segunda-feira, novembro 26, 2007


TERRA.

Permaneci imóvel, quase sem me atrever a respirar, enquanto Ela percorria com seus dedos, minhas feições. Enquanto o fazia, sorria para si e pude reparar que os seus lábios se semicerravam, juntamente com seus olhos, como que murmurando em silêncio. Senti o roçar da sua boca na testa, no cabelo e nas pálpebras. Deteve-se sobre os meus lábios, desenhando-os em silêncio com o indicador e o anular, os dedos cheirando a canela e maçã. Engoli em seco, notando que minha pulsação disparava. Decora o rosto daquele que ama, é dessa crença que viverá o amor. Naquela tarde de calor, entre quatro paredes, Ela roubou o meu coração, deteve minha respiração entre seus abraços, e nos seus braços conciliei meu sono. Ao abrigo da luz enfeitiçada daquele quarto, as suas mãos escreveram na minha pele uma maldição que tem me perseguido durante todos esses meses. Sabes o que é o amor? Bem, talvez sejas muito novo. Ou não estejas interessado nesse conhecimento. Mas adianto-lhe, mesmo assim - é tal como se uma sensação, uma faísca, se acendesse da primeira vez que dois corpos se tocassem, e então... Não mais se esquece. Este mundo é um mundo de sombras, e a magia é um bem escasso. Há pessoas que se mostram e revelam a nós um mundo desconhecido. Uma vida mais intensa. Um sorriso que nos pinta o rosto no exato momento em que pensamos nela. Muitas vezes ansiamos a vida inteira por tanta coisa, e descobrimos num átimo de segundo que nada daquilo tanto nos faltava, o que modifica nossa pessoa não é aquilo que temos, mas o que passa a acontecer por dentro. Chegando a este ponto, sei que já fiquei reduzido a um basbaque, à mercê daquela criatura a cujas palavras e a cujos encantos eu não tenho maneira, nem vontade, de resistir. Desejo que Ela nunca deixe de viver intensamente, que a sua voz me envolva para sempre, e que ninguém quebre aquele instante que pertenceu só a nós. Desejo que ela seja exuberantemente feliz, e sendo assim, eu também serei. Tudo é apenas uma questão de sentir.

segunda-feira, novembro 19, 2007


DA OUTRA MARGEM

Tanto tempo esperando que tudo passasse... Tanto tempo controlando atos e ações, palavras e silêncios... Olhou-a de baixo para cima, e desistiu de continuar inerte no canto, enquanto a música tocava no salão. Danem-se os temores infantis, se queria aprender a se comprometer, deveria começar a enxotar a vergonhar, e ceder ao desejo de tirá-la para dançar. Um não a mais, um sim a menos, nada disso sabia, iria mudar o que sentia. (...) Foi quando novamente ela questionou o porquê daquilo tudo que se viu jogando tudo pra fora. Do seu modo, como sempre. "Por que fez isso? É só isso que tem pra me dizer? Eu não sei nem por onde começar. Preciso de coragem pra falar, não quero ver suas costas. Não desista de mim... Porque eu tenho defeitos. Não sou um anjo. Nada daquilo que você via. Nem sei porque insistia em dizer que confiava em mim. Se soubesse quantas vezes te trai em palavras e gestos. Mentiras? Não uma. Eu menti. Escondi. Dissimulei. Viu? Não sou um anjo, nem daqueles com asa quebrada, caídos por engano. Fiz porque quis. Talvez porque precisava agir como sempre fiz. Pra mudar um ponto, é necessário muito esforço em mim. Não sei se você me entende, mas adiantaria te dizer que eu vi que sou feliz com você? Assim, só com você. (...) Não, eu não quero que você me perdoe. Não quero seu perdão. Será que você não entende? Eu quero amor. O seu amor. Não perdão. O amor perdoa. Por conseqüência". E afastando-se um pouco, arqueou uma sobrancelha, típico gesto que repetia quando estava inseguro, sem saber onde enfiar as mãos, ou botar os pés. Aliás, melhor deixá-los no chão, tinha tanto receio de ter qualquer esperança, sonhar e andar em nuvens não fazia parte da sua vida. Sentiu os olhos rasos d'água, e fez uma última tentativa. "O amor é isso. Conseguir ver a situação com os olhos do outro. Não preciso te dizer então porque eu fiz, você tem que compreender. Dizem que só o amor se empresta a esse trabalho. Compreender o outro através da sua visão. Você sai do seu mundo estreito, e se permite entender os atos daquele que amou... É isso. E acho que você está certa: ainda vai demorar um bocado pra eu aprender a me abrir com alguém. Isso é tudo o que eu consigo hoje, é isso que posso oferecer. Então, vai querer dançar?" Mas não teve coragem de estender a mão, já não acreditava em tanta sorte. A surpresa foi quando se viu enlaçado, sendo beijado no meio daquele salão apinhado de gente. Ah, mas isso era o que menos o preocupava, o gostoso da vida era exatamente aquilo - se deixar viver todos os momentos que davam imensa alegria. Sem preconceitos. Sem visões distorcidas. Afinal, a vida era isso. Eterno risco. Que fosse o maior, então. Que fosse Ela.

