domingo, abril 16, 2006


Dubito Ergo Sum:.

A origem da palavra ética advém da palavra grega ethiké [epistéme], cujo étimo grego é ethos, e quer dizer "a morada humana, o modo de ser, o caráter". A ciência da Moral, estudo dos juizos de apreciação que se referem à conduta humana. A ciência relativa aos costumes, pelo latim ethica, de igual significado. Para Emmanuel Kant, Ética constitui um compromisso entre a moral e o interesse.

Moral advém da palavra latina morale, relativo aos costumes (mores), e embora detenha um étimo plausível na palavra latina Mores ou Mos, no singular, e também significa os costumes e as tradições, estando vinculada a um sistema de valores próprios a uma cultura. Não surgiu como evolução desse possível étimo mores, mas sim como uma espécie de neologismo, então introduzido por Cícero, ao traduzir a palavra grega éthikos, que significa "relativo aos costumes". Ou seja, dado que o latim já possuía a palavra mos, moris, não precisou, de fato, do helenismo, pois o seu adjetivo moralis já queria dizer o mesmo (relativo aos costumes). Acolheu, no entanto, o termo ethica, como substantivo, para designar a parte da filosofia denominada por ética ou moral em português. Para Kant, a lei moral é o guia do homem livre, que acessando-o a partir de dentro de si, distingue, de maneira inata, o certo e o errado; os deveres que a moral impõe são basicamente aquele que a sociedade colocou em nossa mente desde que nós viemos ao mundo. Não nascemos com estes valores, não é algo instintivo, mas é adquirido ou conquistado por hábito, segundo Vázquez. Seria, portanto, ética e moral, realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

No nosso dia-a-dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como sinônimos. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é definida como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e científica. “Nenhum homem é uma ilha”, a famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer?

"Não há jeito de saber por que estamos neste mundo e o que nele viemos fazer. O mistério do destino nos envolve inteiramente com seus poderosos arcanos, e é preciso sinceramente não pensar em nada para não sentir muito e cruelmente a tragicidade absurda do viver. É nisto, na absoluta ignorância de nossa razão de ser que está a raiz de toda tristeza e de nossos desgostos... No mundo onde toda iluminação da fé está apagada, o mal e a dor perdem até sua significação e aparecem apenas como brincadeiras e farsas sinistras, in: Anatole France, Verdan, 1998".
A realidade brasileira nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado as mançôes e os barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo etário quem procura ser honesto.

Todos nós temos muitos motivos para nos rebelar diante do que nos ocorre cotidianamente: dramas existenciais extraídos de situações de carência absoluta, desamparo ou violência; a crueldade naturalista na exibição do sofrimento; a figura autoritária dos apresentadores do noticiário policial, que reduzem a lei a uma punição visível, se possível, feita diante das câmeras, pretensamente capaz de expiar, exemplarmente, os “males” da sociedade, ou, então, aquela outra, mais branda, do repórter-investigador que não hesita em vestir o jaleco branco do médico-legista e passeia à vontade entre cadáveres, manchas de sangue e corpos desfigurados. O problema é que não costumamos refletir e buscar os “porquês” de nossas escolhas, dos comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição, tendendo à naturalizar a realidade social, política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade critica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja, problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos - os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente. Muitos desses problemas envolvem questões de valor, de convivência, de consciência, de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um problema ético. O homem, enquanto ser ético, enxerga o seu semelhante, não lhe é indiferente. O apelo que o outro me lança é de ser tratado como gente e não como coisa ou bicho. Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado, ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana.

Diante do grotesco ou do abjeto, as declarações de indignação e assombro tornam-se numerosas, alardeadas não apenas pelos leitores e espectadores, mas também – com mais sofreguidão e retórica – por críticos e especialistas, alguns deles encarregados, pela própria mídia, de fazer sua (auto) crítica. É nessas ocasiões que as vozes indignadas pronunciam o seu julgamento de que “isso não é ético!”

Assim, no caso do menininho de um ano e três meses, que faleceu após ficar horas e horas trancado dentro do carro de seu pai, professor de yoga, que esqueceu que ainda não o havia levado a creche, não há como apedrejar o pai, já condenado pela maior dor: a perda de alguém muito amado. Se é ético a falta de punição humana, se é imoral alguém cometer tal gesto, não colocarei aqui meu parecer, que custa caro e é muito bem cobrado como Mainardi faz. O que coloco é que "não somos julgadores de ninguém"; e o esquecimento será a lembrança de toda a vida desse homem-pai. O espelho sempre terá a cara da medusa, lhe condenando, lhe assombrando em sonhos... e, como escreveu Paulo Leminski, para aqueles que se interessam pela força viva de fabulação que irriga os mitos, a Medusa não é senão uma das formas da multiplicidade do real, a perpétua metamorfose de uma coisa em outra, metamorfose, forma da fábula, fome de fábulas – mobilidade incessante da vida social em suas práticas, narrativas, imagens, discursos. Talvez a espada de Perseu (que lhe fora dada por Hermes, o deus da comunicação) não seja suficientemente afiada para cortar essas duas metades de modo rigorosamente exato. Portanto, acho que nós, seres humanos, como espadas de Perseu, não estamos afiados a condenar nada e ninguém, de modo rigorosamente exato e justo, como convém a esse caso.

Só posso lamentar: pela vida que se foi, e também pelo stress, pelo cotidiano que todos aprendemos a conviver. Nós nos acostumamos a viver como robôs ou galinhas (metáfora de Boff) - e virar águia demora muito tempo. Às vezes, dois anos para sair do comodismo que nos impuseram. Talvez, em alguns casos, uma vida inteira de galinha confinada a um galinheiro. Dizem que a ética pode salvar o mundo; eu coloco que o Amor é o único caminho... Incondicional.

Como nas palavras do príncipe Hamlet, criação de Shakespeare: Com isso, nas palavras do príncipe: 'Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os dardos e setas de um ultrajante fardo, ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo?' Diante desse cenário shakespeariano, vê-se salientada a intrínseca relação entre justiça e felicidade, impondo a justiça 'dar ao outro o que lhe é devido', sob pena de, ao que pratica a injustiça, ser-lhe negada a possibilidade de realização existencial". Indaga-se aqui pelo que é realmente importante, na dimensão moral do agir interior, na ótica de nossa felicidade pessoal... um homem virtuoso dá bons frutos se o prazer não advém do poder, mas do Amor.

TAD.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial