sábado, abril 29, 2006


Mãe Aninha:.

(...)"Fazia-se o Bori uma vez por ano, lava-se a cabeça, para nos limpar dos males daquele ano inteiro(...) Naquele dia, Mãe Aninha apareceu em vulto para mim, (...) então fomos para o peji de Xangô, num quartinho da frente. Diante do Altar do Santo, Mãe Senhora me fez ajoelhar ao lado dela. Em seguida, jogou os búzios, que se espalharam sobre uma toalhinha branca, que cobria uma mesinha: braços levantados, olhos para o alto, foi lendo: Muitas felicidades para você. Nunca ninguém vai poder te fazer mal, tudo que for atirado contra tu vai voltar para cima de quem quer te fazer mal (...). Eu estava verdadeiramente fascinada com a intimidade de Mãe Senhora com o egum. Incrédula de formação, sempre em busca do desconhecido, procurando descobrir os mistérios da vida e os mistérios da morte, indagando sem nunca encontrar resposta convicente".
in A Casa do Rio Vermelho, Zélia Gattai.


O livro traz histórias tão íntimas, gostosas de ler... parecidas como as que ouvi um dia, de Mãe Ana, esta Paulista. Tem a história de um pato de cerâmica que Jorge Amado muito queria comprar em Paris, em viagem com Zélia e o casal Auta Rosa e Calasans Neto — o artista plástico. E depois de olhar o monte de embrulhos a serem colocados nas malas, Zélia pediu ao marido que não comprasse mais nada por falta de espaço. Mas eis que surgiu uma tentação: este tal do pato preto de cerâmica, peito branco, listras claras. Vejam só que pato mais lindo. Sem este pato a minha vida não terá mais a mínima significação. Já não posso viver sem ele, exclamou Jorge, encantado. Zélia, arrependida pela censura à compra, voltou atrás e, escondida, levou o pato. Ao entregar o presente, no Brasil, ouviu: Então foi você, sua peste!. É que ele também havia ido à loja para comprar o pato, que havia sido vendido.

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Isto é viver trans_sobrevivendo?
Me diga, querido, se Trans_sobreviver é viver "sem sobrecarregar-se de erotismo ou de juras de amor, sem aquele ar-piegas, mas tudo com muito humor, o dia-a-dia arrancando risadas a dois, à noite, na cama, pernas cruzadas, face no ombro seu, narrando estórias, remetendo a papos corriqueiros, íntimos e cheios de carinho de toda uma família... pra depois, bem juntinho, se ofertar a você, e dormir abraçada, cansada, exaurida, preenchida de transe seu"...
Porque se foi isso, traita fica pra trás, e eu passo a Trans_sobreviver em e com você.

sexta-feira, abril 28, 2006


Reluz:.

Eu fui passear, pra esprainar a mente... o Dalai-lama e suas convicções estão me fazendo verdadeira faxina, uai... AQUI, , quase me matei de rir: eu não sou a única que viu esse programa do SBT. Melhor ainda: tem mais gente que lembra da letra Meu mel, não diga.... O que eu não coloquei foi que minha porção "eclética" também se estende ao Marcos Sabino, com direito a Vinil e tudo, até hoje eu tenho guardado, a vitrola meu pai emprestou um dia... e... amigos nunca devolvem nada! Mas ah, o vinil, a foto do Sabino, eu tenho. Direto do Baú de Achados e bem guardados, de Niterói:
Brilha no céu de novo uma estrela ahaa
Soltando a luz que reluz seu olhar
Paira no tempo um sonho perdido u u u
Que a gente só pensa em de novo encontrar
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Solto meu grito seu nome ao vento
E fico voando no meu pensamento
Te espero mais livre a cada manhã
Cheiro uma flor de cravo e canela
E fico curtindo da minha janela
Teu corpo suave de hortelã

depois disso, eu vou assistir a Feia mais Bela, pra combinar com o astral...

De Encantos:.

Sinto quando você recua. Seus passos, caranguejo-man, voltando... Parei no semáforo, e olhei quem atravessava a rua: alguém em quem eu podia apostar todas as fichas, com a certeza de que jamais iria me deixar. Tem a metade de sua vivência, seus olhos reluzem com sonhos e brilhos de conquistas e esperanças, sua voz nem sai... porque ele ouve. Foi isso o que me atraiu naquela figura. Que aquela hora, andava calmamente na faixa de pedestres, com o mesmo ar sonhador e desatento, peito aberto e desafiador, mundo-da-lua, coração na boca... Por que as pessoas crescem e deixam de confiar na intuição? Quanto mais vivem, mais se distanciam de tudo - ultramarinos. Duvido que hoje você consiga sequer ouvir o barulho do mar numa concha, encontrada ao acaso. Talvez nem saiba distinguir as várias formas, e sugerir para cada uma, uma história de amor. Sei, eu também queria ainda ter o fervor daquele caminhante. Foi isso o que me aproximou dele: sua fé interior, que deposita no outro. E eu, tão sedenta, carente, exaurida... precisando de alguém que acreditasse em mim... Naquele momento de parada silenciosa, onde só Beatriz destoava do silêncio, com Wanessa de Camargo em sua voz, pedi para que o Deus que está em cada um de nós tirasse você de mim. Retirasse você de nossa vida. Recolocasse sua espécie do mangue, eu não faço parte de siriu nenhum... gosto de vôo, paixão, amor, aceleração. Conquistas e prêmios. Eu ainda quero vitórias, e perco meu tempo planejando muita coisa. Mas não amor e nem relacionamentos. Porque Amor não se coloca em planilha do Excel, se vive. Sente-se. É questão de pele, ardor, acaso, oportunidade única. Em alguma diagonal, nós nos encontramos. Agora eu peço que em outra esquina você se evapore, junto com as especiarias. Porque preciso de uma base firme e segura, não de um editor de planilhas. Eu amo; você finge. Eu, verdade. Você, coleção de coisas que nunca nem sequer tentou fazer. Não, querido, não quero milhões de receitas. Prefiro ir, uma a uma, testando, comendo, aprovando e melhorando a qualidade - depois coloco no meu livro forjado especialmente para as minhas receitas feitas e vivenciadas. Eu vivo. Você, zipa tudo e aciona a memória do computador. Obrigada, mas eu não guardo nada... consumo tudo, até que se perca dentro de mim... feito o fogaréu, no filme Como água para chocolate. Não quero mais mortos-vivos. Nunca quis ser funerária, nem sequer preparadora de cadáveres. Desculpe, mas eu quero Vida. Quero tudo que me pertence: inclusive, Amor todos os dias. ELE, como sempre, termina por mim: dificulta-me pensar que se ama por motivos. Ama-se por insinuações. Não me interessa o porquê; quero sempre o sabor de saber ter você todos-os-dias, no meu Universo de encantos e desencantos. Não importa qual o transeunte, o único que reina soberano dentro de mim é Tu, beijo-meu, pra sempre Tua...Mar. Veleiro. Bússola. Meu Norte, TAD.

Trans...:.


Da Série eu Confesso...
Tem coisas que eu não entendo; mesmo procurando no maior dicionário que possuo, três volumes. O que quer dizer estar na linha da transobrevivência? Por favor, aceito ajuda. Já procurei por tudo, e o máximo a que cheguei foi Transcorno, que é a sorte em que o toureiro salta sobre as hastes do touro. Isso é o máximo dos máximos na Espanha, portanto estou na linha de que tudo que vêm com trans antecedendo, vem com sorte, destino, golpe extraordinário, vivência magnífica, indicando sempre além de, através de, para além de... Se viver com trans é "viver além de tudo", transobreviver deve ser algo bom. Melhor que a saga que eu quero, denominada traita, que para mim significa seguir o vôo que o Universo e a força que é o Divino colocou para mim, aqui, nesse mundo...
Ps.: Posso te pedir "Tears in Heaven", pra mim?

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Da alegria Laranja
em pouco tempo, eu tenho que fazer tudo isso. Blog é algo que faço utilizando o conceito de "mentes inquietas" da Ana Beatriz... Tudo tão rapidamente, e mesmo assim... não deu tempo pra evitar que a menininha mais linda do mundo cortasse sua franja encaracolada. Com a minha tesoura de cortar papeis (sabe aquela torta, toda fru-fru)... pois é. Não imaginem como ficou. Eu disse que cresce, e por enquanto o gel resolve, a gente puxa uns cachos de trás, vem pra frente... Dá-se um jeito em tudo. Menos no tempo que passa. Passa. Sem a gente conseguir que o Transhumano saia do lugar. Medo. E eu que me considerava medrosa, encontrei alguém que não anda sem rede embaixo. Mas se cair é só levantar... Nem dói depois da segunda vez... A gente se acostuma a cada queda... e se levanta mais rápido... e de repente, nem cai mais... Aprende a correr e andar rápido, sem ninguém conseguir passar a perna na gente. Pois é, não tem como ensinar alguém a odiar, sem amar. A amar, sem sentir todo esse luzir. Não há como sentir, por experiência escrita ou falada. Tem que viver!

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Da alegria azul
Eu que fiz tudo. Estou feito cardeal vermelho, me achando o máximo. Eu consigo fazer o que quero, só fuçando, focando e me mexendo. Mas sabe, dá uma preguiça depois de tudo. Uma vontade de ultrapassar tudo, e já estar em algum lugar tipo assim...


Num campo de girassóis, com o meu Ultramarino-Homem-da-minha-singela-vida... Eu gosto da cor Lavanda, que tem que ser o tom do nosso quarto. Gostava do perfume Água de colônia 4711, da E. K. Wasser, até esses dias atrás... quando acabou, e troquei pelo Abo, do boticário... Ah, não adiantou: amanhã a Americanas trás outro vidro - maior, pra durar mais. Ah, o outro...Não, não conto... Surpresa. Aguarde: tem que adivinhar. Pelo Cheiro. Por você, eu chamo. Sussurrando ao vento... No inverno, meu canto é mais sofrível... Cardeais não fica sem seu par... por muito tempo. Porém, segundo o Dalai-Lama, ilustre visitante desse país, a frustração desenvolve uma forma de paciência, perseverança e tolerância, consigo mesmo e com os outros, que jamais serão demovidas do ser, e este será elevado a um grau a mais na evolução. Portanto, consolo dos consolos: Sou com isso no momento obrigada a me arranjar as condições insatisfatórias e distanciáveis, para poder, quando juntos, estar à sua altura. Evoluída, ou talvez... de salto alto, o que dá na mesma, não? Brincadeira. Meu tempo é todo Seu e Meu.

quinta-feira, abril 27, 2006


My Ocean:.

Assim, de repente, do ovo... em vez de um pintinho, margarida-flor. Não acreditas em poesia, coincidência, alegria e amor? Ah, felicidade existe, mesmo que já derramaste um oceano de lágrimas... sempre há um momento em que aportamos, em algum lugar, pra podermos ser felizes. Por quanto tempo eu não sei... quem sabe pra vida inteira, só o que posso afirmar é que esses momentos nos preencherão pra sempre. Porque vamos crescendo, e nos fazendo tão bem comportados, como manda e dita a velha sociedade, que esquecemos que a normalidade das coisas é divina. Que somos muito mais que sobreviventes ou humanos. Somos transcedência pura. Filhos de Deus. Esqucemos nossa grandeza, fechamos os olhos para os pequenos milagres da vida, e aquelas ínfimas coisas extraordinárias que nos acontecem dia-a-dia. O sorriso daquela velhinha querida, o bom-dia gostoso do porteiro que nos atende todo dia, no trabalho, o vizinho que buzina feliz, mesmo tendo que levantar seis horas para levar as crianças do bairro inteiro para o colégio (ninguém mandou ter van! rs). Nós nos tornamos, e de repente, aquilo que querem e esperam da gente. E de repente pior: passam a exigir que sejamos tudo aquilo que "nem somos", porque tudo criação do passado, de dias e dias sem movimento, de inação... Portanto, feche os olhos e se encante. Somos tudo, somos amor, somos destino. Somos aquilo que nosso coração canta, alto e feliz. Da Ana Paula, talhado pra nós:
Lanço ancoras
Noutras vidas
D’águas profundas
Que vem a tona
Em tormentas
De lágrimas
Todas as vezes
Que canso
De estar a deriva.
E iço minhas velas
Na tua direção.
Nunca se esqueça: eu vou.

O mundo é lindo:.

Nós é que somos cruéis. Dispersos. Malucos. Eu quero um gato; já que minha cachorra foi embora. Andando a toa, a comunicação chega: nasceram, maravilhosos, persa chinchilla, 250 euros. Euros? Sim, gatos com pedigree, blá-blá-blá cotação em euros. Não, querido, desses eu não quero. Mais simples, peludos, pode mesclar raças, quero que venha doce, terno e encantado. Não importa se tem certificado, veterinário eu tenho grátis pra-vida-inteira, portanto... o mundo é cruel só quando a gente deixa a águia tomar conta de nossa galinha e nos elevar ao sol, queimando nossas asas, e fazendo-nos mergulhar em oceano profundo. Pé no chão, realidade e Patagônia. Puerto Natales, no Chile. geleiras azul-turquezas... lareiras no final do dia... quer algo mais do que isso, pra acreditar que Deus e Amor são da mesma natureza?

Norte, sul, leste e Oeste:.

Minha bússola,

Não sou e nunca poderei ser flor da manhã, porque seria "irreal" ver desabrochar uma flor da noite em plena madrugada... Se bem que para Gustave de Bon, O irreal é em certos casos, mais verdadeiro que o real que nos acompanha". Nós dois sabemos o quão certo isso é. Meus sonhos - todos eles - são coloridos, meu presente dos sonhos é uma aquarela com mais de 400 cores, com direito a material e tudo o mais que compõe uma pessoa que até o final da vida quer pintar com cavalete e tela. Ah, se possível um estagiário, pra limpeza do material... depois posso ficar cansada, e decidir ir mergulhar, e tudo ficar espalhado pela areia. Por isso, muitas vezes minhas bonecas maravilhosas permaneciam na caixa: porque depois de brincar, vinha a parte chata, que era a de juntar tudo, tudo e tudo mesmo - mania de perfeição minha mãe tem até hoje. Pra que pegar uma minha, se podia brincar com a da minha irmã, e depois ir embora, sem precisar fazer "mais nada"? É, acho que nasci meio assim... egoísta e dispersa. Diria que foi mais por influência da Gérbera laranja que me forjei mais ainda assim - ela é tudo ao quadrado, muito mais do que eu. Não, não quero colar azulejo no banco, dá pra trocar por um de madeira feito por você? Adoro homens que sabem lidar com plainas... Verdade, meu sonho era ter um homem capaz de construir o próprio berço do filho - daqueles que tinham o balanço de ninar. Nunca encontrei tal singularidade. E eu, particularmente, não me atrevo. Nesta matéria, eu lembro, só cabia a mim na ala masculina fazer os retoques finais - aqueles que a gente queimava, pintava, rebuscava e rococava... o resto, serviço pesado, lixar, poeira, homens à terra.

Sabe, às vezes eu gosto de gente que apenas crê. Aqueles que acreditam na intuição, e fazem loucuras pelo coração. Porque quando a gente passa a acreditar em coincidências, amor, vida e felicidade, parece que o Universo inteiro todo dia nos dá pequenas pistas... e de repente, um oceano inteiro pra nos banquetear. Quando a gente manda o "nosso desejo" pro Universo, e realmente acredita que podemos ser respondidos e tudo será receptivo, tenha certeza: será. Receberemos tudo. Eu, mais do que ninguém, te digo: já consegui milagres de dois mil kilometros, o que nós pedimos é "algo pequeno e singelo". Creia, e deixa que o Universo aja. Realmente eu acho que o pensamento cria a realidade. E por eu ter forjado tudo, temos a nossa frente um caminho dourado.

Mas se prepare: tudo sempre terá algo picante: não sei mesmo fazer comida sem tempero. Sem gosto. Sem sal. Sem nada... gosto, porque gosto, de novos rumos, do leme, das escolhas. E demais da conta, De Tu.

.: Miragens:.


Dizem que "a Casa do rio Vermelho", descrita por Zélia Gattai, não passava de uma miragem, e que seu amor por Jorge Amado, encoberto por ilusões. Simplórios, não existe perfeição. Existe apenas a qualidade de uma gente que acredita naquilo que quer viver, e prossegue atrás, independentemente de quantas pessoas digam: isto não existe, não é verdade, tudo miragem.... Eu pertenço ao Rio Vermelho, não sou do Suruí, mas persigo na conivência de que existe, em algum lugar, um pé de limão e um banco de madeira com azulejos azuis feito a mão por mim... em algum lugar. Não consigo imaginar alguém que não acomode os sonhos... mesmo que seja em um caderno, em algum lugar do coração, em canto especial da memória. Não sou da Banhia, mas tenho Santa Bárbara e Todos os Santos que acreditam no Amor do meu lado...


Dá-me tua mão de conivência, vamos viver o tempo que nos resta, tão curta a vida!, na medida de nosso desejo, no ritmo de nosso gosto simples, longe das galas, em liberdade e alegria, não somos pavões de opulência nem gênios de ocasião, feitos nas coxas das apologias, somos apenas tu e eu. Sento-me contigo no banco de azulejos à sombra da mangueira, esperando a noite chegar para cobrir de estrelas teus cabelos, Zélia de Euá envolta em lua: dá-me tua mão, sorri teu sorriso, me rejubilo no teu beijo, laurel e recompensa. Aqui, neste recanto do jardim, quero repousar em paz quando chegar a hora, eis meu testamento.
[Jorge Amado, 1992, Navegação de Cabotagem - todas as fotos de Adenor Gondim]

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"Então, lhes conto que deve ser por conta do Estado... não, eu domino aquele território, a probabilidade mais razoável é a comida - viver de peixe não deve dar "sustância", como dizia minha avó, a ninguém... Eu era uma realidade plausível, como o churrasco ao lado, virei miragem, sonho, fumaça e de repente... Estou no saara, na tribo dos suruí, já devo fazer parte de algum livro, catálogo de Hermes... coisas assim. A dificuldade que os homens - que me perdoe Jorge Amado, que se incluia entre esses - de implantar seus sonhos e de todos os dias duvidar deles. Isso me irrita. Porque mesmo não sendo da Bahia, sou pimenta, carne-vermelha, caçadora e Ventania... Eu sonho, crio e realizo: minha casa já tem cor, tem ano, mês e dia. Tem tudo uma cronologia. Não duvido, apenas ponho no papel. E vou atrás, passo a passo, na conivência daquela tua mão indecisa e incapaz, transparente e fugidia. Tens medo do que? Bicho-papão morreu, agora só existe a "Beata", mulher faladeira, que anda de casa em casa fofocando sobre vida alheia. É essa que mata de inveja e olho gordo, e fere corações que se amam. Contra essa, pimenta-vermelha. Do resto, eu não tenho medo. Sou Catarina, Bárbara e Yansã. Sou Maria do Céu e Carolina, como minha trisavó. Sempre com sobrenome Jesus.

segunda-feira, abril 24, 2006


O amor e a dor:.


Eu realmente gosto de muitas coisas do Eric Clapton. Adoro essa música, porque me dá a sensação de que, "por pior que seja a situação", como ele, eu também posso passar pelo inferno, e voltar a viver... não cantando, porque não tenho voz, mas amando e fazendo aquilo que tenho o dom. Adoro a história do "pássaro Azul" e da menina que passeou um monte pelo mundo atrás dele, de sua felicidade, porque eu sempre soube que "não se procura", se encontra... gosto da imagem que o labirinto nos fornece, porque me dá a sensação de que, por pior que seja tudo, tem uma saída; o que devemos é estar indo para o lado errado... Isso realmente me acalma - o conjunto de tudo isso, e mais as palavras do Carpinejar, recortadas e transmutadas. Porque hoje há lágrimas no meu paraíso... mas quem não as teve? Quem não as terá? E sei que tem uma mão, um lenço e um abraço, a minha espera,pra me acalmar.... em algum lugar desse paraíso, do labirinto, voa meu passáro azul. Perto de mim, dentro do meu coração.

"Atrás de homem e de ônibus, não se corre. Sempre vem outro."Eu teria medo de substituir a minha vida por uma ilusão. Sacrificar minha vida por um homem que penso que está fora de mim, e na verdade está dentro aguardando ser encontrado. Nunca soube o que é enterrar "alguém" vivo dentro do coração. É cômodo para ele continuar desse jeito, com os prazeres a costurar junto dos botões das camisas. Ele não corre riscos, não toma atitudes, não empenha a palavra. É capaz de fazer as confidências mais ternas, de comover ao recordar do passado, mas não arreda o pé do seu universo, do seu egoísmo, em mandar em tudo e em todos, sem que percebam que estão sob ordens.

Ser transparente não é só ser sincero, não enganar a ninguém. É ter coragem de se expor, de ser frágil, de chorar, de falar do que sente... Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos e grossos muros que insistimos tanto em nos empenhar para levantar... Ser transparente é permitir que toda a nossa doçura aflore, desabroche, transborde, preencha os labirintos do outro. Quase sempre preferimos ignorar o labirinto do outro, por medo de nos perder na profundidade insana daquele que nos ama. Preferimos uma falsa sensação de proteção, a ter a real emoção de sentir-se seguro. Nos labirintos da vida, nos perdemos de nós mesmos e já não sabemos onde está nossa brandura, nosso amor mais intenso e não-contaminado. Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir o que de mais precioso temos a compartilhar... Sofremos, nos sentimos sós, imensamente tristes e esburacados, mas não admitimos a situação, preferindo viver uma "vida de mentira", forjada e fingida no dia-a-dia de inventar, do que ter que admitir que sim, choramos baixinho antes de dormir, num silêncio que nos remete a uma saudade desesperada de nós mesmos...Porque algo se perdeu de nós, quando desistimos daquilo que pulsava e gritava dentro de nós. Não tivemos coragem de amar aquela pessoa difícil, nos acomodamos na poltrona, e agora temos medo da neve à porta, pelo trabalho de desintranhar de nós mesmos tantas linhas de sentimentos efêmeros que fomos bordando, durante nossa vida-de-mentira. Temos medo de mergulhar no outro, porque o amor sempre traz dor quando chega... desafiando-nos a conquistá-lo. Você é um labirinto onde as ruas tortuosas eu me deleito em trilhar... a cada rua trilhada por engano mais acende minha sede de encontrar a saída. Quando olho do lado de fora acho impraticavél achar a saída. Quando olho do lado de dentro sempre sinto a possibilidade de encontrar a saída. Pois dentro de você sempre encontro a mim...*

*Josefth Claudius

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Tears in Heaven
Would you know my name if I saw you in Heaven?
Would it be the same if I saw you in Heaven?
I must be strong and carry on...
'Cause I know I don't belong here in Heaven.
Would you hold my hand if I saw you in Heaven?
Would you help me stand if I saw you in Heaven?
I'll find my way through night and day,
'Cause I know I just can't stay here in Heaven.
Time can bring you down; time can bend your knees.
Time can break your heart,
have you begging please, begging please.
Beyond the door there's peace... I'm sure,
And I know there'll be no more tears in Heaven.
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Você saberia meu nome se eu o visse no céu?
Seria o mesmo se eu o visse no céu?
Eu devo ser forte e continuar...
Porque sei que nao pertenço ao céu.
Você seguraria minha mão se eu o visse no céu?
Você me ajudaria a ficar em pé se eu o visse no céu?
Encontrarei meu caminho de noite e de dia,
Porque eu sei que não posso ficar aqui no céu.
O tempo pode te derrubar,
o tempo pode dobrar seus joelhos.
O tempo pode quebrar seu coração,
você pede por favor...
implorando, implorando.
Além da porta há paz, tenho certeza,
E eu sei que não haverá mais lágrimas
no Paraíso.