quarta-feira, novembro 14, 2007


CATEDRAL

Passadas três semanas, abraçou-a. A confiança se acumulava depressa, graças sobretudo à força bruta da delicadeza do homem, a seu estar ali. Desde o começo, a menina soube que Hans Hubermann sempre apareceria no meio do grito e não iria embora.

• UMA DEFINIÇÃO NÃO ENCONTRADA NO DICIONÁRIO •
Não ir embora: ato de confiança e amor, comumente decifrado pelas crianças.


Voltar para casa.
Não ir embora.
Mão na minha mão.

Expressões que permeavam o universo da "Menina que roubava livros", de Markus Zusak. Não sei se termino algum dia esse livro - a poesia, apesar de bela, entremeada aos parágrafos me faz parar. Pausar. Tal como Lya Luft, Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo,em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento,servo e senhor, e sou mistério. A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados,nem sempre nos levamos a sério. Na maior parte, quem me salva do acaso, é a distração das cores.

quinta-feira, novembro 08, 2007


Someone to Watch over me

Fim de tarde, quando suavemente passa as mãos pelo cabelo, e inclina-se na cadeira, procuro em sua fisionomia a alegria do menino curioso e vivaz. E tudo o que me vem é a frase de Clarice Lispector, "um monte de cacos, uns brilhantes, outros baços, uns alegres, outros como um pedaço de hora perdida, sem significação, uns vermelhos e completos, outros brancos, mas já espedaçados". Não sei em qual construção fechou a porta e jogou a chave pela janela... Absurdo vê-lo caminhar seguindo tão pesado, carregando tantos fardos de outros. Sete Horas, e ao redor de si, o silêncio. O que me assusta é que daqui um pouco, quatro horas na madrugada fria, despertará sonolento. O que o aflige não é tanto o desejo, mas o limite, que angustia. Por que não pode ser Sim?Até onde podemos ir para podermos ser Felizes? Para que um sentimento perca o perfume e deixe de intoxicar-nos, nada há de melhor que expô-lo ao sol. Talvez fosse solução viver a impossibilidade, desconstruindo toda a possibilidade de tanta amargura.

GRAÇA

Só o impossível acontece. O possível, se repete todos os dias.
Chacal.

ORANGE

A arte de defletir a energia não desejada, ou "retirar o ferrão das palavras recebidas, para não tornar a enviar, com mais força, ferrões em forma de palavras", é uma luta incessante. Agir de forma a se colocar no lugar do outro, usar o humor e a irreverência para retirar a rigidez excessiva ou o dramalhão que o outro utilizou... até que se torne natural e espontâneo, é cansativo e normalmente, a vontade de "jogar tudo para o alto", e desistir, assombra nos momentos em que nos é exigido mais equilíbrio. Às vezes, alguém indaga: "E por quê tal preocupação?" Porque para mim, respeito acompanhado de responsabilidade pessoal é um princípio. Sei que há casos, quando a situação já degenerou para a gritaria ou em silêncio pesado, que só consigo ir embora, em silêncio. "Saber quando e como falar é uma arte que preciso aprender a dominar". Antes, é essencial ser capaz de detectar segundas intenções ou motivos ocultos naquilo que nos é enviado. E aqui considero que existe o maior problema: tantas pessoas imaginam entrelinhas, apenas e tão somente pelo fato de que, na vida, não aprenderam a confiar em alguém de modo aberto! Assim, a menor pedra que a vida mostre, sempre pensam nesta como "conflito e dificuldade", jamais como pepita de ouro e oportunidade. Se somos capazes de sentir amor, não devemos deixar que "palavras" turvem esse sentimento. Por favor, não imagine que o que escrevo possa refletir o presente, ou evocar algum passado. Isso machuca. Eu prefiro viver olhando para o futuro, atenta aos passos formadores no presente daquilo que tanto espero acontecer. Antes de cair em teias de ilusão, ou pensamentos maliciosos, permita-se sentir. Como espera voar como as águias, se passa, à menor suspeita, a dançar como galinha?

