sexta-feira, setembro 02, 2005


Soluçar:.

Depois que a gente começa, sempre há o hábito a nos torturar. Quando faltam palavras, quem nos traz as benditas pra colocar pra fora o que teima em se fixar por dentro. Busquei no Fabrício. E transmutei-as; porque como diria Beatriz-pequena, "eu sou menina, tenho perereca". Ficou assim: As palavras dele, com tons melodramáticos de espanhola-morta_viva rosada e florida. Um horror, tomara que ele jamais saiba dessa imperfeição. Por ora, desculpas devidas pela intromissão virtual...
Sempre tive medo de fracassar na vida. E hoje me sinto o próprio fracasso. Seria desnecessário me assombrar mais, ao colocar aqui o susto de mim. Mas resta-me ser descoberta. No fundo, talvez desejasse saber que não contei com outra alternativa. Não acreditei em mim porque todos executavam essa tarefa com perfeição - e quem ousaria duvidar da menininha-em-perfeita-harmonia? Todos acreditavam em meu lugar. Como desejava que algum colega tivesse feito o difícil trabalho de confiar em mim, que é o que nunca consegui fazer, e me dado um pouco de folga. Queria dizer "cuide de minha vida, que já volto", assim como quem deixa um par de chinelos na areia para mergulhar. Quem sabe não retornasse, e aí, fico imaginando esse pobre coitado, com fardos a mais nas costas... Não, as havaianas na praia iriam me deixar com sentimento de culpa presente eternamente. Desde que nasci, não encontrei descanso, sujeita a perder-se a qualquer instante, o que fiz em vários e derradeiros momentos dessa trégua-vida. E quando dei por mim, descobri não é se matando que me tornarei importante em minha vida. Não é me abandonando que me tornarei importante em minha vida. Não é fugindo que me tornarei importante em minha vida. É amando o que me faltava amar: eu., escondida, a menina que gostaria de ter milhões de livros e uma avó pra saborear histórias numa cadeira em varanda. Não sou de chorar. Quando estremeço, sou de abraçar, de costas para as lágrimas. Detesto perder a força que penso e teimo em ter diariamente. Não sobrei em casa, careci. Durmo até hoje encolhida. Escrevo por excesso de memória, pela fartura de vivência e aventura, anoto compromissos em agendas, distribui relógios ao redor, e assim sempre estou atrasada - mas jamais em preencher os dias em que vivo. Nas redações escolares, odiava temas como "conte-me suas férias", gosto do novo, do surreal, do que me surpreenda. E sou capaz de plagiar os alegres veraneios da menina ao lado, só pra não cair nas mesmices de todo-ano. Minhas mentiras são necessárias pelo simples fato de que não existem às vezes preparo de palavras para substitui-las. Em apuros, tomo a memória de alguns como se fosse minha. Mas modifico-as, alterando-as para que se tornem a minha cara. Redonda e já idosa. Penélope com síndrome de Perséfone. Nem Jung salvaria desse amadurecimento envelhecido, onde foi surrupiado o que mais me preenchia. O que me faz soluçar ainda mais forte é que, sem ser virginiana, tudo que me contorna insiste em dividir a minha vida - amorosa, financeira, a carreira, os filhos; como se eu fosse um daqueles compartimentos de ferro, cheios de gaveta, e cada qual devesse mostrar sua eficiência em belas pastas devidamente organizadas e aramadas. Que bela droga se abrisse esse dito arquivo de aço e constatassem que as gavetas estão vazias: não por falta de pastas, mas por insurgir-me contra tudo o que me bloqueia. E hoje, ao me deparar com aquela clássica abertura do Banco, uma nova frase em negrito havia: Sua vida Financeira. Tristeza, de repente decidiram que ela se resume àquela página, em vermelho muitas vezes. Sou um fracasso - constato.

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