segunda-feira, agosto 06, 2007


Se você AMA, diga.


Quando eu era criança, lembro como era fácil escrever cartões para meu pai dizendo que eu o amava. Vinha da escola com alguma colagem, todo entusiasmado para abraçar e mostrar aquele homem que eu chamava de pai o quanto eu o amava. Fui crescendo, e lembro que aos 18 anos gestos e palavras tinham se perdido. Ainda nos amávamos, mas tínhamos enorme dificuldade em demonstrar. O amor se complica com a idade e o conhecimento. Continua sendo amor, mas não é mais algo simples.

Depois de um acidente sério que sofri de carro, quando eu mal tinha um ano de carteira, meu pai ficava muito nervoso toda vez que eu saía de carro. Lembro que, um dia, logo depois deste acidente, eu disse ao meu pai que ia a uma festa e voltaria tarde.

- Dirija com cuidado! - meu pai advertiu.

Virei-me para meu pai com um olhar de tristeza e perguntei: - Por que você sempre diz isso? "Dirija com cuidado." É como se você não confiasse em mim dirigindo.

- Não, filho, não é nada disso -
meu pai explicou. - É só a minha maneira de dizer "Eu te amo".

- Olhe, papai, se você quer dizer que me ama, diga isso! Se não, posso confundir a mensagem.

- Mas...
- meu pai hesitou. - E se seus amigos estiverem com você? Se eu disser "Eu te amo", você pode ficar sem graça.

- Nesse caso, papai, quando estiver se despedindo, basta colocar sua mão perto do coração e eu vou fazer a mesma coisa.


Tanto eu quanto meu pai queríamos expressar nosso amor. Mas sei lá por quais convenções sociais que passamos, algo dentro de nós cerceava “palavras”. Combinamos, a partir daquele dia, que sempre nos lembraríamos que nos amávamos. Pelos gestos que só nós dois compreenderíamos.

Aos quarenta e seis anos, meu pai morreu. Tenho setenta e seis anos agora. Uma vez ouvi o repórter Pete Hamill, de Nova York, dizer que as lembranças são a maior herança de um homem, e tenho de concordar. Sobrevivi a quatro invasões na Segunda Guerra. Tenho uma vida cheia de toda espécie de experiências. Mas a única lembrança que permanece é a da noite em que meu pai e eu aprendemos a extravasar o amor que sentíamos um pelo outro.

Passamos uma longa parte de nossa vida nos contendo. Aguardamos, guardamos, esperamos. Mas a vida não é algo que venha com mapa, surpresas aparecem em cada esquina, e de repente... não há mais tempo. O que aprendi com meu pai foi “forjar lembranças”. Quando as ações falam, as palavras não são necessárias. O que importa, nessa vida, é amar e ser amado. É o valor que damos ao amor que recebemos, porque ele vai sobreviver por muito tempo depois que sua riqueza e sua saúde tiverem acabado. Se você for como eu, “que contém dentro de si um dique imenso” represando palavras bonitas, principalmente “eu te amo”, ritualize um gesto. Faz toda a diferença a pessoa que você ama SABER que você a ama. Diariamente.

“Expressar afeto é o melhor dos métodos quando se quer acender a paixão no coração de alguém e senti-la no seu próprio”.
RUTH STAFFORD PEALE

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