas ele me mordia, fazia buraco em mim, e aí ele foi para os drogados, com meu vovô. Concordei que eu também ficaria apavorada só com esse começo...

Bem, a pequena troca algumas letras: como o V pelo R, então "ramos" traduzir o que ela contou: "O meu nome é Safira Joana" (por causa da Safira, da Belíssima, que eu falei pra ela que era a mulher mais linda para aquela idade, certa noite); o cachorro era um mestiço - presente de algum amigo ao vovô dela; e como era fihote, arranhava e mordia tudo, inclusive ela. "Mas não forte", como ela dizia. O destino do presente era uma instituição - AA, porque fazemos trabalho voluntário, e precisávamos de algum cãozinho para eles aprenderem a se doar. Ela uviu "drogados" em algum momento, e resumiu tudo. O senhor entendeu que o cachorro e o avô eram malucos drogaditos, que tinham sido internados em hospício. E ela contou tudo isso séria, meticulosa, com detalhes de cor, casa, inclusive a roupa que o avô foi para tal lugar. No final, ganhou mais um vovô, um presente encantador, e eu consegui um belo desconto. Tem razão minha avó: "Deus realmente escreve por linhas tortas, o que temos a fazer é confiar, e continuar no caminho. No final, tudo se esclarece."

Ballerina:.

Certas passagens profundas em nossa vida pedem água rasa pra descontrair a mente. Susan Shapiro, com seu livro, foi decepcionante, já que na contracapa, quem a anunciava como escritora maravilhosa era Erica Jong. Não no livro que li - aliás, é até chata e insone com toda aquela bagagem psicológica de ficar analisando e reanalisando tudo o que ocorre. "Às vezes um charuto é apenas um charuto". Um santo homem, o seu marido, que a atura por mais de 5 anos. Mas, como sempre, no meio do joio, havia uma pequena lavanda, florescendo....Numa passagem, ela coloca em divisões os seus ex-namorados, o que cada um lhe disse que sentia, e o presente ou algo mais marcante que ficou, depois de tudo terminado. Lembrei da festa dos meus quinze anos, meu presente especial, uma caixinha de música, com uma delicadíssima bailarina com saia rendada, em porcela fina, rodopiava feliz, ao som de Ballade por Adelline. Junto, um cartão simples e feio, daqueles expostos em floricultura, pra pessoas mais idosas, com um botão de rosa vermelho, devidamente embalado. Dentro do cartão, depois da clássica frase impressa em todos, as palavras do "menino que eu era apaixonada, platonicamente" (quer dizer, tentava ocultar de todas as maneiras o sentimento): Nesta data tão especial, queria lhe dizer muita coisa, além de parabéns. Mas eu não sei o que sinto, e nem sei como dizer, quanto mais escrever. Não sei o que quero dizer quando digo que nem sei o que quero falar. Ah, e na hora da festa trouxe o LP do Roupa Nova, e me mandou ouvir a única canção que não era melosa do tal conjunto. Primeiro, as palavras - eu odiei o cérebro que não se exercitava, como seu corpo magnífico. Isso me elevou a um grau da fúria; quando ouvi a canção, foi o ápice. O que sentia terminou, e se revelou outro sentimento, uma vontade de ajudá-lo a salvar-se do abismo, quase prestei vestibular para assistente social... Mas o presente, ah, como amei (escolha da mãe dele - que eu adorava!). Aquela bailarina, a música, como ela podia saber o quanto aquilo sempre me encantou? Um dia, o tão bem guardado objeto caiu do alto - obra da minha irmã. Desespero total: a saia, milhões de pedaços de cacos espalhados, colei o que podia com superbonder... o resto coloquei num mini-envelope rosa, os cacos da saia da bailarina acidentada. Numa mudança, quase casada, mais uma vez lá foi ela, desta vez ação da minha mãe, com sua serelepe intrepidez em fazer tudo rapidamente, sem perguntar aonde pode mexer, ou como deve fazer. Colei a cabeça, adicionei mais cacos ao envelope, e tentei todos os produtos pra retirar os riscos da caixinha de música. Na separação, triste sina da bailarina, o ex que odiava a dançarina, jogou a caixinha longe, dizendo que aquilo era algo que devia ter sumido há muito tempo. Eram tantos cacos, guardei todos no envelope, como chorava ao som de Ballade por Adelline... lógico que acrescentei algo a história do presente, e o ex terminou por me consolar, comprando outra, que nem de longe chegava aos pés do bibelô que me encantava. Era grande, pesada, escura e .... feia mesmo. Fechei o livro da Chata da Shapiro, e comecei a rir: eu ainda tinha os cacos da bailarina no envelope mini rosa. Guardados no baú. Achei que era hora dela ir descansar, há tanto tempo estraçalhada ali... Enterrei e plantei alfazema, em homenagem àquilo que tanto me marcou. Quanto ao cartão, rasguei na frente do desmiolado. Se ele não sabia, não era eu que haveria de encontrar a solução por ele. Sabem, a vida vale por pquenos momentos como esses - excepcionais, onde nos encontramos completas, em algum lugar. Simples assim, foi o que sempre me fez feliz.

segunda-feira, maio 29, 2006


Visions of Johanna:.

Este é o nome de uma Música do Dylan, cuja tradução (parcialmente feita) diz que Johanna não está mais aqui. Apenas Louise. Pois então, era uma vez... ontem, talvez, uma menina toda cor-de-rosa, iniciando-se na dança, escolhendo o balé para deleite e prazer. E só o que gostava era ficar na ponta do pé; ou saltando, um, dois, três... Como castigo, por não querer ir além do prazer, e sentir dor e se sacrificar para ser uma verdadeira bailarina, a vida lhe concedeu a eterna posição de andarilha "na ponta dos pés". Com direito a saltos ousados, em caso de inimigos inesperados, ou estradas esburacadas demais... O que se retira daqui é que "nada nos adiciona vida, apenas realça a que já temos". O amor nos colore, protege e nos limita à combinação. Uma tonalidade deve deter o poder de ser saudável e condizente à outra. Porque senão, o que ocorre é apenas uma reação contra o último arranhão e ferimento. Visões de Johanna, com Louise ao lado de si.

Runaround Sue:.

Não acenando, mas afogando-se, o melhor poema de Stevie Smith, inglês. Não encontrei a tradução, mas em alta tempestade, quando no meio de algum tufão, sempre me lembro dele - do pobre nadador do poema de Stevie Smith lamentando que, durante toda sua vida nadara para muito longe, não sobre as ondas, mas se afogando... e, no entanto, não deixou de ser fascinante. Poderia menos ser mais? Afogando-nos sem saber. Desenrola-se a respeito de uma nadadora, uma mulher no Oceano, mais distante do que você pensava, que estava sobre as ondas se afogando... e a pessoa na praia, distante, não percebia nada, e acenava de volta, para ele a nadadora estava feliz e encantada, sublimamente lhe cumprimentando. O quanto podemos ser alienados nesta vida, em relação aos outros - até àqueles que amamos.

Teares siameses:.

Carta Aberta a uma incompreendida moça, no soturno de seu mais absoluto silêncio, enviada às pressas, contendo Medo de Voar, de Erica Jong, dentro, para que possa ver e desacreditar em psicanálise e estereótipos que colocam em nossas costas. Rótulos servem para produtos expostos em prateleira - cisnes não precisam de nada, per si significam o que são, linear e congruentemente. É, este é o meu território, fada-azul à beira mar, tentando desenrolar os fios de uma trama urdida por charmosa Penélope Ruiva, sem jeito e paciência para se enfiar por buracos e escoar lentamente por labirintos. Ser elaborada e modelada é ação da vida; e parece que eu passei a minha, até então, desenrolando novelos de outros, combinando cores, e deixando minha cesta de linhas em completo desalinho. O que me contenta, é que igualmente como Camille Paglia, creio que "a realidade deve ser distorcida, isto é, corrigida pela imaginação". Portanto, era uma vez uma menina... A liberdade de inventar, de poder voltar e corrigir, ou simplesmente andar e ir traçando novos rumos, dando leveza ao passado e colorido enorme ao futuro, com o presente lânguido distendendo-se em ondas, aos pés, me enfeitiça. Dedos enrodilhados em fios, as agulhas lentamente começam o casaquinho de bebê, azul. Uma coisa que somos, outra coisa é o vêm de dentro de nós. Nunca mais livres, vida de aeroporto, cheia de chegadas e despedidas, partidas e retornos. Cubra seu rosto com lenço, e dance amanhã. Lembre-se que não é preciso ser um quarto, pra ser mal-assombrada. Não é preciso ser comum, pra não ser bruxa, o caos existe, e inevitavelmente, em algum momento de nossas vidas, algo vai pegá-la de surpresa. Como uma chupeta numa fina doceria. Em plena luz do dia. Sem medo, porque Eu sou Ariadne, e guardei todos os fios pra você não se perder nas trevas, como eu fiz, portuguesa indiana, querendo chegar na Arábia. Nossa Sorte é que somos assim - siamesas. Porém, dá próxima vez, tece o fio, e me espera na saída... pra eu poder ter a experiência sabendo como e quando voltar, se quiser.

Rearranged:.

Na biografia de Grace Kelly, por Lacey, este diz que "A princesa era, ao mesmo tempo, compaixão e consideração, totalmente sincera e digna de confiança. Sentia particular empatia por pessoas solitárias e marginalizadas". Anthonny Robbins, em seu livro "O poder Interior" [estou ficando insuperável em auto-ajuda e PNL - argh!!!] fala que devemos ter alguém como exemplo, para que possamos "copiar" seus passos, feito clones. Sinceramente, não gostei do Poder do Anthonny, porque acho que todos somos singulares, e ninguém tem que ficar copiando alguém, pra poder ter sucesso. Fiquei horas e horas tentando imaginar quem eu gostaria de ser, mas mesmo minha vida não sendo uma Vida de Princesa, nem o mito de Grace Kelly, depois de ler sua farta biografia, me convenceram a seguir suas pegadas. O fim e o que ela passou por trás da máscara é que me afastaram. Aprendi a gostar de ser o cisne, da cor multifacetada que posso ser, porque agora conheço meu tamanho e capacidade de vôo. Da majestosa Grace, somente as qualidades acima citadas, em comum, e a mesma frase, colocada desde criança, em um diário, feito justificativa para escolha de um caminho. O resto, "que cada pessoa tenha sua sina e glória abençoada".
"Quando o amor lhe chamar, siga-o.
Mesmo que a voz dele destrua seus sonhos,
como o vento do norte destrói o jardim.
Pois ele a fará crescer..."

