segunda-feira, junho 08, 2009


Laços e fitas.

Há momentos que têm sabor de eternidade. . Tantos, que deixei de contar os meses sem perder um só dia. Aparece em instantes, no modo como me ensinou a focalizar as coisas, em uma paisagem, em um ancião que atravessa a rua com sua história nas costas. Surge num filete de chuva, num reflexo de luz, na volta de uma palavra durante uma conversação... esse amor é imortal. Há dores de amor que o tempo nunca apaga e que deixam nos sorrisos cicatrizes imperfeitas.

Endireitando o guarda-chuva, ela parou para que ele pudesse alcançá-la. Estava virando rotina: sempre a espera dele, ou esperando que ele pudesse acompanhá-la. “Com certeza, alguém lá em cima quer que eu pare de trotar, sem laço ou documento”, pensou, sorrindo distraída. Ao vê-lo mais perto, disse em meio a risadas:

— “Como se consegue esperar por alguém tanto tempo?”

— “Ora, não é você que realmente acredita que se possa amar a uma mesma pessoa durante toda a vida?” — devolveu ele, enquanto tentava recuperar rapidamente o fôlego, sorrateiramente, como se o tema da pergunta fosse o mesmo daquela conversa.

—Amana, Amn, Ameen. Acredito que aquilo que o coração ama, fica eterno. E tem outra maneira de ser? Depois, eu nunca tive medo do quotidiano, o costume não é uma fatalidade. Pode-se reinventar todos os dias o luxo e a banalidade, o incomum e o comum. Creio na paixão que vai se desenrolando em memória do sentimento. Lamento, tudo isto é culpa de minha bisavó, que me encheu de ideais amorosos. Isto coloca a lista muito alta. Quero sempre mais, quero sempre tudo. Quero aquele certo, destinado, pré-concebido, não aceito meia-entrada, nem meia-convicção.

—Em nossa terra temos uma canção que diz que enquanto pensamos numa pessoa, esta pessoa não morre nunca. Assim, toda vez que pensamos em alguém, pensamos nos momentos, no sentimento, não na dor.

— Surpreendente você hoje, einh? Nem sabia que dentro dessa sua cabeçona, tinha espaço pra guardar alguma coisa que rimasse com amor. Depois, não há mais sua terra. Quando a gente voa longe, não volta nunca mais. Pra que ficar olhando pra trás? - E devagar, beijou sua fronte e rapidamente, voltou para onde estava, protegendo-se do gesto impetuoso com o guarda-chuva.

— Lembra daquele teu sonho maluco? Você sonhou de tal forma com ele, que me convenceu a entrar no seu sonho. Um dia você me disse: Enquanto alguém faz cálculos e analisa os prós e os contras, a vida passa, sem que se passe nada. Cada vez que penso em você, fico pensando que algo está errado. Talvez seja melhor lutar para tornar realidade um sonho, do que um projeto.

- As duas coisas nos levam metade de nós, do mesmo jeito. Fico pensando nos sábios conselhos que já recebi. A receita da minha bisavó para amores que coalharam, feito leite azedo. “Se não tiver vocação para fazer de sua vida, doce de leite, troque de leite. É a melhor maneira de começar de novo a mesma receita”. Quem sabe eu não seja intolerante a lactose, ou celíaca? Tanto leite, e justo eu, com uma tampa tão complicada!

- Ah, páre de virar, revirar e circular, pra me embolar e não responder o que pedi. Como se deixa algo livre, sem dar voltas, e nem se enroscar?

- Sabe, Nenê, às vezes você consegue ser a pessoa mais invasiva do mundo. E o pior é que, quanto mais cresce, mais chato fica! Talvez a gente só possua realmente aquilo que é capaz de amar. Entende isso? Um dia, você vai compreender. A vida é uma benção, e seja quais forem as circunstâncias, todo amor é uma celebração.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial