terça-feira, maio 22, 2007


Paráfrase:.

Parece que há em nós cantos sombrios, que toleram apenas uma luz bruxuleante. Aqui nessas paragens, o que Sartre colocou merece ser lembrado: Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.

sábado, maio 19, 2007


Primeiro Princípio:.

TEMPERANÇA.

Não coma até o embotamento; não beba até a exaltação.
Tudo tem seu limite, seu tempo certo, seu ritmo. As coisas nao acontecem por acaso, tudo isso está ocorrendo em minha vida porque agora é o tempo certo. Tempo para colocar um mapa na mesa e planejar, compartilhar os planos com as pessoas que eu quero levar nesta jornada, descansar e nutrir-me, desacelerar algumas coisas, encontrar o meu ritmo de ser, pra caminhar em equilíbrio de ser. Aprendar a adequar minhas capacidades, e equilibrá-las para funcionar no meu ritmo. Priorizar outros setores da minha vida que não estiveram sob holofotes, e assim ficaram a deriva.

Não se trata de não desfrutar, nem de desfrutar o menos possível. Isso não seria virtude mas tristeza, não temperança mas ascetismo, não moderação mas impotência. Contra isso nunca será demais citar o belo escólio de Spinoza, o mais epicuriano que ele escreveu talvez, em que está tão bem dito o essencial: “Certamente apenas uma feroz e triste superstição proíbe ter prazeres. Com efeito, o que é mais conveniente para aplacar a fome e a sede do que banir a melancolia? Esta a minha regra, esta a minha convicção. Nenhuma divindade, ninguém, a não ser um invejoso, pode ter prazer com a minha impotência e a minha dor, ninguém toma por virtude nossas lágrimas, nossos soluços, nosso temor e outros sinais de impotência interior. Ao contrário, quanto maior a alegria que nos afeta, quanto maior a perfeição à qual chegamos, mais é necessário participarmos da natureza divina. Portanto, é próprio de um homem sábio usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter prazer).”

A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade. Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não. É possível? Nem sempre, sei do que estou falando, nem para qualquer um. É nisso que a temperança é uma virtude, isto é, uma excelência: ela é aquela cumeada, dizia Aristóteles, entre os dois abismos opostos da intemperança e da insensibilidade, entre a tristeza do desregrado e a do incapaz de gozar, entre o fastio do glutão e o do anoréxico. O intemperante é um escravo, mais subjugado ainda por transportar em toda parte seu amo consigo. Prisioneiro de seu corpo, prisioneiro de seus desejos ou de seus hábitos, prisioneiro de sua força ou de sua fraqueza. Tinha razão Epicuro, que, em vez de temperança ou moderação (sophrosiné), como Aristóteles ou Platão, preferia falar de independência (autarkéia). Mas uma não dispensa a outra: “Vemos a independência como um grande bem, não, em absoluto, para que vivamos de pouco, mas a fim de que, se não temos muito, nos contentemos com pouco, persuadidos de que os que menos necessitam da abundância a desfrutam com maior prazer, e de que tudo o que é natural é fácil de conseguir, mas o que é vão é difícil de obter.” Numa sociedade não muito miserável, a água e o pão não faltam quase nunca. Na sociedade mais rica, o ouro ou o luxo sempre faltam. Como seríamos felizes uma vez que somos insatisfeitos? E como seríamos satisfeitos uma vez que nossos desejos não têm limites? Epicuro, ao invés, fazia um banquete com um pouco de queijo ou de peixe seco. Que felicidade comer quando se tem fome! Que felicidade não ter mais fome quando se comeu! E que liberdade só estar submetido à natureza! A temperança é um meio para a independência, assim como esta é um meio para a felicidade. Ser temperante é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento.

Somos pessoas estranhas. Passamos a vida a fazer coisas que detestamos com o objetivo de ganharmos dinheiro para comprarmos coisas de que não necessitamos e, assim, impressionarmos pessoas que não nos agradam.
Autor desconhecido

Todo o nosso descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa falta de gratidão por aquilo que temos.
Daniel Defoe

Mesmo que tenhas dez mil plantações, só podes comer uma tigela de arroz por dia; ainda que a tua casa tenha mil quartos, nem de dois metros quadrados precisas para passar a noite.
Provérbio Chinês

Baseado no "Tratado das grandes Virtudes"

Dividir para Vencer:.

Benjamin Franklin era um tipógrafo na Filadélfia, homem fracassado e cheio de dívidas, achava que tinha aptidões comuns, mas acreditava que seria capaz de adquirir os princípios básicos de viver com êxito, se pudesse apenas encontrar o método certo. Método este encontrado e relatado em seu livro a “Autobiografia de Benjamin Franklin” (1771-1788).

Em sua juventude era um homem de muita inteligência e perspicácia, apesar de ter estudado apenas até o segundo ano primário. Era hávido por conhecimento e lia muito, estudava e escrevia ensaios e poesias. Estudava sobre tudo que lhe interessava, principalmente sobre os grandes vultos da história de todos os tempos. Por isso mesmo tinha uma grande cultura e um conceito moral muito rígido, e cobrava-se muito, bem como, cobrava aos outros a mais correta e ilibada conduta. Em suas reuniões sociais, tecia críticas francas e ácidas sobre todos os deslizes de seus colegas, sentindo um prazer mórbido em derrotar verbalmente aos seus oponentes, fato que ao longo do tempo foi deixando-o só e isolado nas reuniões a que eram “obrigados” a convidá-lo pelo seu cargo político. Sentindo o peso deste isolamento, em conversa com um amigo muito chegado, comentou esta aversão das pessoas de seu convívio. Tendo sido localizada a causa deste sentimento de aversão, com uma tenacidade que só as almas valorosas possuem, empreendeu luta acirrada ao combate às suas imperfeições. Mas por mais que se esforçasse, controlava uma imperfeição, mas caía invariavelmente em outra, quando esta outra recebia a sua atenção novo deslize fazia-o tropeçar, e a situação não avançava. Era como se estivesse tentando reter água com as mãos que, não obstante, escorria por entre seus dedos.

