segunda-feira, novembro 19, 2007


DA OUTRA MARGEM

Tanto tempo esperando que tudo passasse... Tanto tempo controlando atos e ações, palavras e silêncios... Olhou-a de baixo para cima, e desistiu de continuar inerte no canto, enquanto a música tocava no salão. Danem-se os temores infantis, se queria aprender a se comprometer, deveria começar a enxotar a vergonhar, e ceder ao desejo de tirá-la para dançar. Um não a mais, um sim a menos, nada disso sabia, iria mudar o que sentia. (...) Foi quando novamente ela questionou o porquê daquilo tudo que se viu jogando tudo pra fora. Do seu modo, como sempre. "Por que fez isso? É só isso que tem pra me dizer? Eu não sei nem por onde começar. Preciso de coragem pra falar, não quero ver suas costas. Não desista de mim... Porque eu tenho defeitos. Não sou um anjo. Nada daquilo que você via. Nem sei porque insistia em dizer que confiava em mim. Se soubesse quantas vezes te trai em palavras e gestos. Mentiras? Não uma. Eu menti. Escondi. Dissimulei. Viu? Não sou um anjo, nem daqueles com asa quebrada, caídos por engano. Fiz porque quis. Talvez porque precisava agir como sempre fiz. Pra mudar um ponto, é necessário muito esforço em mim. Não sei se você me entende, mas adiantaria te dizer que eu vi que sou feliz com você? Assim, só com você. (...) Não, eu não quero que você me perdoe. Não quero seu perdão. Será que você não entende? Eu quero amor. O seu amor. Não perdão. O amor perdoa. Por conseqüência". E afastando-se um pouco, arqueou uma sobrancelha, típico gesto que repetia quando estava inseguro, sem saber onde enfiar as mãos, ou botar os pés. Aliás, melhor deixá-los no chão, tinha tanto receio de ter qualquer esperança, sonhar e andar em nuvens não fazia parte da sua vida. Sentiu os olhos rasos d'água, e fez uma última tentativa. "O amor é isso. Conseguir ver a situação com os olhos do outro. Não preciso te dizer então porque eu fiz, você tem que compreender. Dizem que só o amor se empresta a esse trabalho. Compreender o outro através da sua visão. Você sai do seu mundo estreito, e se permite entender os atos daquele que amou... É isso. E acho que você está certa: ainda vai demorar um bocado pra eu aprender a me abrir com alguém. Isso é tudo o que eu consigo hoje, é isso que posso oferecer. Então, vai querer dançar?" Mas não teve coragem de estender a mão, já não acreditava em tanta sorte. A surpresa foi quando se viu enlaçado, sendo beijado no meio daquele salão apinhado de gente. Ah, mas isso era o que menos o preocupava, o gostoso da vida era exatamente aquilo - se deixar viver todos os momentos que davam imensa alegria. Sem preconceitos. Sem visões distorcidas. Afinal, a vida era isso. Eterno risco. Que fosse o maior, então. Que fosse Ela.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial