terça-feira, dezembro 13, 2005


Qual é o seu sonho?:.

Esta era a pergunta que tínhamos que responder em certa formalidade idiota. Vê se sou pessoa de ficar falando de meus sonhos assim, pra todos ouvirem e baterem palmas. Sonhos eu guardo, tranco em caixas bordadas, escrevo com caneta especial, decoro com fotos maravilhosos... Os sonhos são meus e tão íntimos, que às vezes eles se tornam mais poderosos do que eu, a própria sonhadora. Mas era uma obrigação, um dever responder a questão: chá das cinco e sociedade me causam repulsa. Poderia até falar que foi, diante disso, que a caneta parou. Contudo, eu não minto. Lei primeira das Joaninhas - a verdade é margem do nosso caminho.

Eu não sabia mesmo o que colocar ali. Qual é o meu sonho? Se pensar em tanta coisa boba e fútil que quero, bastaria eu dizer: "ganhar milhão e meio de dólares". E daria pra comprar o cão, a casa, o sítio, viver de renda, investir no mercado de defensoria privada contra atos de imobiliárias abusivos e coercitivos, o gato, as viagens.... o mestrado e o doutorado, na Espanha. O curso de inglês na Austrália. Acho que ainda sobrava pro carro e pra faculdade do meu filho. Mesmo assim, me achei idiota se colocasse "como sonho" dinheiro. Coisa estúpida e tão rasteira essa coisa de querer dinheiro! Sonho é pra provocar frisson, dor no coração, ataques de asma e riso. Sonho é pra sonhar, e só.

Lembrei daquela redação que passava correndo, de correio em correio, pela net, de certo candidato a vaga na Volkswagen. "Qual sua experiência"? Mesma pergunta boba: experiência do que? Se não fosse a minha educaçao tão européia a resposta sairia na mesma desordem. E o nome assinado também me conferiam certa prisão.

"Sim, eu tenho um sonho. E uma certeza de que ele vai se realizar. O quando não me interessa, porque sonhos são acalanto e esperança. Sonhos são pra se guardar, dentro do coração, pois inconfessáveis. Mas já fiz tanta coisa que nunca sequer cheguei a sonhar. Já li "As Aventuras do H. Finn", e coagi amigos a entrarem em casa assombrada; eu confesso que não fui porque nunca fui boa em pular nada. Uma vez, numa fazenda, um touro se soltou, e todos pularam a cerca pro outro lado. Era de arame, e eu não conseguia - porque eu sabia que aquilo iria doer. Mesmo sabendo que o touro provocaria mais estragos. É, tive um salvador. Quando eu tinha dez anos, aprontamos algo muito chato, e eu fui a unica que apanhei mesmo, porque meus primos e irmãos subiram numa árvore e ficaram por lá duas horas. Até hoje não me conformo com isso: eu salvei aqueles trastes de uma surra dolorida de chinelo havaiana!

Eu tinha um sonho de cruzar o oceano; mas com seis anos a bóia daqueles pneus enormes virou, e eu fui a última a ser salva. Porque eu era a mais resistente, foi o que meu pai disse. Não sonhei mais com voltas ao Atlantico, porque não queria mais ser forte, e passar tanto pavor. Nunca fugi de casa, mas já passei tanto tempo fora, em casa de parentes, que esquecia de voltar. Bati nos meus irmãos dia sim e dia sim. Eles precisavam ser corrigidos. Confesso que metade de mim sempre foi uma ditadora. "Tomar banho, agora!". "Entrar em casa, sem um pio!". "Pegar isso, comprar aquilo, fazer já". Eu já fiz muita gente chorar... e chorei por dentro, pra que não visse o quanto eu estava sofrendo.

E, pra confessar, como não pertenço a nenhum grupelho especial, decidi colocar o que acho meio impossível - porque certos sonhos devem ser assim - difíceis, imprevisiveis. "Eu quero meu nome lembrado com tanto amor como da Madre Tereza, com a reverencia do Fidel Castro, com a genialidade do Einstein, a perseverança do Ghandi, e a nobreza de coração do meu pai". Se isso der dinheiro ou não, não importa, o que quero, é Amor.

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