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Eric Clapton

domingo, abril 23, 2006


No fundo, tem...:


Eu, que detesto, abomino e tenho pavor de livro de auto-ajuda, já estou no quarto livro do Augusto Cury. É, conferi suas credenciais, carteirinha, e realmente, suas teorias psicológicas são muito interessantes. Pena que para que se venda algo no Brasil é preciso que seja desta forma: auto-ajuda. Também comprei o livro que o Psiquiatra mais importante do Nordeste do Brasil dizia imprescindivel ser a leitura sobre DDAs. "No mundo da Lua". Por favor, não percam tempo: o livro é tão ridículo, tão medíocre, tão calcado em cima do maravilhoso livro da Ana Beatriz, "mentes inquietas", que já o reservei para a venda no sebo. Ou para jogar na cara do psiquiatra, na próxima conferência por aqui. Pelo livro, concluo que é o médico que tem o transtorno e deve tomar remédio. Pro resto da vida. Também me fascina um livrinho meia-boca, por uma editora pequena, de certo advogado de Curitiba - como descreve bem suas teses... Quero uma hora pra babar em cima, e um autógrafo, antes que vire gigante e inacessível. Chegadas e Partidas tem me feito perder o sono... Annie é realmente boa. Agora, nada, mas nada mesmo, como o último livro da Zibia: Péssimo. Seria melhor ela colocar embaixo do título: como perder sua ética e valores humanos em uma escolha e achar uma justificativa plausível para sua vida. Um horror. Proponho boicote. Também venderei ao sebo, quando ele retornar de viagem. Agora, pra quem curte algo maravilhoso - A vida das abelhas. Obra-prima, fascinante, acho até que sintetiza um pouco do filhote que eu, açafrão-raro-e-caro, mais pimenta-peixe-pescador temos em mente. Cheio de Amor e ao mesmo tempo, verdades reais.

Pepper:.


O homem da minha história ainda não tem nome - ele mesmo não se define. Em dias claros, posso ve-lo como um pescador, talvez pela lembrança do livro "O velho e o Mar", e a sua eterna perseverança e paciência na colheita daquilo que era impossível... Quando há muita nuvem, e pouca visibilidade, é como esse peixe, enclausurado, imaginando-se em clarabóias... quando muito, vivendo em aquários. No frio, uma pimenta, não pela cor, mas pelo sabor, levemente picante, forte, com compostos escondidos em armários, como a piperina. Já valeu no apogeu do Meu País, muitas e muitas gramas de ouro, e hoje, o que ele vale é toda a minha vida... a valorização foi imensa nesse período. O problema do meu amor é seu disfarce: ele sabe como se mesclar aos outros, e em nenhum momento aqueles que não distinguem qualidade de quantidade saberão que por ali anda exemplar raríssimo, desses que são capazes de nos alimentar, e ainda nos rejuvenescer, impedindo nossa decomposição por meios variados, que aqui não posso detalhar... Seria estranho e altamente impeditivo para a minha crença falar em comida, paixão e conservas, assim, de modo tão aberto e público...


O que me preocupa, na verdade, neste exato momento dessa madrugada, em algum lugar do país, é que, sabendo eu ser como a especiaria raríssima chamada açafrão, originária do Mar mediterrâneo, extraída da variedade de Crocus sativus, pó de cor avermelhada, sendo atualmente a mais cara do mundo, uma vez que para minha composição são necessárias muitas e muitas gramas de milhares de estigmas de flores desta planta correta... Será que sou eu o condimento certo para esse homem maravilhoso? Homem-de-muitas-faces: pimenta-do-reino, peixe no aquário ou pescador em Salvador... Eu, que exigo tanta profundidade, a vida da pessoa e o sangue no corre-corre do dia, no cotidiano dependuro-o de cabeça pra baixo, numa sucessão infinita de alta rotação... Talvez daí advenha o medo de que este Homem-Amor, meu peixe-querido não seja assim tão resistente, quem sabe é da espécie beta-que-morrem-quando-chegam-na-sua-casa-após-a-exposição, e então, diante disso, Ele, o meu Amor-além-da-vida, resolva se contentar com algo mais simples, como a substituta especiaria, a idiota do açafrão indiano ou da terra, com efeito parecido para aqueles que não sabem oq ue comem, e muito, mas muito mais barato, porque não exige interior, é tudo exteriormente ali... Cópia pirata. E mais: segura, porque vem junto o sofá, chinelo e televisão de 29 polegadas. Comigo, no máximo, uma corda pra você pendurar na árvore mais alta, e fazer o nosso balanço, de amor, cheiro e comida. Pro que der e vier...Como diria Drummond, Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la... Eu que já achei esse um, temo pelos montes de motivos existentes na minha vida para abafar o um que não sei se já conseguiu enxergar, em meio a névoa, trovoada e tempestade...

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Mais? Ainda choro pela minha cachorra, pelas criancas-vizinhas que a furtaram da minha casa, recém-vinda do Pet Shop (sim, o preço do pacote mensal era caro!), eu adorava aquela baforenta que me lambia a cara e dormia embaixo da minha cama... Não fiz a colheita do sangue dela, nem identidade canina, então como provar que as crianças que eu vi no portão da minha casa, e moradoras-inquilinas duas quadras abaixo, são as donas e não eu? Sei, nem mesmo a super maravilhosa e fantástica advogada que há em mim é capaz de ir além da ética e do amor... pelas crianças. A perda foi um rombo no meu coração, mas a pimenta cura. Quanto ao homem que detém muitas peças, não, nem tentem... Pode ser a menor-abandonada, eu já aviso: sou expert em quebra-cabeças de 5.000 peças. E nada, mas nada, leva embora o que é do meu caminho e da minha vida. Por merecimento e dignidade. Além da vida, Por Amor.

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Pra termintar, minha irmã liga: querida, não esquece ninguém dentro do carro. Não esquece de buscar na escolinha. Não esquece... Ei, quem tem a Sindrome da Gerbera laranja não sou eu. Tudo bem, já esqueci muitas coisas... mas foram esquecimentos que tinham justificativas - lógico que impossíveis de falar para os esquecidos... A gérbera que segure o talo!

sábado, abril 22, 2006


TAD:.


Em um mundo tão complicado, precisamos de YODAS, pessoas em que possamos confiar plenamente. E no lugar de remoer dores, melhor entendê-las. Porque nunca é tarde demais para fazer o que queremos; começar algo com que sonhamos; amar aquilo que nos faz feliz e em paz. Na vida, há sempre tempo pra tudo. Depois da tempestade, escuridão e tsunami, vem a luz, o brilho luminoso da ajuda de muitos e o amor corajoso daquele por quem nossa alma clamou...

Tristeza de cera:.


Eu sinto um frio
Que vem do seu coração
Mesmo nesse sol de verão
Apenas um suspiro
E um olhar perdido
Por que as coisas são assim?
Estamos perto um do outro
Mas você está longe de mim
É tão fácil, mas é impossível dizer.
Foi o tempo
Que tomou suas palavras
E hoje você parece
Uma boneca de cera
Com sua cara triste
Não sente os pingos da chuva
Nem minha presença sente também
Amiga eu quero lhe mostrar
Que estou ao seu lado
Amiga eu não quero te ver chorando
Foi o tempo
Que tomou suas palavras
Mas dê um tempo
Pra que seu imenso vazio
Seja tomado
Pela vontade de criar e viver

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IRA, Boneca de Cera

Casa pré-fabricada:.


Abre os teus armários
Eu estou a te esperar
para ver deitar o sol
sob os teus braços castos
Cobre a culpa vã
até amanhã eu vou ficar...
e fazer do teu sorriso um abrigo
Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encanta
Canta para mim
qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais

Vele o meu pranto
que esse canto em solidão...
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela
primavera quer entrar
pra fazer da nossa voz uma só nota.

Tudo ao mesmo tempo:.


Lelê foi embora. Detesto perdas. Principalmente quando já crio um enorme lugar no meu coração para agasalhar, nesse caso, o animal. Nunca mais eu quero cãs. Nem Letícias. Muito menos poodles cinzas que se vão, sem pedir explicações, sem dizer porque... Sem aviso prévio. Eu, agora, só aceito gatos. Porque conheço sua liberdade, nem os amo inteiramente. Deixo-os com asas, pra irem quando quiserem... voltarem quando puderem.

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Dizem que para o amor chegar não há dia, não há hora nem momento marcado para acontecer. Ele vem de repente e se instala no mais sensível dos nossos órgãos, o coração. Começo a acreditar que sim. Mas percebo também que pelo fato deste momento não ser determinado pelas pessoas, quando chega, quase sempre os sintomas são arrebatadores. Vira tudo às avessas e a bagunça feliz se faz instalada. Quando duas almas se encontram o que realça primeiro não é a aparência física, mas a semelhança d'almas. Elas se compreendem e sentem falta uma da outra. Se entristecem por não terem se encontrado antes, afinal tudo poderia ser tão diferente. No entanto sabem que o caminho é este e que não haverá retorno para as suas pretensões. É como se elas falassem além das palavras, entendessem a tristeza do outro, a alegria, o desejo, mesmo estando em lugares diferentes. Quando almas afins se entrelaçam passam a sentir saudade uma da outra num processo contínuo de reaproximação até a consumação. Almas que se encontram podem sofrer bastante também, pois muitas vezes tais encontros acontecem em momentos onde não mais podem extravasar toda a plenitude do amor que carregam, toda a alegria de amar e querer compartilhar a vida com o outro, toda a emoção contida à espera do encontro fatal. Desejam coisas que se tornam quase impossíveis, mas que são tão simples de viver. Como ver o pôr-do-sol, caminhar por uma estrada com lindas árvores, ver a noite chegar, ir ao cinema e comer pipocas, rir e brincar, brigar às vezes, mas fazer as pazes com um jeitinho muito especial. Amar e amar, muitas vezes sabendo que logo depois poderão estar juntas de novo sem que a despedida se faça presente. Porém muitas vezes elas se encontram em um tempo e em um espaço diferentes do que suas realidades possam permitir. Mas depois que se encontram ficam marcadas, tatuadas e ainda que nunca venham a caminhar para sempre juntas, elas jamais conseguirão se separar. E o mais importante: terão de se encontrar em algum lugar. Almas que se encontram jamais se sentirão sozinhas porquanto entenderão, por si só, a infinita necessidade que têm uma da outra para toda a eternidade. Voltam, apenas para sustentar cada passo do seu amor...
Paulo Fuentes

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Memórias no Divã
E ao final do livro, Yalom repete umas cinco vezes (pelo menos), o que tem em cima da mesa do velho psiquiatra, cada vez que ele entra em sua casa, deixado por sua mulher, psicóloga, amante do guru-de-yoga e fanática por Ikebana. O significado do copo-de-leite, eu deveria ter notado. Mas ele nem é Jung, totalmente Freud, e eu fiquei sem saber o que a tal flor queria tanto dizer pro velho - que ela o estava traindo? Que ela queria mais sexo? Que ela o que, meu? Portanto, se flor significa tanto assim, nem digo qual é a minha. Mas posto a da amiga, risos, que sempre se encarrega de deitar no divã, pra análises sinistras de uma vã psicanalista...

Copo-de-leite: Conhecido como Lírio do Nilo. Com uma beleza muito atraente, as mais lindas palavras de amor são ditas através do gesto de presentear com essa flores, pois o seu significado associa-se à inocência e pureza, ao sagrado e a paz. Considerado também erótico devido a sua imagem e seu cheiro, pois tem um talo arredondado ao redor do qual as flores, símbolo de feminilidade, crescem, e no meio há um caule amarelo que representa o falo, e de onde exala um perfume sedutor, convidativo ao amor. Para outro site, mais simples e totalmente direto, essa flor representa Indiferença, e requer muita perspicácia no seu uso para dizer algo a alguém.... pois muitos não entendem nada, além do falo sugestivo e amarelo.

