quarta-feira, setembro 14, 2005


Defenestração:.

Uma família de classe média alta. pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho fez sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa "é o cansaço". Afinal ele passou o dia correndo de um lado para outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados por dentro e por fora da casa. Tem que estar cansado.
- Quanto presente, einh, filho/
- É.
- E esta espada? Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.
- Pai...
- E como pesa! Parece uma espada de verdade. É de metal mesmo. Quem foi que deu?
- Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu nenhum garoto de sete anos sério assim. Solene assim. Coisa estranha... O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
- Pai, eu sou Thunder Boy.
- Thunder Boy?
- Garoto trovão.
- Muito bem, meu filho. Agora vamos para cama.
- Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse sete anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos estava ajudando a gramática do guri. "Eu a receberia..." O guri continuna.
- Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo thunder boy, a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhada por Ramil, o primeiro garoto-trovão.
O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.
- Certo filho. Mas agora vamos...
- Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era o meu destino.
- Nós nunca mais vamos ver você? - pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho, enquanto o encaminha sutilmente para a cama.
- Claro que sim. A espada do thunder boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com minha ajuda.
- Ainda bem - diz o pai.
E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus "Ramil!". E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.

O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
- Viu só? Trovoada. Vá entender esse tempo.
- Quem foi que deu a espada para ele?
- Não foi você? Pensei que tivesse sido você.
- Tenho uma coisa para te contar.
- O que é?
- Senta, primeiro.

Fim da crônica-comédia do Luis Fernando Veríssimo. Depois disso garotinhos deveriam fazer uma analise - o que entenderam do texto? Se bem que piada a gente não explica, mas vá entender a professora e sua tarefa. Pergunta o menino: "mãe, qual é a compreensão do final pra você?" Ah, eu achei que ele era o Thunder boy, foi para o espaço, e o pai agora teria que acreditar em outros mistérios que ele não compreendia mais. "O menino, sério, olha espantando". Mãe, eu entendi completamente de outra forma, lê aqui: (blábláblá), e no final a espada , pelo metal, atrai um raio, e o menino e esta são transformados em pó, ficando azuis diante do apoplético pai. Como explicar a sua mãe que seu filho agora não existia, por causa de um raio, prenunciando tempestade? Tudo por causa daquela bobagem de histórias em quadrinhos...

Diante de tal situação, fiquei pasma. Acho que não sei mais interpretar textos. Hoje em dia está tudo mais "carregado" de preto do que minha mente consegue colorir.

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