domingo, maio 13, 2007


Sou uma mãe que desafina:.

A extensão dos sentimentos eu sempre limitei. Ficava numa distância razoável, como se estivesse em via pública, tomando precauções para evitar colisões e acidentes. Quando me comprometia, começava instantaneamente a alinhavar as justificativas para não permanecer entre aquela cerca agora posicionada. Sede de conhecimento, prazer por transgredir regras e poder encontrar critérios racionais e lógicos para tais atos.

Eu me importo mais com a caixa e os gestos que antecederam o ato do presente que recebo. Minha alegria irrompe quando alguém cuida do meu jardim, não quando ramalhetes de flores batem à minha porta. Sou uma mulher contraditória, e não é fácil ser sempre eu, sem ocultar pedaços de mim. Porque a integridade assusta aqueles que não suportam transparência.

Quis ser cantora, desafinava, fui reprovada no coral infantil. Fracassada nessa tentativa, nunca mais ousei piar mais alto, a ponto de poder ser ouvida por outros. Quando meu filho nasceu, acreditei que poderia ser a mãe perfeita - e executar com maestria aquela composição. Com o passar dos dias, fui vendo que o papel de mãe estava sendo escrito por outras tantas pessoas - o que a sociedade dizia para fazer, para parecer ser, o que minha mãe faria e o que meu marido queria ver no filho quando crescesse começaram a criar confirmações e expectativas. Eu passiva, não cantava, não tocava, aquela música não era para mim.

"Na vida tudo tem seu preço, seu valor", e como o poeta coloca, o fim do amor é a desistência. Qualquer um pode arrombar uma porta, aprender a entrar em silêncio, girando a maçaneta pede respeito e carinho. Ser mãe é apenas deixar o sentimento extravasar, sem tentar entende-lo, restringi-lo ou limitá-lo a algum padrão. Cada mãe faz o impossível para ser a melhor nisso, quando basta amar sem imposições. Carinho, colo, silêncio, respeito. Mãe vive trocando de lugar antes de dar o veredicto: antes de qualquer coisa, tenta se por no lugar de seu filho. Mais do que tudo, quando ajuda sabe até onde pode ir, porque aprendeu que as lições da vida são indispensáveis a todos.

A última lição da mãe é saber que seu filho, que cria com tal zelo e amor, não é um pertence, não dá direito a posse, e muitas vezes terá que vê-lo voar, se dar a pessoas que não o respeitarão, sem cortar ou criticar, apenas se tornar disponível plenamente para quando ele precisar aportar em abraços e beijos. Porque o afago de mãe cicatriza qualquer ferida. Não precisa cantar alto, para todos admirarem sua qualidade e perfeição; basta que sussurre diariamente em gestos e ternura a música que seu coração dançou a partir do momento que seu filho se tornou real. Ser mãe é desaprender o ritmo da música imposta e seguir o compasso do seu coração.

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