terça-feira, abril 18, 2006


PAIXÕES LOUCAS:.

E LOUCOS AMORES

Mitos são relatos que pretendem provocar medo e compaixão por meio da narrativa das peripécias de um herói que atravessa privações. Sua capacidade de desvendar enigmas o diferencia dos simples mortais. Embrenhadas numa floresta de emoções selvagens, dispostas a tudo para encontrar seu cavaleiro combatente, que irá salvá-las da vida medíocre e confinada nos castelos, as bruxas-ainhas de antigamente casavam, e passavam a vida inteirinha tentando viver o mito do Amor - aliás, só foi alcançado pela querida do Rei Arthur, contando com a colaboração do seu melhor amigo, Lancelot. É, tudo igual: mitológico, mas as traições continuam vindo das partes que mais estão perto, as mulheres querem segurança, e depois buscar o amor forte que dê vazão a vida delas, e os homens... ah, esses ainda se debatem entre cruzadas e cornos, ora levando, ora fornecendo, numa busca interior pelo santo graal, sua musa interior. Assim, conseguimos criar e construir, a partir destas costuras, e de inúmeras pequenas outras fábulas, histórias de Amor e Paixão, que poderiam ser capazes de transmitir algum tipo de sabedoria sobre a existência humana, ou pelo menos decifrar quando é paixão, ou amor pra vida inteira. Como anuncia a profética Nyvene, na história do Rei Transparente: "Nosso destino é um mistério, e talvez o sentido da vida não seja mais do que a busca desse sentido."

Cavalgando na história, olhando passando e recriando-o a partir dos meus olhos, que só teimam em olhar para outros belos também, quantas são as histórias que falam por si mesmas, dispensando grandes teorias, desde a diversidade de expressão da paixão por meio de comportamentos irracionais, até casais, como John Lennon e Yoko, que passaram nos pregando a paz publicamente e vivendo em guerra permanentemente, num ciclo de vício, loucura e dependência emocional; cozinhando junto podemos incluir a idolatria, ingrediente da paixão que unia Evita pelo marido ditador argentino Juan Perón - um amor que durou pouco: em 1952, aos 33 anos, Evita morreu de câncer. Também, lógico, há os Amores de Adoração - e renúncia, como o que viveu o príncipe de Gales, Edward, aquele que abandonou o trono da Inglaterra para casar-se com a plebéia americana Wallis Simpson, e o que circulava nas rodas londrinas daquela época, era que o ex-rei sofria com dificuldades sexuais, sanadas pela caprichosa estrangeira - que teria, inclusive, atirado vasos em sua cabeça ao saber da renúncia ao trono.

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A célebre união de Leon e Sônia Tostói, ele com 34 anos, ela com 18, quando se casaram. Pobre mulher - ninguém a avisou da armadilha que estava caindo "por ou sem querer"', já que seu marido era bissexual, bebia demais, devia sofrer de "transtorno bipolar" pois conseguia ser anjo e fera, gênio e miserável, tudo numa mesma vida. Imaginem que ficou grávida 16 vezes: sofreu três abortos, e perdeu 4 filhos. Além de tudo isso (deveria ser carma de muitas vidas), o marido com 49 anos se torna depressivo. Depois de tudo isso, conhecida como "a doida que não deixava o gênio trabalhar", pouco a pouco foi perdendo o pé das coisas, e se o louco do marido Tolstói atraia tanta gente e não era considerado louco pelos malucos seguidores, só podia ser ela a louca da casa". Mais um caso clássico onde o marido consegue colocar toda a culpa nas nádegas da mulher. Sempre a mesma ladainha... Neste interlúdio de tempo, a pobre Sônia perde a razão e se entrega a histeria e a paranóia - coisa de mulheres, para a história, desde os tempos de Cassandra. Nas muitas crises que teve, chegou a se jogar numa represa gelada, tentar atirar-se num poço e golpear o próprio peito com um martelo, num desespero maluco pra se livrar do doido que tinha como marido. A sanidade só voltou com a morte do marido. Quem não reparou que depois que a mulher se separa, fica muito mais bonita e atraente? Ela se liberta do casulo...

