quarta-feira, setembro 28, 2005


Última canção:.

Não lembrava exatamente o dia, mas era começo de carnaval. Passaram a noite celebrando o que os unia - total entrega e paixão. E, não se sabe porque nem como, terminaram dentro do carro, em franca discussão. O que não faz a razão, quando sobeja o coração? Naquele momento ele retirou a mão que tinha ficado horas acalentando a mão dela, e colocou-a no volante, como se para convencer-se de que agora estava no controle da situação, e era o rumo certo. Apenas a tristeza como terceira passageira; parados os três ali, em plena madrugada. Pelo medo de seguir a paixão, e morrer de tanto amor. Ela abriu a porta do carro com força, e ele alcançou seu braço no mesmo instante, implorando que deixasse-o conduzir as coisas, que era melhor assim, ninguém sobreviveria vivo mergulhando num amor que exigia tudo, até a própria vida. Ele tinha medo. Ela deixou as lágrimas escorrerem - eram muitas, e muito também o tempo segurando-as. Deixou-se ser real, largando a máscara de mulher forte, e suavemente colocou a mão em cima da dele. Perguntou-lhe se tinha absoluta certeza do que acabava de decidir - podia ser que anos passassem até que novamente eles tivessem a chance de serem felizes, amando sendo amados. Não consigo agora, não é o momento, disse engasgando-se e olhando para outro lado. Ela resolveu acatar sua decisão, e antes soprou ao seu ouvido: "Um pedaço de mim fica aqui, mas levará muito tempo até que você me convença novamente dos seus sentimentos. Eu vou sair e nenhuma vez vou olhar para trás. Porque eu também sei ocultar sentimentos, e fingir uma vida que não vivo. Vai doer em mim, eu sei que vou me destruir, mas você e eu ficamos assim - sempre que você olhar pra sua mão, vai lembrar de algo que não viveu. E do medo." Fechou com cuidado a porta, e tentando aparentar calma e tranquilidade, atravessou a rua, seguindo adiante. Ouviu o barulho do carro, a partida, e tudo o que ficou no silêncio daquele amanhecer foi a canção que tocava naquela rádio - Um dia, um adeus, eu indo embora... Nunca mais ouviu Guilherme Arantes. Mas até hoje espera a mão daquele amor na sua. Porque um amor assim não parte sem saciar-se.

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