sexta-feira, junho 26, 2009


CELEBRAÇÃO.

"Fiquei admirada com sua maneira de conter a raiva, se é que sentia raiva. Talvez já tivesse passado a fase de acreditar que o comportamento medonho de alguns, não eram mais do que o que se pode esperar; quem sabe para ele, lealdade e honra fossem as coisas mais raras de se encontrar? Minutos depois, Ele abraçou-me, pressionando-me contra seu corpo, já recuperado com as poucas horas de sono. Beijou-me, e parecia que todos os apetites que não permitia desfrutar - por comida, por sono, por vinho - se fundiram em um único desejo multiplicado. Dizem que qualquer batalha que ele tenha lutado, foi decidida completamente, e tanto, que não havia necessidade de lutá-la novamente. Assim, também comigo, naquela noite; quando me possuiu e fez amor comigo, tantas e muitas vezes naquela longa noite, de maneiras tão diferentes, ele me cativou para sempre, meu corpo, minha alma, minha força."

segunda-feira, junho 22, 2009


Tutto bonna.

Por favor, não me abandone, é o que penso quando vejo Lilly, já sentada na cafeteria, como se novamente estivesse de volta aos 7 anos de idade. No calor do abraço que recebo, sinto o nó do estômago se dissipar pelo menos um pouquinho.

Será possível?, penso. Mais um pesadelo? E mesmo com tudo às avessas, sinto certo alívio pela oportunidade de esquecer um pouco o que está ocorrendo na minha vida. Principalmente, o que está por vir. Pelo menos por alguns instantes, parar de pensar em passado, sonhos, destino e amor. Deixar de confabular sobre a vida que está à minha espera, ou na vida que vou deixar para trás. No homem maravilhoso com quem vou me casar, ou no motivo da minha falta de entusiasmo com esse casamento. Mais que tudo, traz um grande alívio conversar com alguém que saiba tanto sobe mim.

Lilly estava deslumbrante, como sempre, sentada na mesa de fora, já com o café a minha espera, e claro, o discurso pronto. Ainda não sei como ela sempre acerta, o que quer que atire contra mim, pensei, sentando-me rapidamente e me servindo de umas bolachas, numa tentativa de adoçar aquele momento.

- Você tem que perceber que nem tudo é ‘ferro e fogo’. Tente ser mais otimista. Veja por outra ótica, o café daqui sempre é uma bela porcaria, e hoje está maravilhoso! - Lily dá uma daquelas gostosas gargalhadas, que nos remetem a lembranças felizes.

- Você deveria ter visto minha cara-de-parede-caiada, quando desembrulhei o imenso pacote de presente do Cadi, e dei com sua trilogia moribunda favorita. Clube dos Mortos, Morta para o mundo, Absolutamente morto, Definitivamente morta, Todos mortos juntos, De morto para pior, Morto e distante... Estou com medo: você não acha que isso pode ser um sinal de que esta solução não me trará vida?

- Pare de se lamentar. Sinal? Meu Deus, Rachel, isso está mais para luminoso! Eu já teria aberto mão desse príncipe encantado, só pelas orelhas enormes que porta, como se fossem retrovisores. E com essa biblioteca... Mesmo que o cara seja rico, cheiroso, charmoso e completamente apaixonado por você, dá um tempo. Foge, como a noiva em fuga. Sei lá, dá um jeito, e cancela a festa de noivado!

- Está todo mundo tão feliz, como vou fazer isso? Estraga-prazeres, novamente.

- Melhor virarmos a página - e começa a rir, despejando o champagne que havia pedido, numa taça de cristal. - Toma. Um brinde ao que virá. Quem sabe reminiscências do passado não retornam?

Bebo de um só gole, e as borbulhas vão direto para minha cabeça. Dou outro gole. É de cortar o coração o esforço que ela faz para sorrir. Lily pressiona a mão coberta de jóias sobre o colo do peito, esquelético e sardento. Um gesto, presumo eu, mais valioso do que qualquer seqüência de adjetivos carinhosos. E pensar que um ano antes, era tudo tão diferente!

Normal, simples e real. Era o que eu lembrava. Das manhãs, quando tomávamos café e conversávamos antes de sair. Quando o nome dele aparecia na minha caixa de mensagens de pouco em pouco. Nas noites que folheávamos os menus de delivery, escolhendo o que pedir no jantar. Em cada massagem nos pés, em cada beijo, em cada vez que nos despimos juntos na penumbra. Eu fixei em minha mente todos esses detalhes. Todos os detalhes compreendidos nestes nossos dias juntos.

Ainda assim, quando Lilly voltou, eu estava de volta àquela encruzilhada, meu coração disparado novamente. De repente, me dei conta de que não importava o quanto eu estivesse feliz vivendo ao lado de Cadi, eu não iria esquecer daquele outro homem tão cedo, daquele aperto na garganta ao rever o semblante dele. Por mais que eu desejasse desesperadamente esquecer. Principalmente porque eu queria esquecer.

Lilly deve ter reparado nos meus olhos marejados, porque levantou-se rapidamente, e pagou a conta. Depois, disse que estávamos precisando de uma terapia dupla: chá e pizza. Algumas pessoas praticam ioga, outras correm para a terapia - eu, por minha vez, prefiro afogar as mágoas numa suculenta calabresa. Já ela, uma boa chaleira fervendo induz a calmaria.

Naturalmente, não era só o baque emocional de ter perdido o único amor. Nem tampouco o possível trauma de estar casando com alguém que não amava,apenas por me sentir muito amada. Também havia o lado profissional, abalado com a ruptura de sociedade do escritório psicológico que atuava. Além de estar em tratamento dentário. Claro que, essa última hipótese era mais aterradora: ninguém merecia tantas horas com uma broca.

Com tudo isso, eu me sentia frustrada. Tinha fome de mais responsabilidades. De compromisso. O que eu desejava era alguém trocando de vida comigo, por algum tempo. Enquant essa pessoa organizava tudo, eu podia ficar em algum lugar da europa, percorrendo museus, lugares históricos, cafeterias e bibliotecas. Não dizem que "sempe sabemos resolver o problema do outro"? Meu desejo tinha fundamentos bem sólidos.

Admito que estou sendo um tanto cínica. Mas com certo conhecimento de causa. De qualquer modo eu não estava a fim de sair. Principalmente naquela noite. Estava preocupada demais com minha situação no trabalho, e ainda tinha pela frente pelo menos uma semaninha a mais de dor-de-cotovelo. Depois, para mim, pizza rimava com coca-cola zero. Não com chá de graviola.

Olhando de fora, qualquer um diria que, descartar o homem com quem estava prestes a me comprometer, era loucura. Quando eu o vi, pela primeira vez, fiquei desorientada. Foi uma sorte danada ter encontrado alguém que se levantar da mesa, gentilmente, quando eu voltava da toalete, e abria a porta do carro. Cadi me amava, e não tenho o menor pudor de admitir que isso era o principal motivo de estarmos juntos. Confesso que também era o fundamento para eu amá-lo. Precisava desesperadamente de alguém para enevoar aquele-outro que não saia da mente. Ganhar na senna também adiantaria, penso enquanto entro na BMW que Lilly havia retirado há uma semana - casar com um cara medíocre e arrogante, como era seu marido, tinha lá suas compensações. Mas, nada que me deslumbrasse, porque sabia o quanto minha amiga sofria com esse relacionamento.

O que me faltava aprender, no entanto, era que as coisas raramente são tão perfeitas e certinhas como aquela historinha de brilhar os olhos para se assistir sentado no sofá. Com o tempo, eu perceberia que, quase sempre, nessas histórias de casais há um tipo de licença poética, um toque de romantismo, que com o passar dos anos acaba adquirindo um certo brilho.