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Outra história, da Joana, a Louca, que em 1496, conhece seu marido, Filipe, o belo. Neurótica, a princesa espanhola protagonizou cenas inesquecíveis em nome da paixão por seu marido, Filipe, o Belo: talhou o rosto de uma suposta amante do marido, para em seguida ser trancafiada por ele. Quando Filipe morreu prematuramente, aos 28 anos, Joana endoidou de vez e proibiu que qualquer mulher se aproximasse dos restos mortais, os quais ela abraçava de tempos em tempos. "Contam que Joana mandou desenterrar o príncipe, que havia sido sepultado na abadia de Miraflores, e que ia vê-lo todas as semanas, abrindo o caixão, desamarrando o sudário e beijando os pés do defunto. E que depois, quando a peste a obrigou a sair de Burgos, levou consigo o cadáver de Felipe". Durante o casamento, "Felipe enganou e desrespeitou cada vez mais abertamente sua mulher, e Joana, como costuma acontecer, foi ficando mais e mais obcecada por ele. O arquiduque a deixava trancada em seus aposentos durante semanas, e ela passava a noite golpeando as paredes para irritar as companhias do marido." A última rainha titular da história da Espanha morreu no fim de 1555, paralítica da cintura para baixo e atormentada pelas dores horríveis da gangrena. Tinha 77 anos e havia passado os últimos 47 encerrada em Tordesilhas. Em frente ao castelo, no convento de Santa Clara, continuavam repousando, insepultos, os mal-embalsamados restos de seu marido. Tinha eu professora de segundo-grau que dizia: "ah, certas transas merecem toda nossa gloriosa vida". Esse Felipe deveria ser o tal dos tais...

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Segundo a história oficial do autor de A ilha do tesouro, e O médico e o monstro, Robert Louis Stevenson, nascido em Edimburgo, na Escócia, a 13 de novembro de 1850, e com problemas de pulmão, sua família contratou uma enfermeira, uma excelente contadora de histórias, para cuidar do pequeno Robert. De ouvinte para leitor entusiasmado foi só um pulo. De leitor para inventor de histórias, outro pulo. Começou escrevendo relatos das viagens que fez, e numa dessas, em 1876, conheceu sua futura esposa, a americana Fanny Osbourne, que estava se divorciando do marido. Para poder ficar com a dama, Robert enfrentou deus e o mundo: sua família religiosa, a conservadora Inglaterra, os indignados fãs... e venceu, ao se casar em 1880, já tendo ao seu lado dois filhos do primeiro casamento de sua esposa. Em 1888, após a morte do seu pai, mudou-se com a família para a Oceania, onde passou os últimos anos de sua vida. Lá, foi carinhosamente batizado pelos nativos de ''Tusitala'' - ''o contador de histórias''. Sua aventura terminou no dia 3 de dezembro de 1894. Ele, que passou a vida toda ameaçado pela tuberculose, acabou fulminado por uma hemorragia cerebral. Tal qual o conto que li, relatam que sua esposa, esta tal Fanny, era pior que o diabo: exigente, chata, feroz e ultra-poderosa-controladora de tudo o que o marido fazia. Também deveria ter o controle da conta-corrente, dos talões de cheque, dos livros e de tudo mais, levando muitos a crerem que seja ela a musa na história do Monstro. Talvez o que desconcerte os tais que escreveram sobre o autor-gênio fosse essa maravilhosa mulher, que sabia seduzir, que havia ficado ao seu lado, até o final, mesmo com sua famosa e evidente esquisitice; e o pior: o fato de que acabou sendo uma deliciosa velha dama indigna porque, quando viúva de Stevenson, percorreu o mundo com seu último amante, o desenhista, roteirista de Hollywood e dramaturgo Ned Field, um rapaz esperto e bonito, que se apaixonou por ela quando Fanny tinha 63 anos e ele 23. Devia ter ela certos atributos fantásticos para tal empreitada... pois esses dois ficaram juntos durante mais de uma década, até que ela morreu, em 1914, aos 74 anos. ''Na ocasião, Ned escreveu um emocionado texto necrológico no qual dizia que Fanny 'tinha um cheiro selvagem' e que ela era 'a única mulher no mundo pela qual eu podia imaginar que um homem estivesse disposto a morrer". Inveja dos biográfos, que queriam sim, uma mulher dessa maneira.

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Histórias comoventes que associam louca paixão ao desequilíbrio são inúmeras. Sentimento passional, miragem, efeito de droga, que "faz com que muitos matem", na alegada dita da defesa do Grande Amor, imaginado na cabeça de quem o vive, e insano por quem os vê diariamente. Quando nos apaixonamos loucamente, estamos sempre um pouco doentes. Liz Taylor e Richard Burton, não ficavam separados, mas não conseguiam ficar juntos. Cleópatra e Marco Antônio, (...) com um encenação magistral, a rainha adulava Antônio, ao compará-lo com Dioniso; oferecia-se a si mesma como deusa do amor e já definia o caráter de sua relação: seria 'para o bem da Ásia'. Na cabeça de Cleópatra ferviam os impérios (...) Ele estava de quatro pela rainha. Em Roma, seus inimigos faziam correr boatos sobre o feitiço que o mantinha idiotizado. Era um submisso, diziam: a egípcia o manipulava como um fantoche. O certo é que tudo ia mal para Antônio desde que se unira a Cleópatra. Após serem derrotados por Otávio na batalha naval de Ácio, ambos cometeram suicídio, tendo Cleópatra se deixado picar por uma serpente, em Alexandria, no ano 30 a.C. Após isto, o Egito voltou às mãos de Roma. ''Quando Otávio chegou às portas da cidade, a rainha se trancou com duas escravas em seu sepulcro e soltou o boato de que havia se matado. Ao saber da notícia, tentou suicidar-se, mas como era covarde não conseguiu. Havia cravado a espada no próprio ventre e se retorcia em meio a grandes dores, pedindo a gritos que dessem o golpe de misericórdia. Ninguém se atreveu. Cleópatra, ao saber de seu estado, ordenou que o trouxessem ao sepulcro; como a porta tinha sido vedada, tiveram que amarrar Antônio a uma corda e içá-lo por uma janela. Foi uma cena torpe, trágica, patética, com o corpulento romano pendurado na corda, um fardo ensangüentado e bamboleante, enquanto Cleópatra e suas duas escravas o subiam a muque com grande dificuldade. Já dentro da tumba, Antônio morreu enfim nos braços de sua amada. Dizem que ela o pranteou amargamente, e eu acredito: com ele morriam toda a sua juventude, seus sonhos de glória e seu futuro. Ela estava com 39 anos; ele, com 55. Poucos dias mais tarde, já prisioneira de Otávio, Cleópatra se suicidou com veneno de áspide para não passar pelo opróbrio de ser exibida como troféu de guerra. Ela, grandiosa e terrível, soube morrer, enfim, com dignidade''. Mais recente, quase chegando as lágrimas, temos a louca história de um amor amalucado - a Rainha Vitória e o Principe Albert.

Apaixonada pelo primo, o príncipe Albert da Saxônia-Coburgo, foi a Rainha Vitória quem tomou a iniciativa de pedi-lo em casamento. Ele aceitou. Foi a primeira vez que se teve notícias de alguém se casar por amor. E Vitória foi ainda mais ousada: acrescentou ao seu traje nupcial algo proibido para uma rainha na época: um véu. Nascia aí um costume que atravessaria o tempo. ''Vitória e Albert tinham se visto pela primeira vez aos 17 anos, já sabendo ambos que a família pretendia casá-los. Passearam juntos durante algumas semanas, e a adolescente e gordinha Vitória ficou encantada por seu primo. Porque Albert era alto e lindo de morrer, com um corpo esbelto e incríveis olhos azuis. O diário da então ainda princesa está cheio de anotações, furiosamente sublinhadas, sobre os lábios, os dentes, o olhar, a graça, a inteligência de 'meu queridíssimo primo Albert'. Ele, por seu lado, limitou-se a comentar que Vitória 'era muito amistosa'. Quando afinal o rapaz foi embora, ela ficou desconsolada: 'Chorei sem parar, amargamente.' (..) Só voltaram a ver-se três anos mais tarde. Vitória já era rainha da Inglaterra fazia dois anos, e estava curtindo sua independência e seu poder. (...) Albert chegou à corte inglesa em 10 de outubro de 1839. Era uma quinta-feira. Na segunda, Vitória comunicou ao seu primeiro-ministro que queria casar-se imediatamente com Albert; e na terça a trepidante rainha se declarou ao primo: 'Disse-lhe que me encheria de felicidade se ele aceitasse meu pedido [de casamento].' A rainha, enfim, ama Albert com loucura; e Albert, por sua vez, ama ser amado, sobretudo pela rainha da Inglaterra, e ainda mais quando essa rainha é uma personagem tão cheia de vida e com uma paixão tão transbordante: 'O que fiz para merecer tanto amor, tanto afeto?', escreve para ela, poucas horas depois: 'De corpo e alma sempre teu escravo, teu leal Albert.' Dois meses depois já eram marido e mulher. (...) Dezenove anos durou essa relação, sem dúvida amorosa, embora não se saiba ao certo se chegou a ser carnal, até a morte de Albert, em 1883. A rainha, enfim, sobreviveu a quase todo mundo, incluindo quatro de seus filhos. Quando morreu, já octogenária, em 1901, foi enterrada em um caríssimo panteão ao lado de seu amado Albert. Morreu aparentemente em plena glória, sendo a grande Imperatriz da Índia e a orgulhosa rainha da Inglaterra; mas na verdade a monarquia havia perdido todo o poder executivo durante seu reinado; e além disso iniciava-se o nada vitoriano século XX e, com ele, o declínio fatal do Império Britânico".

