sábado, abril 29, 2006


Mãe Aninha:.

(...)"Fazia-se o Bori uma vez por ano, lava-se a cabeça, para nos limpar dos males daquele ano inteiro(...) Naquele dia, Mãe Aninha apareceu em vulto para mim, (...) então fomos para o peji de Xangô, num quartinho da frente. Diante do Altar do Santo, Mãe Senhora me fez ajoelhar ao lado dela. Em seguida, jogou os búzios, que se espalharam sobre uma toalhinha branca, que cobria uma mesinha: braços levantados, olhos para o alto, foi lendo: Muitas felicidades para você. Nunca ninguém vai poder te fazer mal, tudo que for atirado contra tu vai voltar para cima de quem quer te fazer mal (...). Eu estava verdadeiramente fascinada com a intimidade de Mãe Senhora com o egum. Incrédula de formação, sempre em busca do desconhecido, procurando descobrir os mistérios da vida e os mistérios da morte, indagando sem nunca encontrar resposta convicente".
in A Casa do Rio Vermelho, Zélia Gattai.


O livro traz histórias tão íntimas, gostosas de ler... parecidas como as que ouvi um dia, de Mãe Ana, esta Paulista. Tem a história de um pato de cerâmica que Jorge Amado muito queria comprar em Paris, em viagem com Zélia e o casal Auta Rosa e Calasans Neto — o artista plástico. E depois de olhar o monte de embrulhos a serem colocados nas malas, Zélia pediu ao marido que não comprasse mais nada por falta de espaço. Mas eis que surgiu uma tentação: este tal do pato preto de cerâmica, peito branco, listras claras. Vejam só que pato mais lindo. Sem este pato a minha vida não terá mais a mínima significação. Já não posso viver sem ele, exclamou Jorge, encantado. Zélia, arrependida pela censura à compra, voltou atrás e, escondida, levou o pato. Ao entregar o presente, no Brasil, ouviu: Então foi você, sua peste!. É que ele também havia ido à loja para comprar o pato, que havia sido vendido.

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Isto é viver trans_sobrevivendo?
Me diga, querido, se Trans_sobreviver é viver "sem sobrecarregar-se de erotismo ou de juras de amor, sem aquele ar-piegas, mas tudo com muito humor, o dia-a-dia arrancando risadas a dois, à noite, na cama, pernas cruzadas, face no ombro seu, narrando estórias, remetendo a papos corriqueiros, íntimos e cheios de carinho de toda uma família... pra depois, bem juntinho, se ofertar a você, e dormir abraçada, cansada, exaurida, preenchida de transe seu"...
Porque se foi isso, traita fica pra trás, e eu passo a Trans_sobreviver em e com você.

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