quinta-feira, setembro 29, 2005


Veríssimo:.

Li esta semana do Luis Fernando Veríssimo - Jardim do Diabo, publicado em 1988. Não sou sua leitora contumaz, e talvez até crítica demais de seus textos, mas o que fazer se a biblioteca da cidade resolveu adquirir toda obra relançada deste escritor, e a querida bibliotecaria insiste que eu deva ler tudo, pra poder dizer e indicar o que é bom... É gostoso de ler, provoca muitas risadas, inclusive desopila o figado. Conta a história em três planos (ou mais), e o final o leitor decide. Sobre o inspetor Macieira, o caso do grego, ficção, realidade, e finalmente, tudo se confunde, e eu pelo menos nem consegui imaginar o que poderia ser, pois tantas probabilidades... É realmente uma aventura ler o Luis, de tragar a mente. Agora, devolvendo-o, vou ver o que "o céu" envia através da moça. Cada título e autor que jamais passaram por minha mente sequer virar a página, quanto mais ler e discorrer sobre...Sei que me espera Sandman e Casa de bonecas; e o Anel. Os outros dois, que os deuses da literatura me ajudem!

.....

Por que me lembrei do Jardim do Diabo. A cada novo capítulo o Estevão tentava comer rapidamente, pela manhã, antes de sua diarista chegar e melar com tudo, contando fatalidades de embrulhar seu lanche. Bebendo seu suco de tomate, chega a Maria e diz: meu tio está escarrando sangue pela boca. Pois é, hoje o caso de uma cliente, que entre consulta e perguntas, dizia o que acontecia com ela - Hoje fiz cateterismo, imagina você ter na boca que implantar dentes, pois tive que abrir a barriga pra fazer plástica... Era assim mesmo: pulando de assunto pra assunto, rapidamente. Nem o café consegui tomar.

quarta-feira, setembro 28, 2005


De Amor:.

Não gosto de ousar falar em "eu amei", talvez por crer que pensando assim gaste a minha única chance de conhecer esse verbo em toda a sua extensão. Também pode ser que não queira sair inventando amores, pois é mais certo dizer "eu amo", do que conjugar o sentimento no passado. Nesa opção me sinto presa, e me parece que desse modo posso perder chances do futuro. Melhores e mais intensas. Talvez um futuro do pretérito resolveria a questão; porém seria complicado demais, e amor pra mim é o inverso - simples, é sentir e por deus, aprender a caminhar sem a parte ausente. O que me mete medo é padecer da síndrome Emma Bovary.

Última canção:.

Não lembrava exatamente o dia, mas era começo de carnaval. Passaram a noite celebrando o que os unia - total entrega e paixão. E, não se sabe porque nem como, terminaram dentro do carro, em franca discussão. O que não faz a razão, quando sobeja o coração? Naquele momento ele retirou a mão que tinha ficado horas acalentando a mão dela, e colocou-a no volante, como se para convencer-se de que agora estava no controle da situação, e era o rumo certo. Apenas a tristeza como terceira passageira; parados os três ali, em plena madrugada. Pelo medo de seguir a paixão, e morrer de tanto amor. Ela abriu a porta do carro com força, e ele alcançou seu braço no mesmo instante, implorando que deixasse-o conduzir as coisas, que era melhor assim, ninguém sobreviveria vivo mergulhando num amor que exigia tudo, até a própria vida. Ele tinha medo. Ela deixou as lágrimas escorrerem - eram muitas, e muito também o tempo segurando-as. Deixou-se ser real, largando a máscara de mulher forte, e suavemente colocou a mão em cima da dele. Perguntou-lhe se tinha absoluta certeza do que acabava de decidir - podia ser que anos passassem até que novamente eles tivessem a chance de serem felizes, amando sendo amados. Não consigo agora, não é o momento, disse engasgando-se e olhando para outro lado. Ela resolveu acatar sua decisão, e antes soprou ao seu ouvido: "Um pedaço de mim fica aqui, mas levará muito tempo até que você me convença novamente dos seus sentimentos. Eu vou sair e nenhuma vez vou olhar para trás. Porque eu também sei ocultar sentimentos, e fingir uma vida que não vivo. Vai doer em mim, eu sei que vou me destruir, mas você e eu ficamos assim - sempre que você olhar pra sua mão, vai lembrar de algo que não viveu. E do medo." Fechou com cuidado a porta, e tentando aparentar calma e tranquilidade, atravessou a rua, seguindo adiante. Ouviu o barulho do carro, a partida, e tudo o que ficou no silêncio daquele amanhecer foi a canção que tocava naquela rádio - Um dia, um adeus, eu indo embora... Nunca mais ouviu Guilherme Arantes. Mas até hoje espera a mão daquele amor na sua. Porque um amor assim não parte sem saciar-se.

Salam:.


Há um ditado judaico que costumo carregar dentro de mim: "A boca fala do que está cheio o coração". Outro dito que grita alto é: "nada que acontece no seu presente não é consequência de ação sua". Costumo tentar, antes de empreender algum ato, ouvir demoradamente essa sina. Porque acredito em destino, responsabilidade e moralidade. E quando todas as janelas se fecham, aprisionando-me numa redoma 'perturbadora', tento colocar enfase na esperança, e olhos ao redor do que me contorna. Os livros que estão por cima da escrivaninha dizem muito sobre o presente e muita coisa já adveio premonitoriamente em forma de entrelinhas cruzadas. Quando li hoje o Rubem alves, na Folha, algo estalou dentro de mim. Porque foi justamente tema de conversa há sete dias - "tudo dói muito forte dentro de mim". E isso impossibilita muita coisa nesse mundo capitalista em que vivemos - principalmente entrada de dinheiro. Não consigo "não sofrer" junto com a dor alheia. Só o que pedi foi "como conseguir trazer a Tirana de dentro de mim?" Lendo meu adorado escritor, ele questiona o contrário: "Como se pode ensinar a compaixão?" Quando eu vejo uma pessoa sofrendo, eu sofro também. O meu coração fica com o coração dela.(...)A compaixão é uma maneira de sentir. É dela que brota ética. (...)De que vale o conhecimento sem compaixão?" Tudo o que sei é que compaixão em demasia faz seu caminho ser tomado pelo mar, todos os dias. você houve aquele seu amigo fenecer diante de um acontecimento, e carrega aquilo consigo. Vê seus pais sofrerem por algo, e faz misérias para extinguir cada lágrima caída. Olha sua irmã cair diante de um comentário maldoso, e sente-se exprimida por dentro. Travo batalhas que não são minhas, carrego cruzes alheias, caminho com sapatos de outros... e me perco do meu caminho, pois cada onda leva embora tanta coisa. Não há cura - já tentei de tudo, e o máximo que consegui foi me afastar, pra poder prosseguir. Muitas vezes imagino se de repente essa não é minha cruz - ficar em tudo quanto meu olhar se depara atentamente. Melusina, com os grilhões inferiores de pedra, ou de plantas aquáticas, a mulher-criança, segundo Breton. Ando aprendendo a atravessar a rua, e evitar o que me deixaria pela metade, pelo simples prazer de querer sorrir...

Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida
em tudo quanto olhei fiquei em parte.
Com tudo quantovi, se passa, passo.
Nem distingue a memória do que vi
do que fui.

Fernando Pessoa

terça-feira, setembro 27, 2005


Mulher-Pomba:.

Magrite, René. Surrealista.


Palova,
Eis a figura que define nossa espécie: mulher-pomba. Alguém que embarca, já sabendo que irá embora... Algum dia. Eu, que só posso falar por mim mesma, apesar de conhecer seus labirintos, digo que o medo não é de se apaixonar, como ELE coloca aqui. Lógico, babei pelo texto dele, amei cada linha, mas foram as entrelinhas que me engolfinharam. Por causa da amigdalite crônica, lembra? Não, não é a gripe que me pega, mas sempre algo mais além, dolorido, mais "embaixo". Não é o medo de sofrer que me paralisa, muito menos o de me apaixonar - amo sobrevoar pela cidade, feito pomba, arrulhando baixinho... Escolho a frase certa do texto Dele: Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Esse é o meu medo - de embarcar em algo, e de repente sabedora de que meu coração está em outro navio. De repente me ver sobrevivendo, por querer chegar a praia com vida, mesmo sem coração. Por isso alço vôo rápido quando surge alguma dúvida no meio do mar - pelo medo de não poder mais voar, se deixar-me ficar muito tempo na posição de acomodada na viagem. Eu preciso do meu coração sempre apaixonado, pra poder viver voando.

Ps.: Aproveitei e embarquei no conselho do Millôr - fui comprar o livro Dele, Como no céu, pra me aprofundar. Pagar pra me devorar. Aproveito e incluo- novidades para Novembro. Tudo com N... lembrando a frase:"o novo com cheiro de velho".

domingo, setembro 25, 2005


O mito:.

Casamentos entre seres humanos e Sereias raramente acabavam bem, embora muitos povos do litoral, principalmente no Nordeste da Escócia e na Cornualhia , tenham afirmado que entre seus antepassados se encontravam Sereias. Na Idade Média algumas distintas famílias francesas chegaram a falsificar suas árvores genealógicas para poderem afirmar serem descendentes da Sereia Melusina, mulher de Raymond, um parente do Conde de Poitiers. A história de amor de Melusina também teve um final trágico. Segundo a lenda, uma das condições do casamento era a de que ele jamais poderia vê-la aos sábados, sob qualquer circunstância. Melusina, continua a lenda, com suas próprias mãos construiu um majestoso castelo e o nomeou Lusinia. Eles tiveram vários filhos, embora cada um deles tenha apresentado alguma forma de deformidade. Um dos filhos mais jovens, por exemplo, possuía presas de javali ao invés de dentes, e ficou conhecido como Geoffrey "Le Grand Dente", conhecido também por seu temperamento violento. Raymond e Melusina viveram felizes por muitos anos. Um sábado, porém, induzido pela maledicência de seu pai e irmãos, Raymond espreitou sua mulher durante o banho e teve uma inacreditável visão: da cintura para cima Melusina ainda era a bela mulher de sempre, mas da cintura para baixo ela estava transformada com uma calda de peixe (em algumas versões era uma calda de serpente). Mesmo chocado pela visão, Raymond não mencionou nada a respeito. Certo dia, Melusina e Raymond foram informados que dois de seus filhos, Geoffrey e Fromont haviam lutado e que Fromont buscou refúgio em um monastério próximo. No entanto, Geoffrey, num acesso e raiva, colocou fogo no monastério, matando não só seu irmão como centenas de monges que lá se encontravam. Raymond, irado pela notícia, culpou Melusina pelo temperamento incontrolável de Geoffrey. Durante a discussão ele demonstrou saber a verdadeira natureza de Melusina, acusando-a de ter contaminado a nobre raça humana. Imediatamente após as palavras de raiva, Raymond implorou por perdão, mas já era tarde demais. Melusina o lembrou que ele havia quebrado seu voto. Melusina partiu, transformada, e Raymond nunca mais a viu.

De acordo com as lendas Francesas, Melusina pode ser vista nos arredores de Lusinia e outros castelos onde nobres e reis vivem, chorando e gritando sempre que algo trágico está para acontecer para família. Ela se tornara um arauto da morte. Melusina, simbólica, evoca paixão, numa mescla entre erotismo e prosperidade, de abundância ( "primeiramente Melusina lhe dá muitos filhos"). "Melusina, chorando, sempre é vista por um cavalheiro em viagem em uma floresta. Ali, se banhando, nua, persuade o cavalheiro a se casar com ela, mas apenas se nunca a observasse tomando banho". Ele casa com a dama e tem muitos filhas, "Presina, Paulina e Palestina". Mas não conseguindo conter sua curiosidade, a observa por uma fechadura. Então ela o percebe e "se transforma em dragão voando pelos ares da torre do castelo". Melusina nos remete a uma outra lenda, a da " Dama do Castelo de Esperver ". Ela chegava tarde à missa e não podia assistir à consagração da hóstia. Como o marido e os criados a tinham, à força, retida por um dia na igreja, no momento das palavras da consagração, ela voou, destruindo parte da capela e desaparecendo para sempre. Essa estória nos parece a de uma pré- melusina. Melusina é criada na ilha de Avalon, a mesma das lendas do Rei Artur. Isso nos dá mais um ponto a favor da origem céltica da lenda. O tema da caçada ao javali, animal psicopompo e visivelmente celta, faz parte igualmente da lenda. O próprio Raimodin encontra nessa caçada, três mulheres muito belas, entre as quais a própria Melusina. Dizem que a amília francesa Lusignan, um ramo Plantagenetas se diz "filhos da mulher-demônio' por conseguirem prestígio na Côrte de Ricardo Coração de Leão.

