quarta-feira, junho 28, 2006


.:Carola-Espera:.

.:Carola. De frente pra Janela. Quando chega junho, como julho demora pra se avistar... Não vejo bandeira nenhuma, em alto-mar. Nada que indique retorno. Procissão. De joelhos, escadaria. Promessas vazias... Por falar em Saudades, nesse tempo-de-espera, Onde anda você, além do país-em-ebulição? E por falar em paixão, em razão de viver... Você bem que podia me aparecer, nesses mesmos lugares... na noite, nos bares. Onde anda você?:.

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*Vinicius De Moraes:.

Colo e cafuné:.


.:Desalinho e Trança:.
De cabeça pra baixo! .:Reviro o mundo, encontro e desencontro o fio do começo, perco novamente, só pela alegria que eu tenho de reencontrar, agora que sei onde e como achar... Faz tempo que as águas, desanimadas, não subiam para encontro do Oceano Aberto. Um buraco no cotidiano, e minha chance, entre dez outras mais urgentes - sim, eu sei: apesar de preparar, pesquisar, comprar livros e montar graficamente na minha mente o roteiro daquilo que deve ser entregue, tudo vai para o papel somente nas últimas 24 horas do prazo. Já tentei de tudo: começar do fim, partir do título, laptop na cama, mas sinto falta da máquina de escrever... aquela que um dia "alguém amigo" levou para comprar o correto cartucho no exterior ao lado, denominado Paraguai, país descamado, suponho que foi abduzido. A máquina e sua lembrança do meu bem. Eu gostava dela porque ela se enfiava comigo em qualquer lugar. Não trazia olhares de inveja, e nem me incomodava com o medo de perde-la, pelo seu valor material - coisa que o Laptop faz. Bem, outra coisa que é difícil fazer é "cobrar" algo - dinheiro, livro, bem móvel... Por isso não empresto mais nada. Só para quem aceita assinar devido contrato de devolução, com data para tal ato. No ato de ser formal, me deslancho da passional, e me desmancho em perfeccionismo e detalhes. A terceira e derradeira coisa que farei até o fim é "fazer dez coisas ao mesmo tempo", cinco concentradas, cada uma com um sentido, as outras rolando dentro de mim, sendo relembradas, o sorriso aberto, pelas faceirices da vida - cada peça que me prega, sou o botão que sempre cai. Quando acho que o foco está demais, já me sentindo a própria arte-trabalho, tenho que me dar dois dedos de regalos - pra matar a vontade de comer amêndoa colorida, que aqui não tem. Fui de canoa, devagar, pela orla, até essa moça, pimenteira e poetisa, lá em cima, alto astral - mas comigo Chico Buarque está fora da linha, após proferir o dito conteúdo de seu voto eleitoral. Me recuso a ler ou ouvir qualquer coisa de alguém que não levanta a mão pra agir, porém adora o copo de uísque importado, e contraditas maliciosas. Sarcasmo, ironia e o riso aberto é fácil, pra quem nasceu em berço-de-letras, com extensa árvore cheia de palavras e história famosa, raízes já bem arraigadas em solo fértil. E no final, nem era dele que eu queria falar, era do post da Moça, que chamava "Meus Homens". A associação me levou a Beatriz, peça linda e rara essa menina, doce e ardida criatura, que me ensina a cada dia o que é ser e poder transcender limites. Mania de tesoura, tenho que recortar o que não me devora, o resto é direito da Priscila, que postou lá embaixo, no seu blog bom-demais-de-ir - sim, eu preciso de palavras de outros, pra poder me justificar após e dizer que "jamais aquilo que disse, ousei falar, era tudo de outro, há provas cabais". John Grisham mora em mim, e eu sonho em alcançar a abrangência de sua mente lógica e analítica. Voltando "Aos Homens" da Priscila, colorindo pra lembrar que metade é dela, a outra metade nem sei quem fui que fiz. Sim, não tive Homem ao meu lado. Nenhum, porque Homem eu considero alguém metade meu pai, a outra metade o fundo de mim. Há Homens, eu sei, conheci - mas ELE me deixou abrir a porta, e sair. Gosto do que é, ao mesmo tempo, verdade e oculto, ninho e vidro cortante. Porque me fascina o realismo, a alma humana é dual, cheia de mistérios... Mas ele me ninou. Porque foi com ele que aprendi a chorar. Não, não eram pancadas - mas sentia lá dentro que aquilo a cada dia eu mais distante do Oceano, já mar e quase rio Paraná. Seria Suicídio imaginar-me esse rio encardido, cheio de contrabando. Mas ele desenhava: tinha lápis e tintas. Eu nunca mexi por ali, porque ele fazia a arte. E eu guardava. Tudo que colocava no papel. Eu lhe ensinei a desdenhar e a infernizar. A gritar e a brigar pelo que se quer. A ir embora, virar as costas, e chorar. ele ensinou que a idade também pode trazer medo, ilusão e desconfiança. Desapego e egoísmo. Desarmonia e solidão. Não foi Dante como um amigo, que galgou até o inferno pra ter sua Beatriz com ele - foi rei Herodes, dizendo "matem as criancinhas", contando que jamais quis alguma. Era pai por dever-ser, por peso-na-consciência, mas quando viu que podiam andar sozinhos até a escola, foi embora. Era uma peça que nunca coube no meu quebra-cabeças, e tornar-me sua peça ideal me matou. Sim, ele chora... chorou. Lágrimas de crocodilo, pois quem sempre faz algo, não me desafia nem me mostra valentia. É algo banal. Não me ouvia, teve paciência com algumas descobertas, emburrava com meus ataques de fúria, e brigava pelo seu pijama, que sempre usei pra dormir. Numa guerra sou muito boa, jogava war, e a menina má é quase-perfeita-em-si. Por isso todos os dias alimento o outro lado: pra deixar faminto o lobo que me domina, quem sabe ele não evapora, pois até hoje vive, acho que de prana. E eu confiava nele. Hoje eu guardei num CD, no albúm da Beatriz, pra-quando-ela-crescer, poder apreciar os emails que ele enviou - desconexos, só falando na primeira pessoa e não sabendo quem eu sou. Herodes gostava que eu dormisse, dizia que assim eu não guerreava - ah, tolo rei, marte não pára em frente a outra linha, vai pra cima, sempre. Hoje ele nem me é estranho, e jamais vou esbarrar pela rua com sua figura. É apenas, em alguns momentos, sorrisos diante da figura de Beatriz. Fotocópia interna, deve ser uma espécie de dharma, pois ela tem o melhor dele, e o que ele achava pior em mim. Eu fiquei com a menininha, e deixei o bebê que ele sempre foi pra trás. Sim, ele dormia atracado, comigo, mãos, pernas, cabelos, para ter certeza de que a noite não me tragaria. Me olhava com seus enormes olhos tristes e sorria com aquela boquinha pequena e rosada que me desconsolava, porque nunca sabia qual seria seu humor do dia. Transtorno bipolar com DDA. Me beijava sempre, o tempo inteiro, Seus enormes olhos continuam tristes. Uma tristeza serena que se esvai com seu sorriso ainda mais infeliz. Só faltou a cor azul, pra ser agora idêntico ao seu pai. Tudo o que ele não queria, foi. Tudo que abominava, fez. Olho Beatriz andando com o mesmo passo, os mesmos trejeitos. Olho o meu bebê. Grande, lindoca e cheia de graça, forte, distante... Procurando esconderijos, se embrenhando no meu colo, agarrada a minhas pernas, pedindo "pra eu não bater a porta na cara dela". É, é o jeito que ela vê o que acontece quando eu saio sem ela. Meu lado dramático, junto com a novela da azulzinha Mexicana que embalou nosso romance.