Khalil Gibran, poeta libanês

Cordão Umbilical:.

Memórias são lembranças de "acontecimentos marcantes", alguns passíveis de serem entendidos como banais ou ínfimos, mas em si carregam toda uma gama de "histórias". Esta semana inteira fui abençoada por alguém lá de cima com "links", que, por ter memória associativa, sempre me conduzia a mesma lembrança. Como se eu todos os dias terminasse por recitar ininterruptamente o velho adágio: "quando queremos esquecer e dar às costas, tudo nos lembra e leva ao retorno da encruzilhada", como se dissesse: Tem certeza que é o caminho correto? Não sei. Sei que Oliver Sacks foi retirado da cabeceira - pensei que dali pudessem estar sendo enviados os "fantasmas" do baú de ossos. Um filme, e novamente o link. Desliguei, outra hora eu assisto. Agora, um livro de presente - e este foi fatal: 1.000 lugares para conhecer antes de morrer. Eu não quero mais pensar em roteiro e viagens. Quem sabe uma programação mental, constantemente repetindo que agora faço parte do pessoal que "se diz" existencialista? Assim, a palavra proibida seria futuro, amanhã e planos. E eu estaria protegida, mesmo que "por ilusão". Qualquer coisa dói, e eu procuro justificativas para desmitificar e exorcizar relapsos esperançosos de algo que "não sei o que é", mas sangra por dentro.

domingo, maio 28, 2006


Revolução dos diferentes:.

Em "O homem que confundiu a mulher com um chapéu", Oliver Sacks, há 15 anos atrás, escreveu um livro muito interessante, recheado de personagens estranhos, aludindo aos admiráveis poderes da nossa mente e ao delicado equilíbrio que nos sustenta. Foi um dos primeiros contatos do autor (neurologista) com pessoas portadoras de deficiência mental - e o confronto entre a visão que obteve academicamente, e o que a realidade lhe fornecia, através das vidas de seus pacientes, virou esta obra. O mundo dos Simples. Conforme Sacks, o termo "atrasado" sugere uma criança que não evolui, o termo "deficiente mental" sugere um adulto incompleto, porém ambos os termos e os conceitos são uma mistura de verdade e falsidade profunda. Trechos desta obra:

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REBECCA:.
"Rebecca já não era nenhuma criança quando foi enviada à nossa clínica. Tinha dezenove anos mas não se orientava na rua, não era capaz de abrir uma porta com uma chave (nunca conseguiu perceber como é que a chave entrava na fechadura). Não tinha integrado a lateralização, por vezes vestia a roupa ao contrário sem parecer perceber este detalhe, era capaz de passar horas a tentar encaixar uma mão numa luva ao contrário. Parecia não ter sentido do espaço, como uma criança. Desajeitada e descoordenada em todos os movimentos. Um relatório chamava‑lhe Mentecapta, outro deficiente motora, mas quando dançava toda a descoordenação desaparecia. Também possuia uma fenda palatina parcial que provocava assobios quando falava, dedos curtos e grossos, com unhas deformadas, e uma miopia degenerativa avançada, que a obrigava a usar óculos com lentes muito grossas. Tudo isto eram estigmas da mesma condição congênita que lhe provocara a deficiência mental e cerebral. Era extremamente envergonhada e introvertida porque sentia que sempre tinha sido humilhada e ridicularizada por vários. Mas era capaz de emoções fortes, de se ligar a alguém profundamente, até apaixonadamente. Era muito ligada à avó, que a educara desde os três anos (quando ambos os pais morreram). Gostava muito da natureza e, se a levavam a parques ou ao jardim botânico, era capaz de ficar horas seguidas. Também gostava muito de histórias, embora nunca tivesse aprendido a ler (apesar das tentativas sucessivas e mesmo frenéticas), e implorava à avó, ou a outros que as lessem - "Tem fome de histórias", dizia a avó. Também gostava muito de poesia. Parecia ter uma forte necessidade de ouvir ler ‑ uma espécie de alimento de realidade para a sua mente. A natureza era bela mas muda. Não chegava. Precisava das imagens verbais da linguagem para representar o mundo e a realidade, e parecia não ter dificuldade em compreender as metáforas e símbolos, mesmo de poemas muito profundos, o que contrastava profundamente com a sua incapacidade para compreender proposições e informações simples. A linguagem do sentimento, do concreto, da imagem e do símbolo formava um mundo que adorava e que conseguia penetrar de forma admirável. Sua avó era judia devota, e Rebecca adorava a cerimônia das velas do Shabbat, as bênçãos e orações que faziam parte deste dia judaico; ir à sinagoga onde todos gostavam dela (era considerada como filha de Deus, uma espécie de louca inocente e santa), compreendia bem a liturgia, os cânticos, as orações, os ritos e os símbolos do serviço ortodoxo. Conseguia tudo isto, gostava de tudo isto, apesar dos seus graves problemas perceptivos e espaço‑temporais, e da sua grande deficiência na capacidade esquemática: não conseguia conferir troco, era derrotada pelos cálculos mentais mais simples, nunca conseguiu aprender a escrever ou a ler, e tinha uma média de, mais ou menos, sessenta nos testes de Q.I. (embora fosse bastante melhor nos testes verbais do que nos outros). Era como se, a um nível mais profundo, não houvesse quaisquer deficiências ou incapacidades, só uma sensação de calma e totalidade, de ser completa, de estar viva, de ser uma alma profunda a elevada, de ser igual aos outros. Intelectualmente Rebecca sentia‑se deficiente, espiritualmente sentia‑se uma pessoa total e completa.

Quando a vi pela primeira vez ‑ desajeitada, deselegante, desastrada ‑ vi apenas a deficiente, uma criatura incompleta cujas capacidades neurológicas podia catalogar e dissecar com precisão (...) quando voltei a vê-la tudo foi diferente. Ela não estava numa situação de teste em minha clínica, mas passeando num jardim, sentada num banco, olhando calmamente para as flores de Abril com um prazer óbvio. A sua postura já não tinha nada da deselegância que me impressionara tanto no nosso primeiro encontro. Ali, sentada, com um vestido claro, o rosto calmo e um leve sorriso, fez‑me lembrar uma das personagens de Tchekhov: Irene, Anya, Sonya, Nina ‑ com um pomar de cerejeiras tchekhoviano como cenário. Era como qualquer jovem que aprecia um belo dia de Primavera. Esta era a visão humana, oposta à neurológica. Quando me aproximei, ela ouviu os meus passos e voltou‑se, brindando‑me com um sorriso que exprimia mais do que palavras. «Olhe para o mundo», parecia dizer. “Como é belo.» Seguiu‑se, em repentes jacksonianos, uma catadupa poética, estranha a súbita: «Primavera», «nascimento», «crescer», «movimento», «despertar para a vida», «estações», «um tempo para tudo». Dei por mim a pensar no livro do Eclesiastes: «Tudo tem um tempo, há um tempo para tudo. Tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para... ». Era esta a mensagem que Rebecca, no seu discurso desconjuntado, tentava transmitir: uma visão das estações, dos tempos, tal como a do profeta. «É uma idiota eclesiástica», pensei. E nesta frase as duas visões que eu tinha dela ‑ uma deficiente e uma simbolista ‑ encontraram‑se, colidiram e fundiram‑se. Como é que uma pessoa tão decomposta podia ficar tão recomposta?Comecei a pensar no seu gosto por histórias, pela composição e coerência narrativa. Seria possível que este ser diante de mim ‑ ao mesmo tempo uma jovem encantadora e uma mentecapta, um acidente cognitivo ‑ pudesse usar a narrativa (ou o texto dramático) para elaborar e integrar um mundo coerente, em substituição das capacidades esquemáticas que nela eram tão deficientes, que não funcionavam? Lembrei‑me da forma como dançava, e como a dança organizava os seus movimentos normalmente desajeitados e deselegantes. Ao vê‑la ali, sentada, pensei que os testes e as tentativas de aproximação são ridiculamente inadequados, pois só nos revelam os déficits, não nos mostram as aptidões; quando queremos ver música, narrativa, jogo, um ser que se comporta espontaneamente, de forma natural, tudo o que nos mostram são puzzles e esquemas.

Sentia que Rebecca era um ser “narrativo” completo e intacto, com condições que permitiam a organização da sua personalidade; era muito importante saber isto porque permitia que a víssemos, e ao seu potencial, de forma bastante diferente da que é imposta pelo método esquemático. Tive, talvez, a sorte de conhecer as diferentes facetas de Rebecca ‑ uma tão lesionada e deficiente, a outra tão repleta de promessas e potencialidades ‑ e dela ter sido o primeiro dos pacientes que observei naquela clínica. Aquilo que vi nela, aquilo que ela me ensinou, vejo agora em todos.(...) Dedicávamos muita atenção aos defeitos dos nossos pacientes, e muito pouco ao que neles estava intacto, preservado. Para usar os termos da gíria médica, preocupávamo‑nos muito com a defectologia, e muito pouco com a narratologia, que é a ciência, negligenciada mas necessária, do concreto. Há crianças muito novas que adoram e pedem histórias, e compreendem os assuntos complexos que são apresentados nessas histórias muito antes de terem capacidade para compreender conceitos gerais e paradigmas. É este poder narrativo ou simbólico que nos transmite o sentido do mundo ‑ uma realidade concreta na forma imaginativa de símbolos e histórias ‑ quando o pensamento abstracto não funciona. Uma criança é capaz de compreender as histórias da Bíblia muito antes de compreender Euclides. Não porque a Bíblia seja mais fácil (antes pelo contrário) mas porque é um texto simbólico e narrativo. Poderes emocionais, narrativos e simbólicos como os de Rebecca (como os de todos os deficientes mentais a quem é permitido, ou mesmo encorajado, o desenvolvimento individual) podem‑se desenvolver forte e exuberantemente e produzir (como no caso de Rebecca) uma espécie de poeta natural, ou (como no caso de José) uma espécie de artista natural, ao mesmo tempo que os poderes paradigmáticos e conceptuais, manifestamente fracos desde o início, vão se desgastando lenta e penosamente, ou são apenas capazes de um desenvolvimento muito limitado e hesitante."


