terça-feira, agosto 07, 2007


Vai correr quanto?

Como todas as manhãs, Nathan foi acordado por duas campainhas simultâneas. Usava sempre dois despertadores: um ligado na tomada e outro movido a pilha. Mallory achava isso ridículo. Depois de engolir meia tigela de cereais e enfiar um moletom e um par de Reebok surrados, saiu para sua corrida diária. O espelho do elevador lhe devolveu a imagem de um homem ainda jovem, de aparência agradável, mas com a expressão cansada. “Nathan, meu garoto, você está precisando de férias”, pensou ele, observando mais de perto as leves manchas azuladas que haviam se instalado sob seus olhos durante a noite. Subiu o zíper do agasalho até o pescoço e calçou luvas forradas e um gorro de lã com o símbolo dos Yankees. Assim que pôs o nariz na rua, uma fumaça branca e fria saiu da sua boca. (...) Após 45 minutos de exercício, fez uma parada na altura da Traverse Road e matou a sede fartamente antes de se sentar na grama.

(...) O rosto de sua mulher Mallory e seus grandes olhos lhe passaram pela cabeça, antes que fosse tarde, se forçou a não insistir na lembrança. “Pare de cutucar a ferida.” Mas não conseguia... Que saudade sentia dela! (...)continuou sentado na grama, ainda tomado por aquele vazio imenso que o assombrava desde que ela havia partido. Um vazio que o devorava por dentro há vários meses. Nunca imaginou que a dor pudesse ser desse jeito. Sentia-se só e infeliz. Num instante, lágrimas quentes lhe encheram os olhos antes que o vento gélido as varresse. Tomou mais uns bons goles de água. Desde que se levantou, vinha sentindo uma dor estranha no peito, como uma pontada, que lhe dificultava a respiração (...), apertando o passo, voltou ao San Remo para tomar uma ducha antes de ir trabalhar.


De terno escuro e recém barbeado, adentrou a torre de vidro que abrigava as salas do escritório de advocacia Marble&March, na esquina da Park Avenue com a rua 52. De todos os escritórios de advocacia comercial da cidade, o Marble era o único que ia de vento em popa(...) Uma trajetória excepcional na sua idade. Nathan realizou sua ambição: tornar-se um rain-maker, um dos advogados mais renomados e mais precoces do ramo. Venceu na vida. Não por ter feito o dinheiro frutificar na Bolsa ou por se aproveitar dos relacionamentos familiares. Não, ganhou dinheiro com o próprio trabalho, defendendo indivíduos e companhias e fazendo cumprir a lei. Brilhante, rico e seguro de si. Assim era Nathan Del Amico. Visto de fora.

Passou a manhã toda em reuniões com os advogados contratados, cujo trabalho supervisionava, examinando os casos em andamento. Por volta do meio-dia, Abby lhe trouxe um café com pretzels de gergelim e cream cheese. (...)Como não tinha qualquer compromisso na hora seguinte, Nathan aproveitou para desatar o nó da gravata. Decididamente, aquela dor no peito persistia. Massageou as têmporas e jogou um pouco de água gelada no rosto. "Pare de pensar em Mallory". (...)Quando ela entrou em sua sala, sua respiração se acelerou estranhamente e, por um instante, seus pensamentos se embaralharam. SURPRESAS ACONTECEM TODOS OS DIAS.

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Mais do Nathan? COMPRE o livro "E depois..." (INTERESSANTE), OU Socorro!. O francês Guillaume Musso entende de "massa", fazia tempo que não "devorava" um livro atrás de outro. Mas se quer algo para "degustar devagar", tal o primor, vá de Fundo da Baía, do Joseph Mitchell (minha edição é portuguesa, da Âmbar).

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