.:Desalinho e Trança:. .:Reviro o mundo, encontro e desencontro o fio do começo, perco novamente, só pela alegria que eu tenho de reencontrar, agora que sei onde e como achar... Faz tempo que as águas, desanimadas, não subiam para encontro do Oceano Aberto. Um buraco no cotidiano, e minha chance, entre dez outras mais urgentes - sim, eu sei: apesar de preparar, pesquisar, comprar livros e montar graficamente na minha mente o roteiro daquilo que deve ser entregue, tudo vai para o papel somente nas últimas 24 horas do prazo. Já tentei de tudo: começar do fim, partir do título, laptop na cama, mas sinto falta da máquina de escrever... aquela que um dia "alguém amigo" levou para comprar o correto cartucho no exterior ao lado, denominado Paraguai, país descamado, suponho que foi abduzido. A máquina e sua lembrança do meu bem. Eu gostava dela porque ela se enfiava comigo em qualquer lugar. Não trazia olhares de inveja, e nem me incomodava com o medo de perde-la, pelo seu valor material - coisa que o Laptop faz. Bem, outra coisa que é difícil fazer é "cobrar" algo - dinheiro, livro, bem móvel... Por isso não empresto mais nada. Só para quem aceita assinar devido contrato de devolução, com data para tal ato. No ato de ser formal, me deslancho da passional, e me desmancho em perfeccionismo e detalhes. A terceira e derradeira coisa que farei até o fim é "fazer dez coisas ao mesmo tempo", cinco concentradas, cada uma com um sentido, as outras rolando dentro de mim, sendo relembradas, o sorriso aberto, pelas faceirices da vida - cada peça que me prega, sou o botão que sempre cai. Quando acho que o foco está demais, já me sentindo a própria arte-trabalho, tenho que me dar dois dedos de regalos - pra matar a vontade de comer amêndoa colorida, que aqui não tem. Fui de canoa, devagar, pela orla, até
essa moça, pimenteira e poetisa, lá em cima, alto astral - mas comigo Chico Buarque está fora da linha, após proferir o dito conteúdo de seu voto eleitoral. Me recuso a ler ou ouvir qualquer coisa de alguém que não levanta a mão pra agir, porém adora o copo de uísque importado, e contraditas maliciosas. Sarcasmo, ironia e o riso aberto é fácil, pra quem nasceu em berço-de-letras, com extensa árvore cheia de palavras e história famosa, raízes já bem arraigadas em solo fértil. E no final, nem era dele que eu queria falar, era do post da Moça, que chamava "Meus Homens". A associação me levou a Beatriz, peça linda e rara essa menina, doce e ardida criatura, que me ensina a cada dia o que é ser e poder transcender limites. Mania de tesoura, tenho que recortar o que não me devora, o resto é direito da Priscila, que postou lá embaixo, no seu blog bom-demais-de-ir - sim, eu preciso de palavras de outros, pra poder me justificar após e dizer que "jamais aquilo que disse, ousei falar, era tudo de outro, há provas cabais". John Grisham mora em mim, e eu sonho em alcançar a abrangência de sua mente lógica e analítica. Voltando "Aos Homens" da Priscila, colorindo pra lembrar que metade é dela, a outra metade nem sei quem fui que fiz.
Sim, não tive Homem ao meu lado. Nenhum, porque Homem eu considero alguém metade meu pai, a outra metade o fundo de mim. Há Homens, eu sei, conheci - mas ELE me deixou abrir a porta, e sair. Gosto do que é, ao mesmo tempo, verdade e oculto, ninho e vidro cortante. Porque me fascina o realismo, a alma humana é dual, cheia de mistérios... Mas ele me ninou. Porque foi com ele que aprendi a chorar. Não, não eram pancadas - mas sentia lá dentro que aquilo a cada dia eu mais distante do Oceano, já mar e quase rio Paraná. Seria Suicídio imaginar-me esse rio encardido, cheio de contrabando. Mas ele desenhava: tinha lápis e tintas. Eu nunca mexi por ali, porque ele fazia a arte. E eu guardava. Tudo que colocava no papel. Eu lhe ensinei a desdenhar e a infernizar. A gritar e a brigar pelo que se quer. A ir embora, virar as costas, e chorar. ele ensinou que a idade também pode trazer medo, ilusão e desconfiança. Desapego e egoísmo. Desarmonia e solidão. Não foi Dante como um amigo, que galgou até o inferno pra ter sua Beatriz com ele - foi rei Herodes, dizendo "matem as criancinhas", contando que jamais quis alguma. Era pai por dever-ser, por peso-na-consciência, mas quando viu que podiam andar sozinhos até a escola, foi embora. Era uma peça que nunca coube no meu quebra-cabeças, e tornar-me sua peça ideal me matou. Sim, ele chora... chorou. Lágrimas de crocodilo, pois quem sempre faz algo, não me desafia nem me mostra valentia. É algo banal. Não me ouvia, teve paciência com algumas descobertas, emburrava com meus ataques de fúria, e brigava pelo seu pijama, que sempre usei