Gérbera: Significa a inocência da criança, representa a sensibilidade, a sensualidade, o charme e a essência, o amor e a nobreza, a virtude a dedicação e a quietude, a alegria e a simplicidade, e a pureza. Mais do que tudo, no outro site, quer dizer beleza. Que a pessoa que coloca essa flor como símbolo de algo, já está sugestivamente querendo embelezar algo que sabe que "não tem tanta cor assim".
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Bem, dois sites, duas interpretações. Que cada um fique com a sua, eu já escolhi a minha.

quarta-feira, abril 19, 2006


Espera e Tempero:.

Insuportabilidades
Poema de Anamerij

"Dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer. É uma coisa clarice nos dentros,é um jeito lispector de resistir-me. As multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra. "Reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."* ( de Clarice), desensofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias. Bebo doses amargas de pânico. Antagonicamente sinto , que minha esperança ( retinta demais) é tola, quase beirando ao patético, e ao mesmo tempo faço-me em compasso de aguardos. Aaguardar o quê? As horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me? Ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos uma solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como...sem entender sequer se houve um talvez. Talvez, é a palavra mais ferina e acre. Talvez... se pudesse viver de novo. talvez...se pudesse passar a limpo.Talvez...se outras escolhas. Talvez! Advérbio tinhoso e martelante, incógnita destes meus existires. Um tanto-muito, desventado feito páginas velhas, letras esmaecidas por descuidos, ou desusos. Misturadas emoções plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência, por não saber o que fazer delas. EscreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso, quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas. Dor de incerteza é aguda. Finca. Fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da nossa meada, desenovelando as fibras,embaraçando os fios da vida. O que me adoece mesmo é esta insuportabilidade estática diante as multipliCidades dos meus sentires,dúbios-fundos-confusos. (...)quem sabe, um dia, talvez.... com meu cão , com meu jardim....aprendo. (...) A dor que sinto não é de vazios dentro de mim, mas de vozes-ternuras, mãos- aquecidas, palavras - ecoantes, promessas- vidas... Dentro de mim, um rio...uma pedra...uma trilha...uma rua...uma estrela...(...)A dor que sinto é de cheios...Dentro de mim...moradas. Carrego multidões alvoroçadas. A dor que sinto...não é de retalhos... Padeço de inteiros!"

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Quando abrimos o nosso coração para tudo o que existe... descobrimos um mundo onde vivemos. Assim, o paradoxo: quanto mais fácil se torna viajar externamente, nas asas dos jatos supersônicos e via internet, mais difícil se torna viajar sabiamente. Ficamos com muitos quilômetros voados e diferentes carimbos no passaporte, mas cresce em nós a suspeita de que nossas viagens perderam alguma coisa fundamental. T. S. Eliot perguntava, sobre os tempos modernos: onde está a sabedoria que perdemos com os conhecimentos? Onde estão os conhecimentos que perdemos com as informações?"
Phil Cosineau, em A Arte da Peregrinação

Genji Monogatari:.


Amor, traição e ambição num dos romances mais antigos e famosos do Japão. A obra literária mais famosa do Japão antigo foi escrita por uma mulher, curiosamente numa época em que escrever ou fazer poemas era privilégio de homens. Murassaki Shikibu, filha de um poeta que exerceu vários cargos no governo, tornou-se dama de companhia de uma das mulheres favoritas do imperador Itijô. Permaneceu oito anos no palácio imperial e nesse ínterim captou todos os conhecimentos para colocar o “Genji Monogatari”, um romance que retrata o drama vivido pelos homens e mulheres da época. Amor traição, ambição, angústia e tristeza, enfim, todas as paixões da vida humana são apresentadas com clareza em cinqüenta e quatro seções do livro.

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NO TEMPO DE GENJI

No século XI, Era Heian, a cultura japonesa de modo geral floresceu e se desenvolveu espantosamente. Não havia guerra nem cataclismos, nem grandes modificações políticas. O povo vivia em paz. E no palácio imperial, promovia-se festas, concursos e competições, os quais propiciavam o surgimento de muitos romances entre os privilegiados membros da corte. O personagem principal é Hikaru Genji (lê-se rikaru guenji). Como demonstra seu próprio nome (“hikaru” significa brilhar), era o que se poderia dizer um príncipe verdadeiramente brilhante, que se destacava em todos os sentidos, tanto pela beleza física como pela sua educação cultural. Hikaru era um dos filhos do imperador, mas não conseguiu ser o seu sucessor. Ainda jovem, se apaixonara por uma das favoritas do imperador, Fujitsubo, o grande amor de sua vida, e por infelicidade, um amor impossível. Durante sua vida, ele amou diversas mulheres, mas não conseguiu esquecer o primeiro amor. Possuía todas as condições para ser o imperador, mas não o podia. Esses dois motivos o perseguiram a vida toda, causando-lhe constante conflito interno.

A história começa com Kiritsubo, mãe de Hikaru Genji, que recebia atenção especial do imperador por sua beleza incomum. Por outro lado ela sofria com a inveja das outras mulheres. Kiritsubo faleceu muito cedo, mas a imagem da mãe de fina educação que causava inveja e ciúme a outras mulheres ficou guardada na mente de Hikaru. Tanto que é Hikaru, muito jovem, se apaixona por Fujitsubo, que possuía fina educação e tinha feições parecidas com a da sua falecida mãe. Aos doze anos, segundo o costume da época, Hikaru teve seu penteado alterado para o de adulto (considerava-se então adulto aos doze anos de idade). E na mesma noite ele contrai matrimônio com a filha de um poderoso fidalgo, a quem o imperador havia prometido o seu filho. Hikaru foi morar na casa da noiva, conforme o costume, mas não se interessava pela esposa, saía a procura de aventuras amorosas. Foram muitas as aventuras com mulheres de todas as classes sociais, algumas belas, algumas cultas e outras nem belas nem cultas.

Um dia um sábio olhou para Hikaru Genji e lhe disse que possuía tudo para ser imperador, mas não chegaria a sê-lo. Em contrapartida um filho subirá ao trono, outro será “Dajôdaijin” (um cargo supremo) e a única filha, imperatriz. Tudo aconteceu exatamente segundo esta profecia. Primeiramente, Hikaru Genji ousou a conquista de Fujitsubo, a eleita do pai imperador, a qual concebeu um menino que reconheceram como se fosse filho do imperador. Embora suas feições se assemelhassem evidentemente com as de Hikaru Genji o imperador o adorava sem desconfiar da verdade. Fujitsubo, de vergonha e remorso, não suportou a situação. Pediu a Hikaru Genji que cuidasse do menino, e decidiu-se drasticamente a isolar-se do mundo enclausurando-se num monastério. Hikaru Genji pela primeira vez sentiu a felicidade de ser pai, mas dadas as circunstâncias, esteve impedido de senti-la na sua plenitude, porque não podia trata-lo como filho. Este menino tão lindo quanto o pai, mais tarde subiu ao trono para ser imperador.

Este conto narra uma história de amor e da sensação de "saudades das coisas", correspondente à sensível lição de Buda, segundo a qual "toda a vida é tristeza".

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Genji Monogatari não é um romance sobre disputa de poderes. É uma obra sobre o amor e o sofrimento causado por esse amor, no cenário de luxo da corte e dos costumes da época. Trata-se de um documento precioso que é considerado um tesouro da história do Japão. A escritora e tradutora Mitsuko Kawai, falecida em 1996, publicou um livrete chamado “Introdução ao Guenji Monogatari”, com tiragem limitada, de onde foram tiradas muitas das informações deste artigo.
Mais? Por aqui há tantas flores...

Velhos paradigmas:.


Se você não mudar a direção, terminará exatamente onde partiu. Se você não mudar seus pensamentos, sua lápide não terá a inscrição que pediu. E sua vida não conterá a história que deveria ser escrita. Tudo terá sido em vão, se você não souber quando aproveitar oportunidades, e qual a hora de seguir o Amor. Porque o que vale a pena viver é encontrar dentro de si um sentimento forte o bastante pra valer pela nossa vida.

Lelê:.

A hipótese mais aceita sobre a origem do poodle é a que ele se originou do barbet, um cão de mostra francês, que hoje em dia está quase que totalmente desaparecido. A Europa Continental conheceu o Poodle bem antes dele chegar à Inglaterra. Desenhos do artista alemão Albrecht Durer estabelecem a raça no século XV e XVI e na Espanha era o principal pet no final do século XVIII como podemos observar em pinturas do artista espanhol Goya. Na mesma época na França, durante o reinado de Luiz XVI, os Toys já eram tratados com muito mimo por membros da corte. Excelente cão de companhia, com linhas harmoniosas, o pêlo crespo ou encaracolado, e deve tosado de forma que o distingue das outras raças. Possui um visual elegante, digno e andadura leve, saltitante e ligeira. Sua aguda inteligência faz com que seja agrupado entre as raças mais aptas ao adestramento pois aprende com grande facilidade os mais diversos exercícios. Além de ser extremamente fiel e devotado ao dono. O poodle micro, é também chamado de poodle de bolso, são aqueles que geralmente atingem no máximo os 20 cm, mais do que isso ele é considerado toy. O tamanho micro é quase que impossível de se prever, pois, para que a ninhada seja de micros é necessário que possuam quatro gerações anteriores de animais tamanho micro.

O pequeno tamanho está associado algumas vezes à praticidade. O público feminino se identifica mais com essa variedade, porque uma mulher gosta mesmo de tudo que lembra o aspecto delicado, bibelô das coisas, e o instinto maternal aparece nessas horas. O Poodle pequeno chama a atenção de pessoas delicadas e com trato refinado, por uma questão de identificação com essa natureza carente. Poucos não ouviram falar da graça e da inteligência características da raça Poodle. Os fatores que devem ser levados em consideração na hora de decidir por um Poodle pequeno englobam características de comportamento, resistência física e cuidados necessários. O poodle Micro, pelas limitações físicas, é um pouco mais retraído e ficam na defensiva, preferem pular sem parar junto ao dono, pedindo colo. O Micro é mais de ficar parado no canto dele, até brinca, mas se cansa mais rápido, tiram várias sonecas durante o dia em horários definidos e não abrem mão. O grande problema para a Lelê é Beatriz Joana, a enorme menina que para ela deve ter engolido um cogumelo, e insiste que o cachorro é o seu brinquedo, carregando pela casa inteira. Ela não tem noção da fragilidade da Letícia, e que essa só gosta de ficar no colo da dona, comer carne moída e Royal Canin, e dormir no travesseiro mais fofo da casa. Mimada, meiga, nem late, talvez porque vive protegida pela dona. Não dá trabalho, não se suja, aprendeu a fazer sua higiene em ambiente correto, adora passear de carro, no colo ou ficarem na cadeira de balanço, assistindo tv. Lelê é antisocial, pronta pra fugir se algum desconhecido se aproxima, e adora dormir na cama, embaixo... num colchão próprio para ela.

Por tudo isso foi que Letícia Encarnação DarkWind entrou pra família: como a dona e a filha, é chata, chorona e insuportavelmente mimada. Procuramos agora um gato, com as mesmas qualidades. Quanto gato-humano, já arrumamos o correto: para aguentar tudo isso é um santo homem, agraciado com uma alma de Davi e sabedoria de Salomão. Mais? Bem, também é chato e adora ser paparicado. Lindo, lindo, todo lindo ele... mas não é cinza, padrão branco. Aquele adágio, "semelhante atrai semelhante", acreditem... é a mais pura verdade.

terça-feira, abril 18, 2006


PAIXÕES LOUCAS:.

E LOUCOS AMORES

Mitos são relatos que pretendem provocar medo e compaixão por meio da narrativa das peripécias de um herói que atravessa privações. Sua capacidade de desvendar enigmas o diferencia dos simples mortais. Embrenhadas numa floresta de emoções selvagens, dispostas a tudo para encontrar seu cavaleiro combatente, que irá salvá-las da vida medíocre e confinada nos castelos, as bruxas-ainhas de antigamente casavam, e passavam a vida inteirinha tentando viver o mito do Amor - aliás, só foi alcançado pela querida do Rei Arthur, contando com a colaboração do seu melhor amigo, Lancelot. É, tudo igual: mitológico, mas as traições continuam vindo das partes que mais estão perto, as mulheres querem segurança, e depois buscar o amor forte que dê vazão a vida delas, e os homens... ah, esses ainda se debatem entre cruzadas e cornos, ora levando, ora fornecendo, numa busca interior pelo santo graal, sua musa interior. Assim, conseguimos criar e construir, a partir destas costuras, e de inúmeras pequenas outras fábulas, histórias de Amor e Paixão, que poderiam ser capazes de transmitir algum tipo de sabedoria sobre a existência humana, ou pelo menos decifrar quando é paixão, ou amor pra vida inteira. Como anuncia a profética Nyvene, na história do Rei Transparente: "Nosso destino é um mistério, e talvez o sentido da vida não seja mais do que a busca desse sentido."

Cavalgando na história, olhando passando e recriando-o a partir dos meus olhos, que só teimam em olhar para outros belos também, quantas são as histórias que falam por si mesmas, dispensando grandes teorias, desde a diversidade de expressão da paixão por meio de comportamentos irracionais, até casais, como John Lennon e Yoko, que passaram nos pregando a paz publicamente e vivendo em guerra permanentemente, num ciclo de vício, loucura e dependência emocional; cozinhando junto podemos incluir a idolatria, ingrediente da paixão que unia Evita pelo marido ditador argentino Juan Perón - um amor que durou pouco: em 1952, aos 33 anos, Evita morreu de câncer. Também, lógico, há os Amores de Adoração - e renúncia, como o que viveu o príncipe de Gales, Edward, aquele que abandonou o trono da Inglaterra para casar-se com a plebéia americana Wallis Simpson, e o que circulava nas rodas londrinas daquela época, era que o ex-rei sofria com dificuldades sexuais, sanadas pela caprichosa estrangeira - que teria, inclusive, atirado vasos em sua cabeça ao saber da renúncia ao trono.

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A célebre união de Leon e Sônia Tostói, ele com 34 anos, ela com 18, quando se casaram. Pobre mulher - ninguém a avisou da armadilha que estava caindo "por ou sem querer"', já que seu marido era bissexual, bebia demais, devia sofrer de "transtorno bipolar" pois conseguia ser anjo e fera, gênio e miserável, tudo numa mesma vida. Imaginem que ficou grávida 16 vezes: sofreu três abortos, e perdeu 4 filhos. Além de tudo isso (deveria ser carma de muitas vidas), o marido com 49 anos se torna depressivo. Depois de tudo isso, conhecida como "a doida que não deixava o gênio trabalhar", pouco a pouco foi perdendo o pé das coisas, e se o louco do marido Tolstói atraia tanta gente e não era considerado louco pelos malucos seguidores, só podia ser ela a louca da casa". Mais um caso clássico onde o marido consegue colocar toda a culpa nas nádegas da mulher. Sempre a mesma ladainha... Neste interlúdio de tempo, a pobre Sônia perde a razão e se entrega a histeria e a paranóia - coisa de mulheres, para a história, desde os tempos de Cassandra. Nas muitas crises que teve, chegou a se jogar numa represa gelada, tentar atirar-se num poço e golpear o próprio peito com um martelo, num desespero maluco pra se livrar do doido que tinha como marido. A sanidade só voltou com a morte do marido. Quem não reparou que depois que a mulher se separa, fica muito mais bonita e atraente? Ela se liberta do casulo...

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Outra história, da Joana, a Louca, que em 1496, conhece seu marido, Filipe, o belo. Neurótica, a princesa espanhola protagonizou cenas inesquecíveis em nome da paixão por seu marido, Filipe, o Belo: talhou o rosto de uma suposta amante do marido, para em seguida ser trancafiada por ele. Quando Filipe morreu prematuramente, aos 28 anos, Joana endoidou de vez e proibiu que qualquer mulher se aproximasse dos restos mortais, os quais ela abraçava de tempos em tempos. "Contam que Joana mandou desenterrar o príncipe, que havia sido sepultado na abadia de Miraflores, e que ia vê-lo todas as semanas, abrindo o caixão, desamarrando o sudário e beijando os pés do defunto. E que depois, quando a peste a obrigou a sair de Burgos, levou consigo o cadáver de Felipe". Durante o casamento, "Felipe enganou e desrespeitou cada vez mais abertamente sua mulher, e Joana, como costuma acontecer, foi ficando mais e mais obcecada por ele. O arquiduque a deixava trancada em seus aposentos durante semanas, e ela passava a noite golpeando as paredes para irritar as companhias do marido." A última rainha titular da história da Espanha morreu no fim de 1555, paralítica da cintura para baixo e atormentada pelas dores horríveis da gangrena. Tinha 77 anos e havia passado os últimos 47 encerrada em Tordesilhas. Em frente ao castelo, no convento de Santa Clara, continuavam repousando, insepultos, os mal-embalsamados restos de seu marido. Tinha eu professora de segundo-grau que dizia: "ah, certas transas merecem toda nossa gloriosa vida". Esse Felipe deveria ser o tal dos tais...

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Segundo a história oficial do autor de A ilha do tesouro, e O médico e o monstro, Robert Louis Stevenson, nascido em Edimburgo, na Escócia, a 13 de novembro de 1850, e com problemas de pulmão, sua família contratou uma enfermeira, uma excelente contadora de histórias, para cuidar do pequeno Robert. De ouvinte para leitor entusiasmado foi só um pulo. De leitor para inventor de histórias, outro pulo. Começou escrevendo relatos das viagens que fez, e numa dessas, em 1876, conheceu sua futura esposa, a americana Fanny Osbourne, que estava se divorciando do marido. Para poder ficar com a dama, Robert enfrentou deus e o mundo: sua família religiosa, a conservadora Inglaterra, os indignados fãs... e venceu, ao se casar em 1880, já tendo ao seu lado dois filhos do primeiro casamento de sua esposa. Em 1888, após a morte do seu pai, mudou-se com a família para a Oceania, onde passou os últimos anos de sua vida. Lá, foi carinhosamente batizado pelos nativos de ''Tusitala'' - ''o contador de histórias''. Sua aventura terminou no dia 3 de dezembro de 1894. Ele, que passou a vida toda ameaçado pela tuberculose, acabou fulminado por uma hemorragia cerebral. Tal qual o conto que li, relatam que sua esposa, esta tal Fanny, era pior que o diabo: exigente, chata, feroz e ultra-poderosa-controladora de tudo o que o marido fazia. Também deveria ter o controle da conta-corrente, dos talões de cheque, dos livros e de tudo mais, levando muitos a crerem que seja ela a musa na história do Monstro. Talvez o que desconcerte os tais que escreveram sobre o autor-gênio fosse essa maravilhosa mulher, que sabia seduzir, que havia ficado ao seu lado, até o final, mesmo com sua famosa e evidente esquisitice; e o pior: o fato de que acabou sendo uma deliciosa velha dama indigna porque, quando viúva de Stevenson, percorreu o mundo com seu último amante, o desenhista, roteirista de Hollywood e dramaturgo Ned Field, um rapaz esperto e bonito, que se apaixonou por ela quando Fanny tinha 63 anos e ele 23. Devia ter ela certos atributos fantásticos para tal empreitada... pois esses dois ficaram juntos durante mais de uma década, até que ela morreu, em 1914, aos 74 anos. ''Na ocasião, Ned escreveu um emocionado texto necrológico no qual dizia que Fanny 'tinha um cheiro selvagem' e que ela era 'a única mulher no mundo pela qual eu podia imaginar que um homem estivesse disposto a morrer". Inveja dos biográfos, que queriam sim, uma mulher dessa maneira.

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Histórias comoventes que associam louca paixão ao desequilíbrio são inúmeras. Sentimento passional, miragem, efeito de droga, que "faz com que muitos matem", na alegada dita da defesa do Grande Amor, imaginado na cabeça de quem o vive, e insano por quem os vê diariamente. Quando nos apaixonamos loucamente, estamos sempre um pouco doentes. Liz Taylor e Richard Burton, não ficavam separados, mas não conseguiam ficar juntos. Cleópatra e Marco Antônio, (...) com um encenação magistral, a rainha adulava Antônio, ao compará-lo com Dioniso; oferecia-se a si mesma como deusa do amor e já definia o caráter de sua relação: seria 'para o bem da Ásia'. Na cabeça de Cleópatra ferviam os impérios (...) Ele estava de quatro pela rainha. Em Roma, seus inimigos faziam correr boatos sobre o feitiço que o mantinha idiotizado. Era um submisso, diziam: a egípcia o manipulava como um fantoche. O certo é que tudo ia mal para Antônio desde que se unira a Cleópatra. Após serem derrotados por Otávio na batalha naval de Ácio, ambos cometeram suicídio, tendo Cleópatra se deixado picar por uma serpente, em Alexandria, no ano 30 a.C. Após isto, o Egito voltou às mãos de Roma. ''Quando Otávio chegou às portas da cidade, a rainha se trancou com duas escravas em seu sepulcro e soltou o boato de que havia se matado. Ao saber da notícia, tentou suicidar-se, mas como era covarde não conseguiu. Havia cravado a espada no próprio ventre e se retorcia em meio a grandes dores, pedindo a gritos que dessem o golpe de misericórdia. Ninguém se atreveu. Cleópatra, ao saber de seu estado, ordenou que o trouxessem ao sepulcro; como a porta tinha sido vedada, tiveram que amarrar Antônio a uma corda e içá-lo por uma janela. Foi uma cena torpe, trágica, patética, com o corpulento romano pendurado na corda, um fardo ensangüentado e bamboleante, enquanto Cleópatra e suas duas escravas o subiam a muque com grande dificuldade. Já dentro da tumba, Antônio morreu enfim nos braços de sua amada. Dizem que ela o pranteou amargamente, e eu acredito: com ele morriam toda a sua juventude, seus sonhos de glória e seu futuro. Ela estava com 39 anos; ele, com 55. Poucos dias mais tarde, já prisioneira de Otávio, Cleópatra se suicidou com veneno de áspide para não passar pelo opróbrio de ser exibida como troféu de guerra. Ela, grandiosa e terrível, soube morrer, enfim, com dignidade''. Mais recente, quase chegando as lágrimas, temos a louca história de um amor amalucado - a Rainha Vitória e o Principe Albert.