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VER E NÃO VER:.
Virgil Adamson foi cego durante praticamente toda a sua vida, e, aos cinqüenta anos submeteu-se a uma cirurgia que lhe restaurou a visão. Sua história e sua dificuldade em enxergar levaram o Dr. Oliver Sacks a examiná-lo e a escrever um relato sobre sua experiência em seu livro. Pode soar estranho que uma pessoa ter 'dificuldade em enxergar', e é justamente por essa razão que esta narrativa é uma das mais interessantes do livro. Enxergar, para nós, que nascemos de olhos bem abertos, já espreitando tudo ao redor, não é novidade, é algo absolutamente normal e habitual. Tanto quanto respirar, comer e dormir. Mas o que dizer de um homem que, ao ver o rosto de uma pessoa, não tem a menor idéia do que está a sua frente; que não é capaz de entender que um cachorro visto de frente é diferente de um cachorro visto de lado; e que, finalmente, estende a mão para tocar um edifício que está a quilômetros de distância (já que, nunca tendo enxergado, não desenvolveu uma perspectiva de distância)? O choque de ser apresentado a um estranho mundo de sombras e movimentos. Colorir-se, por dentro e por fora. O maior paradoxo existente na história é que, depois de ter vivido cinco décadas na mais completa independência (apesar de sua cegueira), se tornou inseguro e dependente justamente ao recuperar a visão - sendo esta a prova definitiva de que a maior incomodada por sua 'deficiência' era a Sociedade, e não ele.


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PESSOAS-CISNES:.
De tudo isso o que ficou foi que: "Nada substitui os cinco sentidos e o contato direto na percepção de outra pessoa", e, principalmente, na capacidade de apreciação da profundeza dos sentimentos que circulam entre eles. Vivemos num mundo onde tudo é editado. Descarta-se o lado imperfeito e escuro da vida, para apresentar somente o que convém. Quando hoje alguém se apresenta, já vêm mascarado, portando somente uma parte de si mesmo - e é comum a frustração e decepção quando, no dia-a-dia, descobrimos o quão distante daquela realidade apresentava está a pessoa que agora se mostra quase completa. Relações ilusórias, mostram somente as qualidades, forjam muitas, exageram outras, escondem os defeitos embaixo do tapete, e enchem a vida de luz com promessas e atos "que parecem" habituais. Mas trata-se de estratégia de conduta, adequada ao papel que estes serem vivem. O que tem os normais que se diferenciam tanto dos "patinhos feios", os diferentes, rejeitados pela sociedade? Sinceridade. Humildade. Cisnes em pleno vôo. Abertos e completos - são o que são, e fazem o melhor com o que a vida lhes proporcionou. Uma pessoa-cisne, como Tejon coloca, prova sua capacidade, mesmo que todos digam que ela "jamais será igual", demonstra por resultados que "ser diferente também pode provocar sucesso e felicidade". Vontade e fé absoluta em si próprias: não fingem, vivem o papel que foi destinado a elas aqui. Por isso alçam vôo, enquanto a maioria - normais, robotizados, caminha lentamente, "vendo somente" com olhos de "especialista e neurologista", donos da verdade. Quem é diferente sofre represálias, e tem um monte de obstáculos. Pra terminar, Ludwig: "Nada é tão difícil quanto não se enganar a si próprio". Tanta gente realmente acreditando na história que contam à outros... forjando roupas e palavras, querem aparentar ser o que inventaram. No final da noite, o espelho mostra a outra face, geralmente na convivência com a pessoa que está ao seu lado. Para quem precisar, a receita é: O vôo dos Cisnes, do Tejon, inspiração para todos que se sentem patinhos feios diferentes.

sexta-feira, maio 26, 2006


De Marte:.

Às vezes eu mesma fico atabalhoada com a demora em perceber e unir as peças de algum quebra-cabeças real. Talvez por imaginar que nada tenha interesses desiguais aos meus, ou ocultos porque todos sinceros, ou que todos possam conter dentro de si uma certa ingenuidade que ainda carrego. Não costumo cavar problemas sem encontrá-los, à primeira e imponente vista. Certo, hoje em dia confiança é difícil, temos 40 escritórios de advocacia que trabalham para o PCC (será esse o número que eu ouvi em algum telejornal?). O dinheiro é atraente demais. Para alguns. Não, felizmente (ou infelizmente, para meus herdeiros), ficar rica dessa maneira não é minha praia. Mas posso dizer que, nesse momento, caiu a ficha, e despertei para o fato de que engenheiros lendo psicologia seriamente, são somente de dois tipos: os que participam e se contém dentro de algum distúrbio/síndrome/neurose/patologia; e aqueles que convivem com alguém que amam, portadores de algum tipo de transtorno, como DDA, Síndrome de Toilette, TOC. Nessa pressa em olhar detalhes, admito que o centro ficou para trás - e eu pensei que Um antropólogo em Marte fosse alguma obra de ficção, daquelas que eu abomino. Hoje, livro na minha mão, fico pensando em como o destino, e alguém lá em cima têm um jeito muito especial de unir pessoas e coisas, em momentos que passam por semelhantes situações. E uma mente inquieta levou ao mundo da lua, que nos trouxe à Marte, e eu retornei aqui, realmente acreditando em meus sonhos, e alçando vôo como cisne para Budapeste.

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Trecho de ANTROPÓLOGO em Marte:..
(...)A anatomia veio "naturalmente", ele disse, mas teve grande dificuldade com a escola de medicina, não apenas por seus tiques e toques, que foram se tornando mais elaborados com os anos, mas por estranhas resistências e obsessões, que obstruíam o ato da leitura. Tinha que ler várias vezes cada linha. Tinha que alinhar cada parágrafo para colocar os quatro cantos em simetria no seu campo visual. Além desse alinhamento de cada parágrafo, e às vezes de cada linha, eu era assediado pela necessidade de "equilibrar" sílabas e palavras, de colocar em simetria a pontuação em minha cabeça, de conferir a frequência de determinada letra, e de repetir palavras, frases ou linhas para mim mesmo.

Janelas em Nós:.

Atrás de tantas janelas, contemplamos nossos pedaços e máscaras sociais, quantas vidas remendadas e fingidas, o que é trapo visto como veludo. De uma certa maneira, parece que há uma bifurcação no caminho da vida que nos convida a retirar-nos de tudo o que "não é nosso", e passarmos a sermos cisnes, a totalidade verdadeira do nosso ser, sem medo e sem interesse, apreciando nossa imagem belíssima no lago. Não haverão mais vidas duplicadas, replicadas, nem duplas. Nunca mais o passatempo de passar-se por um entrudo, outra figura, uma montagem de quem queríamos ou sonhamos tanto em ser e viver. A vida exige a opção, mas nos cobra pelo prazer, nos faz navio perdido em mar revolto, onde o lastro vital deve ser adquirido passo-a-passo, teste-a-teste, se mantermos o prumo, se conseguirmos seguir o rumo, ousar e aportar no porto certo. Até um ponto vemos tantos companheiros, e após uma linha, contrariados, voltam a segurança de serem sem esforço apenas aquilo que são, desistem de si, acautelam-se, com medo de voar. Mar, metade da minha alma é feita de maresia... E é porque as tuas ondas, todas desfeitas pela areia, mais fortes se levantam outra vez, que, queda após cada queda, caminho novamente em frente para a vida, talvez por uma nova ilusão endoidecida, entorpecida... Antes, porém, do alto contemplo tudo, e faço soar a dor pelas alturas. Pra poder novamente, como suas ondas, ver meu coração livre de tristeza impura... eu sonho que nunca deixarei de ter a capacidade de sonhar, aquilo que sempre acalento, dentro de mim, guardado em alguma das muitas janelas dentro de mim.

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"A menina translúcida passa. Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos. Brilha em sua narina o coral do dia. Leva o arco-íris em cada fio do cabelo. Em sua pele, madrepérolas hesitantes, pintam leves alvoradas de neblina. Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem. É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas. A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro. E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo, em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos". Da Janela, vem a mente esse trecho de poesia da Cecília Meireles, pra lembrar de um tempo distante, de promessas esquecidas, de praias roubadas. De uma janela agora fechada, e já nem sei se há mais água lá fora, ou do lado de cá... Eu vou rasgar meu coração, pra poder costurar o seu. Só pra poder te ver feliz.

quinta-feira, maio 25, 2006


História de Mulheres:.

"(...)É espantoso verificar que sempre houve mulheres capazes de se sobreporem às mais árduas circunstâncias na história deste planeta. Mulheres criadoras, guerreiras, aventureiras, políticas, cientistas, escritoras-natas, que tiveram a habilidade e a coragem de fugir - sabe-se lá como! - a destinos tão estreitos como um túmulo. Foram sempre poucas, é claro, em comparação com a grande massa de mulheres anônimas e submetidas aos limites que o mundo lhes impôs; mas foram, sem qualquer dúvida, muitíssimas mais do que aquelas que hoje conhecemos e recordamos. É que, como diz a escritora italiana Dacia Maraini, as mulheres quando morrem fazem-no para sempre, submetidas ao duplo fim da carne e do esquecimento. Os historiadores, os enciclopedistas, os acadêmicos, os guardiões da cultura oficial e da memória pública foram sempre homens, e os atos e as obras das mulheres raramente passaram para os anais.

(...)Por outro lado, a recordação que temos das mulheres e dos seus atos é, amiúde, manchada pelos valores sexistas. Por exemplo: Messalina, esposa do imperador romano Cláudio I, porque passou para a história convertida no símbolo da mulher infiel e ninfomaníaca. Ou então Catarina, a Grande, a famosa imperatriz da Rússia, de quem, sobretudo, se recorda que era uma senhora de grande decisão, e que tinha muitos amantes. (...) No entanto, assim que espreitamos para os bastidores da história encontramos logo mulheres surpreendentes: aparecem sob a monótona imagem tradicional da domesticidade feminina, da mesma forma que o mergulhador vislumbra as riquezas submarinas (uma paisagem inesperada de peixes e corais) nas águas quietas de um mar quente. É o caso, por exemplo, das mulheres guerreiras, personagens de uma extravagância extraordinária. Casos de Maria Pérez, Joana D'Arc, Mary Read, Louise Bréville.

