quinta-feira, abril 27, 2006


.: Miragens:.


Dizem que "a Casa do rio Vermelho", descrita por Zélia Gattai, não passava de uma miragem, e que seu amor por Jorge Amado, encoberto por ilusões. Simplórios, não existe perfeição. Existe apenas a qualidade de uma gente que acredita naquilo que quer viver, e prossegue atrás, independentemente de quantas pessoas digam: isto não existe, não é verdade, tudo miragem.... Eu pertenço ao Rio Vermelho, não sou do Suruí, mas persigo na conivência de que existe, em algum lugar, um pé de limão e um banco de madeira com azulejos azuis feito a mão por mim... em algum lugar. Não consigo imaginar alguém que não acomode os sonhos... mesmo que seja em um caderno, em algum lugar do coração, em canto especial da memória. Não sou da Banhia, mas tenho Santa Bárbara e Todos os Santos que acreditam no Amor do meu lado...


Dá-me tua mão de conivência, vamos viver o tempo que nos resta, tão curta a vida!, na medida de nosso desejo, no ritmo de nosso gosto simples, longe das galas, em liberdade e alegria, não somos pavões de opulência nem gênios de ocasião, feitos nas coxas das apologias, somos apenas tu e eu. Sento-me contigo no banco de azulejos à sombra da mangueira, esperando a noite chegar para cobrir de estrelas teus cabelos, Zélia de Euá envolta em lua: dá-me tua mão, sorri teu sorriso, me rejubilo no teu beijo, laurel e recompensa. Aqui, neste recanto do jardim, quero repousar em paz quando chegar a hora, eis meu testamento.
[Jorge Amado, 1992, Navegação de Cabotagem - todas as fotos de Adenor Gondim]

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"Então, lhes conto que deve ser por conta do Estado... não, eu domino aquele território, a probabilidade mais razoável é a comida - viver de peixe não deve dar "sustância", como dizia minha avó, a ninguém... Eu era uma realidade plausível, como o churrasco ao lado, virei miragem, sonho, fumaça e de repente... Estou no saara, na tribo dos suruí, já devo fazer parte de algum livro, catálogo de Hermes... coisas assim. A dificuldade que os homens - que me perdoe Jorge Amado, que se incluia entre esses - de implantar seus sonhos e de todos os dias duvidar deles. Isso me irrita. Porque mesmo não sendo da Bahia, sou pimenta, carne-vermelha, caçadora e Ventania... Eu sonho, crio e realizo: minha casa já tem cor, tem ano, mês e dia. Tem tudo uma cronologia. Não duvido, apenas ponho no papel. E vou atrás, passo a passo, na conivência daquela tua mão indecisa e incapaz, transparente e fugidia. Tens medo do que? Bicho-papão morreu, agora só existe a "Beata", mulher faladeira, que anda de casa em casa fofocando sobre vida alheia. É essa que mata de inveja e olho gordo, e fere corações que se amam. Contra essa, pimenta-vermelha. Do resto, eu não tenho medo. Sou Catarina, Bárbara e Yansã. Sou Maria do Céu e Carolina, como minha trisavó. Sempre com sobrenome Jesus.

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