terça-feira, julho 14, 2009


Amando alguém avantajado.

Amando uma Mulher Avantajada
por Candace Shapiro

Aos cinco anos, aprendi a ler. Os livros eram um milagre para mim - páginas brancas e tinta preta, cada qual com seus mundos novos e amigos diferentes. Até hoje gosto da sensação de abrir um livro pela primeira vez e perceber a capa estalando, querendo antever os lugares para onde irei e as pessoas que conhecerei ali dentro. Aos oito anos, aprendi a andar de bicicleta. E isso também abriu os meus olhos para um mundo novo que eu podia explorar por conta própria - o riacho que murmurejava através de um terreno baldio dois quarteirões adiante, a loja que vendia sorvete feito em casa na casquinha por apenas um dólar, o quintal que fazia fronteira com um campo de golfe e tinha um cheiro picante, como o de cidra, das maçãs que caíam no chão durante o outono. Aos doze anos, aprendi que eu era gorda. Meu pai me disse isso, apontando para a parte interna das minhas coxas e a parte de baixo dos meus braços com o cabo de sua raquete de tênis. Estávamos jogando, lembro-me bem, e eu estava vermelha e Suada, exultante com a alegria do movimento. Você vai ter de Prestar atenção nisso aí, ele me disse, cutucando-me com o cabo de forma que as gorduras balançaram. Os homens não gostam de mulheres gordas.

Embora isso não se revelasse mais tarde uma verdade absoluta - haveria homens que me amariam, e haveria gente que me respeitaria - levei suas palavras para a minha vida adulta qual uma profecia, enxergando o mundo através do prisma do meu corpo, e da previsão do meu pai. Aprendi a fazer dietas - e, naturalmente, a não segui-las direito. Aprendi a me sentir infeliz e envergonhada, a me afastar de Espelhos e dos olhares dos homens, a me tensionar para os insultos que sabia virem sempre: a líder do grupo de escoteiros que me oferecia cenouras, enquanto as outras meninas ganhavam biscoitos e leite; a bem-intencionada professora que me perguntava se eu já experimentara fazer uma aeróbica. Aprendi uma dúzia de truques para me tornar invisível- como manter uma toalha enrolada na cintura na praia (mas nunca entrar na água), como escapulir para a última fileira em qualquer grupo que se prepara para tirar uma foto (e nunca sorrir), como me vestir em tons de cinza, preto e marrom, como evitar ver o meu próprio reflexo nas janelas e espelhos, como pensar em mim exclusivamente como um corpo - mais do que isso, como um corpo que deixava a desejar, que se tornara algo horrendo, desleixado e repugnante. Havia mil palavras que poderiam me descrever – esperta, engraçada, gentil, generosa. Mas a que eu escolhia - a palavra que eu acreditava que o mundo escolhia para mim – era gorda.

Aos vinte e dois anos, saí para o mundo numa armadura invisível, na expectativa de ser alvejada de todo jeito, mas determinada a não me deixar atingir. Arranjei um emprego maravilhoso e acabei me apaixonando por um homem que acreditei que iria me amar pelo resto da vida. Mas não. E então – acidentalmente - engravidei. E quando minha filha nasceu quase dois meses antes do previsto, aprendi que há coisas piores do que não gostar das suas coxas ou da sua bunda. Existem coisas mais horripilantes do que experimentar um maiô diante dos espelhos tríplices da lojas de departamentos. Existe o medo de ficar vendo sua filha se debater para conseguir respirar, no meio de um bercinho de vidro onde você não pode nem tocá-la. Existe o horror de imaginar um futuro no qual ela não seja forte ou saudável. E, em última instância, aprendi que existe o conforto. O conforto de chegar até as pessoas que a amam, o conforto ele pedir socorro e o conforto de perceber, afinal, que eu tenho valor, que gostam de mim, que me amam, mesmo que eu jamais consiga usar roupas de tamanho menor que 48, mesmo que a minha história não tenha o final feliz perfeito de Hollywood, no qual eu perco trinta quilos e o Príncipe Encantado resolve que me ama.

A verdade é a seguinte: estou bem do jeito que sou. Sempre estive bem. Jamais serei magra, mas serei feliz. Vou amar a mim mesma, e amar o meu corpo, pelo que ele é capaz de fazer por ele ser forte o suficiente para se erguer, para andar, para subir um morro pedalando uma bicicleta, para abraçar as pessoas que eu amo com toda a plenitude e para nutrir uma nova vida. Vou amar a mim mesma, porque sou fone. Porque não sucumbi – nem vou sucumbir. Vou saborear bem a minha comida e também a minha vida, e se o Príncipe Encantado nunca aparecer - ou, pior ainda, se passar por mim, fizer uma breve análise do meu corpo e disser que o meu rosto é lindinho e depois perguntar: Será que você nunca pensou em tomar Optifast? -, vou fazer as pazes com isso.

E o que é mais importante: vou amar minha filha, seja ela grande Ou pequena. Vou dizer sempre que ela é linda. Vou ensiná-la a Nadar, a ler e a andar de bicicleta. E vou dizer que, usando tamanho 36 ou 50, ela pode ser feliz, forte e ter a certeza de que encontrará amigos, terá êxito e até amor. Vou sussurrar isso no seu ouvido quando ela estiver dormindo, Vou dizer: Nossa vida – a sua vida - será maravilhosa.

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