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Nenhuma outra história de paixão e sentimento insano é tão chocante quanto a do pintor Amedeo Modigliani e da estudante de arte Jeanne Hébuterne. Tuberculoso, desorientado, ele levou a vida dos dois à mais completa escuridão. O relato sobre as últimas semanas de vida do casal, trancado num estúdio, sem água e sem comida, em que ele agonizava e ela tramava o próprio suicídio, parece muito distante da tal felicidade que, na teoria, anda a reboque do amor. O pintor italiano, um gênio criativo que viveu e absorveu a charmosa Paris do início do século 20 com uma atração incontrolável pela beleza, revolucionou o mundo das artes. Em 1917, Modigliani conhece uma jovem de dezenove anos, Jeanne, que estuda na Académie Colarossi. Mudam-se para um apartamento na Rue de la Grande Chaumière. Em 29 de novembro, em Nice, Jeanne Hébuterne dá à luz uma menina, que é reconhecida por Modigliani como sua filha. Recebe o mesmo nome de batismo da mãe. ''Em maio de 1919, Modigliani fugiu para Paris. Disse que ia por uns dias, mas não voltou. Lá, foi viver com Lunia, uma bela polonesa; bebia menos, pintava, estava melhor. Mas Jeanne não podia admitir isso, obviamente. No final de junho apareceu em Paris com a menina e com uma amarga surpresa: estava grávida de novo. ''Não temos sorte'', disse Modigliani. Aquele verão foi um inferno. Agora viviam mesmo juntos, agora Amedeo não podia fugir, a não ser morrendo. Fazia tanto calor que as pedras do calçamento derretiam, a menina chorava o dia inteiro, Jeanne estava deprimida e ele havia embarcado numa furiosa corrida rumo à destruição: escarrava sangue, havia perdido todos os dentes (que estrago para o belo Modigliani), acabava na cadeia todas as noites por causa de seus delírios de hostilidade. Os amigos, preocupados, tiraram a criança daquele ambiente pavoroso e a colocaram num abrigo. Em seguida Lunia e Zborowsky tentaram tirar de Paris o próprio Modigliani. No começo, Amedeo concordou, mas quando vieram buscá-lo, a grávida e pálida Hébuterne desceu com ele para a rua: não iriam a lugar nenhum sem ela. Assim foi abortada a última tentativa de fuga. Modigliani não se atreveu a abandonar Jeanne. Talvez por covardia; ou talvez porque, no fundo, Amedeo não fosse má pessoa. Ou talvez, simplesmente, pela mecânica fatal da perdição. Quando uma pessoa se instala no sofrimento, alguma coisa impele a aumentar a dor, da mesma maneira que a língua cutuca uma e outra vez a pequena ferida de uma gengiva até transformá-la em chaga. E assim Amedeo e Jeanne cumpriram avidamente todos os passos da catástrofe. É possível que, separadamente, tivessem conseguido se salvar e ser mais felizes; e é possível que não, porque os dois traziam dentro de si, cada um a seu modo, o negror.'' Em 24 de janeiro de 1920, Modigliani morre no Charité de Paris. No dia seguinte, Jeanne Hébuterne suicida-se.

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Diz a lenda oficial que Mariano José de Larra (1809-1837), o melhor representante espanhol do Romantismo, foi um homem turbulento, emotivo e sofredor, como corresponde ao clichê romântico; e que, na flor da idade e no auge do êxito, enlouqueceu por uma mulher casada e estourou os miolos com um disparo por puro desespero apaixonado. Mas as lendas, como se sabe, esquematizam e não raro traem a realidade. A vida de Larra tem muito mais ingredientes, mais matizes. E um bom número de enigmas não-resolvidos.'' [trecho do livro]. Larra casou-se com Josefina Wetoret em 1829, um matrimonio infeliz. ''O casamento foi uma catástrofe: Larra era um imaturo que preferia ir para sua tertúlia no café do Príncipe a ficar com a mulher ou ganhar dinheiro para sustentar a casa, e Pepita era uma pessoa ciumenta e insuportável. Tiveram três filhos, mas o terceiro, nascido em 1833, nunca foi reconhecido por Larra. Por fim, no início de 1834, Pepita abandonou o lar, deixando Mariano José com os filhos.'' A ruptura final do casamento de Larra foi impulsionada pela relação, conflituosa e intermitente, que ele manteve com Dolores Armijo, uma mulher casada. Quando Larra e ela se conheceram, em 1831, ele tinha 22 anos e ela apenas 20. Os dois estavam casados há anos e os dois estavam desiludidos com seus cônjuges. Quatro anos depois, descoberto o romance, ela o abandona (é levada de Madri pelo marido) e o escritor espanhol, desesperado com a rejeição e já desalentado pela situação política, social e econômica do país, comete suicídio aos 28 anos, com um tiro. ''Dolores Armijo, a mulher por quem supostamente Larra se matou, é um dos maiores mistérios de sua vida. Os biógrafos mal dão atenção a ela: passou à história como uma caricatura, como uma estabanada incapaz de apreciar o esplendor do amor de Larra, como uma beldade vaidosa e displicente que o empurrou para a morte''. Mas, nós, mulheres, sabemos muito bem porque deixamos um homem. Não é por causa pouca que se abre mão de segurança, dinheiro e o título de Senhora do Lar.

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Já na trajetória do escritor Lewis Carroll, aparece a pedofilia em seu relacionamento com Alice Lidell, em quem ele se inspirou para escrever Alice no País das Maravilhas. Ela tinha apenas 10 anos. Ele, 31. Carroll pediu a menina em casamento em 1863. A mãe, horrorizada, afastou Alice do ''amigo''. O amor por Alice submeteu Lewis a uma busca desesperada por meninas de quem apenas tirava fotos. A coisa tomou um rumo tão grotesco que ele teve de destruir todas elas e passou a pintar garotas secretamente no ateliê de uma amiga. Gertrud lhe mandava modelos de Londres, meninas pobres que posavam sem roupa para suas fotos. A ne-cessidade que Dodgson sentia de fotografar crianças nuas começou a ser tão obcecante que se tornou um perigo para ele. Escrevia cartas loucas às mães das meninas, perguntando qual era a mínima quanti-dade de roupas com que poderia fotografar as pequenas (''claro que o melhor seria sem nada'') e pedindo que deixassem que as meninas viessem sozinhas. E se as mães respondiam, com natural temor, que suas filhas iriam, em qualquer caso, acompanhadas, Carroll lhes mandava furiosas missivas, mortalmente ofendido em sua dignidade por essa falta de confiança nele. Sua insensatez e sua audácia acabaram criando tamanho escândalo em Oxford que, por fim, em 1880, Dodgson viu-se obrigado a aban-donar para sempre a fotografia: posto que não podia continuar re-tratando meninas sem roupa, não faria nem mais um único instan-tâneo. E assim, da noite para o dia, abandonou uma atividade na qual havia estado imerso durante um quarto de século. Não abandonou, no entanto, a visão dessas carnes secretas e dulcíssimas: já não as fotografava, mas até o final de sua vida continuou pintando meninas nuas. Só que com um pouco mais de discrição e no ateliê de Gertrud.'' Os biógrafos de Lewis dizem que ele morreu virgem aos 75 anos.

