sexta-feira, agosto 03, 2007


Marte-e-Vênus.

Tem pessoas que se guardam na geladeira. Era isso que eu queria falar pra você. Passei a semana inteira com uma lembrança da minha adolescência, e talvez seja a solução. Vou dizer bem rápido, porque hoje estou enrolada, mas tempo pra pausar...

Um dia, lá atrás, me chamaram, fui pra rua ver o muro da esquina: "Amor é igual chicletes, a gente usa, masca, e quando perde o sabor, joga fora". Iniciais acima e abaixo do negritado provérbio popular. Olhei para os lados, dei risada, fiz troça, e desabei no meu quarto. "Filho-da-puta, o que é que eu fiz pra você me odiar assim?" Não sabia de onde vinha tanto ódio, tanta raiva, eu que não tinha feito nada (refletia, passava a limpo, e nada). Tanta desordem instalada entre nós, agora um muro, quase um outdoor. Depois da raiva e lágrima, a tristeza se instalou, tomou conta de vários dias - ficava dentro de mim indagando o que eu poderia ser para ter feito alguém sentir tanta raiva a ponto de ferir alguém inocente. Porque eu não tinha feito nada que ele não tivesse "mandado" eu fazer. Passou tempo, passou momentos, passaram horas... e em outro dia nos esbarramos. Eu com o muro ainda dentro de mim. Ele com "tudo aquilo" dentro de si.

O que você quis dizer com aquilo? Tive que pintar o muro, idiota.

Disse o que estava ali. Que te amava, e odiava amar alguém que sabia ficar em silêncio, longe de mim. Queria ver você maluca, correndo atrás de mim. Ligando pra mim, pra eu poder desligar na sua cara. Queria ver você mandando bilhetes de amor, pra eu poder mostrar para os outros - 'olha, ela me ama, não falei?'. Queria você no chão. A meus pés. Porque era assim que eu estava. Completamente apaixonado".

Não era mais fácil dizer que me amava? Que em vez das muitas que você namorava, era comigo que queria ficar? Não é mais fácil dizer o que a gente sente, em vez de se opor ao sentimento? Tanto conflito, por nada.

Não é mais fácil você ser como todo mundo? Se descabela por um homem, mulher. Porque por um garoto, na sua adolescência, você jamais foi capaz. Que eu saiba, até hoje você se guarda na geladeira. A Rainha da Geleira. Iceberg dos meus quinze anos.

Eu realmente não compreendo a forma de expressar que muitos homens utilizam. Pra dizer eu te amo, dizem que são livres, que querem paz e sossego. E te empurram pra bem longe, verborragicamente. Se querem voltar, dizem o quanto estão bem, enfatizam sua vida maravilhosa, só pra ver se você vai chorar ou dizer que não está bem. Ah, sem falar em um que disse que meus pés pareciam ser enormes. Levei anos pra olhar para os ditos, e deslumbrar a beleza que todos viam. Por causa do moço que, em vez de dizer "eu amo ATÉ seus pés", soltou o citado apanágio. Por linhas tortas, querem atingir o alvo. Ai, ai, ai... Fico cabreira com qualquer "Eu te amo" para o meu lado. Uma frase que (muitas vezes) "não quer dizer" nada, além de um "gosto até bastante de você".

Porque o que fica oculto, é o que mais profundo toca. Pensem nas cartas que não mandaram, naquilo que não disseram. Nas pessoas que tanto quiseram. Naquilo que fica, toda a vontade do coração. Quanto tempo leva pra gente aprender que "amo você" pode ser dito de tantos modos, não precisando cair no esquema odeio-que-você-não-me-procure? Às vezes, basta o silêncio.

P.s.: A força das palavras é imensurável. Lembre que quem escreve, constrói um castelo, e quem lê, passa a habitá-lo. Quem ouve, toma posse da morada.

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