domingo, novembro 12, 2006


.:Dupla via.

Viver, enfim, de coração aberto, enseja muita coragem. Disso deveria vir alguma coisa assim, como a felicidade. Um lugar comum, provavelmente, como a aventura interior que ele vivera com ela. Mas frequentemente a vida se assemelha a um lugar-comum. Talvez ela tivesse acabado por se enamorar de um homem suficientemente disponível para experimentar com ela esse exílio insensato no mais próximdo dos países longínquos. Aquele que tivesse tido a delicadeza de denunciar sua vacilação interior. A inteligencia de vencer suas hesitações secretas. A coragem de ajudá-la a romper suas amarras. A audácia de tomar a decisão no seu lugar. A sutileza de não lhe roubar o domínio de seu destino. A força de ser forte por dois. Um homem de acordo com seu desejo, um homem de alguma maneira, um homem, simplesmente. Um dia, pessoas vão embora voluntariamente para nunca mais reaparecer.

Desde que essa mulher o habitava(...) conseguira ser cativado por ela sem lhe ser cativo. Mas afinal, o que ele sabia verdadeiramente da sua vida? O essencial lhe escapava. Ignorava os momentos chaves de sua infancia, lances inteiros de sua juventude, as falhas onde se insinua a loucura costumeira, os interstícios que encobrem perturbações vertiginosas, esses detalhes onde se tem mais chance de encontrar Deus. O lado da sombra o transportava para as zonas de claridade. Verdadeira tortura é amar e ser amado em segredo. Calar essa felicidade compartilhada. Não poder confiá-la a ninguém. Verdadeira tortura, sim, se proibir abrir-se a quem quer que seja. De ser uma alma sem descanso. (...)a que pont admirava todos que tinham a coragem de sua paixão e a audácia de sua transgressão (...) que muitas vezes assumiam o risco de perder tudo (a boa vida, a segurança, os hábitos, as amizades..) em troca de beijos, e embriaguez de uma felicidade sem igual. Hipotecavam o futuro para viver plenamente o momento presente, as certezas pela inquietude, tudo aquilo por isso. Quando paramos de trocar, para que serve uma união?

Pierre Assouline

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