domingo, março 26, 2006


Pés em polvo rosa:.

ICONOGRAFIA INTERNA DE UMA MULHER SIMPLES

Quem vai embora, leva a sua memória
seu modo de ser rio,
de ser ar,
de ser adeus
e nunca.

Rosario Castellanos

Quem reconhece a mulher que ama, à primeira vista? Aqueles desprovidos de fantasia conseguem tal proeza? Os que não temem aproximação, intimidade? Pois a vida não pára, a memória do corpo nunca entra em minúcias tal e qual o conhecimento e compreensão das palavras, e do escuro da imensidão de uma mulher. Cada corpo vai lembrar, do outro, aquilo que lhe deu mais prazer, não aquilo que o diminuiu. Memória estranha, mas muito mais generosa, é aquela que a retina vê, atrás de uma iconografia qualquer. Através das palavras soltas, a imagem da mulher... o tato, já desgastado pelas mãos acostumadas a rotina, excessivamente vão levar para trilhas erradas. Só o coração visualiza atrás do quadro, o esplendor do amor. Olhos imensos, negros, bem abertos e assustados, o fato de termos nos escolhido, cada um a seu modo, a sós e em liberdade, significou pacto instantâneo, espontâneo, sem papéis, sem testemunhas, e quando e por fim nos abraçarmos, aquém e além do que havíamos decidido e imaginado, saberemos enfim o que nos reuniu. Porque sabíamos ser duradouro, ficamos em definitivo. Talvez pela minha mente, o vento sussurre, frente a forte chuva: todo o duradouro que o transitório admitir...Se eu fosse revolucionária, queria ser Flora Tristán. Hoje, a presidenta do Chile. No ontem recente, Jacqueline Kennedy Onassis. Uma contradição conspiratória... porque no fundo sou tudo isso, um pouco mais. Para não esquecer: não sou lobo, sou chapeuzinho vermelho. Fácil, assim. Simples. Leal. Com capinha, ouso voar, e correr com os lobos, até matar alguns afogados no mar. Chapeuzinho tinha um lado perverso com quem fazia mal a sua vovozinha: esmagava pedrinha e jogava tudo no poço do oceano sem fim.

PoynterMark

A história que cada um contará é que é interessante: várias versões, todas baseadas num mesmo fato. Como um iceberg: tantos e muitos só enxergam acima, e desenvolvem mil e um contos sobre o bloco navegante no meio do oceano. Aqueles que vislumbram a profundidade da Ternura Glacial podem conter pedaços que você fantasiou existentes, e assim, de um dia para outro, tudo desaparece feito mágica. Pirlimpimpim. Pensando em Saramago, que recomendava: pare de tecer o futuro, se aquiete no presente, e quem vier atrás, que feche a porta. Uma recordação.Um livro. E tudo de repente é como entrar numa ilha desconhecida... De maneira que inventamos nossas lembranças, o que é o mesmo, como Rosa montero diz, que inventarmos a nós mesmos, porque nossa identidade reside na memória, no relato de nossa biografia. Portanto, diz a escritora, todos somos autores de um único romance cuja escrita dura a existência e no qual assumimos o papel de protagonistas. É um runrum criativo que nos acompanha enquanto dirigimos, ou levamos o cachorro pra passear, ou mesmo quando tentamos dormir.

PeruginiSchuster

Todas ramos da mesma mulher: Que lê Clarice, e adora o estilo uruguaio de Mario Benedetti, curte Paixões, de Rosa Montero, e livros de culinária e direito. O tempero é pimenta; porém são 4 tipos existentes, que forram a prateleira. Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, um catálogo de estilos, onde tudo pode ser constantemente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis, já dizia Ítalo Calvino. Que Gafe, afinal? Eu. Declamava Clarice Lispector que "cada um é a própria gafe muda. E a felicidade de encontrar um dia um coração que pulse junto ao nosso, irmanados nas doçuras e agruras da vida, coração amigo que nos conforte, alma pura que nos adore e leve ao céu doce balada de amor, a mulher querida com quem sempre sonhamos..." Coisa Inesperada, Imprevista, e Oportunista - Agarrar o momento certo, e preencher-se de luz e esperança acesa é para poucos.

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