Lembrando-se das habilidades bélicas de Napoleão Bonaparte, que adotava a estratégia de “dividir para vencer”, de espírito inventivo, Franklin imaginou um método tão simples, porém tão prático, que qualquer pessoa poderia empregá-lo. Franklin escolheu treze princípios que julgava ser necessário ou desejável aprender e procurar praticar. Escreveu-os em pequenos pedaços de cartolina, com breve resumo do assunto, e dedicou uma semana da mais rigorosa atenção a cada um desses princípios separadamente. Desse modo, pode percorrer a lista toda em treze semanas, e repetir o processo quatro vezes por ano. Este procedimento deu tão certo que Franklin utilizou-o ao longo de toda a sua vida, embora mudando os princípios uma vez já tendo controlado aquela deficiência combatida.

Daquilo que jamais morre:.

O que é que não pode morrer nunca?
É aquela força de fé que já nasce dentro de nós, que é maior do que nós, que chama as novas sementes para os lugares áridos, maltratados, abertos, para que possamos nos re-semear. É essa a sua força, na sua insistência, na sua lealdade a nós. No seu amor por nós, nos seus meios, na maioria das vezes misteriosos, que é maior, muito mais majestosa e muito mais antiga do que qualquer outra jamais conhecida.

Através da vida que levei, aprendi o dom, a lição mais árdua de se aceitar, e a mais poderosa que conheço, ou seja, o conhecimento, uma certeza absoluta de que a vida se repete, se renova, não importa quantas vezes seja apunhalada, descarnada, atirada ao chão, feida, ridicularizada, ignorada, desprezada, desdenhada, torturada ou tornada indefesa. Aprendi tanto a encarar certos demônios, como renascer das cinzes.

Aquilo a que dedicamos nossos dias pode ser o mínimo do que fazemos, se não compreendermos também que algo espera que a gente abra espaço para ele, algo que paira perto de nós, algo que ama, e que espera que o terreno certo seja preparado para que ele possa se revelar.

Enquanto estivermos aos cuidados desta força de fé, aquilo que pareceu morto não estará morto, aquilo que pareceu perdido também não estará mais perdido, aquilo que alguns alegaram ser impossível tornará ser nitidamente possível, e a terra que está sem cultivo estará apenas descansando - à espera de que a semente venturosa chegue com o vento, com todas as benções de Deus. E ela chegará.
Recuse-se a cair
Se não puder se recusar a cair,
Recuse-se a permanecer no chão.
Se não puder se recusar a ficar no chão,
eleve o coração aos céus e,
como um mendigo faminto,
peça que o encham,
e ele será cheio.
Podem empurrá-lo para baixo
Podem impedi-lo de se levantar.
Mas ninguém pode impedi-lo de elevar
seu coração aos céus - SÓ VOCÊ.
É no meio da aflição que
tantas coisas ficam claras.
Quem diz que nada de bom resultou disso
ainda não está escutando.

O vento dos Tempos Antigos Chamado de Ruach,o hebreu da Sabedoria, Une os humanos a Deus. Ele é o alento de Deus que se estende até a Terra para despertar e voltar a despertar Almas e corações.

Clarissa Pinkolas Estés, O jardineiro que tinha fé.

domingo, maio 13, 2007


Sou uma mãe que desafina:.

A extensão dos sentimentos eu sempre limitei. Ficava numa distância razoável, como se estivesse em via pública, tomando precauções para evitar colisões e acidentes. Quando me comprometia, começava instantaneamente a alinhavar as justificativas para não permanecer entre aquela cerca agora posicionada. Sede de conhecimento, prazer por transgredir regras e poder encontrar critérios racionais e lógicos para tais atos.

Eu me importo mais com a caixa e os gestos que antecederam o ato do presente que recebo. Minha alegria irrompe quando alguém cuida do meu jardim, não quando ramalhetes de flores batem à minha porta. Sou uma mulher contraditória, e não é fácil ser sempre eu, sem ocultar pedaços de mim. Porque a integridade assusta aqueles que não suportam transparência.

Quis ser cantora, desafinava, fui reprovada no coral infantil. Fracassada nessa tentativa, nunca mais ousei piar mais alto, a ponto de poder ser ouvida por outros. Quando meu filho nasceu, acreditei que poderia ser a mãe perfeita - e executar com maestria aquela composição. Com o passar dos dias, fui vendo que o papel de mãe estava sendo escrito por outras tantas pessoas - o que a sociedade dizia para fazer, para parecer ser, o que minha mãe faria e o que meu marido queria ver no filho quando crescesse começaram a criar confirmações e expectativas. Eu passiva, não cantava, não tocava, aquela música não era para mim.