quarta-feira, novembro 07, 2007


VALORIZAR-SE É A DICA.

TERAPIA DE 5 MINUTOS
[que podem lhe poupar muito tempo jogado fora!]

Quando eu abro uma revista Nova, gosto de dar uma olhada nas palavras de aconselhamento do Dr. Paulo Gaudêncio. São fortes, nada concessivas, nada "de panos quentes". Vou transcrever uma.

Num feriado, meu namorado viajou, sem me avisar, para Juiz de Fora, onde acontecia o JF Folia. Não gostei, mas fiquei quieta para não brigar. Aliás, não discutíamos havia um bom tempo. O malandro só me telefonou dois dias mais tarde. Passei o fim de semana imaginando traições. Na volta, depois de ouvir uma bronca, ele esfriou comigo. Parece que continua na relação por obrigação. Esqueci o episódio, ele não. Fico imaginando que pode estar deixando de gostar de mim. Como devo agir?

E a resposta do Gaudêncio:

ESSE HOMEM NÃO ESTÁ DEIXANDO DE GOSTAR DE VOCÊ. ELE JÁ DEIXOU. Não vejo como salvar o namoro, mas você pode aprender, para que essa situação não se repita mais. As bases são:

1. POR QUE ELE VIAJOU SEM AVISAR?
O rapaz já estava frio. Caso contrário, não teria ido sem dar um alô. Apesar de ainda não ser oficial, o namoro acabou faz tempo. Por quê? Vou explicar a lei da oferta e da procura: quando tem safra de uva, o preço cai lá embaixo. No campo afetivo é igualzinho. Como dizia minha avó, quem abaixa muito, a calcinha mostra. Faz tempo que você anda abaixando. E isso faz você valer cada vez menos.

2. POR QUE EVITA TANTO A DISCUSSÃO?
Você diz que ficou quieta para não brigar, que não discutiam havia um bom tempo. No entanto, para manter essa "aparente calmaria", fingiu que não ligou para o que o rapaz fez e engoliu, provavelmente, não pela primeira vez, uma agressividade sem tamanho. Mais um sapo. Agindo assim, engana a si mesma (afinal, não gostou nem um pouco da situação). Engana o moço (uma vez que não disse isso a ele assim que se deu conta do fato). Guarda a raiva. O máximo que consegue fazer é chamar o cara de malandro e ficar "imaginando as piores traições" sozinha, em casa. Pois saiba que toda vez que se comporta dessa maneira, engolindo um sapo, perde valor.

3. EXISTE COMO REVERTER ESSA SITUAÇÃO?
Para seu próximo relacionamento, meu conselho é que NÃO SE DESQUALIFIQUE TANTO. Como? Colocando limites. É preciso contar a quem está ao seu lado o que a desagrada ou incomoda. É um jeito de se valorizar.

4. E O QUE FAZER AGORA?
Minha cara, você precisa aprender a enterrar o morto. Nesse relacionamento, só vai se desvalorizar cada vez mais, acredite. Você provavelmente se lembrará dessa micareta para todo o sempre. Não esqueceu (como diz ter feito), nem vai esquecer. O ressentido tem memória. Ele re-sente, sente de novo e de novo, o que não foi expresso na hora em que ocorreu. Por isso, Freud dizia que o inconsciente é atemporal - não existe passado, tudo é presente. E mesmo assim, tem pessoas que encaram "relacionamentos" ou compromissos como "jogos". Tem que ir até o final. Não sabem nem porque, mas como são teimosos, continuam ressentidos pela vida inteira. Questão de gostar da dor ou de achar que não merecem a paz de algo melhor.