A lenda Francesa de Melusina (ou Melusine) se tornou tão popular que em meados de 1500 o historiador francês Jean d’Arras recebeu ordem do Duque de Berry para registrar toda informação possível sobre Melusina. Jean d’Arras levou anos pesquisando e coletando material para seu maior trabalho: Chronique de Melusine, se tornando o mais antigo texto escrito sobre o mito de Melusina. Após sua morte, seu outro trabalho também foi publicado: Le Liure de Melusine en Francoys. O trabalho de Arras aumentou a popularidade do mito e não demorou para que numerosas versões da lenda de Melusina fossem publicadas em diferentes línguas. Neste espaço mítico, as famílias nobres reivindicam o mito como sua própria gênese. Por tudo isso se criou a tese de que para amar, há que se perder. E é no reencontro que o amor se torna amplo e vivenciado em seu aspecto dragão-serpente, pois fruto da fênix.

Melusina:.

O momento "out" é aquele onde você vai zarpar o olhar e ancorar em pleno mar. Vai suavizar o coração, e dar conta de quanta marola passou, e você ali, no meio do nada. Talvez pense em águas passadas, talvez imagine as águas a frente... Porém o que importa é dar-se conta do que você quer - agora que pode conferir "num papo íntimo consigo" o que realmente importou e importa. Assim, você conseguirá direcionar o leme, e lançar a seta para o Norte, não buscando bússolas, apenas colocando o coração no rumo certo. tenho cá comigo a teoria de que "nada do que é nosso a gente perde". Porque sinceramente, tudo que faz parte da gente fica. Dentro de nós. Mesmo que há milhões de capítulos-tempo... mesmo que encapsulados em algum lugar, em nosso baú. O que é bom é que quando a Sorte bater novamente em nossas velas, o reconhecimento será imediato. É só assentar a poeira, e partir pra parte da aliança. Deixar de não-me-toques e embarcar com tudo. Sem medo de... Da adversidade da perda vem a coragem pra encarar futura felicidade a frente. Bem... foi um tratado oceânico. Pra finalizar, enquanto curte o momento pós-perda-futuro-sorriso-encabulado, chá-do-destino: folha de laranjeira mesclada a flor de limão. Melusina-mulher, meio-fada, meio-serpente, essencialmente ela, sorri, enquanto se despede de ti. Da sina ninguém escapa...

sábado, setembro 24, 2005


The parting Glass:.

Of all the money ever I had I've spent it in good company
And all the harm I've ever done Alas was done to none but me
And all I've done for want of wit To memory now I can't recall
So fill to me the parting glass, Good night and joy be with you all
todo dinheiro que já ganhei, gastei-o em boa companhia
e todo mal que causei, foi a mim mesma, mesmo sem desejar
e tudo o que fiz espertamente, com o intuito de ganhar algo,
agora não posso me lembrar
Então, que se sirva a última taça,
Boa-noite, e um brinde à alegria!


Of all the comrades ever I had, they're sorry for my going away
And all the sweethearts ever I had, they wish me one more day to stay
But since it falls unto my lot that I should go and should not
I'll gently rise and softly call, good night and joy be with you all.
Meus velhos camaradas entristecem-se pela minha partida
e "os queridos" namorados querem adiar a despedida
Mas se o destino assim quiser, que voc6e fique e eu me vá
Vou sair devagarinho, e boa sorte desejar.


Uma balada irlandesa tradicional, cantada ao final de uma noitada, evento ou reunião, sendo uma das mais populares, documentada por volta de 1.770. A música é perfeita na voz de Shaun Davey. Irlandês. Talvez a versão em inglês seja de Ghile Mear... Vale a pena ouvir. Mais um trecho, pra entrar na onda...

If I had money enough to spend and leisure time to sit a while
There is a fair maid in this town that sorely has my heart beguiled
Her rosy cheeks and ruby lips, by own she has my heart enthralled
Then fill to me the parting glass, good night and joy be with you all

Ah, o que eu lembrei? Sim querida Palova, do pub que frequentávamos. Talvez mais tarde lhe conte as coincidências, que ligam todas as peças, mas por ora se contente com o plano assim - cheio de emaranhados. Não quero me explicar, nem me justificar. Apenas sorrir, pela relembrança daquele dia. E lhe prevenir que realmente, mas realmente mesmo, tudo o que desdenhamos, mesmo querendo com todo o ardor que existe em nós, em prol de preconceitos ou esquisitices sociais, acaba ocorrendo, de uma maneira ou outra, em nossa vida. Um exemplo? Velhos ou Menininhos, você escolhe.E a foto do dia me contempla - há quanto tempo faz que estivemos ali, paradas, muito diferentes de hoje, partindo para uma balada inesquecivel? As três chegando, a roda se formando, e não-sei-quem olhou para trás e viu o deus grego. O mais belo exemplar que algum dia tivemos sob nossos olhos. Era tão mavioso que quando partiu para o meu lado, pensei que fosse gozação. Paródia. O tombo do coyote. Eu abri mão da racionalidade por um único dia, e persistentemente fui o máximo por três anos. Atriz, digna de Oscar. Hoje ao reencontrar tudo (menos você, a número três e o defunto-que-vela-por nós), me encharquei de tristeza. Porque eu podia ter sido mais ousada. Acreditado em mim. Em milagres e presentes divinos. Podia ter "relevado" certas coisas, ter dado valor a outras. Nào há voltas para trás - imagine que o Deus irá se casar com uma balzaquina. E a mim, só me resta erguer a taça e desejar felicidade. Ainda acredito que aqui a gente não perde nada. Se for do meu caminho, ainda intercepto no tapete vermelho... Se não for, voilá. Ah, mas quanta saudade daqueles beijos, e da caipirinha que rolava por lá. Reuniu a história? Brincando de sherazade, conta outra, que esta quase se finda... falta a bruxa má. Abocanhar no final.

sexta-feira, setembro 23, 2005


Jardim do diabo:.