"Na vida tudo tem seu preço, seu valor", e como o poeta coloca, o fim do amor é a desistência. Qualquer um pode arrombar uma porta, aprender a entrar em silêncio, girando a maçaneta pede respeito e carinho. Ser mãe é apenas deixar o sentimento extravasar, sem tentar entende-lo, restringi-lo ou limitá-lo a algum padrão. Cada mãe faz o impossível para ser a melhor nisso, quando basta amar sem imposições. Carinho, colo, silêncio, respeito. Mãe vive trocando de lugar antes de dar o veredicto: antes de qualquer coisa, tenta se por no lugar de seu filho. Mais do que tudo, quando ajuda sabe até onde pode ir, porque aprendeu que as lições da vida são indispensáveis a todos.

A última lição da mãe é saber que seu filho, que cria com tal zelo e amor, não é um pertence, não dá direito a posse, e muitas vezes terá que vê-lo voar, se dar a pessoas que não o respeitarão, sem cortar ou criticar, apenas se tornar disponível plenamente para quando ele precisar aportar em abraços e beijos. Porque o afago de mãe cicatriza qualquer ferida. Não precisa cantar alto, para todos admirarem sua qualidade e perfeição; basta que sussurre diariamente em gestos e ternura a música que seu coração dançou a partir do momento que seu filho se tornou real. Ser mãe é desaprender o ritmo da música imposta e seguir o compasso do seu coração.

Casa-de-chá em alto mar:.

Fico abismada ante as metáforas que trocamos para nos reconhecer. "Autoconhecimento" tem sido uma meta diária mútua, mas nossa rota nessa direção usa mares nunca dantes navegados, mesmo obscuros e além de minha inquieta imaginação. Você percorre ruas com cheiro de maresia, e afaga seu olhar em doces andorinhas, já eu sinto meu rosto rachar pelo vento açoitante, ou meu corpo cozinhar quando o sol se mostra forte e impávido. É, o lugar onde estou é transitório, apesar de fazer parte de mim. Porque lar é o lugar onde não sentimos medo, quero muito chegar lá, pra poder desfrutar desta segurança e estabilidade. E já que teremos que nos lançar ao mar, e navegar, acho bom o começo pela base que nos levará. Gostei desse, Peixinho, um barco 410.


"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", vou marcar no lado sudoeste, em azul-anil.A concordância sobre o meio pelo qual nos lançaremos ao mar é indicativo de que temos os mesmos valores e metas? Responde daí, que por enquanto ainda estou na fase "decorativa" - oceano glacial antártico, no Sul. Oceano Glacial Artico, Norte. Ah, no final o que importa é que todos são glaciais, baby.

Olhando os mapas, grata surpresa - não é que derrota nessa área tem sabor de vitória? Percurso realizado, enquanto rota é o percurso planejado. Se é necessário utilizar a bússola, é porque não temos o destino no visual? Como eu irei andar de olhos vendados, se não for pra me guiar por seu aroma? Também a dualidade de rumo não pode mais ser justificativaa, se o rumo lido na carta é o Rumo Verdadeiro, orientado pelo Norte Verdadeiro, ou seja, pelo Pólo Norte, teríamos então um Rumo falso, orientado por um Sol ilusório, dominado pelo coiote-que-prega-muitas-peças? Nesse ínterim, já me perdi, "pois a meticulosa prudência deixa de ser virtude no momento em que passa a ser estorvo - lastro demais e pouca vela", como bem colocou Sérgio Buarque de Holanda.

Os antigos navegadores costumavam usar papel de seda sobre o mapa original para protegê-lo, para poder rabiscar rotas, e às vezes comparar as rotas em mapas de outros navegadores, mas o original, sempre guardado. Tudo bem que o seu fique no cofre ou embaixo de sua cama, porém eu tenho o direito de olhar, lembro que o segundo passo essencial é a Confiança, vai pular para o Oceano-sem-fim no meio da rota? Como vai ser capaz de me orientar, se eu não puder fechar meus olhos e me permitir seguir pedaços com os seus?

Também não me importo com eventuais e ilusórias discrepâncias, nem em saber qual é o mapa que está correto, pois o que eu almejo é uma conjunção - cada um tem um dom para um ponto de controle, que vai atingir um detalhe relevante. Veja, estou sendo uma marinheira aplicada, o que não faço pra permanecer mais tempo no mesmo rumo que o seu? Lógico que por muito tempo vou carregar a cola anexa.


Mar Mediterrâneo = Norte da África e Sul da Europa / Mar Vermelho = faixa que desce lateralmente ao nordeste da África / Tasmânia = Sul da Austrália (no pequeno triangulo ao Sul) / Nova Zelândia = Sul da Austrália (faixa em verde no mapa) /Oceano Pacífico = (à esquerda das Américas do Norte, Sul e Central)/ Estados Unidos = América do Norte (azul claro) / Rússia = Ásia (maior país, bege) / Japão = Oceania (direita, azul-escuro) / Canadá = América do Norte (ao norte, cor café) / França = Europa (à esquerda da bota Itália em amarelo) / México = América do Norte (sul, em roxo) / Itália = Europa (a bota, bege) / Suécia = Norte da Europa (vinho) / Inglaterra = Noroeste da Europa (roxo) / África do Sul = África (ao sul, azul claro) / Alemanha = Europa Central (ao centro, verde) / Egito = Nordeste da África (verde claro) / Vietnã = Sul da Ásia (em amarelo) / América Central (entre América do Norte e Sul (circulo de países pequenos) / Golfo Pérsico = Sul da Ásia à esq. (entrada entre os países rosa e azul.)

sábado, maio 12, 2007


Ethian ao Leme:.

Borboletas tem aparecido em muitos lugares no meu presente - na forma de quadros, estátuas, bibelôs, ou simplesmente voando, alegres, ao meu redor. Dizem que quando certo "símbolo" começa a se tornar uma constante em nossa vida, é um sinal dos céus. Lembro que a palavra “símbolo” vem do grego sym e bolon, que significa trazer para junto, unir aquilo que aparentemente estava separado, e que talvez essa borboleta possa me dizer muito mais coisas, além do sorriso que já me traz.

Depois de passar por tão dificeis processos para se tornar borboleta - após deixar seu tempo de lagarta, depois de todo seu tempo de crisálida, e da metamorfose -, a borboleta ganha o direito a uma vida breve, e precisa defender seu tempo, sem sacrificar o seu ser sendo aquilo que não é. No Bhagavad-Gita temos que a borboleta se lança contra a chama de um candeeiro: “Como as borboletas se precipitam para a morte na flama brilhante, assim os homens correm para sua perdição”. Também pode-se ligar o vôo da borboleta em direção ao fogo ao vôo mitológico de Ícaro em direção ao sol. Porém, em quase todas as culturas, ocidentais e orientais, a chama é símbolo de purificação, de iluminação e de amor espiritual. Representa esta luz uma imagem do espírito e da transcendência, que nos leva a acertar o passo para alcançar o final que tanto desejamos.

A borboleta é antes de tudo símbolo de ressurreição e de potencial abstruso. No dicionário de símbolos de Chevalier temos que “A crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser, a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. E ainda, se preferir, a saída do túmulo”. É um símbolo da alma, pois da mesma forma que abandona a crisálida para voar, o espírito se liberta do corpo físico para ganhar espaço infinito. Representa também o renascimento e a imortalidade. No Japão, está associada à mulher, a metamorfose de seu ovo para lagarta e depois para crisálida e borboleta, indica as etapas da alma para a iluminação. Duas borboletas juntas indicam felicidade matrimonial. Uma mudança que exige aceitação plena para vivenciar aquilo que desejamos. O poder da borboleta é como o ar, é a habilidade de conhecer a mente e de mudá-la, é a arte da transformação.

Devemos observar a nossa posição na vida e, como a borboleta, percebermos que sempre estamos em algum estágio de atividade: podemos estar no primeiro estágio, onde a idéia nasce, mas ainda não é uma realidade, - o estágio do ovo, o ponto de criação de uma idéia. O segundo estágio é o da larva, a hora que temos de tomar uma decisão. Mais um pouco e podemos estar no terceiro estágio, o do casulo, onde desenvolvemos o projeto, fazemos para realizar aquilo que sonhamos. O Estágio final seria a transformação, a saída do casulo e o vôo, "a realização do sonho", viver esta realidade sabendo que podemos crriar, transformar, mudar, mas sem ter coragem para aceitar isso, fatalmente a "chama" que nos transformou irá nos queimar.

Se elas começarem a aparecer em número de sete, aí tem-se que ter maior cuidado. Porque o Sete é um número ousado, místico e encerra grande simbologia ancestral. Nas mais variadas culturas representa a idéia efetivação de um ciclo. O número sete corresponde não só aos sete dias da semana, mas também aos “sete planetas, aos sete graus da perfeição, às sete esferas ou graus celestes, às sete pétalas da rosa, às sete cabeças da naja de Angkor, aos sete galhos da árvore cósmica e sacrificial do xamanismo etc”. Além disso, o é também representação de solidez e totalidade. No cenário do islamismo, o sólido possui sete lados. O livro sagrado do islã, o Alcorão nos diz sobre o número sete: “ Tudo que existe no mundo é sete, pois cada coisa possui uma ipseidade e seis lados”. Assim como no Apocalipse, final do ciclo terrestre, o sete aparece como "chave para se ver claramente uma realidade", pois são sete as igrejas, sete estrelas, sete espíritos de Deus, sete selos, sete trombetas, sete trovões, sete cabeças, sete calamidades, sete taças, sete reis, etc... O sete encerra um ciclo, indicando a passagem do conhecido para o desconhecido, um se findou, que há agora por vir?. Segundo Santo Agostinho, este número mede o tempo da história, ou o tempo da peregrinação do ser humano na terra. Portanto, na interpretação universal o número sete simboliza uma mudança seguida por uma renovação positiva.

Sete, mais borboletas, tendo ao lado clepsidras e ampulhetas, podem estar indicando muito mais do que aquilo que reconheço no momento. Talvez eu esteja patinando "na teoria de Freud de que muitas vezes fumar charuto é só gostar de fumar charuto". Quem sabe eu esteja confiando demais no mapa que o OceanoMar trará? O fato é que, de alguma forma, acredito que tudo irá se encaixar, sem eu precisar ficar detida em elucubrações. Por ora, eu só preciso segurar firme o leme, enquanto...

segunda-feira, maio 07, 2007


Cada um é cada um:.

Cada pessoa é como é,
e você não pode mudar isso.

Não leve Os Outros tão a sério; e nem fique perdendo tempo em ficar bravo ou magoado com críticas e comentários, mesmo que ferinos, a respeito de seu comportamento ou sua vida, se sentires que você está no “caminho certo”. Aprenda a ouvir sem dar importância. As pessoas falam o que querem ou pensam, mas é você quem decide dar crédito ao que elas dizem. Nesses casos, é prudente interessar-se somente por "falas" que levantem seu moral e o coloquem para cima. As pessoas podem dar o melhor conselho, mas se este o deixar deprimido, recuse-o, jogue-o fora, esqueça-o. MAS SEM ANALISAR?

É, Senhor-dos-Mares-e-dono-de-muitas-rotas. Sem qualquer raciocínio cheio das variáveis e expressões matemáticas incontáveis que utilizas. Experimente sentir. Nossa cabeça está repleta de idéias ilusórias, regras convencionais, que têm nos aprisionado em obrigações que nos limitam e paralisam. Já nossa alma, não. Ela tem a sensibilidade espiritual natural que preserva nosso equilíbrio e bem-estar. Se você a seguir, encontrará o melhor caminho. É ela que sente e reage. Se prestar atenção, perceberá que há coisas que abrem seu coração e o deixam de bem com a vida, e há outras que provocam um aperto dentro do seu peito e te incomodam por muito tempo. É desta maneira que sua alma fala com você. Se deseja sentir-se bem, é só seguir esses sinais, valorizando e conservando tudo que o faz sentir-se melhor, e não dando muita importância ao que o deprime.

Pode parecer DIFÍCIL, mas nem é tão simples, muito menos um bicho de sete cabeças. O que dificulta é que nos habituamos a valorizar o racional em detrimento dos sentimentos. Aquela tal coisa chamada "Inteligência Emocional" realmente faz falta. A idéia de que somos maus, de que precisamos domar nossa fera interior e manter o controle para não fazermos muitas besteiras, generalizou-se. Você teme que, se seguir os impulsos do seu coração, se liberar seus sentimentos, acabará fazendo coisas ruins. O coração sente e persiste naquilo que "convencionamos chamar de Pecado?" Para mim, ele expressa aquilo que Deus quer nos falar.

Muitas vezes o que queremos com nossos atos é “conquistar a fama de herói”. Todos nós gostamos disso. Mas, para conquistar a admiração dos outros e sermos aceitos, entramos em regras, sepultamos nossos sentimentos, enterramos nossos talentos e nos tornamos meros atores representando papéis de conveniência na peça em que somos atores principais, nossa vida. Isso cria infelicidade, aquele vazio no peito, a depressão, o tédio.

Quando as coisas não estão bem, e se protela uma decisão, “mascarando a realidade”, um dia a casa cai. Com isso, vem o tempo de pausa e reflexão.Quando a vida coloca desafios em nosso caminho, é hora de mudar. O erro é uma das formas que a vida encontra para nos ensinar. Por isso, quando algo nos acontece de mau, ruim, o jeito é tentar descobrir o que a vida pretende nos ensinar com isso. Nada nos acontece por acaso - tudo é resultado das nossas atitudes. Mas quando descobrimos quais as atitudes que não são boas, e nos esforçamos para mudá-las, evitamos que o erro se repita, ou até que ele persista. A vida nos dá inúmeras segundas chances. Aprendemos a lição e pronto, tudo volta ao normal de forma melhor.

Para cada um, o mesmo acontecimento funcionará de maneira diferente. Precisamos entender que há que se plantar para colher. Confiar na vida, buscar o otimismo, esquecer o passado, e se não dá para mudá-lo, buscar motivação para recomeçar. Qualquer coisa, siga a luz que eu deixei na varanda.

quinta-feira, maio 03, 2007


Pode ser

A tulipa expressa amor perfeito. Tem um papel significativo na arte e na cultura do tempo. Os europeus deram equivocadamente a tulipa seu nome, que vem da palavra persa turban. Ainda discute-se a origem destas belas flores de ar elegante e sofisticado. Muito provavelmente as Flores Tulipas tiveram sua origem em Constantinopla, atual Istambul. Algumas correntes, afirmam ainda, que é originária da China. Porém foi na Holanda que a flor Tulipa se desenvolveu enormemente e virou paixão nacional.

Tulipas vermelhas são o mais fortemente associados com amor verdadeiro, enquanto a tulipa roxa (arghs!) simboliza o luxo ou a quietude e paz! O significado das tulipas amarelas evoluiu - em vez de representar o amor impossível, agora vem a ser uma expressão para pensamentos e a luz do sol, transmitindo prosperidade. Para mim continua sendo amor sem esperança! Já as tulipas brancas emitem uma mensagem de perdão. Para Clarice Lispector, as Tulipas não são flores para serem sozinhas, devem sempre ter uma companhia. Adoram ambientes frios, e não possuem aroma, sendo sua apreciação muito mais pelo que é, do que pelo que exala. Tulipas, orquídeas. Essas flores são minhas imagens-espelhos. Talvez o significado delas contenha uma grande parte de mim.

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Cuide bem de sua Tulipa

O cultivo de tulipas é tarefa delicada e trabalhosa. O mérito do cultivo no Brasil cabe ao produtor Klaas Schoenmaker de Holambra, no estado de São Paulo. É inclusive graças ao trabalho desta família e ao grande volume da produção da flor que o município se movimenta para ser reconhecido nacionalmente como a cidade das tulipas. Embora as tulipas não se adaptem bem ao clima brasileiro, é possível induzir a planta a dar, pelo menos, mais uma floração, simulando as condições climáticas do seu habitat natural para estimular os bulbos a rebrotarem. Para isso, ao adquirir um vaso de tulipas dê preferência aos que ainda estejam com as flores em botão, permitindo-lhe usufruir da beleza da flor por mais tempo. O vaso deverá ser conservado em um local fresco e com luminosidade, evitando-se os ventos e o sol forte. Alguns colocam algumas pedras de gelo sobre o substrato (mistura de terra) no vaso, pela manhã e ao entardecer, a fim de diminuir o excesso de calor. Tão logo as flores da planta murchem, corte-as, inclusive as folhas. Retire então os bulbos do substrato, limpe-os cuidadosamente com o auxílio de uma escova macia e mantenha-os em local fresco e arejado por cerca de 3 meses, sem deixar que se molhem.

