sexta-feira, maio 12, 2006


Casca de banana:.

Marian Keyes escreveu Melancia, acho que poderia chamar meus memoriais de Casca de Banana. No Prólogo citaria a poesia do Drummond, mas em vez da pedra, diria que ao longo de minha vida havia uma casca. De banana. Muitas vezes eu a avistava, de longe. E quando chegava perto, algo ou alguém me empurrava em direção a própria, fazendo-me, literalmente, cair de cara no chão. Portanto, exime-se da culpa a casca e a banana; eu avistava, podia até saber pelos macacos nas árvores, aquela coisa de "sexto sentido"... porém, não sei porque, a escorregadela me pegava. Minha via crucis, tal qual Jesus, inclui a cruz, mas invariavelmente, não se desvincula da casca - caio, não pela dor, mas pela casca, que estava ali, no meu caminho. E aí tudo desaba: a dor, a cruz, o lamento. A fadiga e a descrença em tanta crença... a falta de, em conjunto com a necessidade. O desejo e o clamor. Enquanto Ele, Senhor e Maior, só olhou para cima, após muita dor, e ser pregado, eu, no chão, jogando a casca no lixo, olho para estrelas, lua, e advirto: se não houver no sol seguinte, luz e apoio, largo tudo. O caminho, a cruz, e o ato de jogar no lixo as cascas de banana, "sempre utilizando o conceito de viver o amor", aqui como comportamento. Agir sem reagir é dficílimo. Tem horas que tudo que resta é sentar em cima da madeira, e pedir um pouco de vento e chuva. Pra ajudar a disfarçar as lágrimas. Se você deixa de ter alguém ou alguma coisa, sente sua perda e, depois, passado algum tempo, preenche o buraco que ficou em sua vida, a ausência, aos poucos, fica cada vez menor e, afinal, desaparece. Há um sentido na dor. Há um motivo e uma direção para ela. Essas linhas ficam tão lindas lidas; mas quando aplicadas na vida real, se tornam inóquoas. Porque eu odeio Dor. E se há sentido em aprender com algo doendo, então teria sentido bater com mata-moscas em crianças peraltas e chatas. Bem, hoje eu comprei a grelha para o ralo. Porque as cascas entopem tudo... Amanhã eu adquiro o mata-moscas. Colorido, verde-brilhantina, pra afugentar as cobras que teimam em incitar os macacos a sujarem o caminho de outrem. O período que se segue agora, ladeira acima, eu posso apelidá-lo de O Grande Terror. . Sem Gatsby. Sem mansões ou qualquer ilusões ou miopia. Isso Dói.

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