5. PLANO DE AÇÃO.
Chega de engolir a raiva. Faz mal para a saúde física e emocional. Corre-se o risco de somatizar, ficar deprimida, ou sair por aí descontando a agressividade em todo mundo. Nada pior do que permanecer calada, engolindo desaforos, fingindo que está tudo bem. Não viva de aparência, Aparente o que Sente. Lembre-se deste lema: Se eu estou errado, amigo fala PARA mim, e não DE mim.

domingo, novembro 04, 2007


Amor? Amor! Amor...

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

Mario Quintana; Espelho Mágico

Love-Love-Love

Pior, mas muito pior mesmo do que as lágrimas de crocodilo são os sorrisos de crocodilo.

Mario Quintana; Da preguiça como método de trabalho, 1987

FORÇA

Não pretendo me estender, desvendar o mistério do amor não me interessa. Quem pode dizer o que acontece para que duas pessoas se olhem nos olhos e reconheçam que aquela pessoa é a pessoa por quem esperaram inconscientemente durante toda a vida? Eu poderia listar um número variado de coisas que amei à primeira vista nele, e que passei a adorar depois de todos aqueles meses sentindo sua falta. Basta dizer que, depois daquele beijo, eu sabia que deveríamos ficar juntos para sempre.
Foi assim
Como ver o mar
A primeira vez
Que meus olhos
Se viram no seu olhar
Não tive a intenção
De me apaixonar
Mera distração e já era
Momento de se gostar
Quando eu dei por mim
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar
Quando eu mergulhei
No azul do mar
Sabia que era amor
E vinha pra ficar


Posso ir mais longe, e dizer que, até o momento em que eu o conheci, era virgem. Não me refiro ao ato mecânico das relações sexuais. Estou falando de amor físico, sobre o qual nada sabia até conhecê-lo. Sexo, para mim, tinha sido relâmpagos de prazer rápido e agudo, seguidos quase que imediatamente de uma vontade e urgência em dormir, em me afastar, em ir embora. Com ele, aprendi que a alegria da paixão sexual vem da lenta expansão após o crescendo, enquanto você fica deitada lado a lado, envolta em um nuvem cor-de-rosa, resultado da fusão de almas que houve. É como se ele morasse em mim, e pudesse compreendê-lo, mesmo em silêncio. Um estado raro de inocência, compartilhar o prazer com quem se ama. Como se conquistasse a entrada para o paraíso. Talvez você não entenda o princípio do que quero dizer, mas quando você amar verdadeiramente alguém, sua ficha cairá. E tudo passa então a ser simples, o que mais encantando a capacidade dele me tornar uma pessoa melhor, todos os dias. A capacidade dele devolver ao meu coração algo que eu acreditava que havia perdido - a coragem de aceitar que eu posso (e mereço) ser feliz. Como sempre sonhei.
Daria pra pintar
Todo azul do céu
Dava pra encher o universo
Da vida que eu quis pra mim
Tudo que eu fiz
Foi me confessar
Escravo do seu amor
Livre pra amar
Quando eu mergulhei
Fundo nesse olhar
Fui dono do mar azul
De todo azul do mar
Foi assim como ver o mar
Foi a primeira vez que eu vi o mar
Onda azul, todo azul do mar
Daria pra beber todo azul do mar
Foi quando mergulhei no azul do mar
Onda que vem azul, todo azul do mar

VERÃO

Acho que eu tive um sinal essa semana. De que a gente não pode adiar as coisas. Quero dizer, algumas vezes o futuro não chega nunca para algumas pessoas. E a morte de alguém próximo a mim me fez entender que temos que seguir os nossos instintos. A gente não pode deixar que uma oportunidade única nos fuja das mãos. Foi por isso que pedi para você vir pra cá. Eu não quero e nem posso prometer que tudo ficará bem e será pra sempre feliz e grandioso, só o que tenho a oferecer é o presente. Desde o dia em que te vi me senti atraído, desde aquele primeiro momento em que meus olhos se encontraram com seus olhos... Devagar, como se fosse pegar uma borboleta num galho, estendi minha mão e toquei seus cabelos, afastando-os de sua testa. Seu rosto se moveu em minha direção, fechei então os olhos, e joguei uma pá de cal em cima de qualquer receio ou tentativa mental de análise de suas palavras. Meus sentidos ficaram impregnados do cheiro dele, de sua pele, da doçura de sua boca, da pressão e umidade de seus lábios e língüa, isso tudo contando com um fundo musical de tráfego intenso. Não se constróem mais cenas românticas em meio a megalópole de São Paulo...
VÊ-LO apressado, ao meu encontro, me fez estranhamente retrair. E se tudo só servisse para me tentar e torturar com a visão de um futuro que não poderia acontecer? Foi o Amor que me deu foco - meu amor por essa pessoa que agora me conduzia ao estacionamento. Este Homem que, com cada gesto, fazia meu coração bater descompassado. Uma sensação estranha me atingiu quando ele, entrando, não ligou em seguida o carro, olhando demoradamente para mim. Foi como uma faca enterrada em meu coração com uma torção: e se ele tivesse me esquecido? E se não houvesse mais sentimentos? Tentei tergiversar, no estilo de "Algum problema?", disfarçando todo o medo, e embrulhando a ansiedade em papel celofane, comprimido dentro de mim.
AINDA não tinha idéia do que estava fazendo. Havia um perigo óbvio em parar de analisar cada ato, começa-se a viver o presente com intensidade. Saboreando emoções, arriscando intimidade... Sentir-se amado e permitir ser amado é coisa que exige de mim grande coragem. Decidi me entregar - só desta vez, a essa força, que alguns chamam de sorte, outros de destino, ou qualquer outro nome que você queira chamar 'essa coisa maior que eu e que tem me dominado até então. Começar a cooperar para que tudo corresse, se não a meu favor, para que, pelo menos, eu não fizesse gol contra, em meu próprio estádio! Ele era, claro, tudo o que eu havia sonhado em um homem. No entanto, agora que acontecera (aparecendo) na minha frente, eu me sentia incapaz de acreditar em ser feliz. Alguma coisa (ou alguém) estava implacavelmente colocada entre mim e a felicidade que Ele representava; e talvez esse grande inimigo pudesse ser eu mesma. Sentia que estava próxima de deixar escapar uma histeria como "Eu amo você", e cair em pranto, ou sair pulando em seu pescoço, e beijá-lo até minha vontade se acalmar. Com isso, estaquei em algum ponto, e tentei segurar pés e mãos - Jesus Amado, que eu não faça nada que me faça parecer aos olhos dele muito idiota. Não são só as cartas de amor que são ridículas; aqueles que amam igualmente são.

DEPOIS DAQUELE BEIJO...

Cheguei cansada da tarde passada em fila de espera de atendimento, e só mais tarde parei no pequeno escritório que havia montado. Foi então que vi seu recado, economia de palavras era seu estilo, "Venha para cá no próximo feriado". Inevitável o sorriso, quanta saudade se formara desde a última vez. Pensar nessa sequência de acontecimentos agora, enquanto me atropelavam mihões de pessoas na rodoviária, era uma tentativa de fazer o tempo decolar, apressar a espera por ele. Estava me sentindo de volta aos bancos escolares, indo para um encontro toda vibrante e perfumada, um monte de borboletas batendo asas no meu estômago, o coração em ondas alternadas de ansiedade e exaltação. Quando a gente quer muito que tudo dê certo, corre o risco de meter o pé, no lugar das mãos.

Sereia e Monge.

Do blog que vale visitaQuanto tempo faz que você alçou vôo? Eu confesso, morro todos os dias um pouquinho de vontade de gritar por sua volta. Fez-se a falta, desde sua partida. Ninguém mais para compreender as sutilezas em cada dia. Nada me detendo por muito tempo, enquanto viva, tento viver. Para onde se foram as palavras que gostava de decifrar, as leituras oceânicas que eu mergulhava a fim de te entender? Tento te inventar, mas você sabe que de realidade inventada, não dou um passo sequer. Esses dias, lembrei de você. A sereia e o Monge, o livro ao qual meus olhos se detiveram. "Dentro da igreja de um monsteiro beneditino na Ilha da Graça, próximo à costa da Carolina do Sul, há uma bela e misteriosa cadeira entalhada graciosamente com sereias e dedicada a uma santa que , segundo a lenda, fora uma sereia antes de sua conversão". Gostaria que essa capela existisse, tenho certeza que você estaria lá, como pintor e confessor. E todos os dias, no alvor, estaria na praia, olhos fitos no mar...