terça-feira, agosto 09, 2005


Desculpas e Ausências:.


Palova, querida, me desculpe por não estar disponível. Mas ambas sabemos como a faculdadezinha age com pessoas relapsas, que deixam para entregar trabalhos exatamente meia-hora antes do findar do prazo. Tive uma imensa vontade de perguntar para as duas se elas ganham para serem chatas e complicarem a vida dos alunos. Mestrado em caraamarrada. Mas o frio congelou minha língua ferina, vim embora correndo. Pra gente poder rir e contar o que aconteceu nesse tempo de lambança e dor.

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Maria Carolina

Fecho os olhos, e a história de Maria Carolina se desenrola. Aos poucos, Carolina surge, ventania atrás. Morena, cabelos compridos, quase alcançando sua cintura fina. Alta, elitísta, pai prodígio em leis, mãe socialite. O destino já programado. Será que haveriam problemas pra quem tinha tudo, além daquilo que outros queriam? Era para ser uma história de Amor. Contudo, eu gosto de ser ideal em tudo. Gosto de saber que posso tentar ser perfeita. E que muitas vezes vou realizar plenamente esse feito. Isso: sou eu a maior crítica de minha pessoa. Sou idealista, sou singular, e amo Renato Russo. Nesse ponto, os nós se despedaçaram, o tapete mágico cedeu, e a queda foi inevitável. Não há competidoras pra Maria Carolina. Amor dura quando os dois conseguem tratar de seus ferimentos, quando a pele se renova, e quando recomeçam a olhar um para o Outro, como Narciso na Água. Isso existe muita paciência, e um grande culto ao Tempo. No amor é preciso cuidar do tempo. Não da duração, que é apenas uma vertente da arte de amar, mas sim dessa magia que transforma o espaço de uma percepção, de um mal-estar ou de uma alegria em um instante de dádiva. Somente um barulhinho, pra lhe avisar que eu fico com você, que estaremos sempre juntos. Desse modo, nasce a sensação do tempo. Uma vez acontecido, esses momentos sensíveis que tivemos se encadeiam em atos ínfimos. Emersos do nada, eles se unem e nos carregam. Observa-se que não há tempo sem Amor. O temo é Amor às pequenas coisas, aos sonhos, aos desejos. Não temos tempo quando não temos bastante Amor. Perdemos tempo quando não Amamos. Esquecemos o tempo passado, quando não temos nada a dizer, nem lembrar. Ou quando somos prisioneiros de um falso tempo, que não passa, falso amor.

Eu, que sempre achei que não adiantava empurrar nada com a barriga, nem tentar preencher vazio com areia, porque qualquer tempestade de lágrimas faz com que o castelo encantado-de-ilusão desabe, tento algo paliativo. Pra descomprimir meu coração, permitir que você se vá, atrás de quem quer que seja, apenas para que Maria Carolina possa ir, sem deixar rastros ou pegados. Sei que não sou e nunca poderia ter o que ela tem. Entendo suas razões. Mesmo assim: me desculpa se eu não fui aquilo que você queria. Mas é que eu só aprendi a ser assim. Desculpa pelas palavras que eu atirei em cima de você nos dias em que eu estava com raiva do mundo. Não foi culpa sua se eu fiz tudo errado e estraguei a minha vida. E ainda assim você ficou do meu lado, mesmo quando eu não tinha razão e a vontade que você sentia era de me mandar à merda. No fundo eu merecia era ser mandada à merda mesmo. Desculpa por ter sido tão egoísta e me esquecido que você também precisa de colo de vez em quando. Talvez eu tenha te negado esse consolo muitas vezes, mesmo nas poucas vezes que você me pediu. Eu estava sempre ocupada demais com o meu próprio inferno pra perceber que você também sofre. Eu te neguei isso. Justo a você, que quando eu despedaçava, era não só o meu colo, mas também os meus braços e as minhas pernas e os meus olhos e a minha cabeça. Porque a sua cabeça sempre foi a mais saudável de nós dois. Desculpa por ter estragado a imagem tão linda que você tinha de mim na sua mente. Eu não tinha esse direito. Desculpa por não ter sido a sua garota, do jeito que você precisava que eu fosse. Logo você que merecia tanto... desculpa por ter contaminado a nossa história com os meus pensamentos e as minhas palavras e as minhas dores passadas que eu nunca consegui deixar pra trás. Desculpa por não ter conseguido ser uma pessoa melhor pra você. Por não ter conseguido ser menos eu, pelo menos uma vez na vida. Incrível como o amor não sobrevive a certas coisas. Mentira quem diz que o amor de verdade é capaz de superar tudo. Mentira! Porque você me amava, de verdade mesmo, eu sei disso. E eu também te amava, apesar de não ter demonstrado tanto quanto eu deveria e nem tanto quanto você merecia. Mas a verdade é que nem isso foi suficiente pra vencer a minha eterna incapacidade de fazer as coisas darem certo.

