quarta-feira, abril 19, 2006


Espera e Tempero:.

Insuportabilidades
Poema de Anamerij

"Dias existem em que me pego com medo da palavra, a que disse, a des-dita, aquela que direi, a que não sei dizer. É uma coisa clarice nos dentros,é um jeito lispector de resistir-me. As multidões me apavoram, o mar me sufoca, a janela aberta me assombra. "Reviro-me em ostra, respingada de limão, é claro."* ( de Clarice), desensofrida, sangro em desgostares, agonizo por desempatias. Bebo doses amargas de pânico. Antagonicamente sinto , que minha esperança ( retinta demais) é tola, quase beirando ao patético, e ao mesmo tempo faço-me em compasso de aguardos. Aaguardar o quê? As horas passando, o tempo envelhec(S)endo-me? Ponho-me a espiar a vida, e seguro nas mãos uma solidão doloridamente insuportável, cheia de ausentes-presenças- falantes, dos lugares por onde andei, das pessoas que ganhei, daquelas que perdi, sem nem mesmo saber o como...sem entender sequer se houve um talvez. Talvez, é a palavra mais ferina e acre. Talvez... se pudesse viver de novo. talvez...se pudesse passar a limpo.Talvez...se outras escolhas. Talvez! Advérbio tinhoso e martelante, incógnita destes meus existires. Um tanto-muito, desventado feito páginas velhas, letras esmaecidas por descuidos, ou desusos. Misturadas emoções plasmadas e retidas no palato da alma, travadas na minha mais irrestrita incompetência, por não saber o que fazer delas. EscreViver de palavras pode ser livramento, mas é também amargoso, quando o Verbo revira-se maior que nossa miudeza, editando confundimentos em nossos olhares, rasurando perceberes, macerando claudicantes certezas, replicando infinitos de incertezas. Dor de incerteza é aguda. Finca. Fuso afiado na mó do destino, tecido no tear das parcas, que sem aviso prévio azucrinam seus dedos , e cortam o fio da nossa meada, desenovelando as fibras,embaraçando os fios da vida. O que me adoece mesmo é esta insuportabilidade estática diante as multipliCidades dos meus sentires,dúbios-fundos-confusos. (...)quem sabe, um dia, talvez.... com meu cão , com meu jardim....aprendo. (...) A dor que sinto não é de vazios dentro de mim, mas de vozes-ternuras, mãos- aquecidas, palavras - ecoantes, promessas- vidas... Dentro de mim, um rio...uma pedra...uma trilha...uma rua...uma estrela...(...)A dor que sinto é de cheios...Dentro de mim...moradas. Carrego multidões alvoroçadas. A dor que sinto...não é de retalhos... Padeço de inteiros!"

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Quando abrimos o nosso coração para tudo o que existe... descobrimos um mundo onde vivemos. Assim, o paradoxo: quanto mais fácil se torna viajar externamente, nas asas dos jatos supersônicos e via internet, mais difícil se torna viajar sabiamente. Ficamos com muitos quilômetros voados e diferentes carimbos no passaporte, mas cresce em nós a suspeita de que nossas viagens perderam alguma coisa fundamental. T. S. Eliot perguntava, sobre os tempos modernos: onde está a sabedoria que perdemos com os conhecimentos? Onde estão os conhecimentos que perdemos com as informações?"
Phil Cosineau, em A Arte da Peregrinação

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