Após esse período, plante os bulbos em um novo vaso, com terra vegetal umedecida, sem que esteja encharcada. Embrulhe o vaso assim preparado em um plástico e guarde-o no congelador da geladeira durante cerca de 6 meses, a uma temperatura ideal entre 2 e 5 graus C. Passado esse tempo, retire o vaso da geladeira e coloque-o em um local fresco e com boa luminosidade por mais 2 meses, mantendo a terra sempre úmida. Após esse procedimento, o vaso novamente embrulhado em plástico deve retornar ao congelador, onde deve permanecer por mais 6 meses. Concluída esta etapa, o vaso deverá ser colocado em um local iluminado: a tulipa deverá florescer num período entre trinta a cinqüenta dias.

Não é qualquer pessoa que "aguenta" cuidar de uma flor tão trabalhosa. Também não vou expressar-me aqui dizendo que "o final compensará". Tulipas são para uma espécie certa de pessoas; afinal, para que complicar a vida, se tudo em você pede sol, devotamento e grandiosidade?

Significados:.

Quanto as flores, deixa o Girassol em outros campos, para eu apreciar, não para tê-lo sob minha guarda. Infelizmente, não vejo essa flor com olhos de enlevo. Amarela, muito forte. Muito grande. E invariavelmente voltada para a mesma coisa, sempre. Ah, sei, argumentarias que isso é próprio do amor, lealdade, devoção, a cabeça seguindo o sol através do céu. Nada contra as mulheres-girassóis; apenas gosto de também ser o sol de alguém.

Também tem outra - ela tem um enorme potencial para morte. Devido a fragilidade do seutalo, suas chances aumentam bastante; um toque mais forte e... a cabeçona jaz para baixo, e até hoje por mais estacas e cuidados, jamais consegui devolver a cabeça ao nível certo. Além de nascer uma única vez durante o ano, deixando após sua morte uma desolada imagem - os talos enormes não são nada bonitos, ainda tem a particularidade de serem flores-do-verão, eu flor-do-inverno, bem sabes disso. Ah, mas em prol de seu objeto-deleite, diria que para afugentar os mosquitos dos melões, não tem flor-planta que dá mais sorte!

Fecho os olhos e consigo visualizar você teimando comigo, e perscrutando tudo o que escrevi, corrigindo frase por frase. Sei, O nome girassol vem de sua flor amarela que acompanha as diferentes posições do sol, girando com ele, até seu amadurecimento, quando ele se fixa na posição do sol nascente. Mas é que dizer que a cabeçona segue o Sol parece tão mais fácil... Bem, você teria razão em dizer que omiti detalhes pitorescos, pois temos realmente culturas que são apaixonadas por essa flor, já que para estas o seu cultivo traz fama, sucesso e felicidade. Outros ainda concedem-lhe atributos como nutrição, poder, calor e altivez, por sua devoção ao Sol. Dizem que dar um girassol a alguém que acabou de abrir seu próprio negócio pode significar ouro e fortuna.

Além disso, o Feng Shui diz que esta flor é a integridade e força que temos dentro de nós, e que podemos transmitir aos outros, significando longevidade e lealdade, energia positiva no ambiente. Cá pra mim não sei como simbolizar "longevidade", já que, se não morre de causas naturais em 3 estações do ano, o talo consideravelmente é um grande risco-morte.

Uma crendice húngara afirma que se algumas sementes de Girassol forem colocadas na janela, ainda no princípio da gravidez, nascerá um menino. Outra crendice, desta vez brasileira, diz que é possível curar a infertilidade, apenas colocando suas sementes ao sol. Já a superstição espanhola conta que é preciso onze dessas flores para ter sorte. A despeito de tudo isso, vamos as razões que cercam meu estremecimento antagônico por essa flor-girassol.


Parece tão bonita esta imagem... Porém a arte holandesa deste período é frequentemente sobre a brevidade da vida e esta imagem não é nenhuma exceção. Um caracol rasteja sobre a data - 1663 - no fundo da pintura. Os caracóis e os insetos, por causa de seus ciclos de vida curtos, ilustraram a brevidade do tema da vida e foram usados frequentemente na arte holandesa. No centro, a bolha representa algo que perfeitamente é dado forma e pode desaparecer em um instante. Finalmente o próprio girassol, sobre peitoril da janela, é usado porque é uma flor que mostra a beleza da luz por um espaço curto de tempo.

Na mitologia grega, Clytie era uma ninfa que caíra desesperadamente por amor ao deus do sol, Apollo. Assistia-o em sua jornada diariamente, de leste a oeste, mas seu amor nunca foi correspondido. Apollo transformou Clytie de uma ninfa da água em um girassol, porém sua devoção resistiu a essa transformação, procurando-o ainda, todos os dias, de leste à oeste, progressivamente, seguindo os movimentos de Apollo da mesma forma dos movimentos do girassol em relação ao sol. Amor não correspondido. Platônico, pior ainda!!!