"Eu tenho a fome de entender tudo. De olhar bem no olho injetado do Mundo e me entender também. Mas só o que fica desse esforço disparato é um certo enfaro literário, e um cerebro entulhado. Às vezes tenho a impressão de quando sacudoa cabeça posso ouvir a quinquilharia solta lá dentro. Lixo que se acumula dos revezes da vida. O admirável disto tudo é que presa em algum lugar está sua imagem - congelada naquele instante onde lhe pedi pra te deixar minha vida, e você não aceitou. Daquele dia guardo seu sorriso irônico, suas palavras e seu olhar... Misterioso, uma espécie de interrogação palpitante, pois seu amor estava ali, esparramado em cada canto de seu olhar; e a sua resposta me conduzia para longe. Foi com você que sonhei esta noite. Novamente. Uma lacuna nele: será que queria dizer que o reencontro estava mais próximo do que eu imaginava? Esta certeza desoladora de imediato me angustiou - sempre achei que nunca se perdia coisa alguma, e você só me condenou a reunir todos os seus catorze pedaços esparsos, para que nosso amor renasça das cinzas, e possamos retomá-lo, como está escrito. Perdoa-me por te incomodar; "divindade insaciável da guerra", mas eu tenho conhecimento da falta que me assola, Uma vez mais te vejo feroz, imundo, triste, estilhaçando-se aos poucos. Aos poucos você ia desaparecendo, sempre me chamando, como um devaneio profético, dizendo "você me compreende, agora? não se deve dizer nada duro. Eu vou te ajudar".

Melusina depois do grito. É assim que me sinto agora. Para sempre, sua.

quarta-feira, setembro 21, 2005


Words:.

Ontem eu li esta matéria [no jornal "A Folha..."] e tive a mesma indignação que este menino-de-ouro extravazou. Como é ele o que curte período de opulência em palavras, e eu no confinamento solitário e exaustivo de guardar tudo para dentro, linkei para ficar mais fácil saber sobre o que era a matéria. Assim, soma-se mais um não a carreira dos nãos já determinados: Não ao desarmamento; e agora não a renovação de assinatura deste jornal. Algo que traz matérias desse tipo não me agrada, nem me interessa. Meu dinheiro é escasso; e devo dar valor ao que fazer com o dito-fugidío. Ou em São Paulo, nesse show do Super Moby só foi gente sem cérebro ou o jornalista que ali esteve escolheu a dedo só tolos para as respostas encomendadas. Não é possível que o Brasil esteja no fundo do poço - diante de tanta mediocridade e ignorância. Mesmo com todo o dinheiro roubado da PF; mesmo com o servidor público que me atendeu agorinha há pouco estúpido, grosseiro e olhando para o relógio (como é que selecionam pessoas assim em concursos?), mesmo com o Lula (senhor que abomino!) sendo autor dessa novela horrível de CPIs, ainda tinha um fio-verde de esperança. Esse emaranhado de coisas acontecendo, o meu fígado detendo uma vontade enorme de rasgar aquele horóscopo da Abrahmo, que jamais acertou um dia sequer, a saudades do estadão com o ex-pisciano ficando imensa, a saudades de algo que já se foi, e não vivi por inteiro, não se contendo; a saudade daquele amor pra-sempre, depois que li o post do Seu Fabricio... tudo isso me deixam num caminho, onde uma das encruzilhadas me conduziria a uma atitude drástica como a chinesa que se enforcou por não conseguir pagar a mensalidade das filhas. Se não fosse semana espírita por aqui, e não houvesse tamanha crença dentro de mim de que "tudo ocorre dentro dos planos de algo maior", eu com certeza já teria dado adeus a tanta barbaridade que vejo, ouço e leio.

segunda-feira, setembro 19, 2005


Vida & Morte:.

Qual é o medo que muitos tem da palavra morte? O que segura tão firmemente as pessoas à vida? Eu gostaria de saber o terror que causa "saber-se próximo da morte". Se não houver nada além da Vida, viramos pó. Se houver, eu tenho plena consciência do que vivi, e arquei com minhas responsabilidades. Contas em dia. O que não suporto é esse desespero a respeito de ir. De repente eu sou mesmo a Ms. Ice; e aqui não há nada que me aqueça. Eu, se pudesse, abreviaria minha estada, e daria uns vinte anos para aquele que amo e precisa - mas não se barganha com a morte. E ainda tenho um bom pedaço de missão para cumprir. Ele, felizmente, cumpriu tudo, e tão bem. Acho que desta vez nem mil poções ou novenas conseguem segurá-lo aqui. A não ser que... Palova, abra o livro de Receitas da Emenelgarda. Com certeza a Tia deixou algo pra desejos impossíveis. Cada um tem direito a um pedido, e eu abro mão do meu neste.

domingo, setembro 18, 2005


Sorte:.

palova, querida, hoje o orkut me trouxe a seguinte sina - "você viajará para longe". Acho que descerei aos ínferos, porque no inferno já estou pelejando. Nesses dias de lua cheia, tenho medo até das linhas de minha mão.

Aninha e suas pedras:.

O sol já se fora, mais um dia terminando, porém desta vez o jardim finalmente estava como planejara. Levara dias sonhando e realizando seu desejo, e agora, contemplando-o, sentia-se vitoriosa. Angélicas perfumavam o lado esquerdo, e seriam ótimas para suas crises de enxaqueca, quando tudo dava errado e não havia meios para consertar a situação, a não ser vivê-la. Gerânios povoavam ao lado, e logo após vinham os cravos, para lembrar que tudo na vida tinha um fim. Havia Jasmins afinal, que lhe traziam a mente a sua parte doce e delicada, compondo um panorama exótico e agradável. As rosas, ao lado do portão de ferro, terminavam por reavivar o que antes era só capim e mato. Sabia que os girassóis, na parte de trás, perto da piscina, tinham sido plantados por egoísmo. Queria-os só pra si, para seu deleite: eram sua obsessão. Acreditava que a natureza não fazia nada de inútil; por isso a dedicação. Mas agora era o momento de descansar, como se fosse o sétimo dia. Entrou correndo, abrindo rapidamente a porta, e trazendo consigo o aroma das flores e muito vento, deixando um trecho longo de terra atrás de si, enquanto subia rapidamente as escadas para encher a banheira. Ainda tinha algumas horas antes dele chegar para irem jantar. Entrou na água quente, perfumada, e sentiu-se leve e reconfortada. Seus pensamentos a levaram ao homem da noite, Diego, playboy milionário. Não devia sonhar com o impossível, e Diego não pertencia ao seu mundo -"homens ricos casavam com garotas que pertencessem ao seu círculo social pessoal, sofisticadas, educadas, nascidas em berço de ouro." E ela nunca havia sido nem um ponto daquilo que ele habitualmente tinha ao seu lado. Valeria a pena se arriscar por alguns momentos de completa felicidade? Sua avó lhe dizia que "quem não abria a porta para a sorte, convivia com o azar". Saudades apertaram-lhe o coração - como sentia falta de sua presença! Sentia que no momento era a única responsável pelo seu destino, e esse encargo lhe pesava. De repente pressentia que Diego não era sorte... E tudo o que ela queria era apenas seguir seu destino; nada além disso. Terminou seu banho, enrolou-se na toalha e foi para a frente do espelho: a autoestima estava zerada, não via nada além de alguém suturada por pontos grotescos, aparentando feridas internas que ainda ardiam imensamente. De alguma maneira ainda deixava-se atingir e ser humilhada por pessoas que nada tinham a ver com sua vida. Independente de conselhos, ainda sentia vontade de alterar seu agir, para ceder e poder ser "aquilo" que outros queriam que fosse. Falou alto, para que sua mente se apropriasse das palavras: "Não importa o que fizeram contigo, ou o que fazem, interessa o que você vai fazer disto que fizeram e fazem". Confuso. Coerente. O que ela poderia fazer quando todos lhe diziam que era um cavalo? Imaginava sua vó, rindo e dizendo: "saia e compre uma sela, oras!". Deixou que o vestido de seda azul escorregasse pelo seu corpo, e deitou, enquanto esperava a campainha tocar. Nada de maquilagem, queria enfrentar a separação de cara limpa. Porque hoje iria se afastar dele. Porque temia sofrer logo mais adiante. Porque sabia o final dessa história. E nesse momento foi que entendeu o que tinha perdido dentro de si. Havia se escondido de tudo e todos, numa eterna fuga, quando viu que não conseguia prosseguir no seu caminho sem levantar-se. Ela não sabia como erguer-se após tanto sofrimento, não permitira lágrimas, não queria mais erros. Apenas retrocedeu e foi aí que tudo se perdeu... A autoestima, a imagem, o amor, a sanidade. Um profundo e doloroso abismo arrebatou-lhe o coração, e constatava diariamente que as pequenas perdas palpáveis não faziam frente a quaisquer ganhos. Porque as pequenas coisas eram o que lhe preenchiam, o que a fazia imensa e cheia de Amor por si, diante de tantos obstáculos. Oxalá essa que vira no espelho pudesse ir embora, e retornasse sua antiga moradora. Queria tanto que esse reflexo não grudasse em sua mente, não fermentasse seu estômago, deixando-lhe a chance de ser feliz. Era hora de subir, vir à tona, após tantos mergulhos. E num zapt, notou que Diego era apenas alguém que ela usaria para se machucar, culpando-se novamente. Pegou o telefone e em poucas palavras descartou a sessão-jantar. Para que ir ao cinema se já conhecia de cor e salteado aquele enredo? Não, prometeu a si mesma. Não iria mais se machucar. Ela sabia que alguém lhe esperava, em algum lugar do caminho. E precisava até lá estar bem, reencontrar-se, reunir-se. Pequenos detalhes... Não estava fadada a entremeios, e a sobrevida. Porque conhecia a vida e o amor, exigia agora isso: não queria mais se contentar com pouco. Passado o fatalismo, lágrimas desciam... sem ninguém para enxugá-las. Há uma parte do caminho que tudo ao nosso redor desaba, e a única coisa que podemos contar é com nossa sabedoria e Amor. E por acreditar no amor que sentia por dentro, estava disposta a recomeçar.

Não te deixes destruir
ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre...
Remove pedras, e planta roseiras, e faz doces.
Recomeça
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
(...)toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso.
(...)
Tanta coisa me faltou
tanta coisa desejei sem alcançar
hoje, nada me falta
me faltando sempre o que não tive"


Cora Coralina

Demetril:.

Quando me amei de verdade compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome... auto-estima. Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades. Hoje sei que isso é... autenticidade. Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... amadurecimento. Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... respeito. Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável ... pessoas , tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama... amor-próprio. Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... simplicidade. Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a... humildade. Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... plenitude. Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é.... saber viver!!!

Parecem palavras do Gasparetto, porém não sei quem a quem pertence. Na minha história pessoal, essas palavras reunidas se encaixaram, se bem que dando uma transmutada ali e acolá pelo tom de auto-ajuda que hoje elas exprimem. Reconheço que o que quero mais que tudo é não sobreviver; pois quero viver sem portar colete-salva-vidas. Quero aprender a nadar, e me virar... Vivendo, sem sombra de ninguém. Porque "Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas."*

*Charles Chaplin

Instante:.

Queria um momento suspenso, pra colocar aqui as mágoas que ainda não se afogaram. Sob a forma de contos surreais, iriam embora pelo esgoto, e me acalmaria, pelo menos momentaneamente. Ao longe, um sino toca. Minha mente já não está mais aqui - Beatriz mexe no altar-mor, invoca tudo quanto é coisa em sua língua desconhecida para todos, e agita o sino animadamente. O grito do aiiii que ela ouviu na última prelação Seicho-No-Ie ecoa... Começo a rir; os deuses perdoam tal atitude? Lógico, que mal em imitar vozes japonesas? Acho que é isso que ela tenta: "Aiiii si no guam patacumba". O que será que ela compreendeu do que viu? O que sobra é muito arroz pelo chão, e a menininha escorregando sobre tudo, com sua caixa de ursos minúsculos... La Cumparsita é um delírio em gotas, alterando rotinas, tempo e memória.

Equívoco:.