(...)Houve freiras maravilhosas, pelo seu nível intelectual ou pela sua capacidade artística, como Santa Teresa, Soror Juana Inés de la Cruz, ou Herrad de Landsberg, abadessa de Hohenburg, que no século XIII fez a primeira enciclopédia da história elaborada por uma mulher. (...) Houve governantas cegas pela paixão, como a espanhola Joana, a Louca, que passeou durante três anos por toda a Espanha com o cadáver do seu marido, Filipe, o Belo. Ou Artemísia II, rainha de Halicarnasso (século IV a.C.), que, ao ficar viúva do seu amado Mausolo, mandou construir um monumento em sua memória, que foi uma das sete maravilhas do mundo antigo, e nos deixou o uso da palavra mausoléu. Uma antepassada desta desconsolada viúva, Artemísia I, também rainha de Halicarnasso, mas um século antes, fora menos delicada na sua paixão: apaixonou-se por Dárdano e, ao ser rejeitada por ele, mandou que lhe arrancassem os olhos, e depois lhe tirou a vida. Realmente houve mulheres arrepiantes.

Todos estes relatos de soberanas fortes e ferozes indicam que a mulher também pode ser malvada, o que, de certa forma, é um alívio, porque nos consolida na nossa humanidade cabal e completa: somos capazes, como qualquer pessoa, de toda a excelência e de todo o abismo. A pior de todas? Difícil competição, mas uma perversa clássica e emblemática, da mesma forma que foi emblemática a maldade do marquês de Sade, é Elisabeth Batory, a condessa sangrenta (1560-1614), uma viúva húngara que julgava ser possível manter a juventude se tomasse banho em sangue de donzela. Torturou, dizem, mais de seiscentas jovens camponesas, que acabava por degolar e dessangrar. Quando os seus crimes foram descobertos, Batory foi emparedada viva no seu castelo. Houve, enfim, mulheres de todo o tipo."

Estes relatos de mulheres exuberantes e famosas historicamente, podem, enfim, comprovar que todas as mulheres que, retratadas aqui, de alguma maneira, se afastaram completamente da norma. Por exemplo, abundam os amantes muito mais novos do que elas. Dir-se-ia que também são frequentes as angústias, depressões e obsessões: como se muitas delas se tivessem abeirado dessa terra de ninguém a que a sociedade chama loucura. Mas isto não quer dizer que as mulheres famosas sejam necessariamente lunáticas(...) Por isso, é óbvio que estas mulheres não foram normais. Assim que espreitamos suas vidas concretas, em quotidianidade oculta e silenciada, descobrimos que a realidade tem pouco a ver com os anais oficiais, com a ortodoxia social, com a história que o poder nos contou. E não se trata só de mulheres, mas também de muitíssimos homens que ousaram sentir, desejar e agir, à margem das convenções. (...) Cada vida é uma aventura, um desvio das limitações do correto. Talvez seja isso, em conclusão, a coisa mais importante que eu aprendi: que a normalidade é o que não existe."


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HISTÓRIAS DE MULHERES, de Rosa Montero, é uma coletânea biográfica, e ao mesmo tempo, são todos uma visão muito pessoal da escritora. Revelam um grande esforço de documentação, sobretudo do campo da paixão, face a percursos extraordinários em que, todavia, cada um de nós se pode reconhecer. De Agatha Christie a Simone de Beauvoir, de Alma Mahler a George Sand, de Isabelle Eberhardt a Frida Kahlo, de Camille Claudel às irmãs Brontë, é uma notável galeria de mulheres. Muito bom o resgate feminino, o olhar para trás, para podermos olhar para frente com mais esperança de conquista.

terça-feira, maio 23, 2006


A viagem:.

Spoiler da Novela, pra que ninguém morra de ansiedade: Otávio Jordão morre no capítulo 71. Morre Dinah depois, e se reencontra com seu amor, Otávio, num lugar chamado "Nosso Lar" (representação do céu) e de lá, juntos, com seu amor capaz de superar todas as barreiras, tentam reverter a influência de Alexandre, que está no "Vale dos Suicidas", sobre os seus entes queridos na Terra. Dona Maroca também morre. O jardineiro Okida casa-se com Glória, a governanta. Adonay, o mascarado, fica com a Carmem, e se descobre que ele era uma antiga paixão sua, que teve o rosto desfigurado num acidente. Fátima casa-se com Agenor, pai da Lisa, que fica com Théo. E Alexandre termina por reeencarnar como filho de Raul e Andrezza. Para escrever A Viagem, Ivani Ribeiro baseou-se em dois livros ditados pelo espírito André Luiz ao psicógrafo médium Chico Xavier: Nosso Lar, e E a Vida Continua. Capítulo Final, o texto lido é este:

"Hoje, de algum lugar longe dessas terras
Há um doce olhar só pra você
Um olhar especial
De alguém especial, de distantes origens
Um olhar de um justo coração que pulsa só a vida
Que sorri porque ama plenamente
Sem julgamentos, preconceitos nem prisões
Hoje, como ontem, longe desses céus
Há um encantador olhar só pra você
Nesse olhar vai para você a magia da luz
A simplicidade do perdão
A força para comungar com a vida
A esperança de dias mais radiantes de paz
Hoje, de algum lugar dentro de você,
Alguém que já o amou muito e ainda o ama
Diz para você que valeu a pena ter estado nessas terras...
Sob estes céus...
Falando de união, paz, amor e perdão
Poder sentir a força que faz você sorrir
E continuar o caminho
Que um dia aquele doce olhar iniciou pra você
Tudo isso, só para você saber que
A vida continua...
e a morte é apenas uma Viagem."

segunda-feira, maio 22, 2006


De tudo, há sempre algo:.

Memoriais do livro Melancia, da Marian Keyes
Apesar de ser água-com-açúcar, best-seller e primeiro livro da escritora que ainda estava literalmente engatinhando depois de crises pessoais, uma literatura criticada pela classe dos "escol", acredite: sempre haverá algo, mesmo nesse tipo de colheita, do qual se aproveita. Eu diria mais: é hiperdivertido, valendo cada centavo que ela ganhou (mas ainda o acho caríssimo demais para ser comprado!). Este livro contém uma história-padrão, mas com simplicidade, contém um jeito de dizer o que vai dentro da gente, sem embromar, sem enrolar... Do mesmo modo que falamos com amigas que confiamos, ou sozinhas, à noite, bem escondida da figura de todos os outros.

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"Engraçado, isso. A pessoa deseja uma coisa tão profundamente, que dói. E então, quando essa coisa é obtida, mas precisa de muita restauração, renovação, derrubada de paredes, nova fiação elétrica e canos novos, ela pensa: "Mas que diabo! Não quero mais isso. Vou me conformar com algo menor, sem jardim, mas pelo menos já pronto”. (...) Porque depois de tudo isso, me sinto vazia. Você sabe qual é a pior coisa que um homem pode fazer a uma mulher? Bem, o que de fato fez meu amor ir pelo ralo foi que compreendi finalmente o que Ele fazia comigo. O fato de que Ele me fazia duvidar de mim mesma. Eu estava preparada para tentar mudar a maneira como sou, mudar quem eu sou, simplesmente por Ele. Meu marido me fez abandonar toda a minha integridade. Tentou destruir quem eu era e sou. E eu deixei! Nunca mais vou me deixar intimidar novamente! Gosto de pensar que tenho algo da coragem de Scarlett O'Hara, quando ela fez o discurso: "Como Deus é testemunha, jamais sentirei frio nem fome novamente. Serei sempre fiel ao que sei que sou, serei eu mesma, seja isso bom ou ruim. E, se qualquer homem, mesmo Ashley, tentar me mudar, vou me livrar dele tão depressa que ficará tonto." Lógico que quando recitei isso ao pamonha do meu ex-marido, Ele não entendeu absolutamente nada, nem atinou para o fato de que eu estava citando "... E o Vento Levou". Não tinha nenhuma imaginação aquela figura!


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"Estava inteiramente atordoada. Sabia que fizera a coisa certa. Pelo menos pensava ter feito. Mas acontece que aquilo era a vida real, e nenhuma decisão era inteiramente clara. Não é como virar no lugar certo e conseguir a felicidade para sempre ou virar no lugar errado e sua vida se transformar num desastre. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são equivalentes.(...) Queria que minha vida fosse como um jogo de computador. Se tomar a decisão errada, perco uma vida. Se tomar a decisão certa, ganho pontos. Só queria saber. Só queria ter certeza. Não parava de fazer listas com os motivos pelos quais não podia haver futuro para meu casamento de oito anos. Ele queria que eu fosse alguém que eu não era. Não se sentia feliz comigo do jeito que eu era. E eu não me sentiria feliz, se mudasse para Ele ser feliz. E eu não era feliz com o complexo de Santo dele. Se eu o recebesse de volta, Ele seria feliz porque, nesse caso, pensaria que eu perdoava tudo que ele fizera. Da maneira como já perdoava, ele próprio, tudo o que tinha feito. Provavelmente significaria que, na primeira briga que eu tivesse com ele, em nosso novo casamento melhorado, a separação se repetiria. Ele era pomposo e hipócrita, e achava que eu era frívola e imatura. Estava convicta de que era melhor o casamento realmente estar terminado. Só que sempre restava espaço para um pouquinho de dúvida.