Quando assisti o filme "Pontes de Madison", lembro que fiquei por muitos anos com a cena dela segurando a porta da caminhonete, a chuva forte caindo lá fora, e o seu amor na esquina, esperando... Ela descia, e dava adeus a vida que tivera até então, ou ficava, e acomodava-se à forma que havia sustentando até aquele momento? Pois foi só depois de ter encontrado que ela passou a VIVER, e não mais sobreviver. E, para desconsolo da grande maioria das mulheres românticas, ela ficou. Permaneceu no seu lugar. Mas quem diria que, se ela se fosse daquela pequena cidade, onde sempre viveu, onde tinha um Homem que a Amava, e três filhos, poderia novamente se reencontrar? Ali era mãe e esposa; dona de casa e amiga. Onde mais iria achar esses pedaços, fragmentos que ficariam soltos, através do caminho? Algum dia ela se levantaria e perguntaria pela Deméter que vivia. Cometeria alucinações e sentiria-se vazia, por ter perdido essa parte. Uma mulher só consegue VIVER se estiver em si, completa fêmea, inteira, essência e natureza. Sem isso, aos poucos a vida vai murchando, e ela vegetando... Aquela encruzilhada a colocou numa questão sem solução: não havia caminhos; mas houve os momentos partilhados com o único amor que passou por ela. E foi disso que sobreviveu, de pequenas lembranças. Do Deus das pequenas coisas. Do deus das Perdas... Passei a evocar essa simbólica cena, pela encruzilhada que Hécate há muito tempo atrás, colocou no meu caminho. Eu, que sempre andei reta e diretamente, para o Sol, de repente me vi sem vida e calor. A lua estava à espreita, eclipsando o Sol. Eu estava envolta em brumas e escuridão. Se acaso me perguntassem hoje se voltaria atrás na minha decisão, diria, como deveria ter dito a personagem de Meryl Streep que não havia escolhas. Apenas seguir o coração e a intuição. Foi o que eu fiz: assumi todos os meus atos e fechei os olhos. Entreguei-me nas mãos daqueles que me concederam a vida divina... No escuro só vemos sombras, e tive que me guiar pelo único radar que conhecia: minha alma, de bruxa, deusa ou feiticeira, que eu compreendo como sendo de selvagem fêmea.

Ás vezes Pérsefone também tem que ir a guerra. Descer aos ínferos ou retornar não são escolhas, apenas parte do caminho. "Não me peça para eu deixar novamente minha fazenda, minha pequena vila, minha vida... A única vez que eu fui eu quase perdi a Alma". Foi assim que tudo começou, há muito tempo atrás, e se agora transpasso para o papel o rumo que eu tomei, é simplesmente para poder retornar e retomar a minha Alma, libertando todos os esqueletos do armário. Livre, leve e sem cemitérios dentro de mim, tenho certeza que encontrarei o fio da meada, que me conduzirá de volta ao lugar que meu Amado está. E quando, enfim, estiver ali, ao seu lado, e ele perguntar novamente o que eu sinto, mudarei esta parte: "Eu amo você". E poderei saber o que é viver "ao lado do Amor de sua vida". Com dor e com sentimento; com lágrimas no coração, mas sorriso brilhando no olho. A ambiguidade faz parte de Eros. E é por isso que eu te peço desculpas. Porque eu não aprendi a ser de outro jeito e nem mesmo você, apesar de todo o seu carinho, foi capaz de me ensinar a viver.*

*Mrs. butterfly

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