Comecei a ler 'Adeus às armas', do Ernest. Dizia, segundo a capa e o prefácio, que era a história mais bela de amor que havia sido escrita. Frederic e Catherine eram o sonho de todos os amantes, e os diálogos ficariam na mente, forever. Terminei, e me sinto enganada. Engodo, fraude, pantomima. Que coisa mais gosmenta a tal de Catherine, sem personalidade, louca e doida, querendo a todo momento se tornar a outra pessoa, e justificando que era isso o Amor. Controlava-o dizendo: "mas eu não sou uma boa esposa?" Ah, tão perfeita, que só não vomitei ao final, porque seria eu a ter que limpar a sujeira. E o Frederic? Argh, homem indiferente a tudo - nada amava, nada adorava, nada lhe provocava paixão. E o amor que sentia para mais imposição e carência, diante de tal horror no presente. Merece ser lido; mas defenestrado pela janela, em razão de seu conceito de amor.

Quanto a tentativa de passar da vigésima página de Ulysses, de Joyce, novamente naufraga. Compartilho da mesma opinião de Jung: "Ulysses é o retrato torrencial do vazio absoluto, aqui tudo acontece, mas sem acontecer. A torrente começa no nada, e termina no nada. Cada frase contém uma expectativa, que jamais se concretiza. A pessoa lê, lê, lê, e, apesar de achar que está compreendendo tudo, sente que tudo foge do seu alcance. Por fim, resignado, o leitor nem espera mais nada". Perdão, Joyce, mas você é o Oceano para mim - impossível de atravessar a nado.

O que me resta agora é terminar a Coisa julgada, e o trabalho. Nada de protelar mais; é inútil persistir em busca de algo que sabe o que é, mas está dificil de reencontrar.

quarta-feira, setembro 14, 2005


Defenestração:.

Uma família de classe média alta. pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa "é o cansaço". Afinal ele passou o dia correndo de um lado para outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados por dentro e por fora da casa. Tem que estar cansado.
- Quanto presente, einh, filho/
- É.
- E esta espada? Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.
- Pai...
- E como pesa! Parece uma espada de verdade. É de metal mesmo. Quem foi que deu?
- Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu nenhum garoto de sete anos sério assim. Solene assim. Coisa estranha... O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
- Pai, eu sou Thunder Boy.
- Thunder Boy?
- Garoto trovão.
- Muito bem, meu filho. Agora vamos para cama.
- Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse sete anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos estava ajudando a gramática do guri. "Eu a receberia..." O guri continuna.
- Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo thunder boy, a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhada por Ramil, o primeiro garoto-trovão.
O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.
- Certo filho. Mas agora vamos...
- Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era o meu destino.
- Nós nunca mais vamos ver você? - pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho, enquanto o encaminha sutilmente para a cama.
- Claro que sim. A espada do thunder boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com minha ajuda.
- Ainda bem - diz o pai.
E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus "Ramil!". E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.

O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
- Viu só? Trovoada. Vá entender esse tempo.
- Quem foi que deu a espada para ele?
- Não foi você? Pensei que tivesse sido você.
- Tenho uma coisa para te contar.
- O que é?
- Senta, primeiro.

Fim da crônica-comédia do Luis Fernando Veríssimo. Depois disso garotinhos deveriam fazer uma analise - o que entenderam do texto? Se bem que piada a gente não explica, mas vá entender a professora e sua tarefa. Pergunta o menino: "mãe, qual é a compreensão do final pra você?" Ah, eu achei que ele era o Thunder boy, foi para o espaço, e o pai agora teria que acreditar em outros mistérios que ele não compreendia mais. "O menino, sério, olha espantando". Mãe, eu entendi completamente de outra forma, lê aqui: (blábláblá), e no final a espada , pelo metal, atrai um raio, e o menino e esta são transformados em pó, ficando azuis diante do apoplético pai. Como explicar a sua mãe que seu filho agora não existia, por causa de um raio, prenunciando tempestade? Tudo por causa daquela bobagem de histórias em quadrinhos...

Diante de tal situação, fiquei pasma. Acho que não sei mais interpretar textos. Hoje em dia está tudo mais "carregado" de preto do que minha mente consegue colorir.

sábado, setembro 10, 2005


Hair War:.

Querida Palova, pela minha enorme sinceridade, e pelo seu sagrado nome em vão, levei um baita de um sabão. Catzo, quantos adoradores de plantão voce ainda deixa por aqui? Pra sossegar meu coração de bruxa má, favor fazer contato de fumaça, já que está em região inóspita, sem telefone, internet e pior... sem postes com luz. Já!

quinta-feira, setembro 08, 2005


O incêndio de Tróia:.

Terminei de reler o Incêndio de Tróia, da Marion. O Claudio Moreno com o seu Tróianão fica devendo nada àquela escritora. Ganhei ainda, de presente pela primavera que está quase chegando, Ducasse de A a Z, que faria Palova babar literalmente pelas páginas, e o livro que assistia tanto (eu amo o filme que fizeram deste livro) - Alta fidelidade. Isso me deixa até o final de semana com duas teses para preparar e dois deleites pra me fazerem companhia. Precisa mais? Ah, chuva no cair da tarde.

Alta Fidelidade
Quem tem entre 20 e 40 anos, sobretudo os homens, e leu o livro "Alta Fidelidade", do escritor inglês Nick Hornby, entende a dor do personagem Rob Flemming, trintão dono de uma loja quase falida de discos que, ao ser abandonado pela namorada, revê sua dor através da música. Em seu momento mais sofrido, Rob constata o quanto é estranho ver filmes violentos e armas de brinquedo serem acusados como males da sociedade enquanto milhares de músicas sobre amores perdidos, desilusão, dor e infelicidade são lançados anualmente no mercado e consumidos com avidez por jovens. "As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop", conclui o personagem, sabendo que é um desses infelizes. Faz parte da cultura masculina amar o rock. Faz parte do flerte amoroso gravar fitas com suas músicas prediletas para quem se ama. Faz parte da competição masculina provar ter a maior coleção de discos. E fazem parte do mundo de quem ama a música as intermináveis listas dos cinco melhores que Rob Flemming não para de montar: os 5 melhores solos de guitarra, as 5 melhores primeiras faixas lado b, as 5 melhores músicas sobre morte... É isto que encanta no livro "Alta Fidelidade": a proximidade com o universo masculino e a revelação deste para o universo feminino. Identificação e curiosidade, em um texto saboroso e hilário de Nick Hornby e pontuado com música... muita música. São infinitas as citações musicais ao longo da história, já que para Rob Flemming dor, felicidade e mulheres estão sempre relacionados com uma canção. esta história nos mostra que apesar da dor e da angústia, vale a pena se apaixonar. Todos nós temos um pouco deste confuso Rob Flemming. Temos nossos amores, nossas desilusões e perdas, nossas músicas preferidas. E se a música pop realmente faz mal à saúde, como vocifera o rabugento personagem, a vida também o faz. Então, para que procurar remédio?"

