sexta-feira, abril 27, 2007


Sonho, pra te encontrar

Certas receitas especiais me dariam prazer fazer, se fosse em sua companhia. Fecharia os olhos para sentir melhor, mas depois não teria certeza se o que eu ouviria seriam suas palavras ou o seu próprio desejo. Você poderia me iniciar em seus segredos, aqueles com os quais acrescenta sabor especial a qualquer alimento. Talvez faça rasogallas macias, e para não deixá-las desmanchar quando fervidas em calda misture duas colheres de sooji à massa de chhana. Ah, sabe que meia xícara de óleo na massa da pakora não deixa estas bolinhas picantes absorverem mais óleo ao fritá-las? É, aprendi a ralar minhas próprias especiarias, até hoje ainda naquele pedaço de pedra esburacada, coalho o leite com limão e faço chhana fresca na consistência certa. Na maioria das vezes!

Os grânulos da minha mihidana são laranja como o nascer do sol nesta cidade que te acolhe, e tão viciantes quanto nosso caso amoroso. Minhas singaras de couve-flor, tão crocantes, esperam por você, com a mesma expectativa que eu.

Se eu ficar em silêncio, quase posso vê-lo acendendo o braseiro, separando ingredientes, sorridente, cantando baixinho uma música suave. O tempo que não passamos juntos no futuro nos será cobrado? O que sabemos e o que não sabemos são como irmãos siameses, inseparáveis. Confusão, confusão... Quem realmente consegue distinguir o mar do que nele se reflete, diz Haruki Murakami, em Minha querida Sputnik. Falo que nem sei dizer qual a diferença entre a chuva que cai e a solidão em mim.

Antes de você fechar a porta, e tentar me esquecer novamente, quero lhe dizer o quanto és importante pra mim. Que eu nunca irei te esquecer, e em muitos aspectos, não sei conceber gostar de alguém mais do que a ti. Não sou boa com palavras de agradecimento, obrigado é uma palavra esquisita, enseja adeus. E ficar longe de você, mais do que já estamos, é algo inconcebível nesse momento de tormentas. Não deixa nossa história pairar entre 24 horas, lembra da Suttara, que te saúda a cada manhã.

Preste atenção: não posso sonhar contigo. Imaginar a nós se debruçando juntos sobre algum livro, as cabeças quase se tocando, relutantes em desistir de alguma coisa insatisfatória, brincando com as letras, escrevendo-as numa ordem aleatória, misturando-as e deixando-as se manter... é tão simples, nem sei como podemos ficar tanto tempo sem nos ver. De trás pra frente, nós somos Tempo do Sonhar.

Fico sorrindo, a toa, querendo saber se no meio de minhas palavras descobriste as mensagens que encerram pra ti. Se é que encerra alguma, diria você, com um sorriso zombeteiro. Capricho sem importância, brincadeira boba, mas adoro manter seus pensamentos em forma de letras no meu dia-a-dia, ressuscitando gostos e aromas de países antigos, com os sussurros de histórias contadas e aprendidas de cor. Não adianta se preocupar, não adianta esperar. Sei, sei, eu sei que eu sempre sei o final, mas nem por isso me acalmo, ante ao desespero da travessia...

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