quarta-feira, maio 31, 2006


Ballerina:.

Certas passagens profundas em nossa vida pedem água rasa pra descontrair a mente. Susan Shapiro, com seu livro, foi decepcionante, já que na contracapa, quem a anunciava como escritora maravilhosa era Erica Jong. Não no livro que li - aliás, é até chata e insone com toda aquela bagagem psicológica de ficar analisando e reanalisando tudo o que ocorre. "Às vezes um charuto é apenas um charuto". Um santo homem, o seu marido, que a atura por mais de 5 anos. Mas, como sempre, no meio do joio, havia uma pequena lavanda, florescendo....Numa passagem, ela coloca em divisões os seus ex-namorados, o que cada um lhe disse que sentia, e o presente ou algo mais marcante que ficou, depois de tudo terminado. Lembrei da festa dos meus quinze anos, meu presente especial, uma caixinha de música, com uma delicadíssima bailarina com saia rendada, em porcela fina, rodopiava feliz, ao som de Ballade por Adelline. Junto, um cartão simples e feio, daqueles expostos em floricultura, pra pessoas mais idosas, com um botão de rosa vermelho, devidamente embalado. Dentro do cartão, depois da clássica frase impressa em todos, as palavras do "menino que eu era apaixonada, platonicamente" (quer dizer, tentava ocultar de todas as maneiras o sentimento): Nesta data tão especial, queria lhe dizer muita coisa, além de parabéns. Mas eu não sei o que sinto, e nem sei como dizer, quanto mais escrever. Não sei o que quero dizer quando digo que nem sei o que quero falar. Ah, e na hora da festa trouxe o LP do Roupa Nova, e me mandou ouvir a única canção que não era melosa do tal conjunto. Primeiro, as palavras - eu odiei o cérebro que não se exercitava, como seu corpo magnífico. Isso me elevou a um grau da fúria; quando ouvi a canção, foi o ápice. O que sentia terminou, e se revelou outro sentimento, uma vontade de ajudá-lo a salvar-se do abismo, quase prestei vestibular para assistente social... Mas o presente, ah, como amei (escolha da mãe dele - que eu adorava!). Aquela bailarina, a música, como ela podia saber o quanto aquilo sempre me encantou? Um dia, o tão bem guardado objeto caiu do alto - obra da minha irmã. Desespero total: a saia, milhões de pedaços de cacos espalhados, colei o que podia com superbonder... o resto coloquei num mini-envelope rosa, os cacos da saia da bailarina acidentada. Numa mudança, quase casada, mais uma vez lá foi ela, desta vez ação da minha mãe, com sua serelepe intrepidez em fazer tudo rapidamente, sem perguntar aonde pode mexer, ou como deve fazer. Colei a cabeça, adicionei mais cacos ao envelope, e tentei todos os produtos pra retirar os riscos da caixinha de música. Na separação, triste sina da bailarina, o ex que odiava a dançarina, jogou a caixinha longe, dizendo que aquilo era algo que devia ter sumido há muito tempo. Eram tantos cacos, guardei todos no envelope, como chorava ao som de Ballade por Adelline... lógico que acrescentei algo a história do presente, e o ex terminou por me consolar, comprando outra, que nem de longe chegava aos pés do bibelô que me encantava. Era grande, pesada, escura e .... feia mesmo. Fechei o livro da Chata da Shapiro, e comecei a rir: eu ainda tinha os cacos da bailarina no envelope mini rosa. Guardados no baú. Achei que era hora dela ir descansar, há tanto tempo estraçalhada ali... Enterrei e plantei alfazema, em homenagem àquilo que tanto me marcou. Quanto ao cartão, rasguei na frente do desmiolado. Se ele não sabia, não era eu que haveria de encontrar a solução por ele. Sabem, a vida vale por pquenos momentos como esses - excepcionais, onde nos encontramos completas, em algum lugar. Simples assim, foi o que sempre me fez feliz.

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