Apaixonada pelo primo, o príncipe Albert da Saxônia-Coburgo, foi a Rainha Vitória quem tomou a iniciativa de pedi-lo em casamento. Ele aceitou. Foi a primeira vez que se teve notícias de alguém se casar por amor. E Vitória foi ainda mais ousada: acrescentou ao seu traje nupcial algo proibido para uma rainha na época: um véu. Nascia aí um costume que atravessaria o tempo. ''Vitória e Albert tinham se visto pela primeira vez aos 17 anos, já sabendo ambos que a família pretendia casá-los. Passearam juntos durante algumas semanas, e a adolescente e gordinha Vitória ficou encantada por seu primo. Porque Albert era alto e lindo de morrer, com um corpo esbelto e incríveis olhos azuis. O diário da então ainda princesa está cheio de anotações, furiosamente sublinhadas, sobre os lábios, os dentes, o olhar, a graça, a inteligência de 'meu queridíssimo primo Albert'. Ele, por seu lado, limitou-se a comentar que Vitória 'era muito amistosa'. Quando afinal o rapaz foi embora, ela ficou desconsolada: 'Chorei sem parar, amargamente.' (..) Só voltaram a ver-se três anos mais tarde. Vitória já era rainha da Inglaterra fazia dois anos, e estava curtindo sua independência e seu poder. (...) Albert chegou à corte inglesa em 10 de outubro de 1839. Era uma quinta-feira. Na segunda, Vitória comunicou ao seu primeiro-ministro que queria casar-se imediatamente com Albert; e na terça a trepidante rainha se declarou ao primo: 'Disse-lhe que me encheria de felicidade se ele aceitasse meu pedido [de casamento].' A rainha, enfim, ama Albert com loucura; e Albert, por sua vez, ama ser amado, sobretudo pela rainha da Inglaterra, e ainda mais quando essa rainha é uma personagem tão cheia de vida e com uma paixão tão transbordante: 'O que fiz para merecer tanto amor, tanto afeto?', escreve para ela, poucas horas depois: 'De corpo e alma sempre teu escravo, teu leal Albert.' Dois meses depois já eram marido e mulher. (...) Dezenove anos durou essa relação, sem dúvida amorosa, embora não se saiba ao certo se chegou a ser carnal, até a morte de Albert, em 1883. A rainha, enfim, sobreviveu a quase todo mundo, incluindo quatro de seus filhos. Quando morreu, já octogenária, em 1901, foi enterrada em um caríssimo panteão ao lado de seu amado Albert. Morreu aparentemente em plena glória, sendo a grande Imperatriz da Índia e a orgulhosa rainha da Inglaterra; mas na verdade a monarquia havia perdido todo o poder executivo durante seu reinado; e além disso iniciava-se o nada vitoriano século XX e, com ele, o declínio fatal do Império Britânico".

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Nenhuma outra história de paixão e sentimento insano é tão chocante quanto a do pintor Amedeo Modigliani e da estudante de arte Jeanne Hébuterne. Tuberculoso, desorientado, ele levou a vida dos dois à mais completa escuridão. O relato sobre as últimas semanas de vida do casal, trancado num estúdio, sem água e sem comida, em que ele agonizava e ela tramava o próprio suicídio, parece muito distante da tal felicidade que, na teoria, anda a reboque do amor. O pintor italiano, um gênio criativo que viveu e absorveu a charmosa Paris do início do século 20 com uma atração incontrolável pela beleza, revolucionou o mundo das artes. Em 1917, Modigliani conhece uma jovem de dezenove anos, Jeanne, que estuda na Académie Colarossi. Mudam-se para um apartamento na Rue de la Grande Chaumière. Em 29 de novembro, em Nice, Jeanne Hébuterne dá à luz uma menina, que é reconhecida por Modigliani como sua filha. Recebe o mesmo nome de batismo da mãe. ''Em maio de 1919, Modigliani fugiu para Paris. Disse que ia por uns dias, mas não voltou. Lá, foi viver com Lunia, uma bela polonesa; bebia menos, pintava, estava melhor. Mas Jeanne não podia admitir isso, obviamente. No final de junho apareceu em Paris com a menina e com uma amarga surpresa: estava grávida de novo. ''Não temos sorte'', disse Modigliani. Aquele verão foi um inferno. Agora viviam mesmo juntos, agora Amedeo não podia fugir, a não ser morrendo. Fazia tanto calor que as pedras do calçamento derretiam, a menina chorava o dia inteiro, Jeanne estava deprimida e ele havia embarcado numa furiosa corrida rumo à destruição: escarrava sangue, havia perdido todos os dentes (que estrago para o belo Modigliani), acabava na cadeia todas as noites por causa de seus delírios de hostilidade. Os amigos, preocupados, tiraram a criança daquele ambiente pavoroso e a colocaram num abrigo. Em seguida Lunia e Zborowsky tentaram tirar de Paris o próprio Modigliani. No começo, Amedeo concordou, mas quando vieram buscá-lo, a grávida e pálida Hébuterne desceu com ele para a rua: não iriam a lugar nenhum sem ela. Assim foi abortada a última tentativa de fuga. Modigliani não se atreveu a abandonar Jeanne. Talvez por covardia; ou talvez porque, no fundo, Amedeo não fosse má pessoa. Ou talvez, simplesmente, pela mecânica fatal da perdição. Quando uma pessoa se instala no sofrimento, alguma coisa impele a aumentar a dor, da mesma maneira que a língua cutuca uma e outra vez a pequena ferida de uma gengiva até transformá-la em chaga. E assim Amedeo e Jeanne cumpriram avidamente todos os passos da catástrofe. É possível que, separadamente, tivessem conseguido se salvar e ser mais felizes; e é possível que não, porque os dois traziam dentro de si, cada um a seu modo, o negror.'' Em 24 de janeiro de 1920, Modigliani morre no Charité de Paris. No dia seguinte, Jeanne Hébuterne suicida-se.

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Diz a lenda oficial que Mariano José de Larra (1809-1837), o melhor representante espanhol do Romantismo, foi um homem turbulento, emotivo e sofredor, como corresponde ao clichê romântico; e que, na flor da idade e no auge do êxito, enlouqueceu por uma mulher casada e estourou os miolos com um disparo por puro desespero apaixonado. Mas as lendas, como se sabe, esquematizam e não raro traem a realidade. A vida de Larra tem muito mais ingredientes, mais matizes. E um bom número de enigmas não-resolvidos.'' [trecho do livro]. Larra casou-se com Josefina Wetoret em 1829, um matrimonio infeliz. ''O casamento foi uma catástrofe: Larra era um imaturo que preferia ir para sua tertúlia no café do Príncipe a ficar com a mulher ou ganhar dinheiro para sustentar a casa, e Pepita era uma pessoa ciumenta e insuportável. Tiveram três filhos, mas o terceiro, nascido em 1833, nunca foi reconhecido por Larra. Por fim, no início de 1834, Pepita abandonou o lar, deixando Mariano José com os filhos.'' A ruptura final do casamento de Larra foi impulsionada pela relação, conflituosa e intermitente, que ele manteve com Dolores Armijo, uma mulher casada. Quando Larra e ela se conheceram, em 1831, ele tinha 22 anos e ela apenas 20. Os dois estavam casados há anos e os dois estavam desiludidos com seus cônjuges. Quatro anos depois, descoberto o romance, ela o abandona (é levada de Madri pelo marido) e o escritor espanhol, desesperado com a rejeição e já desalentado pela situação política, social e econômica do país, comete suicídio aos 28 anos, com um tiro. ''Dolores Armijo, a mulher por quem supostamente Larra se matou, é um dos maiores mistérios de sua vida. Os biógrafos mal dão atenção a ela: passou à história como uma caricatura, como uma estabanada incapaz de apreciar o esplendor do amor de Larra, como uma beldade vaidosa e displicente que o empurrou para a morte''. Mas, nós, mulheres, sabemos muito bem porque deixamos um homem. Não é por causa pouca que se abre mão de segurança, dinheiro e o título de Senhora do Lar.

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Já na trajetória do escritor Lewis Carroll, aparece a pedofilia em seu relacionamento com Alice Lidell, em quem ele se inspirou para escrever Alice no País das Maravilhas. Ela tinha apenas 10 anos. Ele, 31. Carroll pediu a menina em casamento em 1863. A mãe, horrorizada, afastou Alice do ''amigo''. O amor por Alice submeteu Lewis a uma busca desesperada por meninas de quem apenas tirava fotos. A coisa tomou um rumo tão grotesco que ele teve de destruir todas elas e passou a pintar garotas secretamente no ateliê de uma amiga. Gertrud lhe mandava modelos de Londres, meninas pobres que posavam sem roupa para suas fotos. A ne-cessidade que Dodgson sentia de fotografar crianças nuas começou a ser tão obcecante que se tornou um perigo para ele. Escrevia cartas loucas às mães das meninas, perguntando qual era a mínima quanti-dade de roupas com que poderia fotografar as pequenas (''claro que o melhor seria sem nada'') e pedindo que deixassem que as meninas viessem sozinhas. E se as mães respondiam, com natural temor, que suas filhas iriam, em qualquer caso, acompanhadas, Carroll lhes mandava furiosas missivas, mortalmente ofendido em sua dignidade por essa falta de confiança nele. Sua insensatez e sua audácia acabaram criando tamanho escândalo em Oxford que, por fim, em 1880, Dodgson viu-se obrigado a aban-donar para sempre a fotografia: posto que não podia continuar re-tratando meninas sem roupa, não faria nem mais um único instan-tâneo. E assim, da noite para o dia, abandonou uma atividade na qual havia estado imerso durante um quarto de século. Não abandonou, no entanto, a visão dessas carnes secretas e dulcíssimas: já não as fotografava, mas até o final de sua vida continuou pintando meninas nuas. Só que com um pouco mais de discrição e no ateliê de Gertrud.'' Os biógrafos de Lewis dizem que ele morreu virgem aos 75 anos.

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A fantasia está entrelaçada com a realidade. Aquilo que consideramos real está cheio de imaginação... ou de mentirinhas. O que temos de objetivo e fático, de fato e de direito, é que geralmente, nos países onde há mais estabilidade financeira, e por isso, a mulher tem mais liberdade e não vive de porteira fechada, temos mais violência doméstica. É inadmissível haver no mundo tantas mulheres sendo espancadas em casa, como a esposa do atorzinho da Rede Globo, que na Veja saiu, na capa, golpeada. O que me consola é que o Brasil está bem abaixo da média de muitos países - como a Espanha, ou mesmo a União Européia. Nos países nórdicos ocorrem mais agressões e a mortalidade é maior. Deve ter relação o frio? A necessidade de ficar muito perto nos abala, a ponto de querer matar "aquilo que nos sufoca?" Na Suécia se mata quatro vezes mais mulheres que por aqui (porcentagem por número de habitantes). A Finlândia assassina três vezes mais. Isso para não falar de países de outros continentes, como os Estados Unidos e a Rússia, horror que costuma ser cotidianamente retratado. Amor beira a paixão, que nos remete a morte? Um pequeno estremecimento de ansiedade, insere-se entre meus dedos... Perdida que estou na história de amores e paixões, fascinada fico se vou mais além e adentro a mitologia, porém não preciso ir até a Rússia para ver a realidade do dia-a-dia, hoje no jornal dessa pequena cidade, na palma da minha mão, tem como capa: homem esfaqueia ex-mulher dez vezes... O pior é que tem pessoas comentando que a defesa do autor vai ser alegar que a vítima, a loira ex-mulher, é que se arremessou sobre a faca, e ele sem defesa, não conseguiu tirá-la antes... Bem, com certas coisas não se brinca, mas o perigo de tirar conclusões apressadas ou de ser seduzida por primeiras impressões, sempre ocorre. Por uma fração de segundo, o mundo parece estar suspenso, fora do espaço, fora do tempo. O que podemos fazer para que estas mulheres se rebelem? Se levantem e espanem a poeira do corpo, não sentindo-se completas idiotas, mas heroínas que conseguiram fugir a tempo de morte certa.

Dizem que somos cavernas coalhadas de passagens e encruzilhadas escondidas, de modo que os homens ficam desesperados ante grandiosos labirintos. Lembranças repousam em cada recinto, preces ressoam no passo-a-passo do amado, mas logo desaparecem. Sem saber o que fazer, agem sem sentido. Perdem a coragem, e por instinto, se tornam selvagens-da-caverna, o medo de perder a amada apertando de hora em hora suas gargantas, congelando o ar em seus pulmões. Mulheres, de Atenas ou de Brasília, de pé atabalhoadamente, sabem que não deveria estar ali, e mesmo desesperadas para sair, para estar novamente na luz do sol, segura e brilhante, sucumbem e se distraem... passam a crer na culpa e carregam fardo emocional demais. Tenta correr, mas ficam desorientadas, não conseguem mais se achar, para poderem se reunir, e encontrar a saída de seus próprios labirintos. Amar, ao que parece, significa alienar-se, drogar-se, perder-se, buscar o inatingível, desprezar o possível. E esse comportamento manifestamente patológico deve corresponder a uma necessidade muito básica e profunda do ser humano, porque podemos reconhecer-nos nos sentimentos dos troianos de 3 mil anos atrás ou dos trovadores do século XII''. O coração dos homens é um livro onde se podem ler e escrever todas as histórias. E todos os outros livros só existem por referência a esse livro primeiro, e sem ele nada seriam. Sabem-no os leitores que nunca leram um livro, sabem-no os escritores que destruíram toda a sua obra, sabemo-lo afinal todos um pouco. A verdadeira literatura só existe no coração dos homens. E se alvitrarem que o coração é apenas um órgão muscular, o agente principal da circulação do sangue, saibam que estão no bom caminho. Esqueçam um pouco das mãos e dos golpes de boxes... pois temos material mais-do-que suficiente para conhecer até onde o ser humano é capaz de chegar com um sentimento que se sobrepõe à lucidez e à razão.