Mesmo que tudo isso fossem apenas "resquícios de crenças absurdas", a imagem do girassol, para mim, está associado a sofrimento e dor. Girassol pra mim significa Amor em Suspenso, aqueles dramáticos loves em que o homem e a mulher sabem que estão apaixonados, são retribuídos, mas por obra e graça da Sociedade e suas famosas tolices regrais, ou fraqueza das partes, associadas a visão destas de barreiras enormes, preferem o cômodo sofrimento solitário junto ao obstáculo imenso que vêem. Lara, quando estava com Jivago, no hospital improvisado, durante a guerra, em Dr. Jivago, quando se despede após se apaixonarem, tem girassóis por todo lado. . Sem falar que tenho uma amiga cuja mãe é adoradora-compulsiva destes amáveis seres, e tudo que tem na cozinha e na sala, fora no seu quarto, tem amarelo e girassóis. Ah, no setor amoroso, triste sina esta mulher tem de amar e sofrer por homens que jamais cogitaram em gostar dela. Deus-me-livre disso, já tenho tanto trambolho pra retirar do caminho, um girassol iria estragar minha vida, como diz Beatriz a cada não contundente.

Anjo-da-guarda:.

Você daí, enxergando um monte de coisas, irradiando luz serena, e eu aqui, sem sua lamparina acesa, no meio dessa tormenta, às vezes imagino que vou ceder a força das águas, como Leandro sem a luz a guiá-lo de Hero, sucumbindo ao fundo do mar. E aí, o que será de ti, anjo desalmado e sem tempo, pois sua missão é cuidar e velar por mim.

quarta-feira, maio 02, 2007


Vezenquando se permita SER:.

Lembra o que eu te falei, e veja se consegues ir até o final, num repente, sem fôlego. Sem paradas. Sem ausências. É um conto integral do Caio Fernando Abreu. Caio F, acho que fica melhor. Digitei-o apenas e tão somente para que alguns possam admirar o talento e se regozijar com o que se forma dentro de nós, depois que tudo lido. Vezenquando, quebrar regras é a única opção. Depois, colore o final, e me mandas com todos esses aromas que te acordam diariamente. Pra que eu possa encontrar nessa tempestade, algum ponto onde a chuva caia mansa, macia e calma sobre mim.

