sexta-feira, setembro 21, 2007


TEMPERO.

Compartilhamos as mesmas situações, sabemos tudo um do outro, e mesmo assim, ante qualquer palavra jogada, conseguimos desviar o pensamento daquilo que sentimos que é a correta tradução, para perverter e modificar tudo. Fico imaginando se nós não estamos jogando para o adversário, eu, minha maior inimiga, você, seu maior carrasco. Confiar é se jogar para trás, sabendo que outro irá amparar a queda. Qual de nós consegue adiantar esse "pé atrás" que mantemos com tudo, pelo que a vida já nos fez passar? Sei que o passado é mais compreensível do que o presente tão embaralhado por nós, e é mais fácil vislumbrar aquilo que fomos, do que aquilo que nos tornamos. As palavras param, suspensas. Seria tão fácil apenas perguntar. Na velocidade que nossos pensamentos costumam andar, a prioridade deveria ser o sussurro elevado e sensual que sobressai quando nos aproximamos, com medo de ficar. Concentração é fundamental, na próxima curva podemos rodopiar. E se eu garantir que dançamos, sob a pressão dos freios? Você passa veloz na pista cheia, parece que o ar vai arrancar seu capacete. Mantendo o pé no afogador, virando à esquerda, deslizando nas curvas, meu coração suspenso: Quanta proteção, Meu Deus! Ah, moço, você sabe como ninguém ser agressivo, mas em ritmo controlado. Mentalmente relaxado, o constante pulsar só vislumbro em seu pescoço, o brilho no olhar denunciando o que tenta conter. Faço um esforço estonteante para te acompanhar, mas não é a velocidade que é descomedida, pedal a metal. O que atrapalha é a fumaça e o ruído ensurdecedor dos pilotos que chacoalham na pista. Fico concatenando sonhos, decifrando seu sorriso, colando o que você parte, curando aquilo que te machuca. Duas bandeiradas xadrezadas de preto abanadas sobre seu carro, a última volta em êxtase pela vitória... concordo com Walt Whitman: "Ah, rodovia... tu me expressas melhor do que eu mesmo".

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