sexta-feira, maio 26, 2006


Janelas em Nós:.

Atrás de tantas janelas, contemplamos nossos pedaços e máscaras sociais, quantas vidas remendadas e fingidas, o que é trapo visto como veludo. De uma certa maneira, parece que há uma bifurcação no caminho da vida que nos convida a retirar-nos de tudo o que "não é nosso", e passarmos a sermos cisnes, a totalidade verdadeira do nosso ser, sem medo e sem interesse, apreciando nossa imagem belíssima no lago. Não haverão mais vidas duplicadas, replicadas, nem duplas. Nunca mais o passatempo de passar-se por um entrudo, outra figura, uma montagem de quem queríamos ou sonhamos tanto em ser e viver. A vida exige a opção, mas nos cobra pelo prazer, nos faz navio perdido em mar revolto, onde o lastro vital deve ser adquirido passo-a-passo, teste-a-teste, se mantermos o prumo, se conseguirmos seguir o rumo, ousar e aportar no porto certo. Até um ponto vemos tantos companheiros, e após uma linha, contrariados, voltam a segurança de serem sem esforço apenas aquilo que são, desistem de si, acautelam-se, com medo de voar. Mar, metade da minha alma é feita de maresia... E é porque as tuas ondas, todas desfeitas pela areia, mais fortes se levantam outra vez, que, queda após cada queda, caminho novamente em frente para a vida, talvez por uma nova ilusão endoidecida, entorpecida... Antes, porém, do alto contemplo tudo, e faço soar a dor pelas alturas. Pra poder novamente, como suas ondas, ver meu coração livre de tristeza impura... eu sonho que nunca deixarei de ter a capacidade de sonhar, aquilo que sempre acalento, dentro de mim, guardado em alguma das muitas janelas dentro de mim.

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"A menina translúcida passa. Vê-se a luz do sol dentro dos seus dedos. Brilha em sua narina o coral do dia. Leva o arco-íris em cada fio do cabelo. Em sua pele, madrepérolas hesitantes, pintam leves alvoradas de neblina. Evaporam-se-lhe os vestidos, na paisagem. É apenas o vento que vai levando seu corpo pelas alamedas. A cada passo, uma flor, a cada movimento, um pássaro. E quando pára na ponte, as águas todas vão correndo, em verdes lágrimas para dentro dos seus olhos". Da Janela, vem a mente esse trecho de poesia da Cecília Meireles, pra lembrar de um tempo distante, de promessas esquecidas, de praias roubadas. De uma janela agora fechada, e já nem sei se há mais água lá fora, ou do lado de cá... Eu vou rasgar meu coração, pra poder costurar o seu. Só pra poder te ver feliz.

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