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A QUEM INTERESSAR POSSA

Eu não tenho culpa não fui eu quem fez as coisas ficarem assim desse jeito que não entendo que não entenderia nunca você também não tem culpa vou chamá-lo de você porque ninguém nunca ficará sabendo nem era preciso a culpa é de todos e não é de ninguém não sei quem foi que fez o mundo assim horrível às vezes quando ainda valia a pena eu ficava horas pensando que podia voltar tudo a ser como antes muito antes dos edifícios dos bancos da fuligem dos automóveis das fábricas das letras de câmbio e então quem sabe podia tudo ser de outra forma depois de pensar nisso eu ficava alegre quem sabe quem sabe um dia aconteceria mas depois pensava também que não ia adiantar nada e tudo começaria a ficar igual de novo no momento que um homem qualquer resolvesse trocar duas pedras por um pedaço de madeira porque a madeira valia mais e de repente outra vez iam existir essas coisas duras que vejo da janela na televisão no cinema na rua em mim mesmo e que eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir sem saber onde parar onde pôr as mãos os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem ninguém ver é verdade tenho pena de mim e sou fraco nunca antes uma coisa nem ninguém me doeu tanto como eu mesmo me dôo agora mas ao menos nesse agora eu quero ser como eu sou e como nunca fui e nunca seria se continuasse me entende eu não conseguiria não você não me entendeu nem entende nem entenderia você nem sequer soube sabe saberá amanhã você vai ler esta carta e nem vai saber que você poderia ser você mesmo e ainda que soubesse você não poderia fazer nada nem ninguém eu já não acredito nessas coisas por isso eu não te disse compreende talvez se eu não tivesse visto de repente o que vi não sei no momento em que a gente vê uma coisa ela se torna irreversível inconfundível porque há um momento do irremediável como existem os momentos anteriores de passar adiante tentando arrancar o espinho da carne há o momento em que o irremediável se torna tangível eu sei disso não queria demonstrar que li algumas coisas e até aprendi a lidar um pouco com as palavras apesar de que a gente nunca aprende mas aprende dentro dos limites do possível acho não quero me valorizar não sou nada e agora sei disso eu só queria ter tido uma vida completa elas eram horríveis mas não quero falar nisso podia falar de quando te vi pela primeira vez sem jeito de repente te vi assim como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais porque de repente vi outra vez e outra e outra e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces não me importo de ser vulgar não me importa o lugar-comum dizer o que outros já disseram não tenho mais nada a resguardar um momento à beira de não ser eu não sou mais tudo se revelou tão inútil à medida em que o tempo passava tudo caía num espaço enorme amar esse espaço enorme entre mim e você mas não se culpe deixa eu falar como se você não soubesse não se culpe por favor não se culpe ainda que esse som na campainha fosse gerada pelos teus dedos eu não atenderia eu me recuso a ser salvo e é tão estranho o entorpecimento começa pelos pés aquela noite eu ainda esperava quase digo sem querer teu nome digo ou escrevo não tem importância vou escrevendo e falando ao mesmo tempo com o gravador ligado é estranho me desculpa saí correndo no parque e me joguei na água gelada de agosto invadi sem ter direito a névoa dos canteiros destaquei meu corpo contra a madrugada esmaguei flores não nascidas apertei meu peito na laje fria do cimento a névoa e eu o parque e eu a madrugada e eu costurado na noite cerzido no escuro porque me dissolvia à medida em que me integrava no ser do parque e me desintegrava de mim mesmo preenchendo espaços aqueles enormes espaços brancos terrivelmente brancos e você não teve olhos para ver que o parque era você a água você a névoa você a madrugada você as flores você os canteiros você o cimento você não teve mãos para mim só aquela ternura distraída a mesma dos edifícios e das ruas mas eles me desesperavam você me desesperava eu não quero falar nelas mas elas estão na minha cabeça como os meus cabelos e as vejo a todo instante cantando aquela canção de morte a minha carne dilacerada e eu ridículo queria ter uma vida completa você não se parecia com Denise tinha os olhos de mangaba madura os mesmos que tive um dia e perdi não sei onde não sei por que e de repente voltavam em você nos cabelos finos muito finos finos como cabelos finos 'minto que me bastaria tocá-los para que tudo fosse outra vez mas não toquei eu não tocaria nunca na carne viva e livre eles me rotularam me analisaram jogaram mil complexos em cima de mim problemas introjeções fugas neuroses recalques traumas e eu só queria uma coisa limpa verde como uma folha de malva aquela mesmo que existiu ao lado do telhado carcomido do poço e da paineira mas onde me buscava só havia sombra eu me julgava demoníaco mas não pense que estou disfarçando e pensando como-eu-sou-bonzinho-porque-ninguém-me-ama eu me achava envilecido me sentia sórdido humilhado uma faixa de treva crescia em mim feito um câncer a minha carne lacerada estou dentro dessa carne lacerada que anda e fala inútil a carne conjunta das xifópagas e o vento um vento que batia nos ciprestes e me levava embora por sobre os telhados as cisternas as varandas os sobrados os porões os jardins o campo o campo e o lago e a fazenda e o mar eu quero me chamar Mar você dizia e ria e ríamos porque era absurdo alguém querer se chamar Mar ah mar amar e você dizia coisas tolas como quando o vento bater no trigo te lembrarás da cor dos meus cabelos você não vai muito além desses príncipes pequenos suas palavras todas não tenho culpa não tenho culpa eram de quem pedia cativa-me eu já não conseguiria bem lento eu não conseguiria eu não sei mais inventar. a não ser coisas sangrentas como esta a minha maneira de ser um momento à beira de não mais ser não me permite um invento que seja apenas um entrecaminho para um outro e outro invento mesmo a destruição tem que ser final e inteira qualquer coisa tem que ser a última uma era inteira e a outra nascia da cintura e existia só da cintura para cima como um ipsilone mole esponjosa uma carne vil uma carne preparada por toda uma estrutura de guerras epidemias pestes ódios quedas eu me sentia culpado ao vê-las assim nosso podre sangue a humanidade inteira nelas que não riam e cantavam aquela sombria canção de morte brutalmente doce elas cantavam e minhas costas doíam como se eu sozinho as sustentasse e não uma à outra mas eu eu com este sangue apodrecido que assassina crianças de fome droga adolescentes bombardeia cidades e também você e todos nós grudados indissoluvelmente grudados nojentos mas me recuso a continuar ninguém sofrerá por mim sem mim chorar ninguém entende nem precisa nem você nem eu o anel que tu me deste sobre a folha que me contém sem compreender sem compreender que você carrega toda uma culpa milenar e imperdoável a História como concreto sobre os teusmeusnossos ombros Cristo sobre nossos ombros todas as cruzes do mundo e as fogueiras da inquisição e os judeus mortos e as torturas e as juntas militares e a prostituição e doenças e bares e drogas e rios podres e todos os loucos bêbados suicidas desesperados sobre os teus meus nossos ombros leves os teus porque não sabes sim sim eu tenho culpa não é de ninguém esse desgosto de lâmina nas entranhas não é de ninguém esse sangue espantado e esse cosmos incompreensível sobre nossas cabeças não posso ser salvo por ninguém vivo e os mortos não existem a fita está acabando começo a ficar tonto a dormência chegou quem sabe ao coração talvez eu pudesse eu soubesse eu devesse eu quisesse quem sabe mas não chore nem compreenda te digo enfim que o silêncio e o que sobra sempré como em García Lorca solo resta el silêncio un ondulado silêncio os espaço de tempo a nos situar fragmentados no tempoespaçoagora não sei onde fiquei onde estive onde andei nada compreendi desta travessia cega a mesma névoa do parque outra vez a mesma dor de não ser visto elas gritam sua canção de morte este sangue nojento escorrendo dos meus pulsos sobre a cama o assoalho os lençóis a sacada a rua a cidade os trilhos o trigo as estradas o mar o mundo o espaço os astronautas navegando por meu sangue em direção a Netuno e rindo não não quebres nunca os teus invólucros as tuas formas passa lentamente a mão do anel que eu te dei e era vidro depois ri ri muito ri bêbado ri louco ri até te surpreenderes com a tua não dor até te surpreenderes com não me ver nunca mais e com a desimportancia absoluta de não me ver nunca mais e com minha mão nos teus cabelos distante invisível intocada no vento. Perdida a minha mão de espuma abrindo de leve esta porta assim.