quarta-feira, junho 17, 2009


CARMIN DRAGOA

A ROTA PARA O REENCONTRO DE SI – DE VOLTA PARA CASA

Todos que, de alguma maneira, anseiam em encontrar qualquer coisa, devem se ater a preparação para a viagem: tenham em mente que o trajeto rumo ao desconhecido será difícil, penoso, cansativo, haverá milhões de vozes querendo lhe desviar os passos para a direita, e outros lhe zurrando do outro lado, direção oposta. Talvez haja noites em que até a voz que seu coração emite se comunique em código estrangeiro, não permitindo que saia do caos e confusão. Assim, numa explicação moderna, superficial e eficiente, a moralidade da sociedade contrapondo-se a doutrina de sua religião, em oposição aos desejos de seu coração, e despertando certa razão e culpa por "desistir" de tudo aquilo que já conquistou. Para que empreender outro caminho, se por toda a vida andou numa rota só? Não é verdade que tudo leva a Roma? O importante aqui é a diferença: qual é o fim e os meios que utiliza; e se o outro caminho detiver Amor, não haverá bandeira inimiga que o afaste da sina...
Do que precisará, viajante, primeiramente, é conscientizar-se de que, ao empreender qualquer mudança, não deves levar adiante fardo a mais do que o necessário – a culpa não terá nenhuma utilidade, porque você sempre agiu com humildade e generosidade. A postos, frente ao mar, lembre-se de que o instrumento primordial é, antes da rota, a bússola. Não há como ir adiante, sem saber para que lado seguir... e a cada dia mais tenho seguido o conselho de Upanixade: Deixar a mente repousar no coração. Encontro em você a motivação para lutar com mais intensidade, mais paixão.

Uma bússola, em italiano, é uma pequena caixa, composta por uma agulha magnética na horizontal, suspensa pelo centro de gravidade, que sempre apontará para o eixo norte-sul, e permitirá uma viagem segura e principalmente, mostrará a direção correta. Por mais profundo que eu anseie em conhecer os mares nunca antes navegados, "loucos são aqueles que permanecem morando eternamente neste lugar sombrio"... não padecendo totalmente dessa malfadada doença, um pezinho ali, já sabendo como entrar e sair me satisfaz. O que deve ser pontuado e sublinhado aqui é que a bússola não precisa ser nada mais ou menos do que composta por uma agulha, para indicar a direção do norte magnético, e um imã, que deverá ter uma função primordial: magnetizar a agulha, e esta sem o imã, não seria nada, pois magnetizada, roda à "procura" do Norte sempre que movimentada. Sem seu imã, ou uma pedra de magnetita – coisa secular, a agulha, em dado momento, perderia seu magnetismo, e no meio do caminho ficaria. Portanto, conclusão: somente há a possibilidade de Fim, se houver o Meio de junção dos dois, unidos, para acharem a direção correta... O essencial, portanto, diante do paroxismo da Espera e Encontro, é a junção de dois, promovendo o bem comum a todos. Se é coisa impossível, que recorra-se a santos ou novenas. Num dado momento, a oportunidade surge, e o Agir, aí sim, é humano, e deve estar pronto. O equilíbrio numa mochila, no coração a abertura da completa redenção.

Para que "essa caixinha perfeita", chamada bússola, se desoriente, permita-se que tudo seja escrito simbolicamente: TADA. D. Júlia, na novela do Silvio de Abreu, diz que Athena (que lapso, que pena), foi nome escolhido para simbolizar prosperidade e justiça. Que não se permita, em nossa rota, semelhante desatino, Athena é deusa que emerge da cabeça de seu pai, gerada sem mãe, justa além da conta, racional sem qualquer emotividade, não perdoa desenganos, lágrimas ou erros humanos. Nike é a deusa da Justiça, marca do tênis que gostaria de usar, pra caminhar em nosso plano, suave e compassiva. Macia e durável, como o produto que hoje personifica. TADA é o fim de nossa empreiTADA, que utilizar-se-á de todos os meios corretos e virtuosos, e metaforicamente, por dentro de você, transmute-a em "Te amo demais de Amor". Porque amar algo é fácil – amo sorvete, nem sei se viveria sem por muito tempo. Livros, amo-os tanto que os persigo. Amar algo é fácil. Amar de amor é mais; um "jet'aime" duplicado, implica em saber preparar as asas do parceiro, amortecer sua queda, ensinar-lhe o caminho do Norte, magnetizá-lo de força e carinho, e sem que seja necessário nenhuma retribuição, deixando que esse companheiro livre, leve e solto tenha sempre a possibilidade de voar pra casa, de voltar pro Leste, de ousar nunca mais sair da gaiola. Porque amar de amor implica também em renúncia. Antes de tudo, induz a um comprometimento: fazer de tudo para que o outro seja feliz. Apenas isso – feliz porque magnetizado de amor.