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.:Asas e Vôo:.
flying
.:A diferença, crucial, aqui, é que costumo fazer o que o poeta da outra margem aconselha: mesmo sangrando, cavar e enterrar. Vivo. Sou a Kate, abrangendo a porta inteira, e afagando os seus cabelos, contando historinhas e dizendo que não precisa ter medo - lá no fundo, o frio acabou com tudo - até com os bichos-papões. Oh, Jake, não, não vá, tente.... viva por nós. E a mão continua firme, não empurrando, apenas não deixando mais vir à tona. Afogado. Nunca olho para trás. Prefiro ver na minha frente, sob outro espírito, encarnado em outro corpo, um pedaço daquilo que me encantou. Beatriz-tinhosa, que há tudo dizia "Mardito", e só hoje passei pela TV e vi o Barão, pai da Sinhá-moça, falar umas trinta vezes essa palavra ridícula. Beatriz-cachorra, que pediu pra tomar um solzinho, e cavou um buraco enorme, junto com o novo-cão, destruiu as flores, todo o adubo na calçada, 8 carrapatos no cão (precisou ir pro veterinário tomar banho!), e ela, de molho, agua-quente com vinagre. Beatriz-tão-crente, que segura a minha mão e diz bem rápido: "mãe, vê se não me perde nas Americanas quando eu me perder de mim". Ela vai, passa a mão na Barbie-que-tem-asas, nina, senta no chão. E enquanto eu faço a festa, na seção de livros, ela voa no sonho de consumo: Ter a Barbie-Fada, que nem conheço, pra não ter peso e culpa por não poder comprar. Depois, sonho que a gente acalanta, e não ganha, mas sua pra conquistar, é bônus, prece, benção. Raio de sol em chuva de verão. Queria poder terminar com a frase da Moça, mas nem com favo de mel: na realidade, meus homens nunca valeram nada. Nem tostão furado. Eu fico com o fruto, eles eu enterro, afogo e esqueço. Pra jamais voltar como assombração. Na verdade, eu deveria fazer seguro-de-vida pra cada um: pois quando a gente faz na mente tão fortemente, dizem que tudo acontece na realidade dos dias. Beatriz-quer-asas, por isso se encanta com Barbie. Com a possibilidade de, na primeira oportunidade, tirar aquilo da boneca e colar em suas costas. Pra isso eu preciso de encanto. E magia.

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.:Theresa, aí de Mim:.
No segundo quadro, SEMPRE, e MAIS, a alegoria-fina que é CarpiNejar:.. Entro pisando devagarinho, leio tudo bem pausadamente, querendo apoderar-me de todas as palavras, olhando cada quadro, encantada. Onde acha tanta arte, como costura tanto botão? Deve ser agulha e linha, pra poder cozer assim. Eu, simples botão... com a vida me dando nó, pregando em lugares errados, me deixando dependurada, quase-quase naquela linha fina e bamba... Um dia, eu kit-inteiro. Chego lá. Por enquanto, ainda Joana, recorro a Teresa do Poeta, recorto umas partes e deixo o pedaço que me toca aqui. Pra parede colorir, e o Oceano ficar mais brando... .:Não desista Teresa, não desista da vida, mesmo que seja mais um dia nublado, com os pés da chuva doendo. Não desista, ainda que tenha trocado o sono pelo cansaço, que a distância ao quarto seja uma colméia exasperante de pássaros. Cansada de argumentar a seu favor. Cansada de defender seus pontos de vista. Cansada de explicar o que estava passeando em seus ouvidos. Cansada de ser vista como bruxa só porque pressente, ser vista como estranha porque se antecipa, ser vista diferente porque escreve, ser vista como perigosa porque ama sem a ênfase da recompensa. Cansada, cansada, cansada do excesso de sensibilidade, de fechar as cortinas para permanecer nua. Cansada de não adoecer porque, desde a infância, precisa justificar seu nascimento para os olhos negros da mãe. Porque precisou se levantar cedo para ir à escola, para ir à igreja, para ir ao trabalho, para ir. E quando não ia, fugia. Fugia da ditadura, da resistência, do preconceito. Sempre havia um lugar para mantê-la fora de casa. O que é vício nos cala, o que é virtude também. Acenda as pedras. Cubra as rachaduras dos livros com cuspe e argila. As regras não são os limites. Desobedeça mais uma vez as normas. Faça de conta que não ouviu.

Eu, agora, Dhyanna thereza, mãozinha dada com Beatriz. Tereza diana ou Beatriz .:Essa Tereza sou eu, só faltou o H, que é o oculto que sempre fica. O mar passa ao lado do sangue. Não desista, nade com um único braço, voe com uma única perna, prefiro asa, da Barbie-boba. (...) Não desista, seu tornozelo é uma ostra que desliza melhor do que os peixes. Não desista. Se há um pouco de sede, há raiva dentro do amor. Se há um pouco de fome, ainda lavará a boca do travo cinza da despedida. Não dê por encerrada a vida, não espere ser levada, use as unhas dos cabelos para não deixar seu lugar no mundo. Chore, mas não desista. Já bebeu a luz como vidro, já bebeu a luz como vinho, já bebeu a luz como vespas. Mas a luz ainda não a bebeu toda. Não desista, Teresa. Ontem não foi seu grande dia. Não deixe a cama tirar as medidas de seu vestido. (...) Aperte as cordas da guitarra, a guitarra tentou se matar cortando os pulsos. Vamos enfaixar as mãos da música e fazê-la dormir em nossos braços. A guitarra é uma criança mais bonita de tranças. Eu não sei fazer tranças, Teresa. Não desista Teresa, a dor é anônima e não nos pertence, a dor assusta para nos proteger. Põe a língua no selo para mandar uma carta, amarre os sapatos do pacote, mas não vá. Eu não sei chegar em mim sem que esteja me esperando:.

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.:Mão-que-não-se-larga:.

.:Tomara que esse Poeta esteja errado, e que Amores que um dia lá de-trás-os montes, quase Andaluzia, possam voltar ao seu domínio, e se moldarem, em algum lugar se darem a mão. Se não for assim, rabisco pontes, faço aquarela, até compro o jogo de xadrez-cristal em Assuncion. Pra conquistar o Oceano, me faço mar-tereza, avante, avante... Mesmo que isso esfole meus dedos, lavadeira no tanque, a dor não me amedronta mais. Nem barata, nem rato. Apenas hoje sinto o que Oceano sentia lá atrás, quando dizia: "Pra que, mais um dia, levantar, sair da cama?" Eu ria, e falava: "Maluco-Azulado, Metamorfose estragada, nunca me senti assim. Como posso te ajudar, se nem imagino o que é não sorrir a cada luz do sol? Abro as janelas, vento na cara, oi pro limoeiro, e me vou..." Mão a palmatória. Eu sei nesse momento. O que é ir tão fundo, e demorar pra vir a tona. Dói. Ainda mais do outro lado do seu caminho. Sem poder me azular e zulir com você e seu jeito matreiro. É, não são asas do que preciso agora, são de nadadeiras. Serve também escafandro. Melhor ainda? Uma mão ou mola, pra eu poder ir mais rápido na jornada, em busca daquilo que me chama desde que me dei por mim.