O filme, narrado por Rob , tem um desenvolvimento da história bem original. Primeiro, começamos com o Top 5 dos "foras" que ele tomou ao longo de sua vida. Cada um desses "foras" é uma história a parte, que depois serve para definir a complexa personalidade de Rob. Uma de suas namoradas é vivida por Catherine Zeta-Jones, a atriz mais bela do cinema atual. A história envolvendo a personagem de Catherine é uma das melhores, só perdendo para a história da atual namorada de Rob, que ache que está sendo saindo por ela com um de seus vizinhos, um bicho-grilo vivido por Tim Robins. A cena onde Rob se imagina expulsando o amante da namorada é espontânea e muito hilária. Depois disso, o filme toma um rumo parecido com o de comédias românticas comuns, e cai um pouco na qualidade.Mas essa queda é compensada no final engraçadíssimo e mais do que adequado para o filme. A trilha sonora é, pra completar, arrasadora, com grandes nomes da música independente e da música pop mundial. Agora eu tenho duas tarefas: encontrar a trilha sonora e o livro que está esgotado em tudo quanto editora. Porque do filme, que eu já assistia, e não lembrava do nome, nem sabia que estava ligado a tal literatura, já sou apaixonada. Eu sou Rob.

terça-feira, setembro 06, 2005


De onde e porquê:.


"(...)Nem nós somos só nós. Eu sou o que eu penso que sou, sou como você me vê... E a gente também é o que pensa que é para os outros. Quer dizer: cada um de nós é, na verdade, três. Quatro, contando com o que a gente é mesmo. Mas o que que a gente é mesmo? Sei lá”.

Respostas pra semana:.

Desarmamento
Se eu sou contra? ACERTOU. Se possuo arma? Nenhuma. Mas minha idéia sobre esse tal referendo se baseia nessa "ideologia": "Falsa é a idéia de utilidade que sacrifica mil reais vantagens por uma imaginária ou frivola inconveniência; aquela tomaria fogo dos homens porque ele queima, e água porque alguém pode se afogar nela; aquela não tem remédio para os males, exceto destruição. As leis que proibem o porte de armas são leis de tal natureza. Elas desarmam somente aqueles que não estão nem dispostos nem determinados a cometer crimes. Pode se supor que aqueles que tem a coragem de violar as mais sagradas leis da humanidade, as mais importantes do código, irão respeitar as menos importantes e arbitrárias, que podem ser violadas com facilidade e impunidade, e que, se obedecidas estritamente, colocariam um fim na liberdade pessoal-- tão querida pelos homens, tão querida pelos iluminados legisladores -- e sujeitariam o inocente a todos os tormentos que somente os culpados devem sofrer? Tais leis pioram a situação dos agredidos e melhoram a dos agressores; elas servem antes para encorajar do que para previnir homicídios, pois um homem desarmado pode ser atacado com maior confidência do que um homem armado. Elas devem ser designadas como leis não preventivas mas receosas de crimes, produzidas pela tumultuada impressão de alguns fatos isolados, e não pela refletida consideração das inconveniências e vantagens de uma lei universal."*

*Thomas Jefferson traduziu e copiou este trecho para a sua coleção pessoal de grandes citações. Beccaria, On Crimes and Punishments 87-88 (trad. H. Paolucci 1963), 1776, proposta para a 'Constituição de Virginia': "Nenhum homem livre deve ser privado do uso de armas."

Patriotismo
Diante de tal situação, agitar bandeiras na rua me desconsola. Meu filho pensa em ir ao desfile, por causa de uns pontos prometidos na nota final - a mesma coerção que usavam comigo. Na minha época, não havia quem portasse uniforme e marchasse, em honra de algo, apenas por nota. Continua assim. O meu lar é minha Terra. E essa terra é onde se encontra meu coração. Se aqui, na china, nova esperança, niterói, vitória ou Espanha não interessa. Alma cigana, de muitas reencarnações. Acredito nas pessoas, na bondade, no espírito de União. Mas não nesse país com este governo. Infelizmente, é dia de luto pra mim amanhã. Eu não sei o que faço numa pátria que não compartilha de meus principios - e fico a temer se esta pode me corromper, e de repente, algum dia, eu me tornar Beatriz Valéria, vivendo de Mensalinho.

segunda-feira, setembro 05, 2005


Meros Acasos:.

O que fica daquilo que nunca foi? Queria poder esconder a franqueza, e escrever com menos furor àquilo que me causa indignação e vergonha. O que me dilacera a alma, essa perda e essa dor, ao mesmo tempo plenas e redentoras de grande amor, obsta qualquer suavidade. Não consigo voar mais longe - minhas asas, tenho plena convicção, secarão como Ícaro, e não está em meus planos quea mais angustiante do que esta. Passado o espanto, pela figura de nova criatura, vêm a indignação. Pelo erro. Raiva. Sem nada poder fazer com a raiva, a alma se dá conta de sua impotência. E chora. *De guerreira a pranteadora, em poucos segundos. A única escolha possível, condigna com meus princípios, está aberta, à minha frente. E mesmo entrelágrimas, eu escolho. O que faz parte de mim e o caminho que tem coração e coragem.

*Trecho de Rubem Alves.

sexta-feira, setembro 02, 2005


amor:.

O grande sentido do amor (a Deus, a alguém, ao país) é ser gratuito. Diria mais: só é amor quando é gratuito. Por gratuito entenda-se algo que se estabelece com total verdade, desinteresse e autenticidade, independente até da vontade. Por isso, o amor nos traz possibilidades sempre novas, um vigor peculiar antes inexistente em nós. Diferente da Paixão que é tudo isso em estado de exaltação febril, por isso passageiro. A gratuidade do amor é a sua conexão com o mistério de cada existência humana e dos desígnios impossíveis de serem alcançados por nossa inteligência. Existe porque existe. Independe de causa. É só efeito. Por isso sempre digo: quando é amor a gente sabe. Ficou em dúvida, vacilou, pode ser tudo de bom porém amor não é. O amor é a despeito, é além, é sobre, é apesar. Existe e se manifesta com uma inviolável certeza. A forma talvez mais evidente do amor é o maternal ou o paternal. Não há explicações para o ser humano amar os filhos. Ele apenas ama, gratuitamente.