pra dormir. Numa guerra sou muito boa, jogava war, e a menina má é quase-perfeita-em-si. Por isso todos os dias alimento o outro lado: pra deixar faminto o lobo que me domina, quem sabe ele não evapora, pois até hoje vive, acho que de prana. E eu confiava nele. Hoje eu guardei num CD, no albúm da Beatriz, pra-quando-ela-crescer, poder apreciar os emails que ele enviou - desconexos, só falando na primeira pessoa e não sabendo quem eu sou. Herodes gostava que eu dormisse, dizia que assim eu não guerreava - ah, tolo rei, marte não pára em frente a outra linha, vai pra cima, sempre. Hoje ele nem me é estranho, e jamais vou esbarrar pela rua com sua figura. É apenas, em alguns momentos, sorrisos diante da figura de Beatriz. Fotocópia interna, deve ser uma espécie de dharma, pois ela tem o melhor dele, e o que ele achava pior em mim. Eu fiquei com a menininha, e deixei o bebê que ele sempre foi pra trás. Sim, ele dormia atracado, comigo, mãos, pernas, cabelos, para ter certeza de que a noite não me tragaria. Me olhava com seus enormes olhos tristes e sorria com aquela boquinha pequena e rosada que me desconsolava, porque nunca sabia qual seria seu humor do dia. Transtorno bipolar com DDA. Me beijava sempre, o tempo inteiro, Seus enormes olhos continuam tristes. Uma tristeza serena que se esvai com seu sorriso ainda mais infeliz. Só faltou a cor azul, pra ser agora idêntico ao seu pai. Tudo o que ele não queria, foi. Tudo que abominava, fez. Olho Beatriz andando com o mesmo passo, os mesmos trejeitos. Olho o meu bebê. Grande, lindoca e cheia de graça, forte, distante... Procurando esconderijos, se embrenhando no meu colo, agarrada a minhas pernas, pedindo "pra eu não bater a porta na cara dela". É, é o jeito que ela vê o que acontece quando eu saio sem ela. Meu lado dramático, junto com a novela da azulzinha Mexicana que embalou nosso romance. ::::::::::::::::
.:Asas e Vôo:. .:A diferença, crucial, aqui, é que costumo fazer o que o poeta da outra margem aconselha: mesmo sangrando, cavar e enterrar. Vivo. Sou a Kate, abrangendo a porta inteira, e afagando os seus cabelos, contando historinhas e dizendo que não precisa ter medo - lá no fundo, o frio acabou com tudo - até com os bichos-papões.
Oh, Jake, não, não vá, tente.... viva por nós. E a mão continua firme, não empurrando, apenas não deixando mais vir à tona. Afogado. Nunca olho para trás. Prefiro ver na minha frente, sob outro espírito, encarnado em outro corpo, um pedaço daquilo que me encantou. Beatriz-tinhosa, que há tudo dizia "Mardito", e só hoje passei pela TV e vi o Barão, pai da Sinhá-moça, falar umas trinta vezes essa palavra ridícula. Beatriz-cachorra, que pediu pra tomar um solzinho, e cavou um buraco enorme, junto com o novo-cão, destruiu as flores, todo o adubo na calçada, 8 carrapatos no cão (precisou ir pro veterinário tomar banho!), e ela, de molho, agua-quente com vinagre. Beatriz-tão-crente, que segura a minha mão e diz bem rápido: "mãe, vê se não me perde nas Americanas quando eu me perder de mim". Ela vai, passa a mão na Barbie-que-tem-asas, nina, senta no chão. E enquanto eu faço a festa, na seção de livros, ela voa no sonho de consumo: Ter a Barbie-Fada, que nem conheço, pra não ter peso e culpa por não poder comprar. Depois, sonho que a gente acalanta, e não ganha, mas sua pra conquistar, é bônus, prece, benção. Raio de sol em chuva de verão. Queria poder terminar com a frase da Moça, mas nem com favo de mel: na realidade, meus homens nunca valeram nada. Nem tostão furado. Eu fico com o fruto, eles eu enterro, afogo e esqueço. Pra jamais voltar como assombração. Na verdade, eu deveria fazer seguro-de-vida pra cada um: pois quando a gente faz na mente tão fortemente, dizem que tudo acontece na realidade dos dias. Beatriz-quer-asas, por isso se encanta com Barbie. Com a possibilidade de, na primeira oportunidade, tirar aquilo da boneca e colar em suas costas. Pra isso eu preciso de encanto. E magia.
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.:Theresa, aí de Mim:.No segundo quadro,
SEMPRE, e MAIS, a alegoria-fina que é CarpiNejar:.. Entro pisando devagarinho, leio tudo bem pausadamente, querendo apoderar-me de todas as palavras, olhando cada quadro, encantada. Onde acha tanta arte, como costura tanto botão? Deve ser agulha e linha, pra poder cozer assim. Eu, simples botão... com a vida me dando nó, pregando em lugares errados, me deixando dependurada, quase-quase naquela linha fina e bamba... Um dia, eu kit-inteiro. Chego lá. Por enquanto, ainda Joana, recorro a Teresa do Poeta, recorto umas partes e deixo o pedaço que me toca aqui. Pra parede colorir, e o Oceano ficar mais brando...
.:Não desista Teresa, não desista da vida, mesmo que seja mais um dia nublado, com os pés da chuva doendo. Não desista, ainda que tenha trocado o sono pelo cansaço, que a distância ao quarto seja uma colméia exasperante de pássaros. Cansada de argumentar a seu favor. Cansada de defender seus pontos de vista. Cansada de explicar o que estava passeando em seus ouvidos. Cansada de ser vista como bruxa só porque pressente, ser vista como estranha porque se antecipa, ser vista diferente porque escreve, ser vista como perigosa porque ama sem a ênfase da recompensa. Cansada, cansada, cansada do excesso de sensibilidade, de fechar as cortinas para permanecer nua. Cansada de não adoecer porque, desde a infância, precisa justificar seu nascimento para os olhos negros da mãe. Porque precisou se levantar cedo para ir à escola, para ir à igreja, para ir ao trabalho, para ir. E quando não ia, fugia. Fugia da ditadura, da resistência, do preconceito. Sempre havia um lugar para mantê-la fora de casa. O que é vício nos cala, o que é virtude também. Acenda as pedras. Cubra as rachaduras dos livros com cuspe e argila. As regras não são os limites. Desobedeça mais uma vez as normas. Faça de conta que não ouviu.
Eu, agora, Dhyanna thereza, mãozinha dada com Beatriz. .:Essa Tereza sou eu, só faltou o H, que é o oculto que sempre fica. O mar passa ao lado do sangue. Não desista, nade com um único braço, voe com uma única perna, prefiro asa, da Barbie-boba. (...) Não desista, seu tornozelo é uma ostra que desliza melhor do que os peixes. Não desista. Se há um pouco de sede, há raiva dentro do amor. Se há um pouco de fome, ainda lavará a boca do travo cinza da despedida. Não dê por encerrada a vida, não espere ser levada, use as unhas dos cabelos para não deixar seu lugar no mundo. Chore, mas não desista. Já bebeu a luz como vidro, já bebeu a luz como vinho, já bebeu a luz como vespas. Mas a luz ainda não a bebeu toda. Não desista, Teresa. Ontem não foi seu grande dia. Não deixe a cama tirar as medidas de seu vestido. (...) Aperte as cordas da guitarra, a guitarra tentou se matar cortando os pulsos. Vamos enfaixar as mãos da música e fazê-la dormir em nossos braços. A guitarra é uma criança mais bonita de tranças. Eu não sei fazer tranças, Teresa. Não desista Teresa, a dor é anônima e não nos pertence, a dor assusta para nos proteger. Põe a língua no selo para mandar uma carta, amarre os sapatos do pacote, mas não vá. Eu não sei chegar em mim sem que esteja me esperando:.
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.:Mão-que-não-se-larga:..:Tomara que esse Poeta esteja errado, e que Amores que um dia lá de-trás-os montes, quase Andaluzia, possam voltar ao seu domínio, e se moldarem, em algum lugar se darem a mão. Se não for assim, rabisco pontes, faço aquarela, até compro o jogo de xadrez-cristal em Assuncion. Pra conquistar o Oceano, me faço mar-tereza, avante, avante... Mesmo que isso esfole meus dedos, lavadeira no tanque, a dor não me amedronta mais. Nem barata, nem rato. Apenas hoje sinto o que Oceano sentia lá atrás, quando dizia: "Pra que, mais um dia, levantar, sair da cama?" Eu ria, e falava: "Maluco-Azulado, Metamorfose estragada, nunca me senti assim. Como posso te ajudar, se nem imagino o que é não sorrir a cada luz do sol? Abro as janelas, vento na cara, oi pro limoeiro, e me vou..." Mão a palmatória. Eu sei nesse momento. O que é ir tão fundo, e demorar pra vir a tona. Dói. Ainda mais do outro lado do seu caminho. Sem poder me azular e zulir com você e seu jeito matreiro. É, não são asas do que preciso agora, são de nadadeiras. Serve também escafandro. Melhor ainda? Uma mão ou mola, pra eu poder ir mais rápido na jornada, em busca daquilo que me chama desde que me dei por mim.
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Asas de Um Anjo-Azul:..:Pra Terminar, algo
Dele aqui , que sutilmente empresto. Sonhos de Ícaro: dos meus inúmeros sonhos, alguns já se foram; outros se realizaram, houveram aqueles que foram podados, e outros trancafiados em caixa-demadeira-marfim. Mas há ainda aqueles que persistem, como a a onda do mar: vão e vêm, sempre lembrando do quão vitais e essenciais são... O importante é saber que caminho por estradas livre de qualquer mágoa ou ressentimento. Deixando para trás imenso fardo, descosturado em alguma fenda na areia. Problemas dos outros não fazem parte das páginas da minha Vida.