segunda-feira, maio 15, 2006


.:Oceano&Mar:.


Sempre em frente. Conta a lenda na pequena praia que este foi o último conselho de pescador que lhe deu, antes de içar velas e partir. Esqueceu de avisá-la que Ela deveria ir, mas Ele ficaria para trás, e pelo pequeno lapso, os pescadores avistavam-na diariamente, no cais, à sua espera. Em algum momento, quando o tempo já havia passado e feito muito estrago, ela considerou que realmente era dever e missão dela continuar o caminho, mesmo que sozinha, pois tinha metas e foco. Mesmo sem lanterna, companhia ou apoio de seu amor naquelas tempestades que desabaram no ano de 1984. Não sabia porque ele escolhera ir, o que compreendia é que não estava ali, naquele fim-do-mundo para entender ou julgar ninguém, nem ela, muito menos Ele. Seu compromisso se resumia naquele instante tão somente a secar suas lágrimas, que significavam, no momento, a dor da solidão. Às vezes, no final do dia, não conseguia dormir sem que antes desabasse, para poder deixar o mar de dentro de si escorrer para fora, tal qual tristeza profunda e sem nexo. Para prosseguir, desacreditou que encontraria novamente Ele, a pessoa que tinha se encaixado perfeitamente em sua vida - naquele momento a esperança não acalmava, era lamúria e sofrimento. Essa angústia se dissipava quando, exausta, caia em sono tranqüilo, e em sonhos se via tudo claro, tal qual realidade... Andava taciturna, ainda obscura, e confusamente perdida em marolas que lhe jogavam novamente à areia. Fazia longos percursos à procura de sua alma, juntando pedaços do seu coração, atos que deveriam continuar por um longo tempo... "A única coisa certa era que ele sabia voar, e como foi fácil cair em sua armadilha, porque também cantava bem". Não, não se recriminaria, tinha uma missão e uma conquista. Este era um momento decisivo em sua história, havia descoberto a existência da dor, traição e Amor, conjuntamente. Talvez tenha percebido desde o início, sem, contudo compreender o quadro inteiro, como criança que chora, mas não sabe o suficiente para dizer estou sofrendo. Pedir ajuda é muito difícil para quem sempre foi muito forte. A beleza e o sofrimento eram como irmãos siameses, voltados para lados opostos, porém inseparáveis. Sempre fora assim - hipersensível e rabugenta, mas crédula o bastante para ter aceito palavras de Amor como sinceras, de alguém que se dizia Honesto. Um dia, levantou os olhos e viu as aves. Nunca, sabia, esqueceria daquele momento; ela o conservaria vivo através dos séculos, em diversos quadros e escritos, até seu fim. Com o olhar dos répteis, fascinada, sua cabeça para cima, seguindo as aves como se fossem poemas perdidos. Muitas vezes tinha se perguntado onde estaria sem aquele primeiro escrito?Estaria voando pelo cosmos, como uma sombra sem nome, à procura de alguém capaz de lhe conhecer, tal qual Ele lhe reconheceu - de trás pra frente, do fundo pra fora? Levou algum tempo para compreender que a covardia era primogênita da inteligência, mas, felizmente, não filha única. A coragem era sua irmã, e em algum momento ela e ele tiveram de escolher entre as duas. Um bom recomeço, onde agora o céu lhe mostrava que a vida era uma sucessão de pequenos milagres, e que quando precisamos dos grandes, eles também aconteciam. Era tudo que esperava da primavera que chegava...

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Partes do Presente de Avó, para esta mãezinha: A História de Deus (contada pelo próprio), de Franco Ferrucci, escritor italiano que eu, sinceramente, não conhecia, e até agora se revela uma miscelânea de onhecimentos, física, filosofia, religião... Tudo para investigar a alma humana, através de seu olhar, um Deus atormentado pela sua condição e solidão. E como a música sempre lhe limpava a alma, pegou emprestado os versos do Rappa, desejando tranqüilidade, paz e refinamento para o restante do tempo que ainda separava-a do Amor. Pediu a Deus paciência, e tolerância com a dor em seus joelhos. Também motivos diários, que lhe trouxessem fé. Por alguns segundos, para observar... E num vislumbre, perceber onde a isca e o anzol estavam. E poder comemorar...

Se me tornar menos faminto e curioso
O mar escuro trará o medo, lado a lado,
com os corais mais coloridos
Valeu a pena, valeu a pena,
sou pescador de ilusões
Se eu ousar catar
na superfície de qualquer manhã
As palavras de um livro sem final ...
Valeu a pena, valeu a pena, sou pescador de ilusões”

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