Artur da Távola

Soluçar:.

Depois que a gente começa, sempre há o hábito a nos torturar. Quando faltam palavras, quem nos traz as benditas pra colocar pra fora o que teima em se fixar por dentro. Busquei no Fabrício. E transmutei-as; porque como diria Beatriz-pequena, "eu sou menina, tenho perereca". Ficou assim: As palavras dele, com tons melodramáticos de espanhola-morta_viva rosada e florida. Um horror, tomara que ele jamais saiba dessa imperfeição. Por ora, desculpas devidas pela intromissão virtual...
Sempre tive medo de fracassar na vida. E hoje me sinto o próprio fracasso. Seria desnecessário me assombrar mais, ao colocar aqui o susto de mim. Mas resta-me ser descoberta. No fundo, talvez desejasse saber que não contei com outra alternativa. Não acreditei em mim porque todos executavam essa tarefa com perfeição - e quem ousaria duvidar da menininha-em-perfeita-harmonia? Todos acreditavam em meu lugar. Como desejava que algum colega tivesse feito o difícil trabalho de confiar em mim, que é o que nunca consegui fazer, e me dado um pouco de folga. Queria dizer "cuide de minha vida, que já volto", assim como quem deixa um par de chinelos na areia para mergulhar. Quem sabe não retornasse, e aí, fico imaginando esse pobre coitado, com fardos a mais nas costas... Não, as havaianas na praia iriam me deixar com sentimento de culpa presente eternamente. Desde que nasci, não encontrei descanso, sujeita a perder-se a qualquer instante, o que fiz em vários e derradeiros momentos dessa trégua-vida. E quando dei por mim, descobri não é se matando que me tornarei importante em minha vida. Não é me abandonando que me tornarei importante em minha vida. Não é fugindo que me tornarei importante em minha vida. É amando o que me faltava amar: eu., escondida, a menina que gostaria de ter milhões de livros e uma avó pra saborear histórias numa cadeira em varanda. Não sou de chorar. Quando estremeço, sou de abraçar, de costas para as lágrimas. Detesto perder a força que penso e teimo em ter diariamente. Não sobrei em casa, careci. Durmo até hoje encolhida. Escrevo por excesso de memória, pela fartura de vivência e aventura, anoto compromissos em agendas, distribui relógios ao redor, e assim sempre estou atrasada - mas jamais em preencher os dias em que vivo. Nas redações escolares, odiava temas como "conte-me suas férias", gosto do novo, do surreal, do que me surpreenda. E sou capaz de plagiar os alegres veraneios da menina ao lado, só pra não cair nas mesmices de todo-ano. Minhas mentiras são necessárias pelo simples fato de que não existem às vezes preparo de palavras para substitui-las. Em apuros, tomo a memória de alguns como se fosse minha. Mas modifico-as, alterando-as para que se tornem a minha cara. Redonda e já idosa. Penélope com síndrome de Perséfone. Nem Jung salvaria desse amadurecimento envelhecido, onde foi surrupiado o que mais me preenchia. O que me faz soluçar ainda mais forte é que, sem ser virginiana, tudo que me contorna insiste em dividir a minha vida - amorosa, financeira, a carreira, os filhos; como se eu fosse um daqueles compartimentos de ferro, cheios de gaveta, e cada qual devesse mostrar sua eficiência em belas pastas devidamente organizadas e aramadas. Que bela droga se abrisse esse dito arquivo de aço e constatassem que as gavetas estão vazias: não por falta de pastas, mas por insurgir-me contra tudo o que me bloqueia. E hoje, ao me deparar com aquela clássica abertura do Banco, uma nova frase em negrito havia: Sua vida Financeira. Tristeza, de repente decidiram que ela se resume àquela página, em vermelho muitas vezes. Sou um fracasso - constato.

Pari Passu:.

Paixão e desejo caminham lado a lado? Sei que para cada ser há a reserva de um terror em particular; e de eventual redenção, se aceita. Às vezes um sonho. Uma visão. Uma intuição. E entramos com o pé direito, afoitos, em quarto escuro, sem garantias, crendo apenas em designíos, segredos entremeados em cartas ou ilusões do Universo. E constatamos, na metade da alegria que nos toma já por completo, que desejar não é de graça. Custa caro, dói muito, e magoa pra chuchu. Falácia aquela frase que diz que a intensidade de desejar abre portas e janelas: nada garantido, o fracasso é a sombra permanente enquanto vivemos. Mesmo assim, reitero palavras que li: Quem não se atreve a desejar, a querer "doidamente", sofre da única culpa que a gente não perdoa: a culpa de não ter ousado viver segundo nosso desejo. Para as borboletas que temem a saída do casulo, imaginem que o tempo e o conforto nesse pedaço de redoma contribuem para deformá-las, e talvez degenerá-las. Que miséria será quando o casulo quedar-se per si só, e sem asas, tiverem que conformar-se com a condição de viverem como larvas até o fim da vida? Até a beira, caminhe, abra os braços e sorria: "confie, alguém te ama". você, mais do que ninguém, merece ser feliz.

Releitura:.

Nelson rodrigues estava absolutamente certo quando falou: "Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos." Peguei a lista dos dez escritores finalistas de tal prêmio (Telecom?); nenhum jamais havia me atraido, e de alguns nunca ouvi sequer crítica. O único que me trouxe novidade (porque como há gente tentando imitar narrativa de outros), foi Cristóvão Tezza. Da Rocco, nascido em SC, morador de Curitiba. Permitam-se conhece-lo: Vale a Pena! Pra mim, digno do primeiro lugar neste concurso. Dele, esse trecho abaixo.

Penélope
(...)Cheguei à solidão através de três mulheres. Só na primeira houve paixão. Nas outras, um ceticismo prático. Enquanto isso me iludia: cinema, jogo, praia, viagens de fim-de-semana. Também isso se perdeu. Ao fim (nem tanto: quarenta anos), restei numa exaustão conformada, fitando a parede branca, asas tortas se debatendo em silêncio. Mas a capacidade de ficar sozinho alimentou minha soberba: a sensação de liberdade, a ilusão da escolha.