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Asas de Um Anjo-Azul:.
MarDeanjo
.:Pra Terminar, algo Dele aqui , que sutilmente empresto. Sonhos de Ícaro: dos meus inúmeros sonhos, alguns já se foram; outros se realizaram, houveram aqueles que foram podados, e outros trancafiados em caixa-demadeira-marfim. Mas há ainda aqueles que persistem, como a a onda do mar: vão e vêm, sempre lembrando do quão vitais e essenciais são... O importante é saber que caminho por estradas livre de qualquer mágoa ou ressentimento. Deixando para trás imenso fardo, descosturado em alguma fenda na areia. Problemas dos outros não fazem parte das páginas da minha Vida.

sábado, junho 24, 2006


Um Amor é como Argila:.

Girassol na Janela
.:Girassol-na-janela, típico canceriano, mas nascido sob o signo nada hospitaleiro de virgem, foi empurrado por forte tempestade, em direção à vida que lhe deram ao nascer. Já estava atolado em amplo lamaçal, enraizado há decadas... e, num de-repenteco daqueles que nos fazem pronunciar o nome de Deus em vão, muitas vezes nem só pra pedir ajuda, foi tragado pela jornada do coração, despetalando-se conforme caminhava, soltando-se para poder polinizar o mundo e o seu coração:.

Teve, nessa história, meio que um meio, mas foi o início de um par nada justificável: por uma janela, saltou uma flor...pra alegria de outra, que esperava no descanso, junto às roseiras. Sim, duas flores diferentes, de cores contrastantes, que se encontravam por uma janela, em determinado momento onde não havia portas para elas, apenas aquele sol-esperança, Deus-confiança. Mas um amor assim, tão desigual, tão absurdo e surreal, e ao mesmo tempo minimalista, tem condições de florescer a vida inteira? Bem, abram a janela e apreciem...

Tulipa apreciada.:Tulipa firme e forte; girassol, uma espera, nasceu virado pra lua, querendo saber se "realmente" todas as bordas encaixariam-se, pra arriscar a sair de seu grupo e descampado. Diria que consegue transformar seu amor em platonismo, tal a forma de se dispor a se moldar pela Vida. Porém, todos os dias a Natureza prova que o Amor não é aquilo que a gente quer, sonha ou deseja muito - é uma série de "senãos", de opções e concessões, e, principalmente, de "baixar a guarda", e deixar-se levar pelo furacão de Dorothy, subindo e subindo, sem saber onde vai parar... A certeza é que juntos poderão se tornar melhores, conquistar sonhos e realizar sua missão - unindo as partes de todos os amigos de Oz, nem precisam matar bruxas ou beijar sapos. Apenas apostar no diferente da gente.

quinta-feira, junho 22, 2006


Quatrilho:.

Quatro lavadeiras, quatro mulheres-surreais, ramos de uma mesma videira. Sobreviventes de uma mesma família, o elo que as liga é a tradição, o sobrenome, a mesma história-que-assusta os corações... O pesar de perder o Grande amor por acreditar em Segurança. Todo dia se debruçam no rio, cada qual a seu tempo, e escoram-se em pedras, lavando as roupas de toda uma geração... Enquanto lavam, esfregam lembranças, tentam desaguar as lágrimas, fingem olhares e sorrisos, alma em desalento. Não é pecado ser triste. Não há culpa em chorar, nem ter dias-cinzas pela margem da vida-inteira. A vida é feita de escolhas; a felicidade é nossa opção. Sim, chorem, se debrucem, consolem-se nas águas do rio. Deixem que as folhas do Jacarandá levem a história-que-se-foi, não voltará. Olhem para cima, não há cor, mas há flores dentro de cada uma. Janelas esperando serem abertas. O amor se foi, mas o coração está ali, apertado, amargurado. Liberte-o. Não é crime chorar. Toda mulher pode, sim, lamuriar-se... porque há dentro delas uma força que após cada tempestade, troveja alto e as ergue, maior que sua dor. Uma janela. Para cada uma das 4 lavadeiras. Para sonharem, e colorirem todos os dias a tristeza de seu semblante.

quarta-feira, junho 21, 2006


do Momento:.

Não sou fã do Galvão Bueno; porém acredito em muitas qualidades suas. Também inocentemente acredito que o MINUTO DO BUSSUNDA deve ter-se perdido na transição da Alemanha para o Brasil, na partida idiota de futebol, feita por uma seleção brasileira que mostra PERFEITAMENTE o estado lastimável de nosso país. O importante é a vitória. Para mim, o importante é o minuto do Bussunda. Aliás, eu exijo isso - o minuto dele de volta. Porque, sinceramente, ele era mais importante para mim do que todos aqueles jogadores correndo atrás da bola. Sem o Bussunda, como aguentar até outubro o tal que dita ordens lá em cima, em Brasília? Pelo Bussunda, eu páro de escrever, e chego até a opinar. Aliás, se ele dissesse antes - votem no Alckmin, eu faria passeata em prol desse médico-político. Sim, sou Bussunda, PSDB e dissidente de toda a burguesia que bebe uísque importado, e elege políticos que não sabem falar. O pior: não se interessam em aprender. Isso sim, é a tolice humana mais execrável. Pesco por último as palavras de Isócrates, pra finalizar este instante: Que ninguém pense, no entanto, que na minha opinião a prática da justiça possa ser ensinada. Não há nenhum caminho para uma arte que traga sabedoria e justiça a quem não tenha inclinações para a virtude.

Palavras são como serpentes:.


.:"A palavra é uma poderosa senhora que, embora dotada de um corpo muito pequeno e invisível, realiza as obras mais divinas; ela pode acabar com o temor, tirar a dor, suscitar a alegria e aumentar a compaixão. Quem a escuta é invadido por um calafrio de terror, por uma compaixão que arranca as lágrimas e deixa um ardente desejo de dor. Mas o fascínio divino que suscita a palavra é também geradora de prazer e pode liberar dor. A força da sedução, acompanhada da opinião da alma, a seduz e a persuade, e a transforma por meio de seu encanto":.


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Retirado do texto : O Encontro de Helena, onde o filósofo Górgias tece um célebre elogio ao poder da palavra, dominadora dos afetos e das paixões do homem, algumas vezes serpentes no coração.

sábado, junho 17, 2006


Fada-dos-desejos:.

O Homem que fazia chover
Neste livro de John Grisham, jovens advogados precisam defender suas carreiras, suas reputações - ou mesmo suas vidas - com inteligência, talento e auto-confiança, e isto parece ser a paixão (literariamente falando) de Grisham. Aqui, o advogado é Rudy Baylor, sem sobrenome e tradição de renome no ramo jurídico, já é um "sem sorte", relegado à fila de labuta, labor, lágrimas e muita, mas muita paciência e pouco dinheiro. Se bem que no seu caso ele inicia sua carreira, de maneira promissória, num escritório de advocacia - porém este sucumbe à concorrência à três semanas de sua formatura. Na bancarrota, sem trabalho e com poucas chances de encontrar algum [profissão que mais precisa de um QI na atualidade], há coisas piores para chover na horta deste desamparado causídico: pode ser despejado de sua casa e ter outros problemas com a justiça. O que ele precisa é de um cliente, que lhe garanta algum dinheiro rapidamente, uma super-causa, e encontra duas possibilidades: o de uma viúva e seus milhões inacessíveis, e o da morte de um rapaz por causa da negligência de uma companhia de seguros. Bem, aí veremos sua empreitada para enfrentar os super-advogados da companhia de seguros, que têm muito a perder e investem pesado na derrota de Rudy. Mas para Rudy, só interessa a vitória - por si e pelos seus clientes - perder poderia custar sua vida; vencer o tornaria um homem capaz até de fazer chover.