Não funciono sem meu imã – agora me sento, exatamente nessa hora, pra poder discorrer vinte e cinco laudas. Após ter virado e desvirado minha cabeça em mil pedaços, me fragmentado em razões, e tentado me fazer de cruzada. O que eu sinto, chegando aqui, é que o imã deve estar perto da agulha. Para lhe apontar o Norte. Para dizer que tropeços existem, pela possível desvinculação, e o que mais importa é o que sentimos. Do fundo. Aquilo que emerge do nosso Coração. De uma agulha desorientada, desmagnetizada, em pleno oceano sem fim...

TADA.

terça-feira, junho 09, 2009


Não sei pedir...

.
O silêncio é um elemento essencial para o bolo não solar. Mentira. O silêncio às vezes faz mal – e você sabe disso. Fico desconectado, desorientado, me sinto perdido, e fazendo tudo pra tirar isso de mim. Como se visse você encostada no muro, esperando sua vez. E você ao vem. Pra nunca chegar... Nem sei o que falar, nem ouso dizer nada, nem me aproximar. Acho que ajo meio caranguejo ou tartaruga: escondo-me embaixo de uma enorme couraça, pra me proteger daquilo que é tão forte e controla tanto meu coração e minha alma. Já sentiu isso? Uma onda enorme, e você saber que deve mergulhar nela, porque em pé ela irá te levar até a areia, e fazer você engolir água... Me dá tanto medo, e se não houver volta? E se? Eu mergulhava, porque detestava ser arrastado à força, para o destino que ela queria que eu fosse. Ia, assim, ao sabor dela, me colocando em seus braços... Só não sei fazer isso com você.

Peixinho.


Açafrão. Puro, o original, nem mais, nem menos. Sobremesa com baunilha. Pano de pratos brancos, toalha de mesa bordada, crianças em volta da mesa. Tarde friazinha, prelúdio do inverno. Existe um ponto na vida em que tudo que fazemos reflete diretamente nas pessoas que, por algum motivo divino, estão ligadas à gente. Mesmo quando não fazemos nada. Assim, não há escapatória: mesmo sem agir, estaremos interagindo. Não adianta fugir, mudar de direção, gerar gráficos, planilhas, já está tudo traçado. Gosto de colocar situações em 180 graus e ver pra que lado as pessoas olham. As otimistas e pessimistas se polarizam imediatamente. Eu digo, pedra, uns já gritam: é ouro, é ouro. Outros já sugerem: é pirita, joga fora, tempo perdido! Muitas vezes, o que falo é somente uma pedra, que com paciência são coletadas uma a uma, as achadas e as jogadas, que formarão os alicerces e paredes de algo que poderá ser um lar, enquanto casa são apenas as pedras em forma de abrigo. A balança diz o peso, mas não diz se é pedra ou ouro. Não, não, você está entendendo errado. Se quer saber quanto a mim, melhor eu explicar. Não interessam os graus ou a direção. Mas o olhar. Se você disser pedra para mim, confesso: será uma afirmativa linear. Eu olharei para alguma pedra. Será pedra. Não me interessará saber se é pirita, ouro ou outro material - o que eu vou quererer saber é: 1. Por que a pedra te interessou? 2. O que ela te fez lembrar? 3. O que ela te impulsiona? 4. Qual é a importância dessa pedra? Vou ouvir a história, e com certeza, pegarei a pedra e guardá-la-ei no meu baú-das-coisas-mais-importantes-do-mundo, e quando eu a segurar na mão, ouvirei você falando desse fato, dessa coisa, desse momento. Pedra, então, simplesmente será você. O fogo é muito tímido e quando você tenta segurá-lo ele foge. Mas também é nervoso como o corvo. Se você segura um corvo pelo pé, ele lhe dá uma bicada. O fogo também faz isso. Então, você não pode ficar muito tempo com a sua mão tentando segurá-lo. Você tem que pegar e tirar a mão depressa. E assim foi que aprendi a pegar no fogo,sem me queimar

thecia.


Tem pessoas que supervalorizam a família. O sangue. Genealogia. Eu costumo equilibrar. Tem pessoas que a vida me concedeu, e eu escolhi, que são mais importantes que aquelas, as quais não pude opinar. Às vezes, família é serpente. E como nos enganamos, estereotipando tudo – imaginamos que aquela indefesa mulher, já idosa, apenas por estar sempre alheia a tudo, passiva e totalmente submissa, jamais nos atraiçoaria. Mas, são esses pequenos detalhes que nos mostram a força de uma tempestade. Tudo o que está represado há muito tempo, em algum momento, vai explodir. Eu só não faço questão de estar por perto. Não, não é insensibilidade – apenas discernimento. Eu tinha um tio que todo ano levava para mim e para minha irmã, ovos na Páscoa. Às vezes, eram os únicos, uma época difícil, éramos pobres. Ele aparecia logo cedo, alegre, cheiroso, sorridente, parecia fazer aquilo de coração. Recentemente, soube que ele tinha uma amante naquela época, convenientemente instalada perto de nossa casa. Éramos apenas um álibi. Muda alguma coisa o gesto que ele fazia para mim? Devo considerar as doces lembranças ou a realidade, ao tratá-lo hoje? Para mim, isso só me alerta quanto ao futuro – o passado já se foi, e como costurado, ficará."

Sefardi.

"O Homem é Mau.
Mas a Mulher é perversa.
Mulher sabe ser ruim como o demônio.
Uma mulher engana o diabo.
Duas, enganam o inferno inteiro".

Nise da Silveira, psiquiatra

Lendas e Prosas.

Video de Casamento em Israel

O casamento judaico é baseado no ciclo da lua nova: costumam se realizar apenas na primeira quinzena do mês, pois a lua na fase crescente aumenta o prenúncio de fertilidade e simboliza a esperança de que o amor entre os noivos aumentará ao longo de suas vidas. Tudo bem, se você não é lá muito crente, pode ser que isto signifique aumento da discórdia entre vocês, e o jeito então é o casamento na lua nova. Começo do zero. Ah, e a aliança... É linda!

LeChaim.


Guardem bem o que vou falar: não existe distância grande o suficiente, quando se ama alguém. Se você está pretendendo uma mudança para a China, a fim de esquecer alguém, desista. Mais tarde (ou pior, mais cedo do que imagina!) vai descobrir que o abençoado embarcou contigo. E nem ao menos lhe ajudou a pagar a passagem aérea!

Bastará encontrar alguém na rua, parecido, para você começar a acreditar que tudo poderia ter sido diferente. Se não fosse aquele deslize seu... Se não fosse aquele seu ato ‘antes da hora’, ou suas palavras fora de contesto... Fechando os olhos, ele não desaparecerá, e pasme: ainda no silêncio, ouvirá sua voz. Caminhará pelas ruas numa contradição inquieta, esperando encontrá-lo na próxima esquina, e querendo trucidá-lo por ele não estar ali, atrás de você. Daí pra frente, vem o clichê: começará a acreditar em destino, e pacientemente, ajudará a vida a colocá-lo a sua frente (mesmo que não saiba o que falar quando o ver). Ainda que esteja só, ele existirá em você. Em algum lugar.

Sim, mas eu estou melhor, acreditem. Agora só penso um pouco nele. Um pouco pela manhã. Um pouco ao meio dia, quando sento a mesa e coloco o seu prato solitário à minha frente. Um pouco à tarde, no horário do nosso café. A noite é inevitável, o seu travesseiro me desafia a adentrar madrugada adentro, sem chorar todos os dias. Às vezes, acho que gastarei esta minha vida inteira tentando esquecê-lo...

Tudo bem, sei que devo viver, seguir em frente. É o que eu faço todos os dias. Mesmo que eu saiba que faço isso pela esperança de reencontrá-lo, coisa que não confessarei jamais! E, pelo final, lá vou eu. Desistir nunca foi opção!
LeChaim!

segunda-feira, junho 08, 2009


Laços e fitas.

Há momentos que têm sabor de eternidade. . Tantos, que deixei de contar os meses sem perder um só dia. Aparece em instantes, no modo como me ensinou a focalizar as coisas, em uma paisagem, em um ancião que atravessa a rua com sua história nas costas. Surge num filete de chuva, num reflexo de luz, na volta de uma palavra durante uma conversação... esse amor é imortal. Há dores de amor que o tempo nunca apaga e que deixam nos sorrisos cicatrizes imperfeitas.

Endireitando o guarda-chuva, ela parou para que ele pudesse alcançá-la. Estava virando rotina: sempre a espera dele, ou esperando que ele pudesse acompanhá-la. “Com certeza, alguém lá em cima quer que eu pare de trotar, sem laço ou documento”, pensou, sorrindo distraída. Ao vê-lo mais perto, disse em meio a risadas:

— “Como se consegue esperar por alguém tanto tempo?”

— “Ora, não é você que realmente acredita que se possa amar a uma mesma pessoa durante toda a vida?” — devolveu ele, enquanto tentava recuperar rapidamente o fôlego, sorrateiramente, como se o tema da pergunta fosse o mesmo daquela conversa.

—Amana, Amn, Ameen. Acredito que aquilo que o coração ama, fica eterno. E tem outra maneira de ser? Depois, eu nunca tive medo do quotidiano, o costume não é uma fatalidade. Pode-se reinventar todos os dias o luxo e a banalidade, o incomum e o comum. Creio na paixão que vai se desenrolando em memória do sentimento. Lamento, tudo isto é culpa de minha bisavó, que me encheu de ideais amorosos. Isto coloca a lista muito alta. Quero sempre mais, quero sempre tudo. Quero aquele certo, destinado, pré-concebido, não aceito meia-entrada, nem meia-convicção.

—Em nossa terra temos uma canção que diz que enquanto pensamos numa pessoa, esta pessoa não morre nunca. Assim, toda vez que pensamos em alguém, pensamos nos momentos, no sentimento, não na dor.

— Surpreendente você hoje, einh? Nem sabia que dentro dessa sua cabeçona, tinha espaço pra guardar alguma coisa que rimasse com amor. Depois, não há mais sua terra. Quando a gente voa longe, não volta nunca mais. Pra que ficar olhando pra trás? - E devagar, beijou sua fronte e rapidamente, voltou para onde estava, protegendo-se do gesto impetuoso com o guarda-chuva.

— Lembra daquele teu sonho maluco? Você sonhou de tal forma com ele, que me convenceu a entrar no seu sonho. Um dia você me disse: Enquanto alguém faz cálculos e analisa os prós e os contras, a vida passa, sem que se passe nada. Cada vez que penso em você, fico pensando que algo está errado. Talvez seja melhor lutar para tornar realidade um sonho, do que um projeto.

- As duas coisas nos levam metade de nós, do mesmo jeito. Fico pensando nos sábios conselhos que já recebi. A receita da minha bisavó para amores que coalharam, feito leite azedo. “Se não tiver vocação para fazer de sua vida, doce de leite, troque de leite. É a melhor maneira de começar de novo a mesma receita”. Quem sabe eu não seja intolerante a lactose, ou celíaca? Tanto leite, e justo eu, com uma tampa tão complicada!

- Ah, páre de virar, revirar e circular, pra me embolar e não responder o que pedi. Como se deixa algo livre, sem dar voltas, e nem se enroscar?

- Sabe, Nenê, às vezes você consegue ser a pessoa mais invasiva do mundo. E o pior é que, quanto mais cresce, mais chato fica! Talvez a gente só possua realmente aquilo que é capaz de amar. Entende isso? Um dia, você vai compreender. A vida é uma benção, e seja quais forem as circunstâncias, todo amor é uma celebração.