segunda-feira, agosto 08, 2005


Segura minha mão:.


O que sou hoje, nesse momento?
Uma folha plana, muda, caída sobre a terra.
Porque não usar palavras próprias?
Porque aconchegar-me em imagens?
Veio-me um cansaço, sentimento de queda.
Orar, Orar.
Ajoelhar-se diante de Deus e pedir.
O quê?
A Absolvição.


Sabia que era inútil resolver sobre o próprio destino. Sabia da distância que separava os sentimentos das palavras. Mas no momento em que tentava falar não só expremia o que sentia, fazia. Como o que sentia se transformasse lentamente no que ele dizia. E no momento em que o tocara, compreendera: o que se seguisse entre eles seria irremediável. Porque quando o abraçara, sentira-o viver entre seus braços como água correndo. No momento em que finalmente o beijara, sentira-se a si própria, de repente, livre e perdoada, sob tudo o que era. Milagrosamente agora vivia. liberta das lembranças. Amava. E isso lhe bastava.*

:::

Não procuro mais sentidos. Nem busco razões. Não consigo calar meu coração, a saudade é demais. Não me perca de vista. Não me deixe sem sua mão. Não deixe que eu vá embora de sua vida, antes de descobrir quem eu sou, quais são meus sonhos, e a extensão do meu amor.

Clarice Lispector, pedaços de Perto do Coração selvagem

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