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A vida realmente é uma criatura muito peculiar. Claro, sentia-me triste. Triste pelo meu EU idealista, que se casara com expectativas muito, mas muito altas mesmo. Triste até por Ele. Na verdade, sentia-me mais velha - e como! -, e mais sábia. Acho que aprendera - através do caminho mais longo e difícil - a ter um pouquinho de humildade. Controlava realmente muito pouca coisa, fosse em minha vida ou na de qualquer outra pessoa. E, quando ouvia alguém dizer "Tudo acontece por um motivo", ou "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela", não era mais tão difícil assim me refrear de dar-lhe um soco na cara. (...) Eu, normalmente, não era o tipo de pessoa que vê nos acontecimentos sinais, presságios, motivos e explicações. Ao contrário. Como disse antes, estava sempre debochando das pessoas que afirmam que tudo acontece por um motivo. Meu nome: Existencialismo. Mas na verdade, não era absolutamente difícil acreditar, depois de ver na minha vida ocorrer tudo isso. Não sentia que minha vida estivesse inteiramente acabada. Alterada sem retorno, talvez. Mas não acabada por completo. . Às vezes, você conhece uma pessoa maravilhosa, mas apenas por um rápido instante. Talvez em férias, num trem ou até numa fila de ônibus. E essa pessoa toca sua vida por um momento, mas de uma maneira especial. E, em vez de lamentar o fato de ela não poder ficar com você por mais tempo ou por você não ter a oportunidade de conhecê-la melhor, não é mais sensato ficar satisfeito por ter chegado a conhecê-la um dia? Não estava angustiada com a idéia de nunca mais tornar a ter um homem. Apenas levemente preocupada. Ah, Meu Deus! Nunca mais é tempo demais para mim.

.:Chá de Tília:.

Conhecido há muito tempo, e já inserido em grandes livros, literalmente, como em A procura do tempo perdido, obra de Proust, pela memória que o gosto e o cheiro lhe lembravam sua meninice, seu emprego é alardeado como eficaz para proporcionar um sono tranquilo, pois é calmante, e promete "recondicionar o estômago" e aliviar os espasmos que, numa eventualidade, estivermos sentido. Quando o chá for das flores da Tília, deve ser usado externamente, para hidratar, suavizar e regenerar a pele. Infelizmente, ainda não desenvolveram algo potencial para regeneração do coração, quando este se encontra aos pedaços. Quem sabe o cheiro da Tília, e a regressão a um momento bom de nossa vida não alivie também outras dores? Porém, uma coisa nunca devemos esquecer: Há uma coisa engraçada sobre a Vida: se você se recusar a aceitar qualquer coisa que não a melhor, muitas vezes você a conseguirá*. Portanto, recuse imitações genéricas ou meras ilusões, e persevere naquilo que sempre desejou.

*W. Somerset Maugham

Hindsights:.

O que você deve saber agora, antes de começar a ler: Você é integralmente responsável por todas as suas escolhas e ações durante esta sua vida. Tenha cuidado com as pessoas portadoras da Síndrome de Bege, que são aquelas que se adaptam a tudo, e não contestam nada, vivem com medo de se expor ou se opor e ser controverso, e se olharem por trás reparem se não está com a bunda meio achatada, pelo excesso de permanência em cima do muro. Porque não importa quem ou o que você seja, algum dia você só sairá da cama pela manhã se existir alguma coisa muito importante na qual você acredita, e alguém por quem você tem paixão e amor. No cesto de maçãs, repare bem na hora de guardá-las - há sempre uma podre no meio. Jogue fora no ato; um momento a mais, e contaminará todo o seu manancial de frutas. E não acredite que o caminho até a casa não tenha dragões, abismo e atalhos incríveis: na vida de toda pessoa haverá uma hora em que cada reserva dela será testada - o desafio de Jó. Uma hora em que você imagina, depois de muitos dias horrorosos, que não é possível amanhecer um pequeno sol - e quando acordar, ainda contará com duas das piores notícias de sua vida. Sem falar que, de repente, esteja envolvido em alguma tragédia. Nossa capacidade de resistir, de ir atrás do que queremos, e sonhamos pra nossa vida, é milimimetricamente calculado por algo maior do que nós. Acredite: Custará caro sua felicidade e seu amor. Porque a persistência exige de nós resistência alemã e inglesa, conjuntamente. O que tornará o final de seu caminho diferente é exatamente como procederá a esta série de desafios. Muita gente já encostou no trinco da porta; e desistiu quando soprou uma brisa mais forte, tamanha foram as desventuras até lá. Sim, eu já fiz isso. Sim, eu voltei todas as casas do jogo para trás, recomeçando tudo novamente. Sim, eu fui ao fundo, e pra vir a tona, o resultado foi trabalhoso como a montagem de um quebra-cabeça de 5.000 peças. Sem falar que ainda estou na beirada... a cola desapareceu. Perdas repentinas ocorrem geralmente quando estamos conquistando uma vitória.

sexta-feira, maio 19, 2006


Intramundo:.

"O que angustia a Angústia manifesta, por um nada que está em nenhures (...). A completa insignificância que se anuncia no nada-e-nenhures não indica uma ausência de mundo, mas adverte, ao contrário, que o estado intramundo perdeu toda a importância em si mesmo e que, sobre o fundo desta insignificância do Intramundo, nada mais há, a não ser o mundo que ainda possa, em sua própria mundanidade, se impor."
O Ser e o Tempo, Martin Heidegger.

"Ainda é cedo amor, mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Presta atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
E em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, Amor
Preste atenção, o Mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estarás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés".
Cartola

Não há como dizer - seu problema é muito pior que o meu; ou acharmos que o nosso é um Tsunami, perto da garoa leve que cai em nosso semelhante em lástimas há dias... Ninguém nunca sabe qual é a gota que fará transbordar todo o copo de dentro de nós, cheio até a borda de mágoas e tolices guardadas. Oferecer a mão, ajudar, sem julgar, é a ponte que nos conduz ao melhor de nós. E retira o semelhante do Desespero do Intramundo. Poucos fazem isso de coração aberto. Pré-julgamos, antes de qualquer contato com nosso amigo. Já analisamos toda a situação, mesmo sem conhecer a profundidade da tristeza que o outro está. Além de ética, falta não só ao Brasil, mas ao Mundo, amor e servir sem cobrar após... Faltam valores Morais e o Costume de Olhar nosso semelhante nos olhos e sorrir, ao dizer: "bom-dia".

Incipit vita nova:.

"Se os mitos são as narrativas tradicionais da interação de Deuses e humanos, um relato dramático das ações dos daimones, então nosso modo de descobrir os Deuses em nossas vidas concretas é entrando nos mitos. Entrar nos mitos significa reconhecer nossa existência concreta como metáforas, como representações míticas.”
James Hillman


Dante foi um dos que, literalmente, cuspiu para cima e experimentou a saliva cair em sua face - foi apoderado pelo poderoso "demônio" tão desdenhado, arrebatado às profundezas do inferno pelo daimon chamado Amor, como Platão colocava. Após ter visto Beatriz, Dante imaginou sua vida completamente metamorfoseada: "Pus os pés naquela parte da vida além da qual se não pode ir com a intenção de regressar". O amor que ele tinha, pelos seus escritos, parece ser do tipo "idealizado, platônico, contemplativo, além-da-carne". Talvez tenha experimentado o tal do amor "ágape", o único real e que eleva o ser-humano em direção ao belo, onde o contato sexual é nada, perto do contentamento da alma ao ficar perto da amada, lhe dedicando sua vida. "Amor de olhos", com canção própria. Através deste Amor, vivencia-se o outro e, ao mesmo tempo, vivencia-se a nós mesmos. Se Dante o teve por Beatriz, não sei. Para mim, "romanticamente belo" a existência de um amor incondicional, denominado Ágape, pelo qual a vida se torna todos os dias esperança, em razão de outra existência. Fernando Pessoa, em um de seus poemas, Eros e Psiquê, tenta traduzi-lo em versos, através de uma lenda grega.

"Conta a lenda que dormia
Uma princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.”

Eros e Psique, pela lenda e pelo poema, são necessários um ao outro, o Amor à alma pertence. Eles se completam e se requerem um ao outro durante nossa vida; portanto não podemos ver nada sem estarmos envolvidos sentimentalmente - não podemos amar, nem estarmos envolvidos com qualquer coisa sem ele entrar em nossa alma. Ao experimentar em sentimento e desejo o Amor, nos sentimos completos. Por mais absurdo que esta teoria "do Ser completo" seja. Aqui, a Princesa Adormecida precisava ser retirada de seu sono, e o Infante lançou-se à estrada instintivamente, pois não sabia qual era sua meta, impulsionado pela força de Eros. Ao despertá-la, descobriu que estava acordado também. "Este mito retrata, escreveu Hillman,a interação de eros e psique como um ritual que hoje tem lugar entre as pessoas, e dentro de cada um". Por este motivo quando amamos nos alertam para mantermos os olhos bem abertos - o deus do Amor, Eros, já foi representado como sendo um cego ou estando vendado. Acima de tudo, o sofrimento do amor conduz o indivíduo a vivenciá-lo como um verdadeiro poder divino e daimoníaco, que transcende seus desejos egóicos, lançando-o em um movimento de aprofundamento, tanto com o mundo exterior quanto com sua alma. "Qualquer coisa que se possa dizer, nenhuma palavra expressará o todo. Sendo uma parte, o homem não pode compreender o todo. Ele está a sua mercê. Pode concordar com isso, ou se rebelar contra isso; mas ele é sempre pego pelo amor e fechado dentro dele. Ele é dependente e sustentado ", argumentava Carl Gustav Jung.

Não, não é fácil falar, explicar ou sentir "o amor", pois o desejo de controlar o sentimento que nos apodera sempre é mais forte. Também é incontroverso admitir que há dentro de nós tal força; e se não houver retribuição, tendemos a esconde-lo por debaixo dos panos, nas gavetas, e no nosso íntimo, pedimos e imploramos que ele se vá... para podermos nos livrar das correntes da maldição. Amor à primeira vista. Amor antecedente, por um retrato. Amor que espera, até a outra pessoa estar livre e desperta para vivenciá-lo. Só quem já viveu, acredita no coração e nos desígnios estapafúrdios que ele muitas vezes nos lega. Como diria minha bisavó: "Deus escreve sempre certo, nós é que vemos tudo torto".

quarta-feira, maio 17, 2006


Com brincos de pérola:.