Ao terminar a extensa pesquisa, pareceu-me que o Amor está tão distante de nós - ou quem sabe aquele amor mítico jamais exista, para vivenciá-lo. Muito distante também aquela tal felicidade que, na teoria, anda a reboque do amor que tanto acalentamos. Até agora, garanto-me por atos vividos por mim: fatos reais, mas vividos por aqueles que "adoram tragédias", e como dizem, vivem aquilo que suplicam tanto.... Pois carrego comigo uma certeza: a contrapartida da emoção e do prazer do coração aos pulos é a falta de paz. É uma questão de escolha - e na maioria das vezes, nem isso. Quando o amor invade nossa casa, nada sai pela janela daqueles que se amam de verdade, a não ser, mais amor pelos outros. Pois quanto mais damos, mais recebemos... E assim tem sido comigo, pode ser contigo, basta imaginar o presente com um amor prazeroso e admirável. Que os gênios fiquem com os malucos que os merecem!!!

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Bibliografia: Rosa Montero: Paixões, Revistas Cláudia, Vida Simples, o livro: História do Amor, jornais e vários e vários sites da net.

domingo, abril 16, 2006


Dubito Ergo Sum:.

A origem da palavra ética advém da palavra grega ethiké [epistéme], cujo étimo grego é ethos, e quer dizer "a morada humana, o modo de ser, o caráter". A ciência da Moral, estudo dos juizos de apreciação que se referem à conduta humana. A ciência relativa aos costumes, pelo latim ethica, de igual significado. Para Emmanuel Kant, Ética constitui um compromisso entre a moral e o interesse.

Moral advém da palavra latina morale, relativo aos costumes (mores), e embora detenha um étimo plausível na palavra latina Mores ou Mos, no singular, e também significa os costumes e as tradições, estando vinculada a um sistema de valores próprios a uma cultura. Não surgiu como evolução desse possível étimo mores, mas sim como uma espécie de neologismo, então introduzido por Cícero, ao traduzir a palavra grega éthikos, que significa "relativo aos costumes". Ou seja, dado que o latim já possuía a palavra mos, moris, não precisou, de fato, do helenismo, pois o seu adjetivo moralis já queria dizer o mesmo (relativo aos costumes). Acolheu, no entanto, o termo ethica, como substantivo, para designar a parte da filosofia denominada por ética ou moral em português. Para Kant, a lei moral é o guia do homem livre, que acessando-o a partir de dentro de si, distingue, de maneira inata, o certo e o errado; os deveres que a moral impõe são basicamente aquele que a sociedade colocou em nossa mente desde que nós viemos ao mundo. Não nascemos com estes valores, não é algo instintivo, mas é adquirido ou conquistado por hábito, segundo Vázquez. Seria, portanto, ética e moral, realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

No nosso dia-a-dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como sinônimos. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica. “Nenhum homem é uma ilha”, a famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer?

"Não há jeito de saber por que estamos neste mundo e o que nele viemos fazer. O mistério do destino nos envolve inteiramente com seus poderosos arcanos, e é preciso sinceramente não pensar em nada para não sentir muito e cruelmente a tragicidade absurda do viver. É nisto, na absoluta ignorância de nossa razão de ser que está a raiz de toda tristeza e de nossos desgostos... No mundo onde toda iluminação da fé está apagada, o mal e a dor perdem até sua significação e aparecem apenas como brincadeiras e farsas sinistras, in: Anatole France, Verdan, 1998".
A realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado as mançôes e os barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo etário quem procura ser honesto.

Todos nós temos muitos motivos para nos rebelar diante do que nos ocorre cotidianamente: dramas existenciais extraídos de situações de carência absoluta, desamparo ou violência; a crueldade naturalista na exibição do sofrimento; a figura autoritária dos apresentadores do noticiário policial, que reduzem a lei a uma punição visível, se possível, feita diante das câmeras, pretensamente capaz de expiar, exemplarmente, os “males” da sociedade, ou, então, aquela outra, mais branda, do repórter-investigador que não hesita em vestir o jaleco branco do médico-legista e passeia à vontade entre cadáveres, manchas de sangue e corpos desfigurados. O problema é que não costumamos refletir e buscar os “porquês” de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição, tendendo à naturalizar a realidade social, política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos - os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. Muitos desses problemas envolvem questões de valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um problema ético. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana.

Diante do grotesco ou do abjeto, as declarações de indignação e assombro tornam-se numerosas, alardeadas não apenas pelos leitores e espectadores, mas também – com mais sofreguidão e retórica – por críticos e especialistas, alguns deles encarregados, pela própria mídia, de fazer sua (auto) crítica. É nessas ocasiões que as vozes indignadas pronunciam o seu julgamento de que “isso não é ético!”

Assim, no caso do menininho de um ano e três meses, que faleceu após ficar horas e horas trancado dentro do carro de seu pai, professor de yoga, que esqueceu que ainda não o havia levado a creche, não há como apedrejar o pai, já condenado pela maior dor: a perda de alguém muito amado. Se é ético a falta de punição humana, se é imoral alguém cometer tal gesto, não colocarei aqui meu parecer, que custa caro e é muito bem cobrado como Mainardi faz. O que coloco é que "não somos julgadores de ninguém"; e o esquecimento será a lembrança de toda a vida desse homem-pai. O espelho sempre terá a cara da medusa, lhe condenando, lhe assombrando em sonhos... e, como escreveu Paulo Leminski, para aqueles que se interessam pela força viva de fabulação que irriga os mitos, a Medusa não é senão uma das formas da multiplicidade do real, a perpétua metamorfose de uma coisa em outra, metamorfose, forma da fábula, fome de fábulas – mobilidade incessante da vida social em suas práticas, narrativas, imagens, discursos. Talvez a espada de Perseu (que lhe fora dada por Hermes, o deus da comunicação) não seja suficientemente afiada para cortar essas duas metades de modo rigorosamente exato. Portanto, acho que nós, seres humanos, como espadas de Perseu, não estamos afiados a condenar nada e ninguém, de modo rigorosamente exato e justo, como convém a esse caso.

Só posso lamentar: pela vida que se foi, e também pelo stress, pelo cotidiano que todos aprendemos a conviver. Nós nos acostumamos a viver como robôs ou galinhas (metáfora de Boff) - e virar águia demora muito tempo. Às vezes, dois anos para sair do comodismo que nos impuseram. Talvez, em alguns casos, uma vida inteira de galinha confinada a um galinheiro. Dizem que a ética pode salvar o mundo; eu coloco que o Amor é o único caminho... Incondicional.

Como nas palavras do príncipe Hamlet, criação de Shakespeare: Com isso, nas palavras do príncipe: 'Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os dardos e setas de um ultrajante fardo, ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo?' Diante desse cenário shakespeariano, vê-se salientada a intrínseca relação entre justiça e felicidade, impondo a justiça 'dar ao outro o que lhe é devido', sob pena de, ao que pratica a injustiça, ser-lhe negada a possibilidade de realização existencial". Indaga-se aqui pelo que é realmente importante, na dimensão moral do agir interior, na ótica de nossa felicidade pessoal... um homem virtuoso dá bons frutos se o prazer não advém do poder, mas do Amor.

TAD.

Voa, Joaninha:.

Todo dia tem sido uma via-crucis pra Joaninha se banhar... Ontem, ameacei: "Vou chamar a Supernanny"! Beatriz, joaninha espoleta, que assistiu a dois programas dessa série (verdadeiramente, não vi), olhou e disse: "tudo bem, pode me colocar de castigo. Mas olha: tenho dois anos". Eu fiquei sem entender nada, achei outro caminho, terminou o banho, e agora há pouco, na TV, a supernanny aparece e diz: "para cada ano, um minuto de castigo".

Pois é. Eu também prefiro ficar dois minutos sentada no sofá, "pensando", do que ter que fazer algo que não gosto. Nem supernany resolve o caso dessa joaninha, que veio Beatriz e ousa voar pelo mundo, pra ser feliz, da maneira que quer, e quando acha conveniente.

O resto? Bem, cada um tem o anjo que merece.

quinta-feira, abril 13, 2006


Only You:.


Esta é a história de um homem a quem eu definiria como um pesquisador. Um pesquisador é alguém que busca; não necessáriamente alguém que encontra. Tão pouco é alguém que, necessáriamente, saiba o que anda a buscar. è simplesmente alguém para quem a vida é uma busca. Um dia, o pesquisador sentiu qeu devia ir até á cidade de Kamir.tinha aprendido a respeitar rigorosamente aquelas sensações que vinham de um lugardesconhecido de si mesmo. Por isso deixou tudo e partiu. Depois de dois dias de marcha pelos caminhos empoeirados, avistou, ao longe, Kamir. Um pouco antes de chegar à povoação, chamou-lhe vivamente a atenção uma colina à direita da azinhaga. Estava atapetada de um verde maravilhoso e tinha uma grande quantidade de árvores, pássaros e flores encantadores. Estava inteiramente rodeada por um pequeno muro de madeira brilhante. Uma portazinha de bronze convidava-o a entrar. Sentiu logo que o povoado lhe fugia da memória e sucumbiu à tentação de descansar por um momento naquele lugar. O pesquisador ultrapassou o portal e começou a caminhar lentamente por entre as pedras brancas que estavam dispostas ao acaso por entre as árvores. Deixou que os seus olhos se pousassem como borboletas em cada pormenor daquele paraíso multicolor. Os seus olhos eram os de um pesquisador e foi talvez por isso que descobriu aquela inscrição sobre uma das pedras: Abdul Tareg, viveu 8 anos, 5 meses, duas semanas e 3 dias

Ficou um pouco surpreendido ao dar-se conta de que aquela pedra não era simplesmente uma pedra: era uma lápide. Sentiu pena ao pensar que um menino de tão tenra idade estava enterrado naquele lugar. Olhando á sua volta, o homem deu-se conta que a pedra ao lado também tinha uma inscrição. Aprximou-se para a ler. Dizia: Yamir Kalib, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas.

O pesquisador sentiu-se terrivelmente comovido. Aquele lindo lugar era um cemitério e cada pedra era uma campa. Começou a ler as lápides uma por uma. Todas tinham inscrições semelhante: um nome e o tempo exato de vida do morto. Mas o que o enleou de espanto foi comprovar que aquele que tinha vivido mais tempo mal ultrapassava os onze anos...Paralizado por uma dor terrível, sentou-se e pôs-se a chorar. O encarregado do cemitério passava por ali e aproximou-se. Observou-o a chorar durante algum tempo em silêncio e perguntou-lhe logo a seguir se chorava por algum familiar. - Não, não é por nenhum familiar- disse o pesquisador. - Que se passa nesta povoação? Que coisa horrível acontece nesta cidade? Porque é que há tantas crianças enterradas neste lugar? qual é a maldição horrível que pesa sobre estas pessoas, que as obrigou a construir um cemitério de crianças?

