domingo, fevereiro 24, 2008


blue rising

Às vezes me pergunto se existe uma realidade objetiva, intocada por qualquer julgamento prévio. Todas as coisas com as quais nos deparamos, parecem ser transformadas instantaneamente, quando batemos nossas pestanas sobre elas. Olhos sinceros, cabelos bem penteados, uma boca que aprendeu o que é bondade, porque se criou com muito pouco. Desconfiado, meio desajeitado, ainda não acostumado com tanta sorte. A pele do meu rosto ficou vermelha, quando ele soprou as palavras suavemente, perto demais para eu controlar emoções. Você, que age como se soubesse de tudo, do que preciso?

Talvez você precise de amor para curar seu coração, digo sorrindo. Eu, de repente leve, como uma menina no balanço, encontrando facilidade em aprender este jogo de sedução, no qual ele é mestre. Talvez a dor seja por isso. Eu, despudorada, estupefata ante minha total inexperiência no amor, quebrando todas as regras... Azia. É também isso. Vidas indulgentes provocam isso. Camomila pela manhã irá conter o incômodo ao longo do dia. A culpa de querer algo diferente, fica ruminando o dia todo, haja paciência para sobreviver!

É tão fácil assim, saber do que precisa uma pessoa?

As palavras de raiva, como as abelhas, carregam mel escondido. Sei o que quer dizer. Sinto muito se o seu destino nasceu costurado contigo, emoldurado pelos astros, veiculado em meus sonhos. Ah, não tenho medo de cara feia, nem nunca tive de bicho papão.

Esse homem deveria pertencer a uma segunda-feira. O que será que tenta provar, deixando de viver? Segunda é o dia do silêncio, de feijão mung branco, da lua... e agora, me lembrará sempre o seu rosto. Queria poder lhe dizer que eu não podia consertar tudo aquilo, demandaria uma fé de cortar o coração, eu que vivo numa enrascada maior do que qualquer um possa entrar, ainda não consigo... Começo a rir da ironia da coisa, ele tem aquela mesma certeza, mesclada a mesma ignorância, que me assolava quando sentia algo muito forte, e queria ser mais cautelosa, em vez de deixar acontecer... Antes dele chegar a minha vida, pressenti sua chegada, e esperava, entre apavorada e desejosa. O que eu queria saber, era se teria ele me sentido também. O que viu realmente, quando seu olhar me mostrou toda sua alegria em me encontrar? Todo mundo tem segredos, e esse homem era o segredo. Terminei por olhar profundamente em seus olhos, e dizer sorrindo, Eu nunca lhe disse que era fácil. Nada é fácil, falando de você.

Um vinco profundo, de desagrado, se formou entre suas sobrancelhas. Levantou-se, e proferiu uma despedida, palavras duras como uma parede entre nós. Eu devia ter esperado mais, agora sentia que o perdia. Quieto, aguardava, enquanto eu queria tanto lhe pedir para ficar, mas não podia decidir por ele. O que o irritou não foi o que eu falei, mas como ele sabe ser verdade cada palavra. Irrita-o saber, porque isso implica em pressioná-lo a mudanças. Ele, que odeia mudar qualquer coisa. Que tem tanto medo de desagradar. A voz dele, áspera e agressiva, o olhar evitando o meu olhar...

Você pode ir embora. Um dia, você vai ter que voltar para me dizer o que sente. Não importa quantos kilômetros você ande... Eu sei o que sentimos. E confio em você. Também nas suas histórias não contadas, nas nossas palavras não ditas, nos sonhos que se estendem como fios de ouro batido entre nós. Não sei porque sua vida foi tecida entremeada a minha tapeçaria, mas sei que foi deixada aos meus cuidados. Todas as minhas certezas são como areia, na tempestade que é você.

É, eu preciso ir, pra poder voltar. Parece até coisa do destino, não acha? Para que a gente possa continuar, eu preciso aprender a confiar... Eu volto. E você já sabe disso, não é? Sua risada, bem-humorada, foi tudo o que restou no ambiente quando ele fechou a porta atrás de si.

1 Comentários:

Blogger david santos disse...

Olá, Ana!
Excelente post.
Parabéns.

6:51 PM  

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