segunda-feira, julho 31, 2006


De morte-morrida:.

>.: A história de que alguém morreu não é facilmente digerida; ainda mais por alguém como Beatriz, que sempre acha que tudo na vida é por um triz, e que o tio-tão-perfeito era muito, mas muito bom, pra subir pro céu sem sua permissão. Crianças não sabem o que é mentira, nem o que é verdade. Apenas existe o presente. Acho que assim a vida fica mais fácil - até para nós, adultos - ver a vida com a inocência de uma criança, e sem julgar, apenas enterrrar as coisas ruins. Deixar para trás aquilo que, em dado momento, o morto cometeu, pois maquinar ou fazer alguém se responsabilizar por seus atos idiotas é uma coisa difícil. Quem nunca foi amado, nunca conseguirá amar... Portanto, dar voltas nesse lodo-morto não é a melhor forma de limpar o erro que ele cometeu. Segundo o morto-falecido, Jorge Luis Borges disse que Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o homem compreende de uma vez por todas quem é. Nesse emaranhado de labirintos que ele próprio criou dentro de si, em dado momento, talvez houve a descoberta da pessoa que ele sempre foi - ninguém ou nada; e esse evento, logicamente, conduz a morte de quem foi, pra voltar ao nada que sempre esteve ali. Assim, pra Beatriz, a história começou com a Ilha do Pavão (que João Ubaldo intitulou como a ilha dos encantados, e que ela tanto adora ouvir). Num dado momento, os que moram-lá-em-cima viram que estava na hora do Morto-de-morte-mentida ir embora. Pelo menos de nossas vidas - pois a mentira, a inutilidade e o vazio não tem vez. Vieram os balões, e levaram-no da ilha que tinha caído, com seu pseudo-avião de brinquedo. Foi subindo, subindo e se encontrou com sua mãe, que lhe virou o rosto, porque mortos-que-mentem passam reto, e vão mais adiante - pra terra dos descontentes, viver num vazio eterno. O bom de tudo é que sempre aparece algo muito alegre quando algo muito horrível sai de perto de nós. Este morto-mentiroso era péssimo. Portanto, Beatriz, considere que um dos seus pedidos será realizado. Pra vida nos fazer feliz, com a morte-consentida de alguns por aí. Se, porventura, a morte aparecer para aquele que disse que morreu, já rezamos e colocamos flores por aqui. De nossa parte, acho que contribuimos bastante com a vida do morto-que-anda-por-aí: dinheiro pra gasolina e pra comida, sem falar no presente. Agora, que Deus lhe dê o que merece - a fatalidade de ser o que disse que nunca foi. Foi assim que, um dia, foi e nunca voltou a ser. Aquele que disse que morreu, e logo após, disse adeus. Tristes lembranças do Policarpo Augusto, que imaginava tanto ser feliz e amado, e acabaria sendo enterrado, chorando. Tomara que ele lembre do filtro solar. Sempre! Pois, nos conformes da autora americana Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale. Mas no filtro solar, acredite!

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