O ancião sorriu e disse: "- O senhor pode tranquilizar-se. Não existe uma tal maldição. O que acontece é que temos um costume antigo. Vou contar: Quando um jovem completa quinze anos, os seus pais oferecem-lhe um livrete como este que tenho aqui, para que o pendure ao pescoço. è tradição entre nós que, a partir deste momento, de cada vez que alguém desfrute de alguma coisa, abra o livrete e anote nele: À esquerda, o que foi desfrutado. À direita, quanto tempo durou o prazer. Conheceu a sua noiva e enamorou-se dela. Quanto tempo durou essa paixão enorme e o prazer de a conhecer? Uma semana? Duas? Três semanas e meia...? E depois, a emoção do pirmeiro beijo...Quanto durou? O minuto e meio do beijo? Dois dias? Uma semana? E a gestação e o nascimento do primeiro filho...? E as bodas dos amigos? E a viagem mais desejada? E o encontro com o irmão que regressa de um país longinquo? Quanto tempo durou o disfrutar dessas situações? Horas? Dias? Assim vamos anotando no livrete cada momento que desfrutamos...Cada momento. Quando alguém morre, é nosso costume abrir o seu livrete e somar o tempo em que sentiu prazer para o escrever sobre a sua campa. Porque é esse quanto a nós o único e verdadeiro TEMPO VIVIDO.


[contos para pensar" de Jorge Bukay]


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É incrível
Nada desvia o destino
Hoje tudo faz sentido
E ainda há tanto a aprender
E a vida tão generosa comigo
Veio de amigo a amigo
Me apresentar a você
Paralisa com seu olhar
Monalisa
Seu quase rir ilumina
Tudo ao redor, minha vida.
Ai de mim me conduza.
Junto a você ou me usa
Pro seu prazer, me fascina.
Deusa com ar de menina...
Não se prenda
A sentimentos antigos
Tudo que se foi vivido
Me preparou pra você
Não se ofenda
Com meus amores de antes
Todos tornaram-se pontes
Pra que eu chegasse a você
Paralisa com seu olhar
Monalisa...
Seu quase rir ilumina
Tudo ao redor minha vida
Ai de mim me conduza.
Junto a você ou me usa
Pro seu prazer, me fascina.
Deusa com ar de menina.
Jorge Vercilo, Monalisa

Só por agora, me deixa ter o nome de "Monalisa", ser a sua Monalisa, pra poder ouvir você... bem pertinho... Tudo o que peço e "quero agora é sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre... E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor. Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém... e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto... Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim. Sem Ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento... Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades, as pessoas... Que a vida é dela sim, e que a vida é bela sim, E que eu sempre dei o melhor de mim ...E que vale a Pena!" **

Esse amor, meio mágico...Exatamente como nos contos de fadas, aquelas histórias lindas que minha avó me contava quando criança e que eu já havia esquecido...Mas meu amor faz questão de me fazer recordar...que seja infinito...É, realmente a vida me ensinou que somente o tempo é capaz de resolver tudo, descortinar tudo... "Tudo tem seu tempo debaixo do sol" e isso inclui mentiras e traições...e também recomeços. Destrancando portas. Derrubando grades. Abrindo janelas...Achei que tivesse perdido as chaves de tudo isso...Talvez não estivessem tão enterradas quanto pensei, ou talvez alguém tenha réplicas de todas as chaves para todas as portas, grades e janelas de todas as almas...Não apenas da minha... Será que devo colocar novas fechaduras? Eu tranco as portas para todas as mentiras... mas a verdade também está lá fora. Eu tranco a porta para todos os gritos... O silêncio também esta trancado. Eu pulo as janelas, eu me tranco em você para permitir que as portas em mim permaneçam abertas. Mesmo que agora eu ande plainando devagar, porque suas asas estão quebradas... daqui há um tempo nós poderemos voar, voar bem alto e sentir o vento no rosto, sentir a liberdade e a sensação de que nada poderá nos interromper ou deter, nada poderá nos impedir de conhecer novos céus, novos mundos, passear pelas nuvens sentindo a maravilhosa sensação do novo...da plenitude... explorar novos caminhos. Tudo o que precisamos para renascer é um amor novo.

"Não, o melhor é não falar, não explicar coisa alguma. Tudo agora está suspenso. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade."***

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**Mario Quintana
***Mário Quintana

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"Quem pode dizer para onde a estrada vai, para onde o dia flui? Somente o tempo... E quem pode dizer se o seu amor se desenvolverá da forma como seu coração escolheu? Somente o tempo...Quem pode dizer por quê seu coração suspira, conforme seu amor vai embora rapidamente? Somente o tempo...E quem pode dizer por quê seu coração chora quando seu amor morre? Somente o tempo... Quem pode dizer quando as estradas se encontram? Aquele amor talvez esteja em seu coração...e quem pode dizer quando o dia adormece,se a noite possui todo o seu coração? A noite possui todo o seu coração... Quem pode dizer se o seu amor se desenvolverá da forma como seu coração escolheu? Somente o tempo...E quem pode dizer para onde a estrada vai, para onde o dia flui? Somente o tempo...Quem sabe? Somente o tempo...Quem sabe? Somente o tempo...* Como Olavo Bilac escreveu: "Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e entender estrelas". "Pois "O encontro de duas personalidades é como o contacto de duas substâncias químicas: se houver reacção, as duas serão transformadas..." [Jung]

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*Tradução livre de "Only Time - Enya"

A águia e o Falcão:.

Falcão Peregrino, em inglês, Peregrine, em latim Falco peregrinus,uma ave de rapina diurna, de médio porte, podendo atingir até 50 centímetros de altura e 1,20 metro de envergadura, sendo a fêmea é maior que o macho. Trata-se do maior dos falcões encontrados no Brasil, onde surge como ave de arribação vinda da América do Norte. Os falcões em geral são considerados os voadores mais elegantes que se conhece. O peregrino, especialmente, é o mais rápido dos pássaros, podendo atingir 180 quilômetros por hora. Há quem diga que, quando mergulha para capturar a caça, chega a 300 quilômetros por hora. Tem uma visão apuradíssima, avistando uma presa a 1 quilômetro e meio de distância, e comem, principalmente, aves em vôo e morcegos. Na cidade, o prato predileto são os pombos. Usa as poderosas garras para aprisionar as vítimas, e embora seja este caçador destemido, esta ave não se defende das outras aves. O milhafre e outras aves de rapina, por exemplo, aguardam que o falcão peregrino mate uma vítima para lhe tomar a presa. Talvez saiba o quão competente é na caça, e faça parte do Movimento "Paz e Amor" de outrora.Vive nos mais diversos habitats, porém prefere o campo aberto, as praias e pântanos perto de colónias de aves aquáticas e ribeirinhas.Todos os anos, quando começa a esquentar, o falcão peregrino aparece na cidade de São Paulo. Visitante ilustre, sua foto já foi estampada várias vezes nas primeiras páginas de jornais. Muitos ficam esperando sua chegada e inquietam-se se ele demora a aparecer. No verão passado, até o mês de fevereiro nenhum deles havia sido visto na cidade, motivando um escritor paulistano a publicar uma crônica em tom de preocupação.

Já os Falcões Vermelhos, também ássaros magníficos, em pleno vôo planam e circulam por períodos longos,às vezes torcendo o rabo em diversos ângulos. São grandes acrobatas, especialmente quando se acasalam. Eles podem tocar seu companheiro em pleno vôo, como se fosse um simples mergulho. Estes pássaros são muito especiais para os Nativos Americanos: os ameríndios Pueblo se referem a eles como águias vermelhas, e a águia, para realizarem conexões com o céu e o sol. Suas penas eram freqüentemente usadas em cerimônias para levar orações ao sol e para o Criador. As penas de falcão também eram usadas em algumas cerimônias de cura e para atrair a chuva. Para os Ojibwa e outros povos, os nascidos no Clã do Falcão Vermelho eram considerados líderes em seus clãs e recebiam o dom da adivinhação.

Desde tempos imemoriais que as suas faculdades impressionaram o Homem. No antigo Egipto simbolizava o Deus Hórus, onde acreditavam que os olhos de Horus tinham o poder de dar saúde, oum popular amuleto. Entre os falcoeiros, desde a antiguidade até ao presente, permaneceu sempre como a mais cobiçada das aves, valorizada pelas suas capacidades de caça e formosura ímpar. Na idade média a posse destas aves chegou a ser autorizada apenas aos príncipes e duques da corte, funcionando como um indicador de estatuto social.O falcão peregrino, assim, foi ave dos reis e nobres, simbolizando poder e prestígio. Pode ser domesticado e usado para caça, como já o faziam os imperadores persas e árabes na Antiguidade, e ainda hoje, a prática é tida como um esporte caro na Europa, onde O animal é levado ao campo com um capuz, que é retirado no momento de voar em busca da presa. Se você colocar um falcão em um cercado com um metro quadrado e inteiramente aberto por cima, o pássaro, apesar de sua habilidade para o vôo, será um prisioneiro. A razão é que um falcão sempre começa seu vôo com uma pequena corrida em terra. Sem espaço para correr, nem mesmo tentará voar e permanecerá um prisioneiro pelo resto da vida nessa pequena cadeia sem teto. Esquece que pode voar para cima...

Além de um animal interessante, lindo, perigoso e, às vezes burro numa procura por saída, também é o nome de um livro, que demorei tempos para concluir. Finíssimo! Queria entender tudo o que havia por trás de cada frase... conforme lia o capítulo, voltava tudo novamente. Adorei as características ali descritas do famoso falcão peregrino ou Falcão Real... mas não a ponto de virar membro de qualquer sociedade ornitológica - animais presos, em cativeiro, me emudecem... Abomino toda falta de liberdade. "A lição principal é saber que somente livres as pessoas são capazes de amar."Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos esmaga. (...) Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e, quem sabe, finalmente, respirar.*" Existe uma encruzilhada em nossas vidas onde nos deparamos com nós mesmos e passamos a definir quem nós queremos. Escolhida a direção, vamos superando obstáculos cada vez mais assustadores até que, acostumados a esta eterna superação, vamos adquirindo uma confiança em nós mesmos que nos traz a tranquilidade de observar o caminho percorrido e olhar com otimismo o que vem pela frente! Todas as pessoas possuem um falcão peregrino dentro de si, morrendo aos poucos ou vivendo plenamente o vôo rumo ao sonho livre no ar.


*Lya Luft in: Pensar é Transgredir.


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Águia Imperial, Imperial Eagle ou em latim, Aquila heliaca, águia é o nome comum dado a algumas aves de rapina da família Accipitridae, geralmente de grande porte, carnívoras, de grande acuidade visual. A espécie de águia imperial só habita em locais isolados uns dos outros, embora ao longo de uma vasta área. Contudo, já existem poucos indivíduos em cada local.Pode ainda ser encontrada em algumas zonas da Europa, principalmente na Penisula Ibérica, nos Balcãs e na Turquia, também numa faixa estreita que se estende pela Ásia Central e ainda ao longo do Rio Nilo, no Egipto. No Norte de África, em Marrocos, ocorrem com alguma regularidade alguns casais, embora estes façam parte da população espanhola destas aves, que apanha as correntes de ar quente africanas para pairar até este continente. As águias-imperiais são muito parecidas com as reais, embora a sua dimensão seja ligeiramente menor. Uma ave adulta chega aos 80 cm de altura e atinge uma envergadura de 2,00 m. Da sua alimentação fazem parte pequenos roedores, aves de menor dimensão e com muita frequência répteis, principalmente cobras.

Conta certa lenda indígena que para duas pessoas viverem ao lado para sempre devem ser como a Águia e o Falcão, livres, em vôos plenos, lado a lado e sempre juntos... Se estiverem amarrado um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se como também, cedo ou tarde, começarão a machucar um ao outro. Por mais forte que o vento sopre... Por mais severo que ele se afirme, Por mais revoltado que ele se apresente... Por mais violento que ele te pareça...Tu, bambu, vergas mas não quebras...Porque na vida, o que conta não é quantas vezes você respirou, mas, os momentos em que perdeu o fôlego!"