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Super LivroCinderela Chinesa
Livro de Adeline Yen Mah, quinta filha de um milionário chinês, Adeline perdeu a mãe apenas duas semanas depois de nascer. Além de sofrer com a hostilidade dos irmãos, que a responsabilizam pela morte da mãe, Adelaine ainda sofrerá com a indiferença do pai e a crueldade da madrasta. A segunda mulher de seu pai despreza os filhos do casamento anterior, e faz com que vivam sem recursos, limitados a três refeições diárias e direito a apenas uma muda de roupa, além do uniforme escolar. O pai ignora o que acontece em sua casa, deixando o terreno livre para a madrasta (Lembra contos de fadas, João e Maria, não?). Por ter ousado contrariá-la, e por apresentar um rendimento exemplar na escola, a madrasta começa a infernizar Adeline, que padece em suas mãos. Sei, parece mesmo coisa-de-fábula-Cinderela. Adeline é afastada da casa por obra e persuasão da Madrasta, e acaba num colégio interno, sem visitas nem presentes, e é nos livros que encontrará refúgio para sua tristeza e solidão. Serão essas leituras que farão sua redenção ao final: contando catorze anos, ela se inscreve em um concurso internacional de peças teatrais para alunos de língua inglesa, e ganha o primeiro lugar. A partir daí, Adeline tem a chance de escapar do seu destino. O resultado dessa experiência extraordinária é Cinderela chinesa, best-seller internacional, que fala com sensibilidade sobre a superação de uma infância extremamente infeliz. Essa autora consegue transmitir sentimentos por palavras, coisa de quem passou por tudo que coloca no papel. O melhor de tudo: custa menos de R$ 25,00.
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Dois livros importantes, um para reler e lembrar de como a ética na profissão é fundamental; o outro para relembrar meus dias de menina-desencantada, que sonhava em ser, e não sabia que para isso era preciso uma longa jornada, com inclusão de podas, dor, perdas e muitas lágrimas para regar nossa alma-flor. O poder da retórica, a magia da dúvida e persuação.

quinta-feira, junho 15, 2006


Cada qual pode ser o Tal:.

Todo mundo tem a chance de ser "aquilo que é de seu destino", exemplarmente e com dignidade, nesta vida. Sakyamuni, no budismo, compara três tipos de ervas e dois tipos de árvores com estados de nossa vida. As ervas inferiores correspondem às pessoas no estado de Tranquilidade e Alegria; as ervas comuns, às de Erudição e Absorção; e as ervas superiores, às de Bodhisattva, que buscam a auto-perfeição. Quanto às árvores, as pequenas indicam os bodhisattvas, que dedicam sua vida ao caminho do Buda, praticando sempre o altruísmo. As árvores grandes indicam os bodhisattvas que se esforçam para salvar muitas pessoas. "O ensino imparcial do Buda pode ser comparado à chuva. Entretanto, a compreensão das pessoas difere, assim como as plantas e as árvores recebem diferentemente a chuva". Mas a chuva benéfica acaba, no final, nutrindo todas as espécies de plantas e árvores, fazendo com que, sem exceção, dêem flores e frutos.

quarta-feira, junho 14, 2006


Quando uma mulher amanhece:.

Num momento de turbulência, questionamentos, reavaliações e conquistas, surge um símbolo, permeando a estrada, possibilitando identificações, sentimentos e simbolismos. Borboletas no caminho do coração, em busca de um novo amanhecer. Minhas asas exigem equilíbrio e uma força sobrenatural aflora, constantemente, quando penso em desistir do vôo, após tantas pedras... Me assusto com aproximações, temores em relação a questões íntimas. Valores da minha vida, emoções contraditórias, ao mesmo tempo, quão profundamente enriquecedor é poder Ser Livre, crescer interiormente, sem preocupar-se com pré-julgamentos ou olhares indiscretos. "Os outros são apenas outros, agora". Lógico que há ainda armadilhas, descobertas, mas conto com um auxílio poderoso: as borboletas estão alvoroçadas dentro de mim. Fascinante essa paixão pela vida e por Lavanda. A partir do momento em que abracei uma crença, um ideal e um amor, as borboletas começaram a aparecer em tudo que me rodeia: cartões, papéis de presente, livros, pesos de papéis, desenhos, figuras, imagens... Em sonhos, no meu cotidiano, eloquentes e sagradas manifestações de benções na minha vida. Porém, francamente, não sou tão boazinha assim - e esse negócio de fixação com borboletas nunca tive, não. Nem libélulas. Acho que já está de bom tamanho, Deus, entendi a mensagem. Agora, que tal mudar o símbolo, o sonho, e trazer nova maré para essa praia? Janelas. Tulipas. Lavanda. Pedras. Escolhe entre esses, e, junto com os meandros da estrada, coloca lado-a-lado, dinheiro, saúde, amor. Muito dinheiro. Porque aqui, Senhor, sem esse verde-tão-idolatrado, não tem saúde, não tem amor, nem tem personalidade. É tão difícil precisar, e "não ter como objetivo máximo de vida" esse fim. Ainda bem que essa peça chamada ambição não é muito grande no quebra-cabeça que sou. E não incomoda, se acaso eu perdê-la de vista, aspirando a liberdade, igualdade, direitos humanos... e lá se vai novamente, mulher-borboleta, janela aberta, tulipa na mão, lavanda em doação.

Perfume de Mulher:.

Usando metáforas para descrever...Se fosse para dizer como "eu te amo", sem precisar alongar-me em amontoados de palavras ou textos complexos, diria apenas que sou como "Samwise". É, Sr. Linear, aquele personagem do Senhor dos Anéis, cujo livro duvido que leste, porém acho que deve ter visto o filme. "Porque eu sou aquela que não larga aquele que ama, mesmo que o Outro caminhe para a morte, para a fogueira ou para o abismo..." Nas entrelinhas, costuro do avesso a dor que sinto: "Ando precisando de uma sessão de descarrego. Que descarregue de mim toda mágoa e desamor... Que descarregue de minha vida toda lágrima e dor... Ando precisando é de uma maré de Amor. Dando vazão ao mar, depois de ter mergulhado em Oceano Profundo, sem escafandro".

terça-feira, junho 13, 2006


Havia uma pedra:.

Sofia é pedra: ensimesmada, taciturna, flores naturais, selvagens, crescendo como e quando quiserem. Não é de poda, nem de limites - mas de profundeza de oceanos e mares. Sabedoria, conhecimento, sua alma suplica por saber detalhes de cada canto e recanto, "se conhecer", se autorevelar. Nisso, se isola, deixando à vista apenas "o que parece ser", mas não é. Princesa delicada, guarda dentro de si dragão imenso, guardião de sua alma, e ainda tenciona escrever para o mundo, dizendo que "não sabe como", mas é uma mulher completa, mesmo só-consigo. Não é metade de nada, nem de laranja, nem de meia-lua. Apenas Mulher. Dona-de-si. Forja espadas, carrega pedras, executa o que o destino manda - e quando pensa em desistir, se deslumbra com a natureza selvagem, que tão bem lembra a si.

segunda-feira, junho 12, 2006


Lavanda:.

Esta é mais poderosa: alça voôs, ambiciona viagens, coleciona flores. Quer ver o mundo belo, e contribui para isso: "bondade complicada", que muitas vezes prejudica sua vida, por tentar carregar fardo de muitos. Não é preciso dinheiro, não é preciso sucesso, porém esse ramo exige beleza, cantos corretos, flores e perfumes. Alma de lavanda, crítica e mordaz, não se contenta com pouco: é uma flor exigente, da varanda contempla aquilo que já passou. A vida é dor, e cada degrau, uma ferida, que cicatrizou através da flor que brotou. De frente pro mundo. Lavanda, seu nome, coragem de ir, medo de voltar.

sábado, junho 10, 2006


tiger moon:.


Esses dias tenho andado com o adágio Quando Deus fecha sua porta, procure as janelas que se abrem, ensolaradas e amplas, nos sonhos e no cotidiano. Cada janela, uma expressão, uma forma de me ver, de verificar o mundo e o que eu resumo. Tantas de mim, poderíamos ser cada uma, uma janela para o mundo, e juntas formarmos esta casa, este corpo. Que nome teria esse ramo-de-mim, tão romântico, que acredita em parceira-pra-vida toda, e vê a vida com claridade e cumplicidade? Letícia. Meiga, comum, suas ambições materiais são quase nulas: o que ela quer já depositou ali, de frente pra todos verem. Suas flores prediletas, casa ensolarada, abrigo pra sua alma. Letícia, passarinho-azul que saiu e um dia retornou, pela mesma janela, pra descobrir que era ali que estava sua felicidade - na simplicidade de um amor-conivente.

quinta-feira, junho 08, 2006


pra pensar:.

"Até que ponto nossos sentimentos extraem sua cor do mergulho no mundo subterrâneo? Quer dizer, qual é a realidade de qualquer sentimento?"
"Uma mente inquieta: memórias de loucura e instabilidade de humor"
Kay Redfield Jamison.

Margarida, pra lhe falar:.

Escrever usando palavras de outro é um subterfúgio? Fuga? Indica medo de comprometer-se, ou enfatiza que a pedra que todos acham que é pirita é, simplesmente, ouro dentro de mim? Cada qual que faça sua escolha, e lhe pareça como fosse. Escolho a própria máscara, e isto é um gesto voluntário e demanda solicitude. "Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada... Deus meu, se a gente não se guarda, como nos roubam! Na verdade, acho que nosso contato é como se fosse sobrenatural, tudo em momentos sendo feito em silêncio, e numa profunda meditação solitária. Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: "Que Deus me ajude". Venha, Deus, venha, mesmo que eu não mereça, venha. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpfas. Se tanto amor dentro de mim recebi, e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. E traga meu Amor-Certo. Venha, antes que seja tarde demais. Eu mesmo vivo me levantando e caindo de novo, e me levantando... Não sei qual é o bem disso, sei que é dessa forma confusa de vida que ando vivendo, talvez precisando ir onde eu pudesse ser plenamente Eu, e pudesse sentir plenamente o Outro-Meu, sei que chegaria ao meu porto e lar. Você foi o melhor presente de aniversário, numa hora difícil, de grande solidão. O inesperado-bom. O imprevisto. E sempre que estou desanimada, me encho de imprevistos que tivemos, isso me dá sorte. Você, ah, você nunca foi planejado, nem antevisto. É difícil amar pessoas muito centradas em si mesmas, que exige e absorve bastante a pessoa que ama. Porém, esse fato me faz ansiá-lo ainda mais*."

Aceite o fato de que só consigo ser compreendida a partir de dentro, conhecendo os detalhes e ressonâncias de meu passado, a criança espantada, adolescente inquieta, fascinada pelo mundo dos livros, a mulher-criança, angustiada e dividida entre o amor para consigo, e os eternos e cobrados valores sociais. Nesse instante, estará se vendo - porque sou uma pessoa que tem um coração igual, com alma idêntica, percebo as palavras que deixa mudas em seu mundo, sobretudo quando seu coração bate de alegria, seu sorriso se abre, e, levíssimo consegue em uma frase dizer qualquer coisa para que eu me vá, pra bem longe... Reconheço essa espécie de "salvamento". Porque me vejo em cada ponto de você. Falácia, sofismo, noções de culpa e responsabilidade - sim, eu guardo todas as pedras, pra poder construir mais rápido nosso lar. Não se lembre de todas as bobagens que disse, não leve tão a sério os meus nãos, nem o que eu digo, nem o que eu deixo de esconder. Quero ser, contigo, dois que têm a coragem de errarem ao caminhar, procurando e encontrando a saída, sonhar pelos cotovelos, sem nó, sem lã, sem novelos. Não peço mais por favor, eu vou abrindo a estrada, e se me der um pedaço de plutônio, me encarrego de explodir! Viver é mais que um fado, um fato. Mais dia menos dia, nem se espante, talvez você passe por aqui e nos faça.
Trechos do livro Clarice, uma vida que se conta, de Nádia Gotlib.

"Quero acordar de manhã ao teu lado
e aturar qualquer babado
vou ficar apaixonado, no teu seio aconchegado
ver você dormindo e sorrindo
é tudo que eu quero pra mim..."
"A estrada", Cidade Negra.

quarta-feira, junho 07, 2006


desordem e caos:.

Desisti provisoriamente de qualquer decisão mais brusca. A única coisa que me interessa no momento é a lenta cumplicidade da correspondência. Leio para mim as cartas que vou mandar: "Perdoe a retórica. Bobagem para disfarçar carinho." Estou jogando na caixa do correio mais uma carta para você que só me escreve alusões, elidindo fatos e fatos. É irritante ao extremo, eu quero saber qual foi o filme, onde foi, com quem foi. É quase indecente essa tarefa de elisão, ainda mais para mim, para mim! É um abandono quase grave, e barato. Você precisava de uma injeção de neo-realismo, na veia. Da Ana Cristina César, e se o poema foi desconfigurado, me perdoem. Foi uma breve passagem que escrevi, pois os livros dela não fazem parte de mim. Me aprofundo, pra saber o que ela traz de tanto deleite, as edições estão esgotadas, o livro sobre comunicação é horrível... Quero sentir algo, mas o fim que ela escolheu é maior do que sua obra - e passeio os olhos, como distração, não entendendo patavina de nada. Mistura inglês, começa com prosa, sai para um poema, abre para uma carta, e desfalece tudo, quando desperta meu interesse. Desculpe, mas Ana e Plath fizeram uma escolha. Exigiram lá de cima que eu ficasse longe da literatura delas. Porque elas me trazem a memória uma louca mulher que queria-porque-queria sair plainando pela janela, feito borboleta. Suas escritoras prediletas? É, as citadas. Acho que dentro do inconsciente da mulher-loucura, que se achava poetisa e tudo, havia a solução para o seu obscuro presente: a morte tornaria-a especial e famosa - ah, mas o que ela escrevia nem sei se o seu amor lia, de tão fútil, copiado e rimado. Feito rascunho de outras dramáticas mulheres. A minha natureza clama por sutileza, balanço, árvore e um pedaço de madeira, com a devida corda. Cora Coralina, doces de nozes, cheiro de café saindo do fogão à lenha... risos de crianças. Acho que passei do tempo, e fiquei velha por dentro.

As desventuras:.

e Venturas de amor de três fadas-mulheres, em uma de suas vidas. Não percam o diário de Receitas, onde explicam que a magia do amor não é o preparo da comida, mas o visual do local, junto com a imagem da mulher perfumada.

Drama de um Neurótico:.

A história de um corno, que se sentia a uma mínima distância de tudo... Ah, se não tivessem visto a bela donna, minha mulher, em plena luz do dia e de fato, coisa bem provada, eu podia varrer tudo pra baixo da cama, e reiniciar minha história. O problema, o grande caos, é o social. A sociedade exige que eu seja macho e a chute do paraíso. Mas por que eu, justo eu, tenho que ficar sem minha Eva, e suportar as agruras disto tudo, esta vastidão... isso é o inferno, sem minha amada. Mesmo pecadora, continua sendo meu Amor. Vero, vero... e eu vou mais além - digo que até hoje ele deve olhar para esta imagem, e contar que um dia, numa cidade distante, a sociedade já esquecida do "caso", possa ele se declarar novamente a mulher-de-sua vida, e voltar a ser feliz e completo, como foi um dia. Se você segue por pensamentos alheios, podes crer que sua felicidade sempre estará a um dedo de você.

Era uma vez:.

O fogo que abrasava uma mulher. Era tanto, e com tal intensidade, que o drama só foi resolvido quando, comprando uma ventarola, inventou pra-meio-mundo que era "moda" agitar aquele portátil abano. Melhora a cútis, refina a tez...

Mulheres, Musas, serpentes:.

Visões de mulheres, por pintores magistrais. Inspirados por sua musa e companheira? O que encerra o sexo masculino, dentro de si? Tanto imaginário falso ou preconceito formado, quanto suave feminilidade e cativante formosura dos traços femininos que nos compõem? O que atrai, em milhões de seres, justamente nosso olhar para "aquele" ali, estático, luminoso aos nossos olhos? A atração entre duas pessoas é pré-determinada, destinada ou psicologicamente adestrada? Tudo depende de qual janela você se debruça...
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Lady Godiva Posters by John CollierRest Poster by Pablo Picasso
A clássica Lady Godiva, famosa pela sua história, e também por esta bela tela, mulher-sensual, de John Collier, "e quando a lua chega de repente, sai Lady Godiva pelos campos, nua, para reclamar seus direitos". Ao lado, suavizando, Pablo Picasso, com Rest, belíssima imagem de uma mulher amorosa e feminina.
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Sea Serpents IV by Gustav KlimtBath Art by Fernando Botero
O primeiro, um dos melhores de Gustav Klimt, meu pintor-number-one, num título pra lá de sugestivo: Sea Serpent. Ao lado, Bath, a mulher-latina, exuberante, das coxas e ancas grossas-grossas, por Fernando Botero.
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Galatea of The Spheres, 1952 by Salvador DaliFemale head
Salvador Dali, com a magnífica Galatea of the Spheres, imagino-o perdido de amor por alguém, e não a compreendendo-o; ou quem sabe, perdido entre tantos ramos da mesma árvore-mulher. Em seguida, obra do gênio, Leonardo da Vinci, primoroso nesta Female Head (La Scapigliata), do ano de 1508, que retrata tudo ao mesmo tempo - suavidade, ternura, sensualidade e bondade.
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Reclining Nude by Amedeo ModiglianiLady of Shalott Poster by John William Waterhouse
Reclining Nude Prints, por Amedeo Modigliani, outro pintor desconhecido [até agora!] para mim. Mas devia adorar aulas de anatomia, seduzido pelo nu. Prefiro o coberto, que me dá margem a criatividade de descobrir... Ao lado, perfeição: Lady of Shalott, de John William Waterhouse, pela história, pela lenda-do-amor, pela sedução e sofrimento.
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War And Peace by Pablo PicassoEvening Mood by William Adolphe BouguereauMidsummer Eve by Edward Robert Hughes
Primeira Tela: uma das minhas prediletas, War and Peace, de Pablo Picasso, para mim Perséfone em plena primavera, livre, dona-de-si, Senhora do Seu nariz. Em seguida, Evening Mood, de William Adolphe Bouguereau, cheio dos malabarismos e maneirismos, devia ler kama-sutra e fazer acrobacias. E a última dessa seqüência é MidSummer Eve, de Edward Robert Hughes, parecendo mais uma fada encantada das histórias e lendas antigas.
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Summer Prints by Alphonse MuchaBoreas by John William WaterhouseGirl Defending Herself Against Love by William Adolphe Bouguereau
Pra encerrar: a primeira é Summer, de Mucha, que não me seduziu. Logo após, aquela que eu acho maravilhosa: Boreas, de Waterhouse, a mulher-mistério. Por último, uma cujo título me fascina, pelas entrelinhas em que me entremeio - Girl defending herself against love, pintura de Bouguereau, apesar de achá-la exposta demais.

Art Noveau:

Pra ser diferente, primeiro eu ouso colorir, e depois, preencho os espaços com palavras, se delas fizer precisão. No meu cotidiano, sempre começo a comprar o sapato, e depois imagino o traje completo. Confesso que precisava do "personagem" do filme Tudo por amor pra me mostrar o Mundo da Arte, daquele modo suave e intenso com que ele focava tudo em sua vida - próprio de quem está perto do fim, querendo sorver da vida o máximo. Confesso: não conhecia a obra deste pintor: Carl Frederic Aagaard. Dele, adorei essa tela: Pergola in Amalfi.

terça-feira, junho 06, 2006


Profundeza de emoção:.


A cada estação,
repasso nossa história.
E contemplo o quanto
Afoguei-me Em Ti,
Atirei-me ao fundo do mar,
mal soube que jamais voltarias...
(...) perdi-me para sempre
nas profundezas do oceano
e não mais regressei.
Quando o fogo-fátuo
das manhãs claras de Inverno
me fazia lembrar de ti,
recolhia-me no anoitecer,
pensando que eras apenas uma ilusão.
E sempre o foste, não é verdade?
(...) eu sempre esperei, por ti,
à noite e todos os dias,
mas tu nunca voltaste.
(...) e perdi-me dentro de mim mesma.
(...) Alguém secou minhas lágrimas
abandonando o meu rosto à suavidade
de uma mortalha de linho branco e suave
que só senti quando pela primeira vez
me embalaste nos teus braços
e me disseste que querias ver comigo
o pôr-do-sol naquele fim de tarde,
e em todas as tardes da tua restante vida.
(...)Ainda sinto o sangue
que brotou então de minhas entranhas.
E zanguei-me contigo
por não seres aquilo que eu procurava,
e por eu não ser aquilo que desejavas.
Mas a vida era mesmo assim
e o fio de prata de Ariadne
tinha-nos unido para todo o sempre.
(...) percorri o labirinto do tempo,
procurando-te sem cessar.
Envolvi-me em mil deleites
só pela ilusão de te ter.
Submergi (...).
E ali estávamos.
Como sempre estivemos.
Olhar em olhar.
(...)Desfiz o encanto, e abracei teu corpo,
dando-te vida e trazendo-te,
mais uma vez, para junto de mim,
confundindo o tempo.
(...) Abraçei-me nas asas deste amor
que jamais morre
e deixei-me ser tua
para todo o sempre.
(...) Tornei-me ave de fogo,
como uma Fênix renascida,
e decidi que falaria contigo desse amor
que jamais morre e que é eterno,
como eterna é a doce chama
a que sempre chamaste Alma,
e que ainda habita o teu interior,
feito concha onde se fabricam pérolas
através da dor.
E era esse azul enevoado
da chama no teu coração
que eu queria alimentar,
(...) E pedi-te um abraço
que selasse nosso amor para todo o sempre,
mas parecia que algo te impedia
e que dizia para não me abraçares,
e, de repente, lembrei-me de novo
dos abraços que nunca me deu,
e de como mais uma vez
as areias do tempo não cessavam de cair,
e que tudo se repetia, mais uma vez,
e, desta vez, era contigo.
(...)
Disse-te que estarias sempre comigo,
e que guardaria o teu coração
num frasco de alabastro branco,
como o mármore das igrejas,
e que serias sempre habitante
das profundezas do meu ser.
E isso acalmou-te.
(...)
Foi então que o espírito do tempo chorou
e entrou no teu corpo
e cortou as últimas amarras,
que te prendiam ao navio da vida.
E morreste-me, naquele dia.
E contigo, todo o meu ser.
(...)
Subitamente dei-me conta
que ninguém O poderá substituir,
pois Ele sou eu,
e eu sou Ele.

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Afoguei-me em ti é o livro que dá início à carreira poética de Joma Sipe, e traz toda uma série de poemas.

segunda-feira, junho 05, 2006


Discernimento:.

Existe um ponto na vida em que tudo que fazemos reflete diretamente nas pessoas que, por algum motivo divino, estão ligadas à gente. Mesmo quando não fazemos nada. Assim, não há escapatória: mesmo sem agir, estaremos interagindo....Não adianta fugir, mudar de direção, gerar gráficos, planilhas, já está tudo traçado. E tem ainda a máxima que eu já ouvi nesses aninhos de vida: Agora que comecei nesse novelo, não posso parar; devo ir até o final. Pra que trocar de linha? E se eu estiver errado em procurar a felicidade, quando por aqui só houver o trabalho de tricotar?

Dói na minha alma acreditar que alguém crê que é impossibilitado de escolher algo nessa vida, como se fossemos meramente robôs de série, saídos diretamente da Indústria Divina. Segundo esses matemáticos quânticos, melhor então nos inserirmos em algum lugar ermo e distante, como em algumas Ordens religiosas existentes, e passar a vida deixando-a passar por nós. Isso deve aliviar, e muito, a consciência de nossa espécie – na ocasião de nossa morte, a solução é esta resposta, para a pergunta que pode ocorrer: O que fizestes da Vida que eu proporcionei-lhe?

Os tais versados em cálculo irão dizer que imaginaram-se árvores com raízes imensas, e simplesmente permaneceram no local, mesmo sem adubo, sem utilidade, sem fim ou meio. Mesmo corrompidos ou mortos por dentro. Sim, dirão os robóticos, sentamos e ficamos esperando pelo fim. Quando vieram oportunidades, eu as vi como maldições, pois traziam mudanças. Quando houve bênçãos, me escondi, com medo de me envolver em algo que poderia trazer transtorno em minha vida linear. E quando eu conheci o amor, rapidamente me ocultei e dissimulei o máximo o encontro – dolorido, me fazia exigências e doação incondicional. Minha vida, Senhor, como vês, foi vivida esperando que tudo já estivesse feito e traçado, só faltava eu respirar. Digo que fiz isso diariamente, até agora.

Bem, segundo a tese desses grandes predadores da vida consciente e realizada, feliz e amorosa, eu irei para o fundo da terra, e estou condenada à morte. Nisso, pelo menos, há concordância: com certeza absoluta, a morte me espera, em algum momento... Quanto a trocar de novelo... Inúmeras vezes já fiz isso; inclusive desmanchei blusas inteiras, quase prontas, porque era mais interessante o projeto e criação para outro lado e direção. Mudei o prumo, alterei velas e troquei de navio; fui de rio a Oceano, e deste para um lago... e, inclusive, se meu coração e minha alma concordarem, vou até o inferno, ou fim-do-mundo. Por amor, sempre. O resto, é o caminho do guerreiro, com suas regras: Não pense desonestamente, pense no que é correto e verdadeiro. Coloque a ciência em prática, o caminho está no treinamento. Familiarize-se com todas as artes. Familiarize-se com todos os ofícios, conheça o caminho de todas as profissões. Perceba as qualidades positivas e negativas de tudo, distinguindo entre ganho e perda nas questões mundanas. Desenvolva julgamento intuitivo e compreensão de todas as coisas, aprenda a ver tudo com cuidado. Note aquelas coisas que não podem ser vistas, tomando consciência daquilo que não é obvio. Preste atenção a tudo, mesmo aparentes baboseiras, sendo cuidadoso até mesmo nas pequenas questões. Não faça nada que não tenha utilidade.

Em mim todas as aves fazem ninhos, e todos os seres procuram liberdade. Em mim descansa a paz e repousa a guerra. Tudo está em paz. Nada de momentos onde o medo e as carências, ou o domínio do ego prevaleça. Chega dessa armadilha humana, dessa manipulação feita pelos outros. Eu sou Eu, e conheço meus limites, e também minhas aspirações é no Amor que encontro a profundeza dos meus verdadeiros sentimentos; por vezes a sua intensidade faz com que haja motivos de dúvida, porém é o mundo da existência e da perda, do ter e do não-ter, do querer e do desejar e do nada haver que me leva a dizer que “assentei os pés no chão” quando percebi o quão longe fui, quando me deixaste com os olhos a arder em fogo, sem água para apagar as chamas de dor que se abateram sobre mim, no dia em que partiste. Afoguei-me em mim, para poder lhe matar por dentro.

domingo, junho 04, 2006


Fortaleza:

"Senhor, que eu não lamente o que podia ter, o que se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou(...). Que eu possa agradecer a vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa, na manhã de um novo dia que começa". De Cora Coralina, que, com certeza, o senhor conserva na palma de sua mão. E tomara que "aquilo que não mate, fortaleça, porque cantar a canção daquele cuja morada compartilhávamos, e ir embora, no silêncio da noite, é desabrigo da alma, coração despedaçado e físico desequilibrado. Todos nós temos tendência a ferir aquilo que mais amamos; aprendi e reconheço esse adágio. Que possa eu agora ter um mar de distância da dor, e encontrar, de sopetão, os meus desejos e amor, antes que meu fôlego de gata selvagem se vá, e eu afunde, sem esperança ou coragem pra ir além.

Farol na Ilha:.

"Haverá quem desconfie da veracidade do que lerá aqui, mas se tratará de um ingênuo, um alienado nefelibata, ou um dos incontáveis desavisados que não acreditam que o ser humano é irreparavelmente solitário (...) lê-se ficção para fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares, e outros adereços que integrariam a vida. (...)Sei que, irremediavelmente, cada um que ler estas páginas vai fazer uma idéia individual, diversa das alheias, embora, talvez, semelhante nas linhas gerais. A maioria lê através de filtros a que se apegam de forma demente e há muita gente, gente demais, que lê nas entrelinhas, um perfeito exercício de imbecilidade, defesa neurótica contra a realidade ou, em inúmeros casos, o "achar-se tão sabido que se acaba sendo besta. (...) Pelo menos nos livros honestos, como este, não há nada nas entrelinhas, tudo deve ser procurado e será devidamente encontrado nas linhas, aqui não são oferecidas entrelinhas, à merda o entrelinhador, pode largar esse livro e gastar seu tempo ruminando o bolo alimentar de sempre. Melhor que ler textos diretos querendo ser esperto e vendo neles coisas indiretas. Leia se quiser, se não quiser, vá pastar com as outras alimárias".

O diário de um farol, porque o farol, já disse, conota uma infinitude de imagens e símbolos dos mais triviais aos mais escondidos no fundo da consciência. Quem quiser traga à tona os seus, se desejar ou puder. (...) O farol. Lúcifer. O que traz a Luz. Prometeu.

"A vida é vitoriosa não quando se tem o que se costuma ver como bençãos, ou seja, beleza, dinheiro, honrarias... Essas coisas podem perfeitamente conviver e até entrar em simbiose com a mais completa infelicidade. Elas não representam uma vitória, por mais que seus detentores e os que erroneamente os invejam queiram pensar assim. A vida é vitoriosa quando se satisfaz o que de fato há em cada um de nós, aquilo que de fato ansiamos, e quase nunca nos permitem, e nem nós permitimos, reconhecer. Preencher essa satisfação é uma tarefa cumulativa, em que a preparação é, por assim dizer, permanente. (...) Lembre-se: não existe ajuda desinteressada, ou sem preço, e quem pede ajuda mesmo que não a receba, abre um flanco, às vezes irremediável, que pode arrastá-lo a uma derrota inesperada e definitiva".

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Deste post, tudo pertence ao livro Diário de um Farol, de João Ubaldo, que é simplesmente magnífico! Imperdível! Eu acho que o autor deve ter uma coleção de dicionários, tal a proeza em arrumar "palavras" novas e pouco usuais. Não percam esse gênio, que transborda aqui a essência do homem, clareando tudo como um farol.

Desideratu:.

"O encontro de duas solicitudes que se protegem, se tocam, e se acolhem, uma a outra. Amar e ser Amada, na mesma medida, nada de amores onde a balança do dar e do receber oscile ou penda para o desequilíbrio. Amor "argonauta", assim chamado pela Anne Morrow Lindbergh, viúva de Charles Lindbergh. Argonauta é uma concha que simboliza o amor maduro, o encontro de duas almas dispostas a Amarem-se Incondicionalmente, dançando num compasso perfeito, não importando a posição, pois o ritmo e o estilo é criação do par. Mudar o desejo, devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade".

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Nunca se sabe, mas, de repente, esse período de castigo em minha vida pode ser o grande norteador , que de rumo àquilo que estou predestinada. Propriamente, não cabisbaixa de vergonha, mas apenas porque nunca imaginei o que poderia acontecer, tão otimista e ingênua que sou. Mas a vida é assim, e as pessoas - alguns, também são dessa espécie de ausência e engano. Pensa-se que já sabemos tudo, e na realidade, não sabemos de nada. Surge sempre uma surpresa, um fato completamente inesperado, que nos faz rodopiar e ver o mundo de maneira inteiramente diversa do que se julgava ser uma visão definitiva. Minha sorte é que, eu infância, era só rodopio, e aprendi assim a jamais cair, quando se pára de repente, porque o olho está fixo em alvo imóvel. Dentro de si. Por mais irrelevante e doloroso que ainda possa ser, não será a partir de agora que fingirei ou ocultarei sentimentos ou emoções, nem serei cínica quanto ao Amor. Ninguém conseguirá que eu reaja, a uma ação, alterando o meu Ser, conquista árdua essa - poder ser Eu, com todos os galhos e flores de cores tão diferentes. Porque agora, antes de ser bondosa com alguém, sei que preciso ser antes comigo mesma. Tenho direito a isso, minha relação com minha alma e meus ideais estão afinados e em paz - e este mundo é maravilhoso, um bumerangue exuberante. Esteja atento: hoje, eu sonho desfeito, amanhã eu pensamento realidade. Uma questão de tempo.

sexta-feira, junho 02, 2006


Ponte, agora é de safena:.

Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe
de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!

Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
Safena, da poetisa Elisa Lucinda.

quinta-feira, junho 01, 2006


Sem cores, com vida:.

O Caso do Pintor Daltônico
"Um pintor de 65 anos sofre um acidente de carro e, repentinamente, torna-se totalmente daltônico. No dia seguinte ao acidente, ao ir trabalhar em seu ateliê, antes repleto de pinturas coloridas e luminosas, depara-se com um mundo feito de cinza, branco e preto. As coisas passam a ter uma aparência desagradável, suja, para ele. Do nado, as pessoas viraram estátuas cinzentas animadas, e o pintor passa a não suportar sua própria aparência no espelho. Até os alimentos que ele antes ingeria, agora parecia repulsivo, devido a seu aspecto cinzento, morto, tendo que fechar os olhos para poder comer. Para o pintor, o mundo passou a ser algo parecido com um filme em preto-e-branco, tridimensional, com a diferença que os filmes são representações do mundo, enquanto a vida dele era real. No acidente o pintor perdeu não somente a percepção das cores, mas acabou perdendo também sua memória das cores. Sacks narra ao mesmo tempo a destruição do mundo colorido do pintor, e o surgimento de uma nova realidade para seu paciente, “Um mundo sem cores”, um mundo de uma pessoa que parecia nunca as ter conhecido. O pintor voltou a pintar, inspirado pela visão de um nascer do sol (em preto e branco); e foi assim que suas pinturas continuaram sendo produzidas – porém, todas em preto-e-branco. "O sol nasceu como uma bomba, como uma enorme explosão nuclear. Senti que se não pudesse continuar pintando, também não ia querer continuar vivendo", é o que paciente relata, ao fim.

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Nos livros de Sacks percebemos que não é preciso ir longe, fazer uma grande viagem, ou mesmo cruzar oceanos, para descobrir um mundo sempre surpreendente, pois este é existente dentro do "pequeno" espaço da cabeça de algumas pessoas consideradas diferentes. Não dá para pensar em evolução sem pensar em adaptação, aliás, em muitas adaptações – como as que fazem os pacientes deste neurologista. Se eles conseguem sair de situações abismais, se adaptando ao “seu novo eu”, ou às suas limitações, o que dirá o que se pode fazer, mentalmente, uma pessoa normal, se em vez de lamentar-se, sair do seu próprio umbigo e resolver se modificar, para poder ver o mundo evoluir?

Rosa e Azul:.

Jacarandá e Ipê-Rosa, emolduradas por uma moldura de Carvalho - dois galhos da menina que mora dentro de mim, inspiração de Renoir. Diante desse quadro, no Masp, há histórias pra contar.

Janela preferida:.

KlimtQuando as palavras faltam, abro minha janela preferida, e fecho as demais, que provocam alguma dor ou trazem vento-de-seaudade. Gustav Klimt, nessa tela, me lembra esperança, amor, e paixão reunidos e em harmonia completa. Óleo e ouro, prosperidade e profundidade. As linhas sinuosas e tudo meio que "bi-dimensionado", a perspectiva da minha vida, vista por mim. Típicas de alguém radical, muito próxima do Art-Nouveau Europeu. Sem falar que é pano de fundo para o filme Tudo por Amor, cuja trilha sonora embala meu sono. Se alguém retratou um beijo destes, é porque existem pessoas capazes de se doarem assim. Eu espero; não adianta poeira cósmica, eu exijo qualidade e alma. Assim, podem acreditar: numa sorte, eu-milionária, revisito o mundo, e compraria todas as telas deste pintor austríaco, o maior da "art nouveau", que viveu durante 1862-1918, e até hoje consegue o assombro de minha'lma com suas telas-primas.