quarta-feira, setembro 28, 2005


Salam:.


Há um ditado judaico que costumo carregar dentro de mim: "A boca fala do que está cheio o coração". Outro dito que grita alto é: "nada que acontece no seu presente não é consequência de ação sua". Costumo tentar, antes de empreender algum ato, ouvir demoradamente essa sina. Porque acredito em destino, responsabilidade e moralidade. E quando todas as janelas se fecham, aprisionando-me numa redoma 'perturbadora', tento colocar enfase na esperança, e olhos ao redor do que me contorna. Os livros que estão por cima da escrivaninha dizem muito sobre o presente e muita coisa já adveio premonitoriamente em forma de entrelinhas cruzadas. Quando li hoje o Rubem alves, na Folha, algo estalou dentro de mim. Porque foi justamente tema de conversa há sete dias - "tudo dói muito forte dentro de mim". E isso impossibilita muita coisa nesse mundo capitalista em que vivemos - principalmente entrada de dinheiro. Não consigo "não sofrer" junto com a dor alheia. Só o que pedi foi "como conseguir trazer a Tirana de dentro de mim?" Lendo meu adorado escritor, ele questiona o contrário: "Como se pode ensinar a compaixão?" Quando eu vejo uma pessoa sofrendo, eu sofro também. O meu coração fica com o coração dela.(...)A compaixão é uma maneira de sentir. É dela que brota ética. (...)De que vale o conhecimento sem compaixão?" Tudo o que sei é que compaixão em demasia faz seu caminho ser tomado pelo mar, todos os dias. você houve aquele seu amigo fenecer diante de um acontecimento, e carrega aquilo consigo. Vê seus pais sofrerem por algo, e faz misérias para extinguir cada lágrima caída. Olha sua irmã cair diante de um comentário maldoso, e sente-se exprimida por dentro. Travo batalhas que não são minhas, carrego cruzes alheias, caminho com sapatos de outros... e me perco do meu caminho, pois cada onda leva embora tanta coisa. Não há cura - já tentei de tudo, e o máximo que consegui foi me afastar, pra poder prosseguir. Muitas vezes imagino se de repente essa não é minha cruz - ficar em tudo quanto meu olhar se depara atentamente. Melusina, com os grilhões inferiores de pedra, ou de plantas aquáticas, a mulher-criança, segundo Breton. Ando aprendendo a atravessar a rua, e evitar o que me deixaria pela metade, pelo simples prazer de querer sorrir...

Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida
em tudo quanto olhei fiquei em parte.
Com tudo quantovi, se passa, passo.
Nem distingue a memória do que vi
do que fui.

Fernando Pessoa

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