sábado, maio 19, 2007


Primeiro Princípio:.

TEMPERANÇA.

Não coma até o embotamento; não beba até a exaltação.
Tudo tem seu limite, seu tempo certo, seu ritmo. As coisas nao acontecem por acaso, tudo isso está ocorrendo em minha vida porque agora é o tempo certo. Tempo para colocar um mapa na mesa e planejar, compartilhar os planos com as pessoas que eu quero levar nesta jornada, descansar e nutrir-me, desacelerar algumas coisas, encontrar o meu ritmo de ser, pra caminhar em equilíbrio de ser. Aprendar a adequar minhas capacidades, e equilibrá-las para funcionar no meu ritmo. Priorizar outros setores da minha vida que não estiveram sob holofotes, e assim ficaram a deriva.

Não se trata de não desfrutar, nem de desfrutar o menos possível. Isso não seria virtude mas tristeza, não temperança mas ascetismo, não moderação mas impotência. Contra isso nunca será demais citar o belo escólio de Spinoza, o mais epicuriano que ele escreveu talvez, em que está tão bem dito o essencial: “Certamente apenas uma feroz e triste superstição proíbe ter prazeres. Com efeito, o que é mais conveniente para aplacar a fome e a sede do que banir a melancolia? Esta a minha regra, esta a minha convicção. Nenhuma divindade, ninguém, a não ser um invejoso, pode ter prazer com a minha impotência e a minha dor, ninguém toma por virtude nossas lágrimas, nossos soluços, nosso temor e outros sinais de impotência interior. Ao contrário, quanto maior a alegria que nos afeta, quanto maior a perfeição à qual chegamos, mais é necessário participarmos da natureza divina. Portanto, é próprio de um homem sábio usar as coisas e ter nisso o maior prazer possível (sem chegar ao fastio, o que não é mais ter prazer).”

A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade. Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes. É fácil? Claro que não. É possível? Nem sempre, sei do que estou falando, nem para qualquer um. É nisso que a temperança é uma virtude, isto é, uma excelência: ela é aquela cumeada, dizia Aristóteles, entre os dois abismos opostos da intemperança e da insensibilidade, entre a tristeza do desregrado e a do incapaz de gozar, entre o fastio do glutão e o do anoréxico. O intemperante é um escravo, mais subjugado ainda por transportar em toda parte seu amo consigo. Prisioneiro de seu corpo, prisioneiro de seus desejos ou de seus hábitos, prisioneiro de sua força ou de sua fraqueza. Tinha razão Epicuro, que, em vez de temperança ou moderação (sophrosiné), como Aristóteles ou Platão, preferia falar de independência (autarkéia). Mas uma não dispensa a outra: “Vemos a independência como um grande bem, não, em absoluto, para que vivamos de pouco, mas a fim de que, se não temos muito, nos contentemos com pouco, persuadidos de que os que menos necessitam da abundância a desfrutam com maior prazer, e de que tudo o que é natural é fácil de conseguir, mas o que é vão é difícil de obter.” Numa sociedade não muito miserável, a água e o pão não faltam quase nunca. Na sociedade mais rica, o ouro ou o luxo sempre faltam. Como seríamos felizes uma vez que somos insatisfeitos? E como seríamos satisfeitos uma vez que nossos desejos não têm limites? Epicuro, ao invés, fazia um banquete com um pouco de queijo ou de peixe seco. Que felicidade comer quando se tem fome! Que felicidade não ter mais fome quando se comeu! E que liberdade só estar submetido à natureza! A temperança é um meio para a independência, assim como esta é um meio para a felicidade. Ser temperante é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento.

Somos pessoas estranhas. Passamos a vida a fazer coisas que detestamos com o objetivo de ganharmos dinheiro para comprarmos coisas de que não necessitamos e, assim, impressionarmos pessoas que não nos agradam.
Autor desconhecido

Todo o nosso descontentamento por aquilo que nos falta procede da nossa falta de gratidão por aquilo que temos.
Daniel Defoe

Mesmo que tenhas dez mil plantações, só podes comer uma tigela de arroz por dia; ainda que a tua casa tenha mil quartos, nem de dois metros quadrados precisas para passar a noite.
Provérbio Chinês

Baseado no "Tratado das grandes Virtudes"

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Meu,Parabens ...to fuçando Seu Blog aqui adorei a forma como você escreve e suas visões em relação a vida e coisas do cotidiano ...PArabens vc é mt inteligente... gostei muito do seu espaço e entrarei sempre,nao vi nenhum contato ou email seu mas de qualquer forma tenha um otimo final de semana
grande abraço
D´an*Brasil-Sao Paolo =]

2:08 AM  

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