Jan [Johannes] van der Meer Van Delft, pintor Barroco Holandês - mais conhecido compo "Vermeer" -, nasceu em Delft, Holanda, Países Baixos, em 31 de outubro de 1632, e viveu toda sua vida nos Países Baixos, onde morreu e foi enterrado, em Delft, em 15 de dezembro de 1675. Entre 1652-1654 estudou pintura com Karel Fabritius, aluno de Rembrandt, e em 1663 entrou para a guilda de São Lucas, que presidiu em 1662-1663, e 1670-1671. De suas 35 telas conhecidas, só duas são assinadas: "A alcoviteira" (1656) e "O astrônomo" (1668), e calcula-se que cerca de 20 estejam perdidas. A ausência de assinaturas e a abundância de telas apócrifas dificultam a apreciação cronológica da obra de Vermeer. Os temas que aborda são interiores com uma ou duas figuras e paisagens urbanas. Nos jogos de luz e sombra vê-se certa influência italiana. A composição é geométrica, com seus elementos simetricamente equilibrados. Os elementos típicos da obra de Vermeer já apontam em "Moça lendo uma carta" (c. 1657): o quarto fechado, a luz que entra pela janela, tapetes orientais e cortinas luxuosas. A luz é usada com mestria para ressaltar uma expressão, aprofundar ou criar uma atmosfera. Intimista, Vermeer retratou cenas da vida burguesa, repletas de símbolos e intenções morais. Em "A leiteira" (1656-1660), manifesta seu colorido particular: fusões de azul e amarelo, objetos pontilhados de dourado. Apenas duas magníficas cenas urbanas, "A ruela" (c. 1658) e "Vista de Delft" (c. 1660), não foram inspirados em interiores.

A "Moça com Brinco de Pérola" é uma das mais famosas pinturas na história. Considerada a "Mona Lisa" holandesa, pouco se sabe sobre sua real inspiração. Isso porque a vida de seu criador, o holandês Johannes (ou Jan) Vermeer, é envolta em mistério. Sabe-se pouco da história íntima deste pintor: em Delft, na Holanda, casou-se aos 20 anos, com Catarina, uma jovem rica, e morreu aos 43 anos. Essa névoa biográfica foi suficiente para que a escritora Tracy Chevalier escrevesse o romance "Moça com Brinco de Pérola", editado pela Bertrand Brasil, no Brasil, em 2002, e retrata uma fantasia sobre o que teria levado Vermeer a realizar sua obra-prima, que se estima ter sido criada por volta de 1665. "Moça com Brinco de Pérola" está exposta na Mauritshuis, em Haia, a antiga residência do conde Maurício de Nassar, o líder da invasão holandesa em Pernambuco (1636 -1644). Foi justamente nesse período que Albert Eckhout pintava telas sobre o Brasil, por encomenda de Nassau.

O livro gerou um filme, dirigido pelo estreante Peter Webber, uma adaptação fiel à publicação, que apresenta um Vermeer (Colin Firth, de "Shakespeare Apaixonado") angustiado pelas pressões da sogra, a comerciante de suas obras. Naquela época, pintar era um trabalho artesanal realizado por encomenda. A libertação de Vermeer somente ocorre quando surge a nova criada, Griet, de grandes olhos amendoados (Scarlett Johansson - encontros e desencontros), que de fato consegue ter uma grande semelhança com a modelo original. Histórias de amor impossível são mais que clichê na cinematografia mundial, e o filme não foge à regra: os dois mantêm uma paixão platônica, pois ele é casado, e ela, cortejada pelo filho de um açougueiro, Pieter. Entretanto, e esse é o grande mérito do filme, a reconstrução da cidade Delft do século XVII faz com que o espectador consiga entrar na visualidade da obra do pintor, que retratava, de fato, mais empregados em ambientes internos do que seus mecenas. Uma das maiores discussões sobre a sua obra é se o pintor utilizava lentes para realizar seu trabalho, pois segundo o artista inglês David Hockney, em seu livro "O Conhecimento Secreto" (Cosac & Naify, 2001), Vermeer usava sim lentes: ele "parece encantado com os efeitos ópticos da lente e tentou recriá-las na tela". Assim, nas suas obras, há detalhes desfocados, enquanto outros são maiores do que vistos a olho nu, o que só poderia ocorrer se o artista usasse lentes. O diretor Webber assume como real tal proposta, e mostra Vermeer com a câmara escura (precursora da fotografia), num dos momentos de sedução com Griet. No filme, é um pequeno detalhe, mas ele atesta a sofisticação visual na obra do holandês, essa sim perfeitamente transposta para a tela de cinema. Numa das cenas do filme, quando Griet se vê autoretratada afirma: "Você olhou dentro de mim", enquanto sua mulher contesta: "É obsceno".


Opiniões distintas. Eu adorei o livro, não vi "ainda" o filme, mas o quadro - "esse olhar misterioso tão encantador e ao mesmo tempo ingênuo", nos remete a muitíssimas interprestações. Talvez a vida de Vermeer sido bem mais melancólica que a projetada no cinema ou em livros, pois sabe-se que Vermeer morreu pobre, e que a viúva Catarina doou seus quadros ao conselho municipal, em troca de uma magra pensão. Pior: depois de sua morte, em 1675, o pintor foi esquecido e só renasceu para História em 1866, quando seus quadros voltaram a ser admirados pelo brilhante uso da luz e pelas composições inteligentes e cores transparentes. Vida de Artista Brilhante é vivida no futuro.

Caça aos Monges:.

Primeiro tivemos o caso do executivo, que sobe montanha, e se retira, num mosteiro, para aprender o que é "Ser líder" com um monge, nos dias de hoje. E em três dias compreende que "liderar é servir, servir é amar". Pior, muito pior do que o livro "quem mexeu no meu queijo". Pra que os monges voltassem a ser dignos de boa história, uma surpresa maravilhosa: Sue Monk Kidd, que já escreveu a Vida das Abelhas (delicioso!), surge agora com outro best-seller - A sereia e o Monge. Podia até ser continuação do executivo chato, onde o monge, num ato de loucura após aguentar tantos idiotas por três dias, resolve ir pra alto-mar. E justamente na praia que resolve parar, acaba reencontrando seu passado, uma antiga paixão. Isso sim é livro e escritora, onde Jessie, a paixão, diz: "A certa altura do meu casamento, me apaixonei por um monge beneditino". Não, não é somente sobre infidelidade, o encontro com o amor, e as artimanhas do espírito da Vida. Fala do interior de uma certa igreja de um mosteiro beneditino na Ilha da Graça, próximo à costa da Carolina do Sul, onde há uma bela e misteriosa cadeira entalhada graciosamente com sereias e dedicada a uma santa que, segundo a lenda, fora uma sereia antes de sua conversão. Por isso o nome do livro é "Mermaid Chair". No Brasil, pra vender bem, alçaram o monge para o título. De repente, pensam que é autoajuda mexerica, daquelas bem azedas, que nem com sal descem sem amargar a boca. Aqui o amor, as paixões do espírito e êxtases do corpo iluminam o despertar de uma mulher madura voltada para seu ser mais profundo, de volta para seu Eu-interior. The best-of-the-Best. Já tem até o filme sendo rodado, com a Kim Bassinger no papel principal - pra lembrar a toda mulher que, dentro de mosteiros, homens aprendem a liderar, mulheres a Amar... Sutil diferença, mas no final, os dois atos conseguem a mesma coisa - a servidão.

terça-feira, maio 16, 2006


Hibiscus:.

Flor tida como símbolo nacional do Havaí, agora desenhada nas nossas legítimas havaianas, pra podermos andar leve, sonhando com estrelas, mar e amor. Dizem que se você avistar essa flor por mais de duas vezes, ela quer te dizer para agarrar algo que você está deixando escapar pelas mãos - justamente sua Sorte. Porque significa que você está dormindo no ponto. Abertos, esperamos milagres. O sono dos hibiscos é um romance, também carrega a lenda que une amantes vindos do mundo espiritual, e por isso muitos colocam-no por perto, espécie de amuleto, para maior sintonia com o "outro lado de lá".

segunda-feira, maio 15, 2006


.:Oceano&Mar:.


Sempre em frente. Conta a lenda na pequena praia que este foi o último conselho de pescador que lhe deu, antes de içar velas e partir. Esqueceu de avisá-la que Ela deveria ir, mas Ele ficaria para trás, e pelo pequeno lapso, os pescadores avistavam-na diariamente, no cais, à sua espera. Em algum momento, quando o tempo já havia passado e feito muito estrago, ela considerou que realmente era dever e missão dela continuar o caminho, mesmo que sozinha, pois tinha metas e foco. Mesmo sem lanterna, companhia ou apoio de seu amor naquelas tempestades que desabaram no ano de 1984. Não sabia porque ele escolhera ir, o que compreendia é que não estava ali, naquele fim-do-mundo para entender ou julgar ninguém, nem ela, muito menos Ele. Seu compromisso se resumia naquele instante tão somente a secar suas lágrimas, que significavam, no momento, a dor da solidão. Às vezes, no final do dia, não conseguia dormir sem que antes desabasse, para poder deixar o mar de dentro de si escorrer para fora, tal qual tristeza profunda e sem nexo. Para prosseguir, desacreditou que encontraria novamente Ele, a pessoa que tinha se encaixado perfeitamente em sua vida - naquele momento a esperança não acalmava, era lamúria e sofrimento. Essa angústia se dissipava quando, exausta, caia em sono tranqüilo, e em sonhos se via tudo claro, tal qual realidade... Andava taciturna, ainda obscura, e confusamente perdida em marolas que lhe jogavam novamente à areia. Fazia longos percursos à procura de sua alma, juntando pedaços do seu coração, atos que deveriam continuar por um longo tempo... "A única coisa certa era que ele sabia voar, e como foi fácil cair em sua armadilha, porque também cantava bem". Não, não se recriminaria, tinha uma missão e uma conquista. Este era um momento decisivo em sua história, havia descoberto a existência da dor, traição e Amor, conjuntamente. Talvez tenha percebido desde o início, sem, contudo compreender o quadro inteiro, como criança que chora, mas não sabe o suficiente para dizer estou sofrendo. Pedir ajuda é muito difícil para quem sempre foi muito forte. A beleza e o sofrimento eram como irmãos siameses, voltados para lados opostos, porém inseparáveis. Sempre fora assim - hipersensível e rabugenta, mas crédula o bastante para ter aceito palavras de Amor como sinceras, de alguém que se dizia Honesto. Um dia, levantou os olhos e viu as aves. Nunca, sabia, esqueceria daquele momento; ela o conservaria vivo através dos séculos, em diversos quadros e escritos, até seu fim. Com o olhar dos répteis, fascinada, sua cabeça para cima, seguindo as aves como se fossem poemas perdidos. Muitas vezes tinha se perguntado onde estaria sem aquele primeiro escrito?Estaria voando pelo cosmos, como uma sombra sem nome, à procura de alguém capaz de lhe conhecer, tal qual Ele lhe reconheceu - de trás pra frente, do fundo pra fora? Levou algum tempo para compreender que a covardia era primogênita da inteligência, mas, felizmente, não filha única. A coragem era sua irmã, e em algum momento ela e ele tiveram de escolher entre as duas. Um bom recomeço, onde agora o céu lhe mostrava que a vida era uma sucessão de pequenos milagres, e que quando precisamos dos grandes, eles também aconteciam. Era tudo que esperava da primavera que chegava...

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Partes do Presente de Avó, para esta mãezinha: A História de Deus (contada pelo próprio), de Franco Ferrucci, escritor italiano que eu, sinceramente, não conhecia, e até agora se revela uma miscelânea de onhecimentos, física, filosofia, religião... Tudo para investigar a alma humana, através de seu olhar, um Deus atormentado pela sua condição e solidão. E como a música sempre lhe limpava a alma, pegou emprestado os versos do Rappa, desejando tranqüilidade, paz e refinamento para o restante do tempo que ainda separava-a do Amor. Pediu a Deus paciência, e tolerância com a dor em seus joelhos. Também motivos diários, que lhe trouxessem fé. Por alguns segundos, para observar... E num vislumbre, perceber onde a isca e o anzol estavam. E poder comemorar...

Se me tornar menos faminto e curioso
O mar escuro trará o medo, lado a lado,
com os corais mais coloridos
Valeu a pena, valeu a pena,
sou pescador de ilusões
Se eu ousar catar
na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final ...
Valeu a pena, valeu a pena, sou pescador de ilusões”

domingo, maio 14, 2006


Come fly with me:.

Sei, acho eu que compreendi o que você quis me dizer. Seria mais ou menos assim? "Eu faço as minhas coisas e você faz as suas". Eu aceito: porque eu não estou neste mundo para satisfazer as suas expectativas, igualmente você não está neste mundo para viver conforme as minhas. Contudo, estou aqui pra te ajudar a alcançar os balões que você soltou durante seu caminho. E vou longe, por você. Para conquistar nossos sonhos. Porque há uma força que conduz - e se Você é você, e eu sou eu, então temos 6 pontes que nos ligam. E se nos encontrarmos e der certo, será maravilhoso. E se não houver encontro, ponte ou ligação, não há nada a fazer. Porque estamos fazendo tudo agora. Neste presente todo meu foco é para atingir exatamente as mesmas metas que você quer e deseja. São iguais. Mas se eu falhar, me desculpe. Eu tento voar contigo, voar alto e para você... mas sou apenas uma mulher, mãe, falível e nada perseverante, se não alimentada e regada. Hoje, o dia é todo meu... abro portas e janelas, e deixo entrar o Sol da manhã.

Nesse dia de sol, eu, girassol-voltada-pra-ti, neste "frio-que-envolve e esquenta", contradições e paradigmas à parte...Apenas queria que você soubesse...Que aquela alegria ainda está comigo, e que a minha ternura nao ficou na estrada. Não ficou no tempo, presa na poeira. Eu apenas queria que você soubesse que esta menina hoje é uma mulher... e que esta mulher é uma menina, que colheu seu fruto, flor do seu carinho. Eu apenas queria dizer, a todo mundo que me gosta, que hoje eu me gosto muito mais, porque me entendo muito mais também. E que a atitude de recomeçar é todo dia, toda hora... É se respeitar na sua força e fé... É se olhar bem fundo, até o dedão do pé. Eu apenas queria que voce soubesse, que essa criança que brinca nesta roda, não teme o corte de novas feridas, pois tem a saúde que aprendeu com a vida". Eu apenas queria que você soubesse que quase-tudo, geralmente, é pra você: Os planos, metas, estratégias e a direção do caminho. Os efeitos colaterais disso tem sido muitos - estou, pela primeira vez, antecipando-me pra poder conquistar o que quero. Acreditando em sentimentos, e me lançando no escuro. Sem nenhuma preocupação de machucar-me, já que, sim, sei andar de patins. E não choro quando caio. Jamais.

sábado, maio 13, 2006


Worn:.

Há um ditado na Irlanda que diz: Faint heart never won fair lady. Provérbios à parte, o que quer que se diga dessa ciranda-da-vida, é mais ou menos o que a moça-escritora, Marian Keyes, em seu livro, Melancia, coloca: "Por alguns anos, fiquei fora desse horrível carrossel de tentar encontrar o homem certo e descobrir que ele já era casado, ou vivia com outro homem, ou era patologicamente pão-duro, ou que lia Jeffrey Archer, ou que só podia ter um orgasmo se chamasse a parceira de "mamãe", ou qualquer das milhares de falhas de caráter que não eram imediatamente óbvias da primeira vez em que você lhe apertava a mão e sorria olhando dentro dos seus olhos, e sentia uma cálida sensação de zumbido na boca do estômago, que nada tinha a ver com remédios não prescritos, tomados ou não por você, na noite anterior, e então pensava para si mesma: "Puxa vida, este pode ser o homem certo." Agora eu estava de volta à situação em que todo homem é um namorado em potencial. Estava de volta a um mundo onde há 800 mulheres maravilhosamente lindas para um único homem solteiro. E isso antes mesmo de começarmos a eliminar os verdadeiramente medonhos."A busca desesperada das mulheres por homens para casar, segundo ela, continua até hoje, como imposição social e cultural, pelo título de "casada". Bem ou mal no casamento, não importa. Ainda continua-se a dar destaque a títulos...

Ensimesmada:.


Há certos comentários que exigem de nós uma habilidade especial - saber calar, para deixar outros tontos falarem, ou escreverem tolices. Isso é muito fácil quando, na hora, você nota qual é a origem do maldoso fato (não, não foi o que você escreveu, a raiva advém de algo mais rs). São aqueles que "não gostam do que você faz", não pelo seu trabalho ser ineficiente, mas por você ter tido uma presença marcante na vida de alguém, ser amiga de alguém-que-contradiz muito, e aquelas velhas pulgas que toda mulher costuma trazer atrás das orelhas. Juntando as peças, a carapuça se esvai - porque a causa e o efeito são anulados, indeferidos, sem direito a recurso. Sim, amo minha irmã-maluquinha, Palova, longe e ausente sempre, que se diz bruxinha boa, cristã e pagã, universo de idéias... Ocorre que a meiga e doce "mocinha" (sei dos seus anos sim!) não fica batendo forte numa tecla, querendo ojerizar o mundo com suas crenças, nem alardeia a meio-blog que "é isso ou aquilo". Na verdade, nem sabemos realmente para que e por que estamos aqui. E descobrir quem somos na totalidade é tão difícil, diariamente uma nova faceta para nos obrigar a estudar mais. Ela sabe que abomino pessoas que, logo de cara, tentam intimidar dizendo-se bruxas pagãs. Não, não tenho medo. Mas porque como já vi a Roda dos Mais-mais disso, no Brasil, respeito apenas aqueles que detém alma e coração... o resto, balaio de gato, balela, pura meia-furada. Acho até que devriam mudar o termo: pagão não paga nada. Aliás, geralmente levam algo seu emprestado e não devolvem, como livros. Não é generalização, apenas observação cuidadosa. Para que alguns incautos não caiam na lábia de alguns, se dizendo conhecedores de alguém, sem jamais terem visto nada. Mais? Surda e muda, oração do silêncio. Contra essas excessões- aberrações, que insistem em viver no presente um passado de milhões de anos atrás, falta a ternura em preservar minha praia e a areia do esgoto da cidade. Mais trinta segundos, e Augusto Cury garante que minha raiva passará, e eu poderei voltar a ser "meiga e romântica".

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Eu, na linha do Diogo Mainardi, não poderia nem começar a proferir tais palavras, já que expressam opinião. Por isso é um post temporário. Daqueles que solto ao vento, para a chuva depois apagar e levar tudo para o ralo, caindo no esgoto e bau-bau... Não, nada volta para o outro, porque eu sou adepta do Caminho do Coração: Joaninhas em ação. O que quer dizer que Amor é comportamento, não apenas sentimento, assim, minhas ações não são baseadas em reações, mas em caráter. Moral e ética. Nada de se rebaixar, se igualar, ou copiar cenas alheias. Vivo hoje tentando colocar amor em cada coisa que faço. Se coloquei algo acima, que pode gerar polêmica, foi por amor. Sim, eu gostaria muito que a pessoa que eu acho correta e digna visse como ela está sendo persuadida a atalhos, por insinuações grotescas. O resto, que cada um cuide de seu passo manso. Como diria Castaneda, Tiranos existem para nos moldar e evoluir. Devo agradecer aos tiranos, por me deixarem sempre alerta e vigilante. Por me mostrarem o que pertence ao Amor, e o que deriva da inveja e dor. A águia que mora em mim jamais sobe alto, pois sabe que o sol chamusca suas asas, e as presas que a alimenta estão correndo na terra. Conhecer os limites, descobrir os sonhos, saber os desejos e prazeres que as metas devem alcançar. Isso é o meu Presente. Uma Joaninha que traz sorte, leva amor e condiz palavras com ações: um dia eu alcanço isso todas as horas da minha vida. Por agora, às vezes ainda tropeço em casca de banana.

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Desculpe, você deve achar que sou muito grosseira. Mal fomos apresentados, e aqui estou eu lhe contando as coisas terríveis que me acontecem. Como eu sempre digo, há tempo e lugar para a espontaneidade. E, como Scarlett O'Hara, nas últimas linhas de “... E o Vento Levou", eu vou me recolher a minha caverna, minha terra, e meus amores. Pelo menos pra curtir os presentes, beijos e confraternização geral da família, marcada para amanhã. Uma viagem, "de volta ao lar". Só vai ficar faltando a Mammy, tanto que procuro uma pessoa igual e não acho de maneira nenhuma!

Quando eu, na vida:.

Quando eu puder compartilhar meu presente, junto a compromisso assumido e sumido igualmente, quero andar à solta, brisa leve, refrescante. Com ele, desfrutar o ouro que sou, esqueçendo o peso que já nos deram. Porque muitas vezes senti vontade de tomar sorvete, comer algo diferente, mas uma consciência boba me privou destes pequenos prazeres. Quero ao seu lado poder fazer o que me dá vontade, compartilhando. Fomos nós dois muito rotulados, condicionados, enquadrados a ser aquilo que o nosso eu abominava, desmotivados a fazer o que nosso EU ansiava. Influências demais, em nossas escolhas. Quero já ser o que sou, ao seu lado, na espera... pra poder colorir nosso mundo, a dois. Desfrutar do Amor, filosofia e caminho de vida que escolhi. Ter uma filosofia é saber amar, e saber onde colocar o amor. Porque não podemos colocá-lo em qualquer lugar; temos que ser como um padre dizendo “sim, meu filho”, ou “sim, minha filha”, ou “que deus o abençoe". Mas as pessoas não vivem assim... vivem com raiva, e hostilidade, problemas, falta de dinheiro, você sabe, tremendas decepções na vida. Então, o que precisam é de uma filosofia. acho que todo mundo precisa saber onde e como amar – se apaixonar para que possam viver. viver com certo grau de paz. por isso sinto a necessidade dos personagens analisarem o amor. Que discutam, matem, destruam o amor; que se magoem, que façam todas essas coisas nessa guerra, nessa polêmica de texto e de imagens, bem, que é a vida. O resto, realmente não me interessa. Pode interessar a outras pessoas, mas eu só penso numa coisa. É tudo o que me interessa: o amor".
Perfeita descrição do Cassavetes.


E quando eu, com mais idade, quero poder vivenciar a paz de expressar-me através da pintura, olhando para o Oceano fora de mim, porque preparada para jorrar o mar de dentro. Em casa, pano de pratos brancos, toalha de mesa bordada, crianças em volta da mesa. Tarde friazinha, prelúdio do inverno quente passado nos braços do amor muito ausente.

sexta-feira, maio 12, 2006


Raconte moi une histoire mamy:.

Mãe, todo mundo tem uma. Filhos, muitos ainda não o tem. A história começa como num conto-de-fadas, você apaixonada, com seu príncipe marido ou qualquer outro genérico (hoje em dia tudo é muito moderno)... Do amor que viveu, uma semente pousa, suavemente, no seu ventre. Devo crer que mais da metade das mães deste mundo tiveram marido, contaram com apoio e felicidade geral da família, foi um presente aguardado e planejado... porém, algumas vezes a semente vem, sem avisar... E desprograma sua vida, inunda seu cotidiano de novidades que você nem sequer sonhava em conhecer. Quando resolve sair, esse bebê vai te provocar dor. Dói amamentar, é um suplício ouvir alguém se esgoelar de tanto chorar e muitas vezes, não sabermos porquê. Tão pequeno, e já se torna seu centro: você só irá se ele puder te acompanhar. Ele quer colo. E você também... Muitas vezes, pela madrugada adentro, você chora: cadê sua vida, sua identidade, seu nome? Mãe agora é tudo. Percebe, num repente, quando estiver embalando-o, que está segurando no colo uma grande parte de sua vida. Sim, amor incondicional. Aquela pessoa tão pequena e dependente faz parte de você - e acredita que você vai fazer o mundo dela colorir. Não existe sentimento mais gostoso para vivenciar - esse amor-agape, de mãe para filho... Que importam as cicatrizes no corpo, na alma e no coração, que surgiram com ele, se você reconhece o Amor em seus braços? Ser mãe não é profissão, é dom. Vocação Natural.

E o bebê, num tempo que nem se lembrará, de um momento para outro estará maior. Exigindo sua atenção 24 horas por dia, amparando sua queda, nos primeiros passos, esperando seu sorriso, nas primeiras palavras, querendo colo, quando chora. Mãe-professora, mãe-vigilante, mãe-cozinheira, mãe-lavadeira. Aí começa a entender que quando amamos incondicionalmente, esquecemos de nos amar primeiro, sem pensar... Porque sempre tem alguém ali, na frente... com os bracinhos abertos, esperando para tascar um beijo, remexer no seu cabelo, bagunçar toda a casa...

Mais um pouco, e... Cadê a criança-de-colo? Dois anos e meio já se foram, o jardim de sua casa com certeza não tem mais flores [devidamente arrancadas pela querida criança], seu carro não tem espaço, porque a cadeira do bebê ocupa quase que tudo, por inteiro... Quando ela dorme, você quer desmaiar na cama. Se ela vai para escola, você carrega-a junto a si... Suas paredes agora tem novo visual, seu guarda-roupa, nova organização. Seu horário é indefinido. Sua vida não lhe pertence integralmente. Muito menos sua alma, que tem a missão de exemplo e responsabilidade. Alguém depende de você. Amor. Paciência. Atenção e... todas as noites, ao colocar na cama, invariavelmente, você, mamãe, se transformará em uma contadora de histórias. Porque a meiga e teimosa criança lhe pedirá, fazendo beicinho: Conta uma história, mamãe, pra eu dormir mais rápido? E o rapidinho demorará anos-luz, porque de um personagem, caimos em outra história, que leva ao ponto de um porquê, e a querida e sonolenta menina agora já desperta, quer saber tudo, daquilo que você está contando. Mas o pior ainda está por vir... Um dia, na frente da TV, ela vai te olhar e suplicar: "Mamãe, dança comigo Calipso, canta a lua me traiu?". E num dia do ano, os anjinhos aparecem, sorridentes, indagando: Mamãe, o que você quer de presente?.

Talvez um dia de mulher sem filhos. Todas as vinte e quatro horas do dia serão minhas: eu poderei fazer o que quiser delas. Um feriado justo. Porém, o coração longe...não sei se consigo me desvencilhar por tantas horas dos meus amores. Que crescem, já apontando asas, olhando o céu na expectativa de alçar vôo e conquistar o mundo. Como não se pode dizer isso, a frase Nada que não seja do meu caminho e destino convém. Porque tudo cai exatamente onde deve frutificar. Quando meu bebezinho nasceu, passava muito tempo sentada, quieta, segurando-a, tocando seus minúsculos pezinhos de boneca, seu rostinho inacreditavelmente belo, tentando imaginar com quem ela era parecida, imaginando de que cor seriam seus olhos. Ela era tão linda, tão perfeita, um verdadeiro milagre!!! Tinham-me dito que eu sentiria um amor total por minha filha: sabe Deus que ninguém pode dizer que eu não fora avisada. Mas nada poderia ter-me preparado para aquela intensidade, aquela sensação de que "eu mataria qualquer pessoa que tentasse tocar num fio de cabelo preto cacheado de sua cabecinha cheia de idéias e fantasias". Eu posso entender que o Pai dela não queira falar comigo, nem queira devolver meus livros, comprados com o meu dinheiro, emprestados com todo carinho - bem, falando a verdade, eu não posso, mas me esforço... Mas, realmente, não posso entender como ele consegue deixar esse anjo de criancinha, linda e perfeita, sem nem ao menos se preocupar com o frio, meias, casacos... Doença, gripe, comida... Simplesmente as mães viram pães. E como tal, tem que compartilhar tudo. Se ela chora, eu também choro. Se ela fica triste, meu coração desfalece. Se ela procura um pai, em parques e shopping, para substituição daquele seu que veio com defeito, a busca me atinge. Sendo pães, eu pedi então, pra auxílio na busca e encontro, uma máquina de fazer isso. Sim, aquela que você joga tudo, e sai de lá, pronto, o pão pra família partilhar. E enquanto escrevo, eles é que se divertem, acionando botões, e pondo tudo para funcionar... O cheirinho chegando... Hummm... ás vezes devemos andar no presente, e deixar para Deus o futuro que nos dará. Muitos pães, pra todas as mães que cumprem duas funções - bem, temos dois dias no Ano pra ganhar presentes. Já penso em fondue...

Casca de banana:.

Marian Keyes escreveu Melancia, acho que poderia chamar meus memoriais de Casca de Banana. No Prólogo citaria a poesia do Drummond, mas em vez da pedra, diria que ao longo de minha vida havia uma casca. De banana. Muitas vezes eu a avistava, de longe. E quando chegava perto, algo ou alguém me empurrava em direção a própria, fazendo-me, literalmente, cair de cara no chão. Portanto, exime-se da culpa a casca e a banana; eu avistava, podia até saber pelos macacos nas árvores, aquela coisa de "sexto sentido"... porém, não sei porque, a escorregadela me pegava. Minha via crucis, tal qual Jesus, inclui a cruz, mas invariavelmente, não se desvincula da casca - caio, não pela dor, mas pela casca, que estava ali, no meu caminho. E aí tudo desaba: a dor, a cruz, o lamento. A fadiga e a descrença em tanta crença... a falta de, em conjunto com a necessidade. O desejo e o clamor. Enquanto Ele, Senhor e Maior, só olhou para cima, após muita dor, e ser pregado, eu, no chão, jogando a casca no lixo, olho para estrelas, lua, e advirto: se não houver no sol seguinte, luz e apoio, largo tudo. O caminho, a cruz, e o ato de jogar no lixo as cascas de banana, "sempre utilizando o conceito de viver o amor", aqui como comportamento. Agir sem reagir é dficílimo. Tem horas que tudo que resta é sentar em cima da madeira, e pedir um pouco de vento e chuva. Pra ajudar a disfarçar as lágrimas. Se você deixa de ter alguém ou alguma coisa, sente sua perda e, depois, passado algum tempo, preenche o buraco que ficou em sua vida, a ausência, aos poucos, fica cada vez menor e, afinal, desaparece. Há um sentido na dor. Há um motivo e uma direção para ela. Essas linhas ficam tão lindas lidas; mas quando aplicadas na vida real, se tornam inóquoas. Porque eu odeio Dor. E se há sentido em aprender com algo doendo, então teria sentido bater com mata-moscas em crianças peraltas e chatas. Bem, hoje eu comprei a grelha para o ralo. Porque as cascas entopem tudo... Amanhã eu adquiro o mata-moscas. Colorido, verde-brilhantina, pra afugentar as cobras que teimam em incitar os macacos a sujarem o caminho de outrem. O período que se segue agora, ladeira acima, eu posso apelidá-lo de O Grande Terror. . Sem Gatsby. Sem mansões ou qualquer ilusões ou miopia. Isso Dói.