segunda-feira, maio 22, 2006


De tudo, há sempre algo:.

Memoriais do livro Melancia, da Marian Keyes
Apesar de ser água-com-açúcar, best-seller e primeiro livro da escritora que ainda estava literalmente engatinhando depois de crises pessoais, uma literatura criticada pela classe dos "escol", acredite: sempre haverá algo, mesmo nesse tipo de colheita, do qual se aproveita. Eu diria mais: é hiperdivertido, valendo cada centavo que ela ganhou (mas ainda o acho caríssimo demais para ser comprado!). Este livro contém uma história-padrão, mas com simplicidade, contém um jeito de dizer o que vai dentro da gente, sem embromar, sem enrolar... Do mesmo modo que falamos com amigas que confiamos, ou sozinhas, à noite, bem escondida da figura de todos os outros.

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"Engraçado, isso. A pessoa deseja uma coisa tão profundamente, que dói. E então, quando essa coisa é obtida, mas precisa de muita restauração, renovação, derrubada de paredes, nova fiação elétrica e canos novos, ela pensa: "Mas que diabo! Não quero mais isso. Vou me conformar com algo menor, sem jardim, mas pelo menos já pronto”. (...) Porque depois de tudo isso, me sinto vazia. Você sabe qual é a pior coisa que um homem pode fazer a uma mulher? Bem, o que de fato fez meu amor ir pelo ralo foi que compreendi finalmente o que Ele fazia comigo. O fato de que Ele me fazia duvidar de mim mesma. Eu estava preparada para tentar mudar a maneira como sou, mudar quem eu sou, simplesmente por Ele. Meu marido me fez abandonar toda a minha integridade. Tentou destruir quem eu era e sou. E eu deixei! Nunca mais vou me deixar intimidar novamente! Gosto de pensar que tenho algo da coragem de Scarlett O'Hara, quando ela fez o discurso: "Como Deus é testemunha, jamais sentirei frio nem fome novamente. Serei sempre fiel ao que sei que sou, serei eu mesma, seja isso bom ou ruim. E, se qualquer homem, mesmo Ashley, tentar me mudar, vou me livrar dele tão depressa que ficará tonto." Lógico que quando recitei isso ao pamonha do meu ex-marido, Ele não entendeu absolutamente nada, nem atinou para o fato de que eu estava citando "... E o Vento Levou". Não tinha nenhuma imaginação aquela figura!


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"Estava inteiramente atordoada. Sabia que fizera a coisa certa. Pelo menos pensava ter feito. Mas acontece que aquilo era a vida real, e nenhuma decisão era inteiramente clara. Não é como virar no lugar certo e conseguir a felicidade para sempre ou virar no lugar errado e sua vida se transformar num desastre. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são equivalentes.(...) Queria que minha vida fosse como um jogo de computador. Se tomar a decisão errada, perco uma vida. Se tomar a decisão certa, ganho pontos. Só queria saber. Só queria ter certeza. Não parava de fazer listas com os motivos pelos quais não podia haver futuro para meu casamento de oito anos. Ele queria que eu fosse alguém que eu não era. Não se sentia feliz comigo do jeito que eu era. E eu não me sentiria feliz, se mudasse para Ele ser feliz. E eu não era feliz com o complexo de Santo dele. Se eu o recebesse de volta, Ele seria feliz porque, nesse caso, pensaria que eu perdoava tudo que ele fizera. Da maneira como já perdoava, ele próprio, tudo o que tinha feito. Provavelmente significaria que, na primeira briga que eu tivesse com ele, em nosso novo casamento melhorado, a separação se repetiria. Ele era pomposo e hipócrita, e achava que eu era frívola e imatura. Estava convicta de que era melhor o casamento realmente estar terminado. Só que sempre restava espaço para um pouquinho de dúvida.


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A vida realmente é uma criatura muito peculiar. Claro, sentia-me triste. Triste pelo meu EU idealista, que se casara com expectativas muito, mas muito altas mesmo. Triste até por Ele. Na verdade, sentia-me mais velha - e como! -, e mais sábia. Acho que aprendera - através do caminho mais longo e difícil - a ter um pouquinho de humildade. Controlava realmente muito pouca coisa, fosse em minha vida ou na de qualquer outra pessoa. E, quando ouvia alguém dizer "Tudo acontece por um motivo", ou "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela", não era mais tão difícil assim me refrear de dar-lhe um soco na cara. (...) Eu, normalmente, não era o tipo de pessoa que vê nos acontecimentos sinais, presságios, motivos e explicações. Ao contrário. Como disse antes, estava sempre debochando das pessoas que afirmam que tudo acontece por um motivo. Meu nome: Existencialismo. Mas na verdade, não era absolutamente difícil acreditar, depois de ver na minha vida ocorrer tudo isso. Não sentia que minha vida estivesse inteiramente acabada. Alterada sem retorno, talvez. Mas não acabada por completo. . Às vezes, você conhece uma pessoa maravilhosa, mas apenas por um rápido instante. Talvez em férias, num trem ou até numa fila de ônibus. E essa pessoa toca sua vida por um momento, mas de uma maneira especial. E, em vez de lamentar o fato de ela não poder ficar com você por mais tempo ou por você não ter a oportunidade de conhecê-la melhor, não é mais sensato ficar satisfeito por ter chegado a conhecê-la um dia? Não estava angustiada com a idéia de nunca mais tornar a ter um homem. Apenas levemente preocupada. Ah, Meu Deus! Nunca mais é tempo demais para mim.

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