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A fantasia está entrelaçada com a realidade. Aquilo que consideramos real está cheio de imaginação... ou de mentirinhas. O que temos de objetivo e fático, de fato e de direito, é que geralmente, nos países onde há mais estabilidade financeira, e por isso, a mulher tem mais liberdade e não vive de porteira fechada, temos mais violência doméstica. É inadmissível haver no mundo tantas mulheres sendo espancadas em casa, como a esposa do atorzinho da Rede Globo, que na Veja saiu, na capa, golpeada. O que me consola é que o Brasil está bem abaixo da média de muitos países - como a Espanha, ou mesmo a União Européia. Nos países nórdicos ocorrem mais agressões e a mortalidade é maior. Deve ter relação o frio? A necessidade de ficar muito perto nos abala, a ponto de querer matar "aquilo que nos sufoca?" Na Suécia se mata quatro vezes mais mulheres que por aqui (porcentagem por número de habitantes). A Finlândia assassina três vezes mais. Isso para não falar de países de outros continentes, como os Estados Unidos e a Rússia, horror que costuma ser cotidianamente retratado. Amor beira a paixão, que nos remete a morte? Um pequeno estremecimento de ansiedade, insere-se entre meus dedos... Perdida que estou na história de amores e paixões, fascinada fico se vou mais além e adentro a mitologia, porém não preciso ir até a Rússia para ver a realidade do dia-a-dia, hoje no jornal dessa pequena cidade, na palma da minha mão, tem como capa: homem esfaqueia ex-mulher dez vezes... O pior é que tem pessoas comentando que a defesa do autor vai ser alegar que a vítima, a loira ex-mulher, é que se arremessou sobre a faca, e ele sem defesa, não conseguiu tirá-la antes... Bem, com certas coisas não se brinca, mas o perigo de tirar conclusões apressadas ou de ser seduzida por primeiras impressões, sempre ocorre. Por uma fração de segundo, o mundo parece estar suspenso, fora do espaço, fora do tempo. O que podemos fazer para que estas mulheres se rebelem? Se levantem e espanem a poeira do corpo, não sentindo-se completas idiotas, mas heroínas que conseguiram fugir a tempo de morte certa.

Dizem que somos cavernas coalhadas de passagens e encruzilhadas escondidas, de modo que os homens ficam desesperados ante grandiosos labirintos. Lembranças repousam em cada recinto, preces ressoam no passo-a-passo do amado, mas logo desaparecem. Sem saber o que fazer, agem sem sentido. Perdem a coragem, e por instinto, se tornam selvagens-da-caverna, o medo de perder a amada apertando de hora em hora suas gargantas, congelando o ar em seus pulmões. Mulheres, de Atenas ou de Brasília, de pé atabalhoadamente, sabem que não deveria estar ali, e mesmo desesperadas para sair, para estar novamente na luz do sol, segura e brilhante, sucumbem e se distraem... passam a crer na culpa e carregam fardo emocional demais. Tenta correr, mas ficam desorientadas, não conseguem mais se achar, para poderem se reunir, e encontrar a saída de seus próprios labirintos. Amar, ao que parece, significa alienar-se, drogar-se, perder-se, buscar o inatingível, desprezar o possível. E esse comportamento manifestamente patológico deve corresponder a uma necessidade muito básica e profunda do ser humano, porque podemos reconhecer-nos nos sentimentos dos troianos de 3 mil anos atrás ou dos trovadores do século XII''. O coração dos homens é um livro onde se podem ler e escrever todas as histórias. E todos os outros livros só existem por referência a esse livro primeiro, e sem ele nada seriam. Sabem-no os leitores que nunca leram um livro, sabem-no os escritores que destruíram toda a sua obra, sabemo-lo afinal todos um pouco. A verdadeira literatura só existe no coração dos homens. E se alvitrarem que o coração é apenas um órgão muscular, o agente principal da circulação do sangue, saibam que estão no bom caminho. Esqueçam um pouco das mãos e dos golpes de boxes... pois temos material mais-do-que suficiente para conhecer até onde o ser humano é capaz de chegar com um sentimento que se sobrepõe à lucidez e à razão.

Ao terminar a extensa pesquisa, pareceu-me que o Amor está tão distante de nós - ou quem sabe aquele amor mítico jamais exista, para vivenciá-lo. Muito distante também aquela tal felicidade que, na teoria, anda a reboque do amor que tanto acalentamos. Até agora, garanto-me por atos vividos por mim: fatos reais, mas vividos por aqueles que "adoram tragédias", e como dizem, vivem aquilo que suplicam tanto.... Pois carrego comigo uma certeza: a contrapartida da emoção e do prazer do coração aos pulos é a falta de paz. É uma questão de escolha - e na maioria das vezes, nem isso. Quando o amor invade nossa casa, nada sai pela janela daqueles que se amam de verdade, a não ser, mais amor pelos outros. Pois quanto mais damos, mais recebemos... E assim tem sido comigo, pode ser contigo, basta imaginar o presente com um amor prazeroso e admirável. Que os gênios fiquem com os malucos que os merecem!!!

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Bibliografia: Rosa Montero: Paixões, Revistas Cláudia, Vida Simples, o livro: História do Amor